Entre Sem Bater - Jerome Lawrence - Uma Pechincha

Entre Sem Bater – Jerome Lawrence – Uma Pechincha

Entre sem Bater

Este é um texto da série “Entre sem bater” ( Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória”). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento de muitos, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. Quando a esmola for muita ou a “Pechincha” for irresistível, lembre-se do que escreveu Jerome Lawrence em “Herdar o Vento”.

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As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.

Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.

Jerome Lawrence

O dramaturgo e roteirista estadunidense viveu tempos difíceis. Atuar numa guerra, como foi a Segunda Guerra e voltar ao seu país e enfrentar a reconstrução foi difícil para todos. Certamente, a sua peça da qual retiramos alguns trechos, foi cética quanto ao que faziam os governantes. Adicionalmente, ele previu o alto preço que o povo pagaria pelo progresso. Por exemplo, a indústria bélica dos EUA experimenta, ainda hoje, um grande progresso, e o preço que o planeta paga está aí, às claras. É muito caro, e Lawrence acertou em cheio.

Jerome Lawrence (nascido Jerome Lawrence Schwartz ; 14 de julho de 1915 – 29 de fevereiro de 2004) foi um dramaturgo e autor americano. Lawrence fez parceria com Robert Edwin Lee para ajudar a criar a Rádio das Forças Armadas enquanto serviam juntos no Exército dos EUA durante a Segunda Guerra Mundial. Lawrence descrevia suas peças como “compartilhando o tema da dignidade de cada mente individual e a batalha ao longo da vida dessa mente contra a limitação e a censura“. Os dois evitaram deliberadamente a Broadway mais tarde em suas carreiras e formaram o American Playwrights Theatre em 1963 para ajudar a promover suas peças. Após a morte de Lee, Lawrence continuou a escrever peças em sua casa em Malibu, Califórnia, onde morreu em 29 de fevereiro de 2004, devido a complicações de um AVC.

Fonte: Wikipedia (inglês)

Uma Pechincha

Henry Drummond, personagem de uma obra(*) de Jerome Lawrence, certamente sabia do que estava tratando que disse sobre progresso e pechincha. E, desta forma, chegamos ao Século XXI com o progresso cobrando um alto preço sobre todas as coisas e nem nos damos conta.

Na sequência dos pensamentos e diálogos de Henry Drummond ele ouve:

“… tudo bem, você pode ter um telefone mas perde a privacidade e o charme da distância …”

Curiosamente, à época, um telefone era um artigo de luxo e a distância aparentava ser um charme ou atrativo para tudo não ser pegajoso. Por outro lado, é difícil, para a maioria, imaginar que uma questão como a privacidade se desse por conta de um telefone.

Entretanto, existe uma explicação plausível. Naquele período em que escreveu a obra, Lawrence e os EUA viviam em pleno Macarthismo(1). Desse modo, todos que tivessem um telefone perderiam a privacidade e correriam outros riscos, o que explica a questão do progresso e da pechincha.

Enfim, em tempos de muitos olhos e câmeras vigiando as pessoas, o preço do progresso está longe de ser uma pechincha.

O preço do Progresso

Em meio ao desvario desta era digital, onde a conectividade é o mantra e a moeda de troca, vale a pena nos questionarmos.

Qual o verdadeiro preço dessa conectividade que exigimos que seja mais rápida a cada segundo?

Em tempos de privacidade hackeada(2), que informações pessoais se esvaem como água entre os dedos, não nos cuidamos adequadamente. Com toda a certeza, a desinformação corre solta pelas redes, é crucial refletir sobre os custos ocultos do progresso tecnológico.

É provável que estejamos pagando uma pechincha  por essas conexões e inovações?

Assim como Henry Drummond, que questionava o progresso e seu alto custo para a maioria das pessoas, nos vemos diante de um paradoxo. A tecnologia, em sua marcha implacável e veloz, nos oferece conveniências inegáveis, mas qual é o custo?

Privacidade

A privacidade, outrora um direito fundamental, parece se esfarelar a cada notificação, a cada curtida, a cada “amigo” virtual. Nossas vidas, outrora somente em álbuns de fotos e conversas privadas, agora se transformam em espetáculos públicos. Algoritmos nos vigiam, ávidos por nossos dados e desejos com as empresas querendo nosso dinheiro.

Em troca desta pechincha, cedemos pedaços de nossa identidade, abrindo mão do controle sobre nossas informações mais íntimas. Tornamo-nos produtos à venda por muito pouco, somos alvos de propagandas personalíssimas e manipulações escandalosas. Um estudioso do comportamento humano classificou os últimos cem anos como o “Século do Ego”, com toda razão.

Mas a pechincha não se limita à perda da privacidade. A desinformação, é o vírus letal que se propaga pelas redes, distorcendo a realidade, alimentando ódios e semeando discórdia. Notícias falsas, manipulação por interesses escusos, tomam conta de nossos feeds, prejudicando nosso discernimento.

Perigo Virtual

E não podemos esquecer dos perigos que, sobretudo, nos espreitam na sombra desta pechincha irreal. Atualmente, golpes, fraudes e crimes cibernéticos exploram a nossa vulnerabilidade que anseia por vantagens e “descontos”. Estas facilidades nos transformam em vítimas indefesas em um mundo virtual sem lei ou com pouca atenção à grande massa de usuários.

Ao questionar o progresso e seu alto custo, não estamos defendendo um retrocesso à era analógica, muito menos à inquisição da Idade Média. A tecnologia, sem dúvida, trouxe benefícios inegáveis à humanidade. Entretanto, é crucial reconhecer que qualquer pechincha não vem de graça. Cada inovação, cada passo em direção ao “futuro”, exige questionamentos sobre os valores que norteiam nosso desenvolvimento.

Não existe “almoço grátis“, “esmola de santo”  e nem “cavalo dado” no mundo do progresso selvagem do capitalismo. Cada avanço tecnológico traz consigo novas responsabilidades, novos desafios éticos e a necessidade constante de vigilância e discernimento. Nós, enquanto sociedade, devemos definir os limites do que é aceitável e lutar por igualdade e desenvolvimento comum. A pechincha que significa a perda da privacidade, a proliferação da desinformação ou a exposição a perigos cibernéticos é cara demais.

Big Techs

Nos vemos, atualmente no Brasil, numa discussão em que coloca gente pobre defendendo Elon Musk contra a regulamentação das redes sociais. O brasileiro mediano entrou numa briga e não tem a mínima ideia de que é Elon Musk. Ele e todas as Big Techs só querem remunerar seus acionistas e quem vai pagar o preço são os seus usuários. Como se não bastasse, no caso do Elon Musk, ainda tem a questão da privacidade da informação das pessoas e da nação.

É preciso pensarmos em como funcionam as empresas de tecnologia, e como lucrar explorando nossos dados e manipulando nossas emoções. Precisamos de mais transparência e de mecanismos de combate à desinformação, com controle da sociedade, que protejam nossa privacidade.

O progresso tecnológico deve ser um caminho para a emancipação, não uma pechincha para a submissão de muitos a poucos. Deve servir para fortalecer os laços entre as pessoas, não para dividi-las. Deve ampliar o acesso à informação, não para manipular e controlar.

Em suma, a pechincha não pode ser um álibi para a perda de direitos fundamentais ou para a proliferação de perigos. É preciso questionar o preço que estamos pagando por esse “descontos” surreais.

Palavrinha Final

Ainda extraindo um pensamento de Henry Drummond, no texto de “Herdar o Vento“:

E em breve, Meritíssimo, com bandeiras hasteadas e tambores rufando, estaremos marchando para trás, PARA TRÁS, através das eras gloriosas daquele século XVI, quando fanáticos queimaram o homem que ousou trazer iluminação e inteligência à mente humana.”

Fico pensando que tipo de premonição este personagem visualizou, marchamos para trás, voltamos à inquisição. terra plana, vacinas que matam, fanáticos em guerras religiosas(3), enfim, retrocedemos!

 

Amanhã tem mais …

P. S.

(*)  “Herdar o Vento: O Poderoso Tribunal” foi um drama escrito por Jerome Lawrence em que dois homens travam a guerra legal do século.

(1) “Entre Sem Bater – Joseph McCarthy – Macarthismo

(2) “Privacidade Hackeada

(3) “Entre Sem Bater – Schopenhauer – As Guerras Religiosas

 

Imagem: Entre sem bater – Jerome Lawrence – Uma Pechincha

Nota do Autor

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