Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. O “Poder da Inveja” na história de Malba Tahan, obteve uma exponenciação alarmante com as redes sociais.
Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente. Uma adaptação textual, com redução, pode ter publicação em sites e outros blogs, como o “Recanto das Letras“.
As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Malba Tahan
Costumo dizer, de fato, que alguns polímatas têm muita facilidade em transitar por disciplinas completamente diferentes. Assim era Malba Tahan, que defendeu a matemática como poucos professores experientes de matemática fazem. Como se não bastasse, era um escritor e pensador, que fazia filosofia com seus enigmáticos personagens. Suas demonstrações e ideias podiam dar uma pequena noção do poder da inveja.
Júlio César de Mello e Souza ( Rio de Janeiro, 6 de maio de 1895 — Recife, 18 de junho de 1974), mais conhecido como Malba Tahan, foi um professor, educador, pedagogo, conferencista, matemático e escritor do modernismo brasileiro, e através de seus romances infanto-juvenis, foi um dos maiores divulgadores da matemática do Brasil. Júlio César viveu quase toda sua infância na cidade paulista de Queluz e, quando criança, já dava mostras de sua personalidade original e imaginativa, costumava escrever histórias com personagens de nomes absurdos, e, outros, sem função no contexto.
Fonte: Wikipedia (Português)
O Poder da Inveja
Quando escrevi sobre a inveja(1) associando os pecados “originais” e a modernidade das redes sociais, muitos pensaram ser somente uma piada. Entretanto, as palavras do narrador da história de Beremiz(*) são atuais, vívidas e reais em nossa sociedade em putrefação.
Destarte, o conceito atemporal da inveja ecoa no mundo contemporâneo, especialmente nas redes sociais. A exposição da vida alheia e a busca incessante por validação só intensificam sentimentos negativos e desprezíveis. O fictício universo de Beremiz e as dinâmicas das redes sociais modernas pertencem a um universo paralelo revelador.
A trajetória de Beremiz, assim como a trajetória de qualquer perfil numa rede social apresenta muitos desafios. Desse modo, a inveja como sentimento humano, surge como um elemento desestabilizador de cada pessoa. Analogamente, nas redes sociais, onde as conquistas e aparências(2) estão em exibição, a inveja é a força motriz para atitudes deploráveis.
No ambiente digital contemporâneo, assim como o mundo ficto de Beremiz, prevalece uma competição incessante, real.
A busca por likes, seguidores e validação social cria um terreno fértil para a inveja florescer.
A visibilidade das conquistas alheias muitas vezes desperta sentimentos de insatisfação e cobiça, alimentando a cultura da comparação. Em vez de celebrar e se inspirar nas realizações uns dos outros, as reais e não imaginárias, cresce somente o sentimento de inveja.
Em Minas Gerais existe a lenda de que, alguém com inveja, ao invés de usufruir com a pessoa que demonstra sucesso, cuida de prejudicá-lo. E, até onde tenho conhecimento, esta história vem desde muito antes de qualquer tecnologia ou da revolução industrial.
É um carma !
Ambição e Cobiça
A exibição ostensiva de bens materiais, corpos esculpidos e estilos de vida perfeitos gera uma espiral de desejos incontroláveis. Assim como Beremiz, os usuários das redes sociais enfrentam a tentação de desejar avidamente as vidas alheias. Surpreendentemente, estes usuários desconsideram o custo emocional desses desejos pecaminosos.
A ambição e a cobiça, embora sejam um impulso natural para o crescimento pessoal, assumem contornos sombrios nas redes sociais.
A busca sem limites por reconhecimento e sucesso propiciam até ações criminosas. Por exemplo, a criação de uma persona (perfil) online com dados de outras pessoas é crime. Como se não bastasse, a inserção de informações irreais da própria pessoa prejudica não somente a ela, mas a muitos outros.
No mundo irreal de Beremiz existem dilemas semelhantes, com a ambição de alguns personagens levando-os a caminhos moralmente ambíguos. Entretanto, o mundo criado por Malba Tahan tem o propósito de utilizar-se de metáforas e ficção, para transmitir sabedoria. Nas redes sociais, com efeito, a pressão por padrões irreais comprometem a autenticidade e a integridade no mundo real, sem metáforas.
Comportamentos Tóxicos
Os comportamentos abjetos e desprezíveis que Malba Tahan menciona em sua obra encontram eco nas interações digitais contemporâneas.
O anonimato nas redes sociais, sob a máscara de privacidade, libera comportamentos tóxicos, como o cyberbullying e a disseminação do ódio(3). A competição constante e a exposição excessiva também podem levar a uma desconexão das relações humanas autênticas. Por isso, a busca pela tal aprovação virtual em detrimento do respeito e compaixão reais, prevalece no mundo virtual.
Enfim, num paralelo entre o mundo de Beremiz e as dinâmicas das redes sociais modernas a reflexão e calma são essenciais. Portanto, é imperativo considerar como a inveja, a cobiça, a ambição e comportamentos desprezíveis impactam negativamente na sociedade.
Sinais do Universo Paralelo
A inveja nas redes sociais apresenta-se de várias maneiras. Inquestionavelmente, na quase totalidade dos casos, levam a atitudes e comportamentos negativos e emocionalmente desprezíveis.
Desse modo, é fácil apresentar algumas das principais formas e sinais em que a inveja é expressa nas redes sociais:
Comparação com outras pessoas
A comparação com a vida de outras pessoas tornou-se comum, a partir do que se vê nas redes sociais, mas nem sempre geram comentários. Notadamente em termos de bem-estar, posição social e relacionamentos estas comparações raramente sofrem repreensão. Com isso, cria-se a inveja e cobiça, pois muitas pessoas se sentem desacomodadas com o que diz o outro. Entretanto, muitas vezes, esta percepção de que os outros têm uma vida melhor que a sua parte de falácias e premissas falsas.
Foco na aparência e posses
Nas redes sociais muitas pessoas exibem aspectos materiais da vida, como viagens, compras e objetos de luxo que provocam desejos insanos. Por exemplo, uma influencer publica imagens com seu novo carro de valor bastante alto. Esta influenciadora (Camila Loures)(4) não diz onde arrumou tanto dinheiro e os golpes e crimes que teve que praticar. Seus seguidores somente alimentam a inveja e querem um dia ser como ela. No mundo moderno mais vale a aparência de ter coisas que eles não podem possuir do que a moral e a ética.
Manipulação e difamação
Ficou muito fácil difamar e manipular as pessoas, criando um ambiente de inveja e cobiça. O triângulo mundo-linguagem-sujeito provoca situações como o caso Whindersson-Choquei-FakeNews que ninguém fiscaliza. Como se não bastasse, neste caso, ainda encontra-se milhões de apoiadores para os criminosos. Esses comportamentos levam a uma maior polarização e fragmentação social. O número de pessoas a combater a manipulação e difamação é muito menor do que os que a fomentam. E, infelizmente, a percepção da maioria, de que outras pessoas estão tentando prejudicá-los, raramente aparece.
Inveja do bem
Surpreendentemente, alguns pesquisadores desenvolveram trabalhos com a hipótese de que as redes sociais podem produzir a inveja do bem. Desse modo, permitiria o efeito das pessoas se esforçarem mais para apresentar uma imagem positiva de si mesmas. Contudo, isso pode levar a uma maior frustração e insatisfação com a vida, se o “sarrafo” da comparação for irreal. Muitas pessoas agem sob a pressão de medirem-se com as outras pessoas que não têm limites da irrealidade.
Efeito na satisfação com a vida
A possibilidade de que as pessoas mirem-se em espelhos que distorcem a sua própria imagem provoca resultados imprevisíveis. Por isso, muitos estudiosos aumentam suas preocupações sobre a saúde mental com o uso intenso das redes sociais. As teorias de efeitos negativos sobre o bem-estar e qualidade de vida daqueles usuários crônicos das redes, são alarmantes. Além disso, o tempo gasto nas redes sociais interfere, drasticamente, com as nossas interações e relacionamentos reais. O aumento da solidão e isolamento social real, em meio a milhões de conexões virtuais tornou-se caso de epidemia pública.
Crítica Social
A crítica social presente na obra de Malba Tahan serve como um lembrete atemporal de que o mundo mudou e muitas coisas pioraram. Com toda a certeza, independentemente do cenário, a inveja obscurece a essência humana e corrói os alicerces éticos da sociedade.
É provável que, tanto Beremiz quanto as redes sociais ofereçam reflexões profundas sobre as ações da natureza humana. As consequências destas ações, sem dúvida, permitem que sentimentos negativos como a inveja e a ambição ditem o curso de nossas vidas. Estamos navegando nas ondas da Internet sem saber a que porto seguro queremos chegar.
A obra de Malba Tahan e suas metáforas deveriam servir de alerta para a importância de cultivar valores éticos e genuínos. Entretanto, neste mundo cada vez mais virtual, as pessoas sequer sabem quem foi Malba Tahan, inclusive professores de matemática.
Em suma, a inveja presente nas redes sociais de várias maneiras, leva a comportamentos desprezíveis e reprováveis. Por isso, os usuários das redes sociais deveriam entender esses sentimentos e buscar maneiras de lidar com a inveja.
A inveja é muito poderosa e entra na mente das pessoas sem deixar rastros do mal que provoca. Caso a crítica e a possibilidade de reflexão soçobrem aos sentimentos daninhos como a inveja, só nos resta dizer que “perdemos !“.
“Amanhã tem mais …”
P. S.
(*) Aqui faz-se necessária uma explicação para os neófitos. Mello e Souza utilizou pseudônimos para escrever livros. Numa passagem de “O Homem que Calculava“(5), o narrador da história de Beremiz, o protagonista, fala sobre a inveja.
(1) “Pecados Digitais – A Inveja”
(2) “Entre sem bater – Epicteto – Aparências”
(3) “Ódio – Um sentimento mesquinho”
(4) “Camila Loures – Profissão Youtuber”
(5) “O Homem que calculava – Wikipedia”
Imagem: Entre sem Bater – Malba Tahan – O Poder da Inveja
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
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