Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. O “Fanatismo” em geral, e não apenas o religioso, é um dos males da humanidade e do indivíduo, George Santayana acertou em cheio.
Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente.
As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
George Santayana
O pensador e filósofo espanhol experimentou em sua vida muitos tipos de fanatismo. Viveu muito e em dois mundos completamente diferentes, os EUA e a Europa e Espanha. Sua atenção com questões religiosas, mesmo se apresentando como ateu, é um comportamento antagônico e curioso. Contudo sua frase criticando o fanatismo individual(*) não atenua os males que um fanático religioso(1) provoca.
George Santayana (nascido Jorge Agustín Nicolás Ruiz de Santayana y Borrás, 16 de dezembro de 1863 – 26 de setembro de 1952), foi um filósofo, ensaísta, poeta e romancista hispano-americano. Nascido na Espanha, George Santayana foi criado e educado nos Estados Unidos desde os oito anos de idade e identificado como americano, mas sempre manteve um passaporte espanhol válido. Aos 48 anos, Santayana deixou sua posição acadêmica na Universidade de Harvard e retornou definitivamente à Europa; seu último testamento foi ser enterrado no Panteão Espanhol no Campo di Verano, em Roma. Como filósofo, Santayana é conhecido por aforismos e definiu a beleza como “prazer objetificado”. Embora ateu, Santayana valorizava a cultura dos valores, práticas e visão de mundo católicos espanhóis, nos quais foi criado. Como intelectual, George Santayana foi um crítico cultural de amplo alcance em várias disciplinas acadêmicas.
Fonte: Wikipedia (inglês)
O Fanatismo
A humanidade perde, a cada dia, sua capacidade de evoluir. Uma das causas é o fanatismo, que não é somente religioso. Certamente, a maioria dos fanáticos não assumem o seu fanatismo e os males que ele provoca. Podemos, por exemplo, ver as guerras religiosas(2) que os monoteístas provocam. Um fanático religioso sempre encontra outros que têm disposição para cometer atrocidades.
Contudo, embora o fanatismo religioso seja uma parte bastante visível na história da humanidade, não é somente que que comete barbaridades. Em outras palavras, erram todos que atribuem as guerras ou desavenças somente ao fanatismo religioso. Pessoas estão matando umas às outras por conta de política, futebol, dinheiro e uma infinidade de temas polêmicos.
É simples, basta existir algo polêmico que a polarização logo surge, daí para o fanatismo é um pequeno passo.
Fanatismo Explosivo
O fanatismo religioso, quando mistura-se com a política, gera uma força perturbadora e divisionista na sociedade brasileira. O pensamento de Santayana sobre o fanatismo expande e ilumina os perigos de quando se desvia de seus propósitos originais. Desta forma, gera-se consequências nefastas para a coesão social, a democracia e os direitos humanos.
No Brasil, a ascensão do fanatismo no cenário político é um fenômeno crescente e preocupante. Grupos religiosos influentes, especialmente de evangélicos neopentecostais, exercem um poder inexplicável na política. Surpreendentemente, a formação de políticas públicas, a supressão de direitos e a manutenção de privilégios tem o dedo de fanático.
Embora a fé religiosa seja um direito inalienável, o fanatismo de líderes pentecostais cerceia o direito da livre escolha religiosa e do bem comum. A instrumentalização e usurpação do coletivo, para fins políticos e individuais, revela-se com vários pontos negativos e poucos positivos.
Polarização da Sociedade
Em primeiro lugar, o maior ponto negativo do fanatismo religioso na política é a tendência de polarizar segmentos da sociedade. Desta forma, cria-se uma divisão nítida entre “nós” e “eles” que se expande para todos os setores. Em suma, aqueles que não compartilham das mesmas crenças são os “demônios“, “marginais” ou “comunistas“.
Esse maniqueísmo se manifesta em discursos que pregam a intolerância e a exclusão, ampliando a divisão social e alimentando o ódio. A retórica dos líderes religiosos na política pode exacerbar preconceitos contra minorias religiosas, raciais e LGBTQIA+. Por isso, presenciamos em tempos recentes o crescimento e a “normalização” das discriminações e da violência.
Além disso, o fanatismo religioso compromete a laicidade do Estado, um princípio fundamental da democracia brasileira. A separação entre igreja e Estado é crucial para garantir que as políticas públicas utilizem a razão, na ciência e nos direitos humanos universais.
Quando líderes religiosos influenciam diretamente a política, há um risco significativo de que leis e políticas guiem-se por crenças religiosas. Desse modo, também constatamos que, recentemente, em vez de evidências científicas e princípios democráticos, vemos perpetrar dogmas.
Isso resulta, sem dúvida, em legislações retrógradas e discriminatórias. Podemos citar, por exemplo, as restrições aos direitos reprodutivos das mulheres e limitações à educação sexual nas escolas, dentre tantos.
Obscurantismo e Manipulação
O fanatismo religioso na política também enfraquece e tira a credibilidade das instituições democráticas. Ele promove a ideia de que certas figuras políticas ali estão por vontade divina, tornando-as infalíveis aos olhos de seus seguidores. Assim sendo, a crítica e o questionamento, pilares essenciais de uma democracia saudável, dão lugar à servidão voluntária.
Em outras palavras, quando políticos são “representantes diretos” de uma vontade divina, qualquer oposição torna-se ameaça à divindade.
Os pontos negativos são mais nocivos à coletividade, Desse modo, a corrupção moral é outro aspecto sombrio dessa mistura de fanatismos que assola o país. Líderes religiosos que entram na política muitas vezes justificam atos antiéticos e ilegais em nome de um bem maior ou de uma missão divina.
Esse tipo de racionalização leva a casos graves de corrupção e abuso de poder e até mesmo crimes contra as pessoas. Surpreendentemente, seguidores cegos desses déspotas acreditam que a impunidade justifica-se pela fé e não pela justiça. A história brasileira recente está repleta de exemplos em que figuras políticas com fortes laços religiosos protagonizam escândalos.
Mundo Moderno
Estas misturas provocam outrossim, uma babel entre grupos e bolhas, que se preocupam em atacar o oposto, sem entender o contexto.
Como se não bastasse, o fanatismo em geral exacerba a desinformação, a disputa, o confronto, a humilhação do inimigo, a adoração de Mitos. Muitas vezes, líderes religiosos com agendas políticas promovem narrativas falsas e com distorções, para manipular a opinião pública. Por isso, é particularmente perigoso em uma era de redes sociais de muitas fake news, devido às influências da opinião pública.
A manipulação da fé para desinformar corrompe o discurso público, e destrói a confiança nas fontes de informação legítimas e na democracia.
Enfim, o fanatismo religioso na política desvia-se dos verdadeiros ensinamentos espirituais de compaixão, justiça e respeito mútuo. Ao redobrar seus esforços em nome de uma agenda política, líderes religiosos e seus seguidores esquecem o objetivo de suas crenças. Deveriam, inquestionavelmente, promover o bem-estar humano e a harmonia social. Essa dissonância, conforme disse Santayana, anteriormente à revolução informacional e tecnológica, revela a tragédia do fanatismo. Ao mesmo tempo que deveriam lutar fervorosamente pelas suas causas, traem os princípios que deveriam defender.
O Brasil, como uma nação diversa e plural, precisa reforçar os princípios da laicidade e da convivência pacífica entre diferentes crenças. Somente assim poderemos construir uma sociedade verdadeiramente justa e inclusiva, onde a fé inspire o bem e não o conflito. Toda e qualquer manifestação de fanatismo, não somente religioso, mostra-se uma aberração para a humanidade.
Até um ateu pode ser fanático !
“Amanhã tem mais …”
P. S.
(*) O fanatismo individual é complexo. As pessoas transformam convicções em verdades absolutistas e na sequência em fanatismo, até coletivo.
(1) “Entre Sem Bater – Carl Sagan – O Fanático Religioso”
(2) “Entre Sem Bater – Schopenhauer – As Guerras Religiosas”
Imagem: Entre sem bater – George Santayana – O Fanatismo
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
- Os textos de “Entre sem bater” são opinativos/informativos, inquestionavelmente com o objetivo de estimular a reflexão e o debate.
- Sugestões, indicações de erro e outros, uma vez que tenham o propósito de melhorar o conteúdo, são importantes. Basta enviar e-mail para pyxis at gmail.com, página do Facebook, associada a este Blog, ou perfil do Twitter, Threads, etc.
- Alguns textos sofreram revisão, outros ainda apresentam erros (inclusive ortográficos) e sofrerão correção à medida que se tornam erros graves (inclusive históricos).
- Algumas passagens e citações podem parecer estranhas, mas fazem parte ou referem-se a textos ainda inéditos.