Entre sem bater - Honoré de Balzac - Duas Histórias

Entre sem bater – Honoré de Balzac – Duas Histórias

Entre sem Bater

Este é um texto da série “Entre sem bater” ( Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Honoré de Balzac, com toda a certeza, teria muita dificuldade para reproduzir seu pensamento de “Duas Histórias“, atualmente.

Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente. Uma adaptação textual, com redução, pode ter publicação em sites e outros blogs, como o “Recanto das Letras“.

As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.

Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.

Honoré de Balzac

O escritor francês foi, com toda a certeza, merecedor de alguns privilégios que teve. Nascer junto com a República Francesa permitiu que ele tivesse uma educação completamente diferente. Desse modo, muitas das opiniões que ele apresenta, como da liberdade política, fazem todo o sentido. Inclusive, quando inclui “ad usum delphini(*) na frase-chave, indica que nem todos que leem podem compreender o que estão lendo.

Honoré de Balzac, nasceu Honoré Balzac em  em Tours e faleceu em em Paris, é um escritor francês. Romancista, dramaturgo, crítico literário, crítico de arte, ensaísta, jornalista e impressor. Deixou uma das mais impressionantes obras românticas da literatura francesa, com mais de noventa romances e contos publicados de 1829 a 1855. Reunidos sob o título de La Comédie Humana. Adicionado a isso estão Les Cent Contes drolatiques, bem como romances juvenis publicados sob pseudônimos e cerca de vinte e cinco trabalhos esboçados.

Fonte: Wikipedia (Francês)

Duas Histórias

Vivemos num mundo onde a informação está disponível para a maioria da população do planeta, em qualquer lugar em quase todos os idiomas. As redes sociais e, atualmente, a explosão da inteligência artificial (IA) que agora está até nos celulares, proporciona esta oportunidade. Entretanto, como afirmou, categoricamente Honoré de Balzac, as pessoas não distinguem as duas histórias. Como se não bastasse, aparecem as versões das histórias, a maioria, feita, obviamente, para incautos e “delphini“.

Dualidade Histórica

Honoré de Balzac, em sua perspicácia literária, sentenciou algo que recrudesceu enormemente séculos depois.

A dualidade histórica entre a versão para “delphini” e a história secreta real vem de muito antes de Balzac, e está presente, até na Bíblia. Pesquisas históricas recentes indicam que alguns “Evangelhos” sumiram de qualquer das versões atuais da Bíblia. Em outras palavras, se a história tem narrativas de humanos, será uma versão ou meia-verdade(1), desde priscas eras.

Surpreendentemente, esta hipocrisia não se limita mais às páginas dos livros didáticos, mas permeia intensamente toda a vida contemporânea. Desse modo, as redes sociais assumem o papel de mestras e a verdade se fragmenta em mil meias-verdades e versões.

Nas salas de aula virtuais das redes sociais, a história oficial transforma-se, facilmente em narrativas convenientes e parciais. Se antes as instituições educacionais tinham o monopólio do ensino da história, agora as plataformas digitais são os curadores da narrativa coletiva.

Por outro lado, ao contrário da pretensa democratização do conhecimento, as redes sociais perpetuam visões distorcidas da realidade. Desta forma, a outrora dualidade passa a percepção pública de eventos passados, presentes e até futuros.

Meias- Verdades

Na realidade, a dualidade, atualmente, é entre a verdade e a mentira. Infelizmente, não existe nenhuma verdade nas redes sociais e mídia. Assim sendo, vivemos num mundo de mentiras e opiniões, sem a perspectiva de crítica às teorias e práticas. Enfim, estamos em plena era da informação(2) em que não existe verdade absoluta e até alguma verdade existe nas mentiras.

A prevalência de meias-verdades nas redes sociais cria uma névoa opaca sobre a compreensão coletiva dos acontecimentos. Postagens fora de contexto ou com manipulações grotescas ganham vida própria. Desta forma, alimentando-se da natureza efêmera e impulsiva das interações online, as meias-verdades viram realidade.

As plataformas digitais incentivam este tipo de polarização, transformando divergências legítimas em batalhas ideológicas. Desse modo, as plataformas ganham dinheiro e ajudam na monetização até de perfis falsos, sem nenhum escrúpulo.

Nesse cenário, a história oficial reduz-se a uma série de narrativas simplistas que geram intermináveis debates estéreis. Assim sendo, deixa-se  de lado a riqueza e complexidade das ideias inerentes aos eventos reais e nossas vidas.

Histórias Secretas

A história secreta, a partir do pensamento de Balzac, é ainda mais elusiva na era das redes sociais. Causas reais dos acontecimentos passam por cortinas de desinformação, interesses ocultos e manipulação. Desse modo, fica impossível determinar qual a parte verdadeira de cada meia-verdade em um texto ou postagem. E, com toda a certeza, depois que algo se tornou viral não existe verificação que corrija a mentira.

Adicionalmente, até a mídia tradicional sucumbe à pressão de agendas políticas e corporativas, omitindo e distorcendo informações cruciais. A verdadeira crônica dos eventos fica sob camadas de sensacionalismo e entretenimento. Desta forma, perpetua-se a desconfiança em relação às instituições e à própria noção de verdade.

Mundo Moderno

A dualidade histórica de Balzac, que antes estava nas páginas dos livros, agora permeia cada interação digital. As redes sociais, apesar de seu potencial para conectar o mundo, se tornam palcos de desinformação e polarização. A história oficial tem sua apresentação, certamente, em flashes de 280 caracteres. Por outro lado, nossa passividade enterra a história secreta e real sob as avalanches de conteúdos virais.

Em um mundo onde as conexões digitais determinam a compreensão coletiva, os indivíduos deveriam ser mais críticos. As pessoas deveriam buscar além das narrativas superficiais e questionar todas as versões que aparecem nas timelines.

Em suma, a dualidade de Balzac morreu e as histórias para neófitos encontram terreno fértil nas redes sociais. Os espaços virtuais, atualmente, fragmentam e distorcem a maioria dos fatos. Uma mesma história secreta permanece escondida nas entrelinhas e ganha versões diferentes, dependendo da conveniência de cada perfil.

Os exemplos são muitos, da guerra entre Rússia e Ucrânia à questão das vacinas. Nestes casos, e em muitos outros, a história real é alvo de polarização e da criação de versões.

Em um esforço para resgatar uma compreensão da realidade, é crucial questionar, analisar e buscar fontes diversas. Devemos reconhecer, outrossim, que por trás de cada meia-verdade, há uma história complexa esperando por narrativas imparciais.

O mundo moderno(3) ultrapassou todos os limites da frase de Balzac sobre existir duas histórias. Inquestionavelmente, Balzac era um fanfarrão.

Amanhã tem mais …

P. S.

(*) Raramente utiliza-se a expressão “ad usum delphini” no idioma português. Tornou-se uma expressão pejorativa que remonta ao Século XVIII. Em português aceita-se a tradução de “para uso de príncipes” ou “para uso de jovens” ou “para uso dos neófitos“.

 

(1) “Entre sem bater – Alfred North Whitehead – Meia-verdade

(2) “Entre sem bater – Ryszard Kapuściński – Era da Informação

(3) “Entre sem bater – G K Chesterton – Mundo Moderno

 

Imagem: Entre sem Bater – Honoré de Balzac – Duas Histórias  

Nota do Autor

Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.

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