Entre Sem Bater - Gilles Deleuze - Filosofia pra quê?

Entre Sem Bater – Gilles Deuleuze – Pra quê Filosofia?

Entre sem Bater

Este é um texto da série “Entre sem bater” ( Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. A afirmação de Gilles Deleuze sobre a utilidade da “Filosofia” não somente explica como expõe porque muitos preferem ser tolos..

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As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.

Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.

Gilles Deleuze

Podemos afirmar, com toda a certeza, que Gilles Deleuze era um filósofo contemporâneo. Contudo, não acreditamos que ele estaria com as mesmas opiniões antes a filosofia moderna(1) do Século XXI. É provável que seus pensamentos influenciem muitos filósofos atuais, mas não consideramos parlapatões(2) e falastrões de redes sociais como filósofos. Desse modo, seu pensamento sobre os que perguntam pra quê filosofia, é atualizadíssimo.

Gilles Louis René Deleuze (18 de janeiro de 1925 – 4 de novembro de 1995) foi um filósofo francês que, do início da década de 1950 até sua morte em 1995, escreveu sobre filosofia, literatura, cinema e belas-artes. Suas obras mais populares foram os dois volumes de “Capitalismo e Esquizofrenia: Anti-Édipo” (1972) e “Mil Platôs” (1980), ambos em coautoria com o psicanalista Félix Guattari. Seu tratado metafísico Diferença e Repetição (1968) é considerado por muitos estudiosos como sua obra-prima. Uma parte importante da obra de Deleuze é dedicada à leitura de outros filósofos: os estoicos Leibniz, Hume, Kant, Nietzsche, Spinoza e Bergson. Embora ele já tenha se caracterizado como um “metafísico puro”, seu trabalho influenciou uma variedade de disciplinas de humanidades, bem como movimentos como o pós-estruturalismo e o pós-modernismo.

Fonte: Wikipedia (inglês)

Filosofia

Escrevi, anteriormente, sobre a dificuldade(*) de falar e escrever sobre filosofia. A minha dificuldade é que não estudei e nem li o suficiente para trocar ideias com estudiosos e filósofos.

A dificuldade dos interlocutores divide-se em três camadas:

  1. Aqueles que acham que entendem e não aceitam conversar com os outros;
  2. Outro grupo que não entende nada, faz intervenções tolas e não admite a ignorância; e,
  3. Os que são a pura ignorância e merecem respostas agressivas para ver se acordam e saiam da escuridão.

Nem o Iluminismo ou a evolução da humanidade nos preparou, por exemplo, para uma iminente singularidade tecnológica(3). Desse modo, fazer com que certas pessoas entendam a importância da filosofia parece algo etéreo. As mudanças radicais nas sociedade não atingiram os dogmas religiosos e vivemos como como no colonialismo e escravidão medievais.

Em outras palavras, costuma-se dizer que não se misturam temas como política e religião (no caso do Brasil, futebol) num debate. O problema não é misturar ou debater filosoficamente a interligação destes temas. A grande questão é o poder da oratória dos pilantras de palanque, púlpito e agora de teclado e plataformas digitais.

Filosofia e Redes Sociais

Gilles Deleuze, um dos mais influentes filósofos do século XX, fez afirmações impactantes sobre a filosofia nestes tempos modernos. Entretanto, como Deleuze faleceu no início da interação da Internet com a sociedade, suas ideias não eram sobre os tolos do Século XXI.

A filosofia não serve ao Estado ou à Igreja, que têm outras preocupações. Ela não serve a nenhum poder estabelecido. O uso da filosofia é entristecer. Uma filosofia que não entristece ninguém, que não aborrece ninguém, não é uma filosofia. Ela é útil para prejudicar a estupidez, para transformar a estupidez em algo vergonhoso.” (Gilles Deleuze – “Nietzsche e a filosofia“)

Admiro filósofos como Deleuze, pelo simples fato dele se apoiar em outros filósofos, notadamente os estoicos, que habitam este espaço frequentemente. Como se não bastasse, alinho-me com ele na questão o teor irônico e mordaz que quem questiona a filosofia sem conhecê-la, mesmo superficialmente. Adicionalmente, eu diria que me identifico com a expressão sobre tratar algumas intervenções com agressividade. É notório que os pacificadores e adoradores de “bom dia” e “boa noite” nas redes sociais são passivos e até pusilânimes.

Enfim, este pensamento nos convida a refletir sobre a importância da filosofia e sua aplicabilidade no contexto contemporâneo. Devemos usar a arte, especialmente nas redes sociais, onde a superficialidade e a desinformação frequentemente dominam o discurso.

Função Necessária

A filosofia, desde que existe, sempre foi uma atividade para questionar as verdades lógicas e aprofundar o entendimento sobre a realidade. No entanto, num mundo cada vez mais digital e veloz, a filosofia sofre questionamentos de maneira desdenhosa. Muitos usuários das redes sociais desconsideram o valor da reflexão filosófica, preferindo interações rápidas e superficiais que não exigem esforço cognitivo.

Deleuze, por outro lado, sugeria que a filosofia tem a função de transformar a estupidez em algo digno de vergonha. Essa transformação é mais relevante do que nunca nas redes sociais, onde a ignorância ganha compartilhamentos sem qualquer crítica. A filosofia, ao promover a reflexão crítica e a autocrítica, pode servir como um antídoto poderoso contra o culto à estultice.

As redes sociais conectam bilhões de pessoas em todo o mundo, e passaram a ser arenas onde as opiniões são imediatistas sem reflexão. Assim sendo, a filosofia enfrenta um grande desafio: como tornar-se relevante e acessível em um espaço que privilegia a superficialidade? Deleuze indica uma prática “agressiva” ou, em outras palavras, uma necessidade de que seja assertiva e estimulante visando o pensamento crítico.

Reflexão Crítica

Para compreender como uma filosofia tem aplicação prática nas redes sociais, é necessário considerar alguns de seus princípios fundamentais. A filosofia nos ensina a questionar, a duvidar e a não aceitar “verdades” sem uma análise rigorosa. Nas redes sociais, onde as notícias falsas e a desinformação se espalham rapidamente, a filosofia pode atuar como um filtro. Desse modo, podemos ter uma base para distinguir entre o verdadeiro e o falso ou uma meia-verdade(4).

Além disso, a filosofia permite, caso quem se utiliza deste comportamento queira, a empatia e a compreensão com as dores dos outros. Ao estudar diferentes correntes filosóficas, nos expomos a diversas perspectivas e formas de pensar. Assim sendo, nos tornamos, verdadeiramente, mais tolerantes e abertos ao diálogo. Com a polarização e a necessidade de respostas rápidas das redes sociais, essa habilidade sofre prejuízos extremos.

Enfim, a partir da reflexão crítica, pilar do pensamento filosófico, é possível entender e misturar as várias editorias e segmentos sociais.

Cultura da Vergonha

Deleuze argumenta e defende a ideia de que a filosofia deve tornar a estupidez algo digno de vergonha. Os comportamentos impróprios ganham grande visibilidade, o que é ruim, e a ideia de vilipendiá-lo é particularmente relevante. A filosofia nos ajuda a desenvolver uma cultura onde a ignorância não tenha celebrações, mas sim identificação e correções.

Contudo, essa transformação comportamental não é simples e requer um enorme esforço coletivo, o que não se avizinha. Educadores, influenciadores e usuários das redes sociais deveriam desempenhar um papel crucial ao promover conteúdos filosóficos. Outrossim, deveriam incentivar debates multidisciplinares que ultrapassem a superficialidade que reina nos ambientes virtuais.

É provável que a introdução de temas filosóficos deva ocorrer de maneira acessível e envolvente. Certamente, utilizando formatos que o público das redes sociais aceite. Como, por exemplo, vídeos curtos, memes filosóficos e discussões interativas que estão muito na moda e são parte da educação digital.

Educação Digital

Para que a filosofia se torne uma ferramenta eficaz nas redes sociais, é essencial sua integração à educação digital desde cedo. As habilidades de pensamento crítico e reflexão filosófica devem fazer parte de qualquer currículo escolar. Desta forma, prepara-se os jovens para navegar no mundo digital de maneira responsável e consciente.

Projetos educacionais que utilizam as redes sociais como plataformas de aprendizagem podem ser particularmente eficazes. Ao promover discussões filosóficas online, os estudantes podem, sem dúvida, aprender a expressar suas ideias de maneira clara e respeitosa. Além disso, podem desenvolver a capacidade de analisar e avaliar informações criticamente, sem preconceitos.

O Desafio

A frase de Gilles Deleuze nos desafia a repensar a função da filosofia em um mundo onde a superficialidade está prevalecendo. A desinformação e a ignorância se espalham rapidamente, e a filosofia pode servir como uma ferramenta poderosa para transformar tudo. Ao promover o pensamento crítico, a empatia e a reflexão profunda, inquestionavelmente, a filosofia ajuda a mudar o ambiente digital e social.

Entretanto, para alcançar esse objetivo, é necessário um esforço coletivo que envolva educadores, influenciadores e usuários no mundo digital. A filosofia apresenta-se, cada vez mais, de maneira acessível e envolvente, ao utilizar as linguagens que ressoam com o público contemporâneo. Enfim, somente assim aproveitaremos a magia transformadora da filosofia e moldaremos uma cultura que valorize a reflexão e o conhecimento.

A filosofia não serve a ninguém e nenhum poder, Estado ou igrejas, muito menos déspotas. Na maioria dos casos, não é agressividade, é o estoicismo, o ceticismo e a necessidade de trocar ideias para evoluir, com ética e honra.

 

Amanhã tem mais …

P. S.

(*)  Vivemos, surpreendentemente, tempos de comunicação difícil, numa verdadeira babel. Quanto mais as pessoas possuem facilidades, mais se fecham em guetos ideológicos e muros intransponíveis. A era da comunicação e informação está se tornando um mundo de hedonistas ocos e com blindagem de titânio.

(1)A Filosofia Moderna – Século XXI

(2)Entre Sem Bater – Evandro Oliveira – O Parlapatão

(3) “Singularidade, Alienígenas e Minhocas

(4) “Entre Sem Bater – Alfred North Whitehead – Meia-Verdade

 

Imagem: Entre sem bater – Gilles Deleuze – Pra quê Filosofia?

Nota do Autor

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