Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. As “Celebridades” a que se referiu “Harry Belafonte“, certamente não existem mais na atualidade.
Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente. Uma adaptação textual, com redução, pode ter publicação em sites e outros blogs, como o “Recanto das Letras“.
As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Harry Belafonte
Belafonte foi daqueles artistas que tinha respeito pelas verdadeiras celebridades, e poderia até se encaixar no conceito de um deles. Entretanto, ao contrário das subcelebridades que vemos atualmente, preferia o trabalho e a discrição. Artista de altíssima qualidade, mostrava seu trabalho especialmente nos EUA, o que lhe qualificou para expressar suas opiniões livremente. A biografia de Belafonte tem o equilíbrio exato entre a carreira artística e o ativismo político-social-humanitário.
Harry Belafonte (nascido Harold George Bellanfanti Jr.; 1 de março de 1927 – 25 de abril de 2023) foi um cantor, ator e ativista dos direitos civis americano, que popularizou a música calipso com o público internacional nas décadas de 1950 e 1960. O álbum inovador da carreira de Belafonte, Calypso (1956), foi o primeiro LP de um único artista que vendeu um milhão de cópias. Belafonte também foi ativista e confidente próximo de Martin Luther King Jr. durante o movimento pelos direitos civis das décadas de 1950 e 1960. Recebeu o Prêmio Humanitário Jean Hersholt no 6º Prêmio Anual dos Governadores da academia e em 2022 foi introduzido no Hall da Fama do Rock and Roll na categoria influência inicial. Ele foi um dos poucos artistas a receber Emmy, Grammy, Oscar e Tony (EGOT).
Fonte: Wikipedia (Inglês)
As Celebridades
O panorama das celebridades passou por uma transformação notável nos últimos anos. Assim sendo, especialmente após a ascensão das redes sociais e a proliferação de realities shows que carecem de conteúdo, a vulgarização é predominante.
Anteriormente, algumas décadas atrás, as celebridades eram destaque pela sua arte, talento ou conquistas notáveis em suas respectivas áreas. Entretanto, a dinâmica mudou com a chegada das redes sociais, onde a vida pessoal das celebridades se torna mais evidente do que seu trabalho. Por exemplo, um jogador de futebol ou artista da música, fica nas manchetes pelos atributos físicos ou pelas fofocas. E, como se não bastasse, muitas destas celebridades são artistas de um sucesso só, em muitas áreas artísticas.
Há alguns anos, as celebridades mantinham reservas em relação à sua vida pessoal e tinham fãs que os respeitavam. A mídia tradicional era a principal fonte de informação sobre suas vidas, e a privacidade tinha preservação na maioria dos casos. Excetuando os tabloides sensacionalistas e os caçadores de encrenca, o respeito à pessoa vinha em primeiro lugar. Atualmente, com as redes sociais, os fãs têm acesso direto às vidas cotidianas de suas estrelas favoritas e criou-se até a figura do perseguidor fanático. Dessa forma, cria-se uma ilusão de proximidade entre fãs e as celebridades que suscita até problemas mentais graves. Como se não bastasse, expõe as celebridades a um escrutínio constante, resultando em uma pressão adicional sobre suas vidas pessoais.
Vida Irreal
Além disso, a ascensão dos realities shows sem conteúdo contribuiu para uma nova geração de celebridades do tipo fast food(*). Estas pessoas que participam destas atrações ganham destaque sem ter qualquer habilidade ou talento. Certamente, refletem aquele público que as seguem, como se fosse algum modelo de pessoa a seguir pelo sucesso(1). Desse modo, suas participações nestes programas servem para explorar dramas pessoais e caráter. Por isso, é impossível observar qualquer contribuição artística ou intelectual ou discernimento sociocomportamental. Em um destes programas, existe a proibição explícita dos participantes levarem livros para ler. O que, certamente influenciaria as pessoas a lerem, ao invés de ficarem perdendo tempo com estes beócios em fase de adestramento.
Se Belafonte desconfiava das celebridades da sua época, não teria adjetivos para desqualificar as celebridades da atualidade.
Enfim, este tipo de entretenimento tomou a direção do sensacionalismo, do despreparo e da ignorância, sem nenhuma qualidade.
Enquanto as celebridades do passado recebiam admiração por suas realizações, atualmente o julgamento por sua popularidade nas redes sociais. A participação em realities shows e outras atividades completamente superficiais gera clickbait(2) e muito mais dinheiro que no passado. Isso levanta questões sobre os critérios pelos quais definimos o sucesso e a notoriedade nos dias de hoje. A superficialidade muitas vezes substitui a substância, criando uma cultura de celebridade que valoriza a imagem sobre a excelência profissional.
Subcelebridades
Por outro lado, as redes sociais deveriam proporcionar às celebridades um canal para expressar suas opiniões e causas. Belafonte, enquanto ativista, sabia usar suas qualidades artísticas e demonstrar seu posicionamento político-social. Atualmente, além das celebridades que rastejam por curtidas, criou-se o personagem com a classificação de subcelebridade.
As subcelebridades contemporâneas inundam as redes sociais e plataformas de superficialidade, egocentrismo e falsidade. Estas atitudes geram uma infinidade de dificuldades e problemas para as pessoas e a sociedade. Inquestionavelmente, a busca incessante por visibilidade, leva as subcelebridades a promoverem conteúdos vazios e apelativos. Desta forma, contribuem para a banalização da cultura de qualidade que poucos artistas ainda produzem. A ênfase na imagem, em detrimento do conteúdo relevante, distorce os valores e padrões sociais, alimentando uma cultura das aparências(3).
Corrida maluca
A corrida por likes e seguidores leva a um ciclo de exibicionismo, com o sacrifício da autenticidade em prol do espetáculo grotesco. Esse fenômeno propaga padrões inatingíveis de perfeição, causando danos à autoestima e saúde mental dos espectadores.
Além disso, os comportamentos controversos das subcelebridades influenciam negativamente grande parte do público. Por isso, situações e comportamentos semelhantes, que resultam em impactos sociais nocivos, viram “normais“. Em suma, as subcelebridades e muitas celebridades contemporâneas influenciam de forma nociva à coletividade.
Enfim, a transformação das celebridades ao longo dos anos reflete as mudanças na sociedade e na forma como consumimos entretenimento. Temos, atualmente, uma conexão direta entre famosos e seus fãs sem uma relação consciente de arte. Por outro lado, os realities shows e congêneres sem conteúdo destacam a fugacidade da fama como algo que a sociedade quer. A questão que permanece é se essa evolução representa uma melhoria na forma como valorizamos e reconhecemos o talento e o sucesso.
É provável que artistas como Belafonte não sejam mais necessários em tempos de imediatismo e hedonismo oco.
“Amanhã tem mais …“
P. S.
(*) Atribui-se a adjetivação fast food, pejorativamente, a tudo aquilo que é fugaz e sem nenhum valor nutritivo, além de ser nocivo à saúde .
(1) “Entre sem bater – Bill Gates – Sucesso“
(2) “Entre sem bater – Cathy O´Neal – O Clickbait“
(3) “Entre sem bater – Epicteto – As Aparências“
Imagem: Entre sem Bater – Harry Belafonte – As Celebridades
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
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