Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. Admiro pessoas do tipo como era o Paulo Francis, certamente, dava exemplos de “Respeito” à opinião alheia como nenhum outro.
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As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Paulo Francis
Paulo Francis, com toda a certeza, não tinha a mínima ideia do que vivemos nos tempos atuais. Seus pensamentos estariam entre o louvor dos estultos ou o vilipêndio da pretensa vida inteligente(1). Suas críticas, muitas dignas da vida inteligente, que ele fez referências, seriam bem melhores do que oque vemos hoje na mídia. Embora eu não concordasse com a maioria das ideias e de suas críticas a pessoas específicas, eram opiniões consistentes e merecem o meu respeito. Ele transitava, por exemplo, entre assuntos complexos e banais com a mesma desenvoltura e tranquilidade. Em suma, Paulo Francis cabia e cabe na mesma frase, com as palavras crítica, trotskista e conservador.
Franz Paul Trannin da Matta Heilborn (Paulo Francis) ( Rio de Janeiro, 2 de setembro de 1930 – Nova York, 4 de fevereiro de 1997) foi um jornalista, comentarista político, romancista e crítico brasileiro. Francis se destacou no jornalismo brasileiro moderno por meio de suas críticas polêmicas e ensaios. Certamente, com seu estilo de escrita característico, misturava erudição e vulgaridade como poucos. Como muitos outros intelectuais brasileiros de seu tempo, Francis foi exposto à americanização durante a adolescência. No início de sua carreira, tentou misturar as ideias nacionalistas de esquerda brasileiras na cultura e na política. Atuou, primordialmente, como um defensor do modernismo em questões culturais. Posteriormente, envolveu-se nas lutas políticas do Brasil dos anos 1960 como um simpatizante trotskista e um nacionalista de esquerda. Manteve, ao mesmo tempo, distância tanto do stalinismo quanto do populismo latino-americano . Depois de passar a década de 1970 como exilado e expatriado nos Estados Unidos, abandonou suas visões esquerdistas. Transformou-se num conservador agressivo, defendendo a economia de livre mercado, o liberalismo político e um antiesquerdista. Afastou-se, surpreendentemente, da intelectualidade brasileira até sua morte.
Fonte: Wikipedia (Inglês)
Crítica e Respeito
A frase-chave deste texto exige uma contextualização e reprodução da ideia do comentarista político, por completo. Desse modo, antes de abrir a porta – pode entrar sem bater – é preciso uma reflexão. Fico imaginando um direitista inteligente, como Paulo Francis, ao lado de gente como Nikolas Ferreira, Olavo de Carvalho(2) e outros.
Enfim, o pensamento de Paulo Francis, a seguir, merece leitura, releitura e pausa para refletir, sem interferências.
“Dizem que ofendo as pessoas. É um erro. Trato as pessoas como adultas. Critico-as. É tão incomum isso na nossa imprensa que as pessoas acham que é ofensa. Crítica não é raiva. É crítica. Às vezes é estúpida. O leitor que julgue. Acho que quem ofende os outros é o jornalismo em cima do muro, que não quer contestar coisa alguma. Meu tom às vezes é sarcástico. Pode ser desagradável. Mas é, insisto, uma forma de respeito, ou, até, se quiserem, a irritação do amante rejeitado.”(3)
Libertinagem e Liberdade
Sem dúvida, vivemos tempos estranhos, qualquer coisa que não agrada uma pessoa num grupo ou numa página, vira pé-de-briga. Por exemplo, uma página sobre filosofia, tem seu criador e administradores que criam as regras de convívio. No entanto, se alguém apresenta algum ponto de debate que refuta ou critica os “donos”, lá vem bloqueio. As pessoas vilipendiaram a ideia de liberdade de expressão e implementaram a proposta de libertinagem conveniente.
Desse modo, o respeito à opinião das pessoas, nas redes sociais e na mídia, virou mera retórica e hipocrisia.
Saudade do Paulo Francis !
A Crítica
A crítica, a princípio, deveria ser um elemento essencial para o desenvolvimento da sociedade. Certamente, através dela podemos identificar problemas, apontar falhas e buscar soluções.
Por outro lado, a liberdade de expressão é um direito fundamental que garante a possibilidade de expressarmos nossas opiniões. Contudo, se estas opiniões são contrárias às opiniões da maioria, o nível de rejeição é altíssimo.
Como se não bastasse, a imprensa que deveria ser um instrumento de crítica e de disseminação de informações, é uma imprensa cínica(4). O respeito à opinião alheia é um valor fundamental que deve estar presente em toda sociedade democrática.
Antes da explosão das redes sociais, a crítica era uma forma de respeito à opinião alheia. Quando alguém criticava algo, era porque acreditava que essa crítica era importante para o bem comum. A crítica era uma contribuição para o debate público e para a construção de uma sociedade melhor.
Confusão Mental
No entanto, a ascensão das redes sociais provocou uma confusão mental nas pessoas em relação a esses conceitos.
Atualmente, a maioria dos frequentadores das redes sociais não sabe mais diferenciar crítica de ofensa e respeito. Qualquer comentário que seja contrário à opinião de alguém transforma-se numa grave ofensa pessoal. Isso ocorre porque as redes sociais criaram um ambiente onde as pessoas estão constantemente expostas a opiniões diferentes das suas. Nesse ambiente, é natural que as pessoas se sintam ameaçadas e reagissem com agressividade.
Certamente, aquele sociopata ou psicopata, que ganhou o mundo com a Internet, odeia sofrer qualquer contestação.
Além disso, com a ascensão das redes sociais, adveio uma democratização da produção de conteúdo. Qualquer mequetrefe se tornar um influencer ou um “profissional de mídia”. Isso significa que qualquer idiota da aldeia pode agora ter um público cativo e disseminar suas opiniões, mesmo que falsas.
Essa democratização da produção de conteúdo tem um lado positivo e um lado negativo. O lado positivo é que ela permite que as pessoas comuns tenham voz e possam participar do debate público. O lado negativo é que ela também permite que pessoas sem qualificação ou conhecimento se manifestem sobre qualquer assunto.
Democratização em Vertigem
Esses dois fatores, a confusão entre crítica e ofensa e a democratização da produção de conteúdo são o conflito da vez. Desse modo, minha perplexidade ao ver certos próceres da ignorância e o palanque que conseguem. Daí o desejo utópico de ver um debate entre Francis e Olavo de Carvalho.
Este conflito é a causa para um cenário em que a crítica é cada vez uma forma de ofensa, agressão e irracionalidade. Isso está prejudicando o debate público e dificultando a construção e entendimento do que seja civilidade.
Em um cenário como este, a liberdade de expressão inexiste e questões menores levam às inimizades e à filosofia do ódio(5). As pessoas estão cada vez mais temerosas de expressar suas opiniões, pois, sem dúvida, sofrerão ataques e hostilidades.
Por isso, crescem os ambientes de omissão, conformismo, abstenção, intolerância(6) e de censura. Em outras palavras, os imbecis estão vencendo, não pelos argumentos, mas pela quantidade de atrocidades que disseminam.
Imprensa em Vertigem
Surpreendentemente, até a imprensa se imiscuiu na confusão entre crítica e ofensa. A imprensa sofre acusações, comprováveis, de ser tendenciosa ou de disseminar fake news e opiniões falsas.
Os absurdos são diários e tornaram-se normais para aqueles que, de modo vil, concordam com os desvios éticos.
Por exemplo, podemos citar dois casos recentes:
- Comentarista de política expressa uma opinião pessoal sem fundamento ou racionalidade. Outro comentarista, da mesma “bancada”, refutou com argumentos. Nesse ínterim, o comentarista irracional ri e interrompe o contendor. O barraco inicia-se, ou seja, total falta de respeito aos telespectadores e demais comentaristas.
- Uma articulista e colunista manifesta-se contrária a um governante ou partido político. Desse modo, ela que publicou textos falsos anteriormente, oferece-se a oposição política para mais textos falsos e fake news. Surpreendentemente, parte das oligarquias da comunicação escolhem o lado que mais despeja verbas publicitárias.
Por isso, as pessoas mais inteligentes sempre desconfiaram da imprensa, ou da maioria dos grandes canais de comunicação. Desta forma, a desconfiança aumenta quando qualquer sociopata assume um “canal” de desinformação. Infelizmente, perfis de redes sociais são mais propensos a acreditar em informações falsas que confirmam suas opiniões.
Opinião
O respeito à opinião alheia inexiste com a ascensão das redes sociais, embora prevaleça a hipocrisia do “respeito sua opinião“. Quem respeita, verdadeiramente, a opinião alheia entra no debate, apresenta argumentos, ouve críticas e não escreve chavões.
As pessoas estão cada vez mais intolerantes às opiniões diferentes das suas. Isso está levando a um ambiente de ódio e de violência.
É preciso educar as pessoas sobre a importância da crítica e sobre a necessidade de respeitar, de verdade, a opinião alheia. Entretanto, medidas como regulamentar a produção de conteúdo nas redes sociais são um tiro no pé. As pessoas sem qualificação ou conhecimento, que se manifestem sobre qualquer assunto, devem receber críticas, com fundamento.
Por isso, para garantir a liberdade de expressão e o respeito à opinião alheia é preciso pensar e agir com inteligência.
Superação
Com toda a certeza, a luta contra a desinformação e os compartilhamentos mentirosos e venais é árdua. Atualmente, as pessoas preferem abandonar qualquer debate em nome de uma sociedade mais civilizada. Ledo engano, os imbecis se vangloriam com o “vencemos“, a cada abandono dos racionais de cada “campo de batalha”.
Por outro lado, a educação para a inclusão digital, que é fundamental para superar essa confusão, está em segundo plano. Destarte, as pessoas deveriam entender a importância da crítica e a necessidade de respeitar opiniões contrárias.
A regulamentação da produção de conteúdo nas redes sociais pode ser importante, mas exige cuidados que não vemos nos legisladores. Estabelecer regras para cercear opiniões, mesmo sem qualificação, sobre qualquer assunto pode ter limitações controversas.
Além disso, promover o diálogo e o debate público deveria ser do interesse de qualquer sociedade que pretende evoluir. Com efeito, ouvir diferentes opiniões e nos posicionarmos sobre os temas relevantes, sem pressões ou desrespeito.
Enfim, para superar essa confusão e garantir a liberdade de expressão, de imprensa e o respeito à opinião alheia, nem sabemos o caminho. As palavras sensatas(7), ainda que sob o véu da crítica ácida ou sarcástica, precisa ter a valorização que nunca teve.
(1) “Entre sem bater – Paulo Francis – Vida Inteligente”
(2) “Morreu Olavo de Carvalho”
(3) “Paulo Francis – Frases Famosas”
(4) “Entre sem bater – Joseph Pulitzer – Imprensa Cínica”
(5) “Entre sem bater – Mary Heaton Vorse – Filosofia do Ódio”
(6) “Entre sem bater – Montesquieu – Intolerância”
(7) “Entre sem bater – Goethe – Palavras Sensatas”
Imagem: Entre sem Bater – Paulo Francis – Crítica e Respeito
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
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