Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. O Marquês de Maricá era um político e filósofo e certamente, preocupou-se com a “Decadência“, stricto sensu.
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As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Marquês de Maricá
Existia um ex-jogador de futebol, que virou comentarista de futebol na TV, e era folclórico, mas certeiro nos seus chavões. Kafunga, entre muitas frases, tinha uma que é própria para quem nunca ouviu falar do Marquês de Maricá. Dizia ele: “… Marquês de Maricá?, não conheço, mas diz alguma coisa dele, qualquer coisa…”. Desse modo, tínhamos um bom parâmetro para avaliar a “obra” da pessoa.
Mariano José Pereira da Fonseca, o Marquês de Maricá, nasceu no Rio de Janeiro, 18 de maio de 1773 e morreu em 16 de setembro de 1848). Foi um escritor, filósofo e político brasileiro no Brasil Colônia, Reino Unido e Império.. Estudou no Real Colégio de Mafra entre 1785 e 1788. Neste mesmo ano, ingressou na Universidade de Coimbra, formando-se bacharel em Filosofia na Faculdade Matemática. Também consta que formou-se em Direito por esta universidade, atuando como advogado no Rio de Janeiro. Integrou a Sociedade Literária, criada no governo do vice-rei Luís de Vasconcelos e Sousa, em 1788. Teve relacionamento com os conspiradores da Conspiração Carioca de 1794 passando dois anos e oito meses na prisão. Contudo, tinha ideias liberais e após a libertação passa a ser conservador e ascende na vida pública brasileira. Pelos trabalhos na Constituição de 1824, recebeu de D. Pedro I com o título de Visconde de Maricá, em 1825, elevando-se a Marquês no ano seguinte. Foi redator do jornal literário O Patriota e escreveu “Máximas, Pensamentos e Reflexões”(1). Sua obra maior é composta de quatro volumes, com um total de 3169 aforismos, publicados entre os anos de 1837 e 1841.
Fonte: Wikipedia (Português)
Decadência
Certamente, alguns personagens da história, e do anedotário brasileiro, não se relacionaram. Por exemplo, podemos citar o Marquês de Maricá, o Barão de Itararé e Kafunga, que faziam críticas sobre o nosso país, similarmente. Entretanto, os contextos eram distintos e até a tal liberdade de expressão(1) era muito diferente.
Desse modo, esses personagens tinham análises e conclusões diferentes sobre impunidade(2), decadência e muitos outros atributos. Como se não bastasse, o brasileiro adquiriu o hábito de apontar seu dedinho para o defeito de outras pessoas e não se ver num espelho. Desse modo, falam do Brasil, numa generalização medonha como se o defeito de uma pessoa ou grupo fosse de todos.
Será que vivemos uma decadência, desde o Brasil Colônia ou quando éramos a metrópole de um “Reino Unido“(*)?
A decadência das facções políticas
A frase do Marquês, provavelmente da primeira metade do século XIX, está mais vívida do que nunca nestes tempos modernos. Entretanto, até mesmo num contexto democrático, a frase possui significação distinta e instigante.
É provável que, no absolutismo monárquico, as facções políticas eram grupos de pessoas que disputavam o poder junto ao rei. A vitória de uma facção significava a sua ascensão aos palácios do poder e a possibilidade de impor suas ideias e interesses. O que, surpreendentemente, corrobora a teoria de que estes comportamentos nunca estiveram em decadência e sim em ascensão.
No entanto, esse poder absoluto muitas vezes levava ao abuso, à corrupção e à falta de legitimidade.
Em uma democracia, as facções políticas deveriam representar os diferentes interesses e as propostas da sociedade. Por outro lado, nesta mesma democracia, todos os segmentos da sociedade deveriam ter uma representação em equilíbrio. Quando um recenseamento indica que a maioria do país é de não-brancos, e a maioria dos representantes é de brancos, temos um desvio.
Assim sendo, as facções políticas nunca estiveram em decadência. Em outras palavras, no Brasil, as representações da sociedade nunca tiveram o equilíbrio e proporcionalidade.
Sociedade
A sociedade brasileira viveu, nos últimos anos, uma polarização como nunca houve registros desde a colonização. As falácias históricas do “Reino Unido”, da “Independência“, da “República” e das “revoluções” mostram nossa verdadeira decadência.
Atualmente, a vitória de uma facção não significa que a maioria da população aderiu às suas ideias e interesses. Outrossim, a democracia é um sistema de governo que deveria permitir a pluralidade de ideias e interesses. Desse modo, mesmo que uma facção vença as eleições, ela não deve negligenciar as ideias e interesses das facções minoritárias.
A frase do Marquês de Maricá nos alerta para o falso perigo da decadência das facções políticas, como vivenciamos, recentemente. Quando uma facção assume o poder e abusa dele, ela, certamente, perde a legitimidade e deveria perder o apoio da população. Isso, eventualmente, levaria à sua queda, à ascensão de uma nova facção e ao círculo vicioso da decadência.
#MAKTUB
A decadência da democracia
Por outro lado, no contexto da democracia, a decadência das facções ocorre de várias maneiras, com a possibilidade de alguma manipulação mental. Por exemplo, o tema corrupção entra numa disputa política e provoca, surpreendentemente, mais corrupção. Quando uma facção política se apropria do poder para benefício próprio, ela perde a confiança da população. Isso pode levar a protestos pueris, manifestações e até mesmo à violência, com muitas evidências de manipulação.
Assim sendo, o brasileiro mediano, que vai atrás somente dos influenciadores de redes sociais, escolhe uma posição político-partidária de forma incipiente. Cada brasileiro, com idade superior a 16 anos, ou menos, certamente adquiriu um posicionamento nos últimos 10 anos. Com toda a certeza, se não foi às ruas pelos R$0,20, ficou em casa atrás de um teclado. Desse modo, tentou mostrar a aparência de que estava se politizando e agora se esconde atrás de redes sociais.
Nesse ínterim, outra maneira pela qual as facções políticas degeneram a politização é através do autoritarismo e das mentiras. Quando políticos tentam suprimir as ideias e interesses das facções minoritárias, violam os princípios da democracia e independência. Por isso, vivemos tempos de repressão, de censura e de violação dos direitos humanos, com viés parcial e corporativista.
Política Local
A decadência da sociedade ocorre pela falta de representatividade nas instâncias decisórias e de debate. Por exemplo, quando um eleitor elege um vereador(3) que defende a igrejinha do pai dele, com seu discurso agradável, chama-se conivência. E, como se não bastasse, você atua contra sua raça, seu credo, suas concepções, pois ele e outros não defenderão seus direitos.
A política do país começa na política local. A eleição de alcaides e edis não provoca a maioria dos eleitores sobre a importância desta eleição. Você, eleitor deste tipo de vereador, é cúmplice de toda a decadência ética e moral que constitui a luta de muitos.
Enfim, quando uma facção política ou um representante político não representa os interesses da maioria da população, ela perde a legitimidade. Isso deveria levar ao descontentamento social e à ascensão de uma nova facção, mas os exemplos contrários, atualmente, parecem vencer.
O debate sobre a “facção política”
A diferença de significado de facção política entre o Império e os dias de hoje levanta um debate importante.
É possível que a frase do Marquês de Maricá tenha validade na pretensa democracia que vivemos?
Com toda a certeza, alguns defendem a validade da frase em qualquer contexto histórico e político. A vitória de uma facção política, seja em um regime absolutista ou democrático, sempre traz o risco de abuso, corrupção e falta de legitimidade.
Por outro lado, alguns teóricos diriam que a ideia é menos importante na democracia. Diriam que, na democracia, as facções políticas têm por princípios como o Estado de Direito, a separação dos poderes e a liberdade de expressão. Por isso, em teoria, haveria mais dificuldade sobre o abuso, a corrupção e outras mazelas.
Uma terceira posição diria que, na democracia, as facções políticas representam os interesses de grupos específicos da sociedade. Contudo, estes interesses, nos dias atuais aqui no Brasil, significam mais poder dos mesmos e das oligarquias. Por exemplo, o tal “orçamento secreto” beneficia alguns currais eleitorais, mas beneficia mais os coronéis donos destes currais. Isso deveria levar à conscientização da população, ao descontentamento social e mudança da representatividade, #SQN.
Em suma, a resposta a esse debate é complexa e não há uma resposta fácil. No entanto, é importante estarmos conscientes do risco de decadência das facções políticas, seja em um regime absolutista ou democrático.
Evitando a decadência
Em alguns textos deste Blog, a questão da decadência moral é mais do que explícita. É provável que façamos vários decálogos(4) da impunidade, para casos extremos, que a população esquece após 5 segundos.
Devemos, sem dúvida, estar atentos a algumas proposições para que a decadência ética e moral tenha exposição real.
- Combate à corrupção: As instituições de controle do Estado para combater a corrupção devem ser fortes e independentes. Opiniões de influenciadores ou de comentaristas da mídia não revelam nada de factual, são apenas opiniões.
- Promoção da democracia: Devemos fortalecer os princípios da democracia, como o Estado de Direito, a separação dos poderes e a liberdade de expressão. Campanhas eleitorais e disseminação de fake news não promovem a democracia.
- Promoção da representatividade: A sociedade deve ter representação em equilíbrio nas facções políticas que defendem os interesses da maioria da população. Se o país tem 50% de mulheres, ou de não-brancos, esta deve ser a proporcionalidade correta das facções.
A implementação dessas proposições não é fácil, mas é essencial para garantir a estabilidade e o desenvolvimento da democracia. Infelizmente, a maioria da população não aceita a sua condição e não tem a mínima noção de seu poder coletivo. A maioria busca somente dar seus jeitinhos e o egocentrismo predomina desde a infância.
Estamos perdendo a guerra, a decadência é moral e ética, “Amanhã tem mais …”
P. S.
(*) Conta-se, nos livros de história do Brasil, um monte de fábulas e estórias da carochinha. É provável que a maior de todas seja a única metrópole colonizadora fora da Europa. A instalação do tal Reino Unido de Portugal e Algarve é um aborto histórico. Sobre a frase, com atribuição de autoria ao Marquês de Maricá, pode ser que seja um aforismo ou paráfrase. Existem indicativos de que poderia ser de François Guizot ou do Visconde de Porto Seguro.
(1) “Entre sem bater – Benjamin Franklin – Liberdade de Expressão”
(2) “Entre sem bater – Marquês de Maricá – Impunidade”
(3) “Nikolas Ferreira e seus 29.388 eleitores”
(4) “Não foi acidente – Decálogo da Impunidade”
Imagem: Entre sem Bater – Marquês de Maricá – Decadência
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
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