Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Dona Ivone Lara foi, certamente, uma especialista no “Pranto“, seja ele o verdadeiro ou o falso.
Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente. Uma adaptação textual, com redução, pode ter publicação em sites e outros blogs, como o “Recanto das Letras“.
As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Dona Ivone Lara
Alguns personagens da história brasileira, especialmente mulheres, nunca têm reconhecimento suficiente pelo que fizeram de grandioso. Certamente, é o caso da Grande Dama do Samba brasileiro que sabia identificar o prato verdadeiro e o falso, de gente ruim. Desse modo, uma frase de qualquer texto de Dona Yvonne, faz muito sentido.
Yvonne Lara da Costa OMC, mais conhecida como Dona Ivone Lara (Rio de Janeiro, 13 de abril de 1922 – 16 de abril de 2018), foi uma cantora e compositora brasileira. Conhecida como Rainha do Samba e Grande Dama do Samba ela foi a primeira mulher a assinar um samba-enredo e a fazer parte da ala de compositores de uma escola, a Império Serrano. Formada em Enfermagem e Serviço Social, consagrou-se como cantora e compositora, desempenhando importante papel como enfermeira na reforma psiquiátrica no Brasil, ao lado da médica Nise da Silveira, dedicando-se a essa atividade durante mais de trinta anos, antes de se aposentar e dedicar-se exclusivamente à carreira artística.
Fonte: Wikipedia
O Pranto
Não importa se é um sorriso democrático ou um pranto com lágrima de crocodilo, quando vem de gente ruim, certamente não devemos nos comover. Em tempos de redes sociais onde a hipocrisia está no comando não apenas o pranto de gente ruim incomoda. Esta gente ruim demonstra que não tem caráter e finge empatia para ganhar seguidores e outras barbaridades. Como se não bastasse, defendem seus privilégios e ainda se arvoram de vítimas de governos e da situação política do país.
Lágrimas de Crocodilo
É provável que a educação de Dona Ivone Lara entrou em campo para que ela fizesse referência a um pranto. Também é admissível a ideia de que ela era especialista em qualquer tipo de lágrimas, e sabia identificar as de crocodilo.
A propósito, a expressão lágrimas de crocodilo vem bem a calhar para dar a dimensão e peso desta frase. Diz a lenda que um crocodilo chora quando engole suas vítimas. Sendo assim, como alguém pode chorar se está fazendo mal a outrem?
A frase e ideia das “lágrimas de crocodilo” tem origem duvidosa(*), mas algum pensamento nesta linha existia da Grécia Antiga. Filósofos como Plínio, O Velho, fizeram, supostamente, referências a esta capacidade dos crocodilos.
Daí surgiu, certamente, a ideia do paralogismo, falácia para os que pensam, do Apelo à Misericórdia.
Argumentum ad Misericordiam
O paralogismo muito popular, atualmente, do Apelo à Misericórdia (em latim, “Argumentum ad misericordiam“) virou hit. Este tipo de narração ocorre quando alguém busca influenciar outros por meio de apelos emocionais, como piedade, compaixão ou simpatia. Desse modo, ao invés de argumentos lógicos e evidências concretas, os meliantes da oratória utilizam o vitimismo.
Essa manipulação emocional ocorre quando se utiliza um prato, choro ou lamúria, como uma ferramenta de persuasão e comoção.
O pranto, enquanto expressão emocional genuína, pode, eventualmente, ser uma resposta natural a situações difíceis ou traumáticas. Contudo, quando utilizado de maneira estratégica para obter benefícios e privilégios, é uma arma criminosa. O indivíduo que busca comoção coletiva ou individual através da lamúria desvia a atenção de suas próprias ações ou responsabilidades. Assim sendo, a emoção e lágrimas são como uma cortina de fumaça para encobrir a realidade.
Gente Ruim
A falácia do Apelo à Misericórdia é, sem dúvida, evidente quando as pessoas tentam justificar suas más ações ou buscar vantagens indevidamente. Em outras palavras, explorar os sentimentos alheios para pedir uma esmola ou até mesmo para um dízimo. Essa vil estratégia se apoia na ideia de que, ao provocar a compaixão, as pessoas concederão favores ou tratamento preferencial. Com toda a certeza, existem casos que é necessário, mas em outros ignora-se princípios éticos ou normas estabelecidas.
É importante ressaltar que a misericórdia e a compaixão são valores fundamentais em uma sociedade justa e humana. Entretanto, quando esses sentimentos ocorrem com manipulação e distorção para ganhos pessoais, a integridade do apelo à misericórdia inexiste. O pranto daqueles que buscam tirar proveito dessa falácia(1) reflete uma tentativa consciente de explorar as emoções alheias, coisa de gente ruim. E, como se não bastasse, quando se utiliza a comoção coletiva como um meio de alcançar objetivos egoístas, pode ser um crime.
Vitimismo
Como nada é tão ruim que não possa piorar, o fenômeno do vitimismo também está intrinsecamente ligado a essa falácia. Muitos que se apresentam como vítimas buscam despertar compaixão e simpatia, esperando concessões ou privilégios especiais(2). O pranto, nesse contexto, torna-se uma ferramenta poderosa para criar uma narrativa de injustiça. Desta forma, ao apelar diretamente às emoções das pessoas desvia-se a atenção de possíveis questionamentos sobre a verdade.
A sociedade contemporânea está completamente exposta a essas estratégias manipuladoras, seja através da mídia, da política ou das redes sociais. Pode-se observar líderes ou influenciadores, na confrontação, de críticas legítimas, recorrem ao pranto e à vitimização. E, desse modo, é muito fácil desviar a atenção do cerne da questão, no quem recebem apoio dos “passadores de pano” e fãs. Esse comportamento explora a compaixão do público, minando a capacidade crítica e a objetividade necessárias para avaliar a situação de forma imparcial.
Consciência Crítica
Com toda a certeza, Dona Ivone Lara recebeu uma educação e teve uma experiência de vida que lhe permitiu uma consciência crítica de valor. Assim sendo, as pessoas deveriam ler e entender uma frase como a de Dona Ivone e muitos outros para ter outros olhares. Com toda a certeza, precisamos aprender a distinguir entre expressões genuínas de sofrimento e um pranto estratégico e falso.
Além disso, é importante promover um ambiente onde o debate tenha base em argumentos sólidos, evidências e ética. E tentar explicar às pessoas como funcionam as falácias, para não submergirmos ante os apelos emocionais.
Em suma, nas relações interpessoais e sociais a compreensão dessa e de outras falácias ajudam a evitar a manipulação emocional
O pranto, quando é legítimo, fortalece os laços emocionais entre seres humanos, o que pode significar empatia e sinceridade. No entanto, devemos reconhecer que essa expressão de emoção desonesta está garantindo muitos benefícios pessoais nas redes sociais.
Enfim, esta gente ruim está tomando conta do mundo com a sua hipocrisia com narrativas falsas difíceis de desmascarar. A misericórdia e a compaixão são virtudes que enriquecem a experiência humana, mas devemos evitar a manipulação sendo mais realistas. Dona Ivone sempre teve muita razão em não se comover com estes covardes que manipulam pessoas.
“Amanhã tem mais …”
P. S.
(*) Embora de origem duvidosa, qualquer brasileiros sabe o que significa a expressão e pode identificar que a origem é de gente ruim.
(1) “Falácias e Sofismas – A Série”
(2) “Entre sem bater – Milton Santos – Os Privilégios”
Imagem: Entre sem Bater – Dona Ivone Lara – O Pranto
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
- Os textos de “Entre sem bater” são opinativos/informativos, inquestionavelmente com o objetivo de estimular a reflexão e o debate.
- Sugestões, indicações de erro e outros, uma vez que tenham o propósito de melhorar o conteúdo, são importantes. Basta enviar e-mail para pyxis at gmail.com, página do Facebook, associada a este Blog, ou perfil do Twitter, Threads, Koo etc.
- Alguns textos sofreram revisão, outros ainda apresentam erros (inclusive ortográficos) e sofrerão correção à medida que se tornam erros graves (inclusive históricos).
- Algumas passagens e citações podem parecer estranhas mas fazem parte ou referem-se a textos ainda inéditos.