Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. Marilena Chauí não é mineira, por isso, pode ser que tenha todas as qualificações para falar sobre as diversas faces da “Mineiridade“.
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As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Marilena Chauí
Algumas pessoas, ilustres e inteligentes como é Marilena Chauí, arregimentam inimigos figadais que são mais raivosos que um cão. Desse modo, entendemos como algumas pessoas têm raiva de Marilena, a incompetência provoca isso. É importante ressaltar que o seu pensamento sobre mineiridade é também o meu. Apoio a pensadora brasileira em muitas coisas e, por isso, talvez eu arregimente inimigos.
Marilena de Souza Chauí (Pindorama, 4 de setembro de 1941) é uma escritora e filósofa brasileira, especialista na obra de Baruch Espinoza e professora emérita de História da Filosofia Moderna na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. É considerada uma das filósofas mais importantes do Brasil e uma das mais influentes intelectuais do país, com vasta e reconhecida obra. Também é conhecida por sua atuação política, tendo combatido a ditadura militar e sido uma das fundadoras do Partido dos Trabalhadores (PT), do qual é ativa militante. Foi secretária de Cultura do Município de São Paulo durante a gestão da prefeita Luiza Erundina.
Fonte: Wikipédia (português)
Mineiridade
A mineiridade não tem explicação, mas não explica tudo no mundo.
As pessoas, muitas vezes, não entendem os contextos em que a mineiridade explica as coisas. Ser mineiro é diferente, podem acreditar. Ao contrário de muitos mineiros que conheço que odeiam a Marilena, eu a admiro não somente sobre a frase-chave deste texto. Certamente, o contexto da frase foi, especificamente sobre a política, mas nesta trilha de textos a ideia é abrir o debate.
É provável que, nestes obscuros e rasteiros tempos modernos, muitos narizinhos se empinem somente pela autoria da frase. Sem medo de errar, afirmo que estes que não passam do título do texto ou da referência à autoria perdem grandes oportunidades.
Em um evento recente, uma paulistana falou sobre o pessoal da política (homens e mulheres) que se preocupam com os úteros alheios. Cagam as regrinhas, principalmente os religiosos que querem dominar o mundo, e não aguentam as mulheres que pensam. Belas palavras, que a mineiridade de muitas mulheres e homens não consegue nem parar e refletir.
E, assim sendo, vamos explicando porque na política e na vida, a mineiridade nem sempre é uma atitude louvável.
Ditos populares
Alguns ditados populares têm a minha completa aversão. Não tenho nem ideia de onde começaram e nem qual a intenção de quem os criou, são lixo.
- Mineiro trabalha em silêncio.
- Dou um boi para não entrar numa briga e uma boiada para não sair.
- Mineiro só come pelas beiradas.
- O mineiro só é solidário no câncer.
Um monte de bobagens que serve, sobretudo, para a despolitização de qualquer assunto, do jeito que o diabo gosta. Estas expressões tornaram-se tão populares que muitos mineiros levam a sério, e quem o contraria passa a ser inimigo.
Todas as frases, expressões e ditos populares, sem dúvida, caracterizam o mineiro e a mineiridade, mas são folclore que não explicam as coisas. Por isso, Marilena Chauí acertou quando fez a referência à mineiridade para a política e, analogamente, para outras editorias.
Atraso de Vida
Atraso de vida é uma expressão que pode ser típica do mineiro, mas, de uma forma ou de outra, tem similaridades em muitas outras culturas.
Marilena Chauí utilizou este termo numa outra declaração(*) que serviu, a princípio, para arrebanhar mais inimigos.
“… Eu odeio a classe média. A classe média é o atraso de vida. A classe média é a estupidez(1); é o que tem de reacionário, conservador, ignorante, petulante, arrogante, terrorista. É uma coisa fora do comum. (…) A classe média é uma abominação política, porque é fascista, é uma abominação ética porque é violenta, e é uma abominação cognitiva porque é ignorante. Fim.”
Em primeiro lugar, faz parte do folclore que os mineiros apresentem-se como atentos com suas palavras e que preferem o diálogo indireto. É provável que muitos utilizem estas características para levar vantagem, mas é um grande atraso de vida, uma enganação.
Esse estilo, aparentemente comunicativo, embora eficiente em contextos presenciais e tradicionais, torna-se problemático no ambiente digital. Estes tempos modernos exigem uma clareza e a rapidez que a mineiridade não consegue acompanhar. A ambiguidade típica dos mineiros leva, sem dúvida, a mal-entendidos e desentendimentos nas redes sociais. Desta forma, muitas mensagens sofrem, frequentemente, interpretações completamente fora de contexto.
Contextos Modernos
Os contextos modernos e as tecnologias fizeram com que a mineiridade servisse apenas para comediantes stand-up ficarem ricos. A princípio, não me importo com as piadas e o humor, e creio que a maioria dos mineiros também não. Por outro lado, quando a Marilena Chauí faz referência à mineiridade, é impressionante a quantidade de sociólogos que a agridem.
Políticos e sociólogos tradicionais deveriam ser mais compreensíveis, comportamento que não podemos esperar de quem não entende de ironia. Contudo, estes tempos modernos foram uma geração que tem pressa, e gosta de uma superficialidade sem limites. Citar, por exemplo, trechos de Guimarães Rosa ou Drummond para explicar a mineiridade para esta nova geração é inútil.
Ademais, a ironia, uma ferramenta comum na comunicação mineira, se perde ou tem interpretações errôneas nas plataformas digitais. A comunicação escrita carece de entonação e expressão facial, elementos cruciais para entender nuances irônicas. Consequentemente, aquilo que se diz de forma jocosa tem uma interpretação literal, gerando conflitos e ofensas não intencionais.
Surpreendentemente, até mesmo a inteligência artificial, com todos os seus avanços, possui dificuldades em decifrar ironias e subtextos. Algoritmos que processam a linguagem natural ainda encontram grandes desafios em interpretar corretamente as intenções e as ironias.
Ser Mineiro
Existem muitos poemas e textos sobre o que é ou não é ser mineiro. É provável que um dia existirá um livro inteiro somente sobre o que é esta condição decorrente da naturalidade. Entretanto, parafraseando o poeta, assim como “… Minas são muitas …” a mineiridade é infinita e cabe em qualquer tema de debate.
A mineiridade também valoriza a privacidade(2) e a reserva, características que tornam-se desvantagens nas redes sociais. Em um ambiente onde a autopromoção e a visibilidade constante são requisitos para o sucesso, o mineiro anda na contramão. Desse modo, apresentar-se com a modéstia mineira é prejudicial e, por outro lado, dizer o pensa, vira arrogância e prepotência.
Além disso, o ritmo de vida mais calmo e introspectivo dos mineiros é um entrave numa sociedade que valoriza a velocidade e a superficialidade. A hesitação e a análise cuidadosa, características da mineiridade, mostram-se uma espécie de procrastinação ou falta de iniciativa.
Sobreviver é Preciso
Em suma, a mineiridade tem seus méritos e contribui, sobremaneira, para a riqueza cultural do Brasil. Em tempos de redes sociais e comunicação instantânea, esses mesmos comportamentos são desvantajosos. A ambiguidade, a ironia e a reserva, de alto valor na cultura mineira, encontram dificuldades nos ambientes digitais. Portanto, adaptar-se aos novos tempos e contextos é crucial para não ficar para trás, mesmo para aqueles que prezam pela mineiridade.
A mineiridade e suas características culturais e comportamentais podem ter um viés de cordialidade, discrição e hospitalidade. No entanto, em tempos modernos, essa mesma mineiridade se revela um verdadeiro atraso de vida ou motivo para controvérsias.
Vivemos, com toda a certeza, a ditadura da ignorância com limites de 280 caracteres ou somente uma dancinha com música de fundo. E nós, os mineiros, sofremos muito mais com a falta de capacidade destas inteligências artificiais e burrices naturais.
“Amanhã tem mais …”
P. S.
(*) Frase cuja menção ocorreu em um evento da Fundação Maurício Grabois no dia 13 de maio de 2013.
(1) “Entre Sem Bater – Arnaldo Jabor – A Estupidez“
(2) “Dê adeus à sua pretensa privacidade“
Imagem: Entre sem bater – Marilena Chauí – A Mineiridade
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
- Os textos de “Entre sem bater” são opinativos/informativos, inquestionavelmente com o objetivo de estimular a reflexão e o debate.
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