Entre Sem Bater - José Geraldo de Souza Jr. - A Cognição

Entre Sem Bater – José Geraldo de Sousa – A Cognição

Entre sem Bater

Este é um texto da série “Entre sem bater” ( Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória”). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento de muitos, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. O reitor José Geraldo de Sousa Jr deu uma aula magna, mas nem todo mundo tem “Cognição” para entender.

Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente.

As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.

Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.

José Geraldo de Sousa Jr.

Seria desnecessário rechear o currículo de um professor-doutor como o do ex-reitor da UNB, José Geraldo de Sousa. Contudo, mesmo que possa parecer algum tipo de falácia de apelo à autoridade, o currículo deveria falar por si. Por outro lado, algumas pessoas merecem esta apresentação pela falta de cognição para muitas coisas. Aliás, cognição, foi uma forma bem educada(*) do professor se referir à capacidade de sua interlocutora.

José Geraldo de Sousa Júnior (Rio de Janeiro, 29 de janeiro de 1947) é graduado em Ciências Jurídicas e Sociais (1973) é mestre em Direito pela Universidade de Brasília (1981) e doutor em Direito (Direito, Estado e Constituição) pela Faculdade de Direito da UnB (2008). Atualmente é professor titular, jubilado (aposentado), da Universidade de Brasília, com vínculo de Pesquisador Colaborador Pleno Voluntário, atuando na Faculdade de Direito (graduação e pós-graduação) e no CEAM- Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares (Pós-Graduação – mestrado e doutorado – em Direitos Humanos e Cidadania). É membro benemérito do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB) e membro da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de Brasília. Foi Diretor da Faculdade de Direito da UnB (1999-2003); Diretor do Departamento de Política do Ensino Superior, da SESU/ME (2003); Reitor da UnB (2008-2012). Ensina, faz extensão e pesquisa na área de Direito, com ênfase em Teoria do Direito, principalmente nos seguintes temas: direito, cidadania, direitos humanos e justiça. É colíder do Grupo de Pesquisa O Direito Achado na Rua (Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq).

Fonte: IHU – Unisinos.Br

Cognição

Algumas palavras têm várias acepções, contudo, dependendo do contexto, e analisando a origem, não há margens para a dúvida. Com toda a certeza, a cognição e suas derivadas, substantivas ou adjetivas, incomodam quem as recebe como ofensa.

Em outras palavras, cognição representa a função que relaciona-se com a inteligência para adquirir conhecimento(1). Desse modo, podemos afirmar que a capacidade cognitiva de qualquer pessoa tem relação com aquilo que ela quer ver. Por isso, é um grave erro pensar que se uma pessoa tem cognição em determinado nicho temático, terá em outros. Por exemplo, uma pessoa consegue “ver” (tem conhecimento) numa área profissional específica. Sendo assim, não significa que ela tem cognição para outras áreas da mesma profissão e muito menos em outras áreas do conhecimento.

Nestes tempos modernos de pesquisas de Google e inteligência superficial(2) ou a IA, muita gente se acha um poço de conhecimento. Certamente não são e passam recibo de impostores sempre que insistem em não terem cognição.

Incapacidade Cognitiva

Quando o professor falou à deputada Carol de Toni sobre os limites da cognição dela, foi muito respeitoso. Eu, particularmente, refiro-me à capacidade ou Incapacidade cognitiva das pessoas, diretamente. Defendo a teoria que destaquei: A capacidade cognitiva pode ser uma em determinada área de conhecimento e outra diferente noutro tema.

Desse modo, a celeuma que tornou-se viral nas redes sociais é típica daqueles com pouca cognição. Gente cheia de mimos, que quer lacrar e quando toma um direito no queixo, não sabe absorver o golpe. Inquestionavelmente, o fígado destas pessoas toma lugar do cérebro e a bílis fala mais alto.

Carol de Toni é somente mais uma que junta-se a dezenas e representa grande parcela dos eleitores de pouca cognição. Certamente, a deputada os representa com galhardia e distinção, é o que eles sempre defendem. Profissionais da psicologia, ou psiquiatria, devem ter explicações para os comportamentos refratários à realidade. Carol de Toni recebeu a aula magna e não aproveitou, deveria, para não passar mais vergonha.

A grande questão é sobre cada um assumir que aquilo que quer ver, é o seu limite. Opiniões diferentes sempre serão a capacidade de ir além da sua própria cognição.

Informação e Desconhecimento

Na era onde o volume de informações é tão vasto, as redes sociais emergem como um arquipélago de microterritórios cognitivos. Cada ilha representa uma bolha, repleta de opiniões teleguiadas por algoritmos que reforçam convicções preexistentes.

Deste modo, essa dinâmica limita a percepção das pessoas de maneira surreal. Outrossim, também as encoraja a acreditar que possuem um conhecimento superior ao que realmente absorveram.

O professor José Geraldo foi lapidar em: “… sua percepção só lhe permite enxergar o que já tem escrito na sua cognição…”. Desta forma ele captura brilhantemente essa condição: uma ilusão de entendimento insuperável. Esta ilusão relaciona-se diretamente ao eco de nossas crenças do que à expansão do saber.

Algoritmos dos Comédias

O cenário é grotesco, mais do que tragicômico. Pessoas que consomem fragmentos de informações desconexas em textos de 280 caracteres se acham cultas. Como se não bastasse, bebem no Instagram ou no TikTok pensam que alcançaram uma compreensão sobre temas complexos.

Enfim, nada escapa ao conhecimento e à cognição supérflua e prepotente. Economia global, filosofia, neurociência, política internacional — tudo isso em formatos compactos e superficiais. Certamente, priorizam o entretenimento fugaz e pueril.

Assim sendo, temos o curioso fenômeno do “especialista de teclado” e influenciador de mentes vazias. São figuras que com meia dúzia de dados de portais com reputação duvidosa, tornam-se sábios. Surpreendentemente, proferem opiniões como se fossem verdades absolutas e seus seguidores saem repetindo.

A natureza algorítmica das redes sociais amplifica esse problema arregimentando os comédias. O design dessas plataformas não visa a expansão cognitiva; ele busca engajamento. E nada gera mais cliques do que confirmação de viés. Se você é terraplanista, o algoritmo “assegura” que você encontrará centenas de “evidências” para reforçar sua crença. Se você acredita numa conspiração global das vacinas, receberá avalanches de testemunhos e depoimentos de pseudoespecialistas. Em vez de abrir a porta para um universo de ideias, as redes sociais a fecham, mantendo os usuários trancafiados em câmaras de eco.

Dunning-Kruger

Essa situação agrava-se por uma ilusão de profundidade: o chamado “efeito Dunning-Kruger(3). Quanto menos uma pessoa sabe, mais confiante ela tende a ser sobre seu conhecimento. Nas redes sociais, onde a maioria dos debates se faz com emojis e memes, não há lugar para realismo. Aquele que questiona recebe, rapidamente, a etiqueta de “ignorante“. É comum que os agressores busquem o paralogismo para atacar a pessoa, para fugir do debate. Nesse ínterim, o diálogo desaparece, e surgem os monólogos, com cada um gritando para o público que aquiesce insanamente.

Por isso, não é à toa que qualquer discurso público torna-se cada vez mais raso e estéril. As redes sociais não apenas fomentam a desinformação; elas também transformam a superficialidade em norma. A ideia de um debate sério e bem fundamentado dá lugar a uma batalha de likes e compartilhamentos.

Para quê argumentar quando você pode simplesmente silenciar seus oponentes com um botão de bloqueio?

Mas talvez o aspecto mais perturbador dessa dinâmica seja o impacto sobre a própria capacidade de cognição. A exposição constante à superficialidade reprograma nosso cérebro para preferir a informação rápida e descartável. Livros, artigos longos e até mesmo conversas com fundamentação tornam-se exaustivas.

A gratificação instantânea oferecida por “likes” e “retweets” cria um círculo vicioso. Quanto mais consumimos, menos capacidade e cognição temos de absorver conteúdo significativo.

Perdemos !

Assim sendo, nos perdemos ou ficamos desanimados até em seguir na tentativa de salvar almas em perdição. As contradições cognitivas são aparentes e visíveis, menos para os que sofrem de cognição limítrofe.

E o que dizer da responsabilidade individual como cidadãos? Não podemos prosseguir, perdemos a batalha, quiçá a guerra.

Afinal, não são os algoritmos que obrigam alguém a clicar em um vídeo conspiratório ou a compartilhar uma notícia falsa. A verdade é que muitos preferem a ilusão do conhecimento à desconfortável jornada de admitirem sua própria ignorância. A promessa das redes sociais é sedutora: “você pode saber tudo, sem o esforço de aprender nada”.

Para muitos, essa oferta é irresistível, especialmente os que preferem ser um idiota feliz(4).

Em suma, a crítica do professor Sousa reflete um problema-chave na cultura digital tupiniquim. Estamos criando, sem dúvida, gerações de indivíduos que confundem conexões superficiais com cognição. Desse modo, o resultado é um mundo onde a cognição limita-se não pela falta de informação, mas pelo excesso de informação. Em vez de mestres do conhecimento, as redes sociais estão nos transformando em aprendizes do vazio. Com toda a certeza, extremamente habilidosos apenas em repetir o que já está escrito na sua mente.

 

Amanhã tem mais … 

P. S.

(*) Para muitas pessoas e influenciadores de redes sociais, o professor esculachou a deputada numa CPI. O professor veio a público, posteriormente, para explicar o que disse. Assim sendo, temos duas aulas de cognição em uma declaração de como os ignorantes dominaram o mundo. Ao escrever este texto ouço, num programa de perguntas e respostas algo estarrecedor. Qual a nacionalidade do Papa João Paulo II? No que responde o participante do programa: – era judeu ! – Fecha o pano ! CQD.

(1) “Entre Sem Bater – John Locke – O Conhecimento

(2) “Entre Sem Bater – Cezar Taurion – Inteligência Superficial

(3) “A Síndrome do Impostor em Alta

(4) “Entre Sem Bater – Tati Bernardi – O Idiota Feliz

 

Imagem: Entre sem bater – Jose Geraldo de Souza – A Cognição

Nota do Autor

Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.

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