Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” (← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória”). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento de muitos, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. Na vida vermos pessoas “Normais” e anormais, Cazuza soube diferenciá-los e, atualmente, não conseguimos.
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As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Cazuza
O Agenor (tá, Cazuza é muito melhor, mas inexplicável !) tinha muita poesia real na sua vida. Um drama? Tragicomédia? Vida real? É tudo junto numa mistureba sem fim. O poeta cancioneiro contemporâneo já esteve presente aqui neste espaço pelas suas frases e letras de música(*). Contudo, uma frase-chave sua é um ineditismo com elevado grau de responsabilidade da nossa parte. Cazuza, estava certíssimo, estes que se julgam normais não passam de anormais, déspotas e criminosos.
Agenor de Miranda Araújo Neto OMC (Rio de Janeiro, 4 de abril de 1958 – Rio de Janeiro, 7 de julho de 1990), mais conhecido como Cazuza, foi um cantor, compositor e músico brasileiro. Inicialmente conhecido como vocalista e principal letrista da banda Barão Vermelho, na qual fez bem-sucedida parceria com Frejat, posteriormente seguiu carreira solo, sendo aclamado pela crítica como um dos principais poetas da música brasileira. Em 1989 revelou ser soropositivo, termo usado para descrever a presença do vírus HIV, causador da AIDS. Morreu em 1990, aos 32 anos. Também ficou conhecido por ser rebelde, boêmio e polêmico, tendo assumido em entrevistas sua bissexualidade.
Fonte: Wikipédia (português)
Os Normais
O poeta popular disse que para sabermos se uma coisa é boa é necessário conhecer uma coisa ruim. Desse modo, a vida praticamente exige que conheçamos “os dois lados de uma mesma moeda” para opinar e ter uma visão do contexto. Assim sendo, as redes sociais, apresentam práticas exatamente ao contrário desta teoria. Atualmente, basta alguém apresentar uma versão, ou até mesmo uma mentira, e vira verdade. Com toda a certeza, vira verdade, no caso de uma mentira. Especialmente se o que se apresenta é do interesse de quem quer confirmar a sua perspectiva mentirosa. Em suma, vivemos num mundo em que até os que se dizem normais não possuem critério para suas “verdades”.
Anteriormente, algumas das frases de Cazuza que se apresentaram aqui no “Entre Sem Bater”, não provocam reações pois são verdadeiras. Por exemplo, no texto “Desigualdade Social“(1), podemos corroborar a visão do filósofo que tudo virou de cabeça pra baixo; “confia em mim”.
Adicionalmente, o texto “A Festa dos Ratos“(2) soma-se à música “O Tempo não pára” e sua estrofe “Tua piscina tá cheia de ratos …”.
E, finalmente, em “A Burguesia“(3), a expressão que ” a burguesia fede “, demonstra que aqueles que se dizem normais fedem muito. Portanto, cabe destacar que a maioria dessas pessoas que se encaixam nas categorias de ratos, burguesia, déspotas e fins, não possuem espelho. Em outras palavras, apontam o dedinho sujo na direção dos outros, se dizem normais, e ainda brigam com quem lhes mostra a realidade.
Os anormais, infelizmente, tomaram conta do mundo através da mídia e, notadamente, pelas redes sociais sem controle. A expressão terra de ninguém é a práxis nas redes sociais, com seus déspotas e criminosos no controle de tudo e todos.
Os anormais
Vivemos tempos curiosos. Se você gosta de rock, questiona a autoridade e tem um espírito livre, é louco ou tem desajustes. Por outro lado, se você destrói florestas, inicia guerras e condena milhões à fome, pode se tornar um líder pragmático. Surpreendentemente, muitos brasileiros veem líderes, homens de negócios, estrategistas globais como normais.
Em suma, como disse Cazuza: “… eles destroem o mundo e são normais …”. A ironia não poderia ser mais trágica.
O Poder dos anormais
No grande tabuleiro do poder, algumas peças nunca mudam. Governantes e magnatas, os déspotas, continuam jogando xadrez com a vida alheia. E, surpreendentemente, o preço dessa brincadeira, que aqueles que sequer sabem que são os peões do jogo, é alto. Conflitos armamentistas estouram não por necessidade da humanidade, mas porque as indústrias bélicas precisam faturar. O sangue que se derrama em campos de batalha traduz-se em gráficos ascendentes na bolsa de valores.
Para esses senhores de gravatinha-borboleta, a guerra não é uma tragédia – é um investimento altamente rentável.
Enquanto isso, o planeta sufoca, adoece, morre de fome e sede. O desmatamento cresce, os oceanos se enchem de plástico, a temperatura sobe. Os cientistas alertam, mas os donos do dinheiro zombam.
Mudanças climáticas?
Bobagem. Melhor queimar mais carvão, extrair mais petróleo e garantir o lucro trimestral das oligarquias. A fumaça que envenena o ar não chega aos seus pulmões – eles vivem em mansões climatizadas, distantes das tempestades e enchentes. Estas catástrofes só matam os “loucos”, certamente os únicos normais, que ousam questionar esse modelo de progresso.
E se a guerra e a destruição ambiental não fossem suficientes, há ainda o espetáculo grotesco da fome. Milhões dormem com o estômago vazio enquanto toneladas de alimentos vão para o lixo, todos os dias. Sobras de supermercados, estoques vencidos de grãos, excedentes agrícolas – sem dúvida, muito desperdício. É provável que para as oligarquias, alimentar os famintos não gera lucro e não interessa. Para os donos do mundo, é melhor desperdiçar do que distribuir. O absurdo é tão grande que, em algumas cidades, é crime pegar alimentos no lixo. Sim, o crime não é desperdiçar, mas tentar sobreviver.
Os Responsáveis
A pergunta que não deveria se calar é, com toda a certeza; E os responsáveis por tudo isso?
Ah, esses vestem ternos caros, frequentam fóruns internacionais e fazem discursos sobre democracia, liberdade e desenvolvimento sustentável. Mas eles não frequentam as redes sociais, colocam seus pelegos e serviçais, que travestem-se de influenciadores. Os oligarcas, como se não bastasse, seguem sob aplausos, por sua visão de futuro. Nesse ínterim, financiam a destruição, exploram recursos, concentram riquezas e ameaçam sociedades que não dão lucros para eles.
Mas eles são normais, na mídia, nas redes sociais, em cada esquina. São, a princípio, os homens respeitáveis que deram certo. São aqueles que, analogamente aos músicos, estariam compondo sinfonias apocalípticas, com financiamento de corporações e aplausos da patuleia.
Desta forma, o problema não é apenas o que eles fazem, mas o que nos fazem acreditar. Dizem que o sistema é assim mesmo, que é natural ou inevitável. Convencem as hordas de tolos de que não há alternativa. Afirmam que querer um mundo sem guerra, sem fome, sem devastação é coisa de sonhador e idealista ingênuo. Adicionalmente, dizem que a destruição em massa é um efeito colateral da civilização, que a miséria é um problema pessoal, não estrutural.
E nós, os normais que gostamos de rock, que ousamos discordar, seguimos sendo os loucos, comunistas e esquerdopatas.
Talvez Cazuza estivesse certo em chamar a atenção para essa inversão de valores. Porque, amar a vida, desejar justiça e buscar um mundo mais humano é loucura, então que sejamos todos insanos, mas normais de verdade.
Melhor enlouquecer de lucidez do que aceitar a normalidade dessa barbárie mascarada de progresso dos normais criminosos.
“Amanhã tem mais …
P. S.
(*) Letras de música, assim como versos de poesias e passagens de livros de ficção podem dizer muito mais do que, aparentemente, dizem. Desta forma, as letras de Cazuza e outros como Renato Russo e seus parceiros musicais são lições de vida.
(1) “Entre Sem Bater – Jessé de Souza – Desigualdade Social”
(2) “Entre Sem Bater – Provérbio Russo – A Festa dos Ratos”
(3) “Entre Sem Bater – Gustave Flaubert – A Burguesia
Imagem: Entre sem bater – Cazuza – Os Normais e os Anormais
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
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