Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. A ousadia dos “Canalhas” contaminou os homens de bem, como queria “Nélson Rodrigues“, contudo, o mundo não tem salvação.
Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente. Uma adaptação textual, com redução, pode ter publicação em sites e outros blogs, como o “Recanto das Letras“.
As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Nelson Rodrigues
O recifense Nelson Rodrigues é um dos personagem mais polêmicos da história republicana do país. A princípio, tenho enormes discordâncias em relação ao seu trabalho e a forma como tratava de alguns assuntos. O fato de eu não gostar do time do Fluminense (RJ) se deve muito à paixão que o jornalista nutria pelo “Tricolor das Laranjeiras“. Entretanto, é inegável que muitas de suas frases continham uma crítica ácida e sincera à nossa sociedade.
Nelson Falcão Rodrigues (Recife, 23 de agosto de 1912 – Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 1980) foi um escritor, jornalista, romancista, teatrólogo, contista e cronista de costumes e do futebol brasileiro. É considerado o mais influente dramaturgo do Brasil.
Fonte: Wikipedia
Os Canalhas
Algumas palavras têm sua utilização da forma mais pertinente e precisa quanto possível. Desse modo, a frase de Nélson Rodrigues, com a especificação e descrição da ousadia que os canalhas protagonizam, é uma quase perfeição. Entretanto, mesmo que concordando, no geral, devemos definir com precisão os canalhas a que nos referimos.
Assim sendo, desde um dicionário qualquer, temos que:
Canalha é um substantivo de dois gêneros(*) que indica uma pessoa sem moral, desonesta, patife, infame, velhaca. Serve também como definição para uma reunião de pessoas sem honra ou desprezíveis. Como se não bastasse, adjetivam as pessoas vis, sem valor, ordinárias. Em suma, a origem latina da palavra é definitiva e, tenho pra mim que somente pulha pode ser comparável a esta desqualificação.
Homens de Bem
Anteriormente, Nélson Rodrigues fez medições com a sua própria régua, para delimitar os homens de bem e os canalhas. É provável que se fosse vivo, o feroz crítico daqueles que ele não gostava teriam outras medições. Recentemente, a avaliação das pessoas e o quanto são canalhas passa pela estupidez da polarização política eleitoral. As pessoas criaram a expressão “cidadão de bem” para designar aquele que tem privilégios(1) acima de tudo e de todos.
Desse modo, a ousadia dos canalhas passou a ser um atributo dos homens de bem. Surpreendentemente, o discurso de quem é de bem transformou-se em plataforma de campanha política. Fico até curioso em saber qual a posição e opinião do reacionário Nélson Rodrigues em relação ao tema.
É impressionante como, atualmente, as pessoas só querem saber da sua própria opinião. A reflexão e debates sobre frases como as de Nélson Rodrigues inexistem ou transformam-se em bate-boca diversionista.
Enfim, a ousadia dos canalhas contaminou aqueles que, um dia, foram os homens do diálogo e troca de ideias.
O Debate
A afirmação de Nélson Rodrigues é, sem dúvida, forte, provocativa e suscita várias interpretações, do jeito que as redes sociais adoram. A princípio, a frase sugere que as pessoas que se consideram “de bem” são muito passivas. E, por outro lado, acusa que estas pessoas não agem com a mesma determinação e coragem que os canalhas.
Assim sendo, em muitos aspectos da nossa vida, desde a política até a vida cotidiana, podemos usar este pensamento. Até o próprio Nélson Rodrigues demonstrava sua canalhice em textos de dramaturgia em relação, por exemplo, às mulheres.
Outro Lado
Outrossim, a frase é como uma crítica àqueles que se consideram “de bem” gostam de apontar seus dedinhos sujos para os outros. Muitas vezes, notadamente nas redes sociais, as pessoas cuidam de manter sua imagem de “pessoa boa”, “do bem”, legais e empáticas. E, desse modo, acabam se isolando em seus interesses e nada fazem para mudar o mundo.
Por isso, a ideia de que as pessoas cautelosas e hesitantes deveriam ter a ousadia dos canalhas. Contudo, a questão de como ter a ousadia destes canalhas, sem serem como eles, não passa em nenhum debate ou pregação. Em suma, qualquer um que praticar suas ações com a ousadia dos canalhas, sem medo das consequências, torna-se um deles.
Redes sociais
Com a revolução das redes sociais, mídias digitais e novas tecnologias a ousadia dos canalhas ficou sem limites(2) e muito mais complexa. A imensa maioria das pessoas nas redes sociais cria uma imagem de si mesmas como “pessoas boas”, o que é apenas uma fachada. Embora sejam uma ferramenta poderosa para a mudança social, estas redes e plataformas só espalham desinformação e ódio.
A frase de Nélson Rodrigues deveria motivar um debate sobre o que significa ser “de bem”, mas as redes sociais não querem saber disso.
Desta forma, uma mudança real só aconteceria se as pessoas agissem com princípios e virtudes como no Bushido(3). Certamente, o que vemos são as pessoas se tornando canalhas, sendo ousadas e agindo com mais determinação e desonra.
A frase de Nélson Rodrigues, eventualmente, poderia ser um chamamento à ação e transformação sociocomportamental. Talvez a tal vontade de mudar o mundo não seja objetivo de ninguém que frequenta as redes sociais. Inquestionavelmente, os frequentadores (a grande maioria) das redes sociais não querem mudar nem a si mesmos. Querem somente utilizar essas ferramentas e tecnologias de forma irresponsável e em benefício próprio ou da família. Ainda que com a falsa polarização entre os de bem e os outros os canalhas terão sempre a primazia da ousadia e enganação.
Se é assim no mundo real da política, porque não seria nas redes sociais onde reina a hipocrisia?
“Amanhã tem mais …”
P. S.
(*) Significa que vale para o masculino, feminino e qualquer identidade de gênero que surgir. Ressalto que de acordo com alguns ensinamentos que recebi, é indelicado chamar as pessoas do gênero feminino de canalhas. Por outro lado, algumas fazem por merecer até mais do que esta qualificação.
(1) “Entre sem bater – Milton Santos – Os Privilégios”
(2) “Entre sem bater – Melanie Klein – Sem Limites”
(3) “As 7 virtudes do Bushido (Parte 1)”
Imagem: Entre sem Bater – Nélson Rodrigues – A Ousadia dos Canalhas
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
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