Entre sem bater - João Figueiredo - Cheiro do Povo

Entre sem bater – João Figueiredo – Cheiro do Povo

Entre sem Bater

Este é um texto da série “Entre sem bater” ( Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. É provável que João Figueiredo nunca teve a noção do “Cheiro do Povo“, mas dos cavalos, possuía em abundância.

Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente. Uma adaptação textual, com redução, pode ter publicação em sites e outros blogs, como o “Recanto das Letras“.

As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.

Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.

João Figueiredo

João Batista, como dizia Salomé, a personagem de Chico Anysio, foi um presidente diferente de outros militares. Conversava além dos limites de um militar e gostava de ter serviçais que não questionasse nada. Desse modo, suas frases eram politicamente incorretas, e parte do povo achava tudo lindo. Militares nunca souberam, inquestionavelmente, o que é cheiro do povo.

João Baptista de Oliveira Figueiredo (15 de janeiro de 1918 – 24 de dezembro de 1999) foi um líder militar e político brasileiro que foi o 30º presidente do Brasil de 1979 a 1985, o último dos regime militar que governou o país após o golpe de estado brasileiro de 1964. Foi chefe do Serviço Secreto (SNI) durante a gestão de seu antecessor, Ernesto Geisel , que o nomeou para a presidência ao final do próprio mandato.

Fonte: Wikipedia (Inglês)

Cheiro do Povo

A expressão, a princípio, sugere algum tipo de preconceito contra quem quer que tenha a classificação de “povo”. No caso de um presidente da república que resultou de um golpe e uma ditadura, era compreensível a indelicadeza. Como se não bastasse, este presidente era useiro e vezeiro em dizer frases agressivas, como se fosse algum tipo de ser inteligente. Por outro lado, é compreensível para alguém mais próximo de cavalos e que chefiou o serviço de inteligência da nação.

A propósito, nestes tempos de altas tretas em relação a ABIN (ex SNI) e com o último presidente, é possível entender um pouco da confusão. João Figueiredo era um boquirroto, mas contava com seus vassalos para aplaudir sua sinceridade e as suas asneiras.

A frase-tema deste texto teve publicação, surpreendentemente, num livro de frases do Ruy Castro(*), e não teve refutação do autor. Certamente, o João Batista era digno do melhor do mau humor tupiniquim. Entretanto, nada justifica as suas frases e suas ações com claro destempero e má vontade para as coisas do Brasil. Do mesmo modo que outros presidentes militares, protegia filhos e filhas, como ainda vemos atualmente.

Coices e Relinchos

O ex-presidente disse muitas coisas que podem provocar sorrisos atualmente, mas que não podem ter a perspectiva de glamourização. Algumas pessoas estão, em grupos de redes sociais, atribuindo uma destas frases (de que ele ira reconhecer o PT) ao general. Contudo, a frase apareceu numa publicação, muitos anos depois do falecimento dele. Enfim, as malditas redes sociais aceitam qualquer mentira e depois de sua disseminação não tem retorno.

No caso dos relinchos do João Batista, os que reproduzem, são praticantes de coices e relinchos com agravantes de ignorância adicional. É, sem dúvida, muito difícil escolher as frases e tentar trazê-las para os nossos dias. Afinal, são mais de 30 anos e não dá para esquecer a quantidade de frases sem qualidade e respeito de certas autoridades e celebridades(1). Aliás, esquecer João Figueiredo, como ele pediu aos sair da presidência, é impossível.

Recentemente, publiquei texto que falava da classe média e dos privilégios(2) de certas castas, que abominam o cheiro do povo. Essa classe média é preconceituosa e avessa a tudo que venha dos pobres ou do povo, até o cheiro. E, por isso atacam quem não consegue se defender para garantir seu status quo a partir da diminuição de direitos dos mais indefesos.

Pensamentos de um cavalo

A frase lendária sobre o cheiro do povo e dos cavalos ecoa, atualmente, nas timelines das redes sociais. Ah, como o tempo voa, mas as pérolas políticas permanecem na boca dos ignorantes. Hoje em dia, enquanto alguns se perguntam se a declaração presidencial era um comentário sutil e humorado, outros a tratam como uma ofensa. A preferência pessoal aromática do João deve ser a mesma dos defensores das pérolas do passado, nas redes sociais.

Esses corajosos guerreiros virtuais, fervorosamente adoradores de militares no poder, assumem a missão de exaltar cada vírgula de ex-presidentes. Para eles, defender o aroma equino em detrimento do cheiro do povo é mais do que uma posição política; é uma filosofia de vida.  Afinal, quem precisa de aromatizadores de ambientes quando se vive numa estrebaria mental?

No vasto mundo digital, os adoradores de Figueiredo e outros se organizam em grupos secretos. Desse modo, podem ativar suas agências de inteligência para criar memes, piadas e até mesmo receitas de como recriar o cheiro de cavalo. Para eles, a frase é mais do que uma observação olfativa peculiar; é um lema que transcende o tempo e os odores.

Diversidade Olfativa Já !

Em suas postagens fervorosas, esses defensores do perfume equino argumentam que o ex-presidente João Figueiredo sempre disse verdades. Desse modo, sobre o cheiro do povo, ele expressou sua preferência pessoal, algo que todos deveriam fazer sem medo de represálias.

Viva a diversidade olfativa!, ele sempre teve razão em tudo“, proclamam eles.

Alguns chegam a criar hashtags como #CheiroDeCavaloÉVida e #DiversidadeOlfativaJá para propagar uma causa comum. Em seus perfis sociais, fotos de estábulos e cavalos somam-se a selfies políticas e motociatas sem o cheiro do povo. Afinal, para eles, a política pode ser passageira, mas o cheiro de cavalo e o ronco das motos são eternos.

Enquanto alguns podem se perguntar se a frase do ex-presidente era um mero desabafo ou um pensamento profundo. Contudo, as complexidades da vida urbana de antes tornaram-se mais graves, e o cheiro do povo continua indigesto para eles. Os vassalos destes déspotas, pensam que o cheiro de cavalo transcende as barreiras do tempo e dos palácios presidenciais.

E assim, nas redes sociais, os serviçais continuam sua batalha olfativa e política, numa polarização estéril e estúpida. Assim sendo, continuam a desafiar a inteligência das pessoas com seus compartilhamentos de frases mentirosas. Afinal, em meio às disputas políticas, lembramos que, para alguns, o cheiro de cavalo é mais do que um aroma – é um estilo de vida.

Frase lapidar

Pouco antes de tomar posse como presidente da república, João Figueiredo deu mostras do que era realmente. Sem dúvida, o cheiro do povo era uma coisa que ele não tinha a mínima noção do que se tratava. Das muitas frases absurdas de um ex-presidente destacamos uma:

Eu não quero citar nomes, mas há muitos fantasiados de democratas aí que participaram do regime mais ignominioso que eu já vi, o Estado Novo de Vargas, e que hoje posam de democratas, pedem democracia plena. No Estado Novo, sim, eu era cadete do Exército e tive conhecimento de torturas bárbaras, muito piores que estas que denunciam hoje, se é que estas existem mesmo. Meu pai estava na prisão e eu vi de perto o que era tortura.”

Futuro presidente, general João Figueiredo, em 1978, em entrevista para a Folha de S. Paulo.

E ainda tem cidadão brasileiro que apoia o que dizia este general torturador e antidemocrático. Que me desculpe o Ruy de Castro, não tem nada de humor (nem bom, nem mau) na opinião sobre cheiro do povo, do João.

O fim do mundo é logo ali … “Amanhã tem mais …

P. S.

(*) “O melhor do mau humor” Ruy Castro (1999)..

 

(1)  “Entre sem bater – Harry Belafonte – As Celebridades

(2) “Entre sem bater – Milton Santos – Os Privilégios

 

Imagem: Entre sem Bater – João Figueiredo – Cheiro do povo 

Nota do Autor

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