Entre Sem Bater - Sílvio Santos - A Opinião do Jornalista

Entre Sem Bater – Sílvio Santos – A Opinião do Jornalista

Entre sem Bater

Este é um texto da série “Entre sem bater” ( Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória”). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento de muitos, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. Sílvio Santos foi de uma educação exemplar quando falou sobre a “Opinião” dos apresentadores da sua rede de  TV, ou não?

Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente.

As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.

Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.

Sílvio Santos

Inquestionavelmente, Sílvio Santos foi um grande comunicador, dos maiores que o Brasil já teve. Se o seu legado se perpetuar com suas herdeiras, ainda é cedo para ter uma opinião. Entretanto, podemos dizer que as suas frases e chavões ainda durarão muito tempo, enquanto seus fãs lembram dele. Podemos dizer que Sílvio Santos incorporou tudo de bom e de ruim que um jornalista pode ter. Surpreendentemente, no rol de suas atividades, o “jornalista” não está presente, o que é curioso.

Silvio Santos OMC, nome artístico de Senor Abravanel (em hebraico: סניור אברבנאל, Rio de Janeiro, 12 de dezembro de 1930 – São Paulo, 17 de agosto de 2024), foi um apresentador de televisão, empresário, produtor, radialista e cantor brasileiro, conhecido como o “Rei da Televisão Brasileira”, além de ser amplamente reconhecido como a maior referência na história da comunicação do país. Iniciou sua carreira de comunicador na rádio, posteriormente chegando a televisão, onde consagrou-se como uma figura central na cultura popular e entretenimento brasileiro por mais de seis décadas, conquistando o carinho do público e a expansão de seus negócios, através da fundação do Grupo Silvio Santos. Ao longo da sua vida, Silvio também esteve envolvido em outras áreas como a música e a política.

Fonte: Wikipédia (Português)

Opinião de Jornalista

Opinião, seja de jornalista ou de uma pessoa comum, transformou-se numa coisa que pode provocar até morte. Podemos afirmar, com toda a certeza, que opinião é um posicionamento que recebe muitas críticas e sarcasmo. Citaremos, a seguir, um ditado em outros idiomas, para não constranger os puristas, sobre uma opinião.

  • Le opinioni sono come i culi: ognuno ha il suo.” (Italiano)
  • Meinungen sind wie Arschlöcher – jeder hat eins.” (Alemão)
  • Opinions are like assholes: everybody’s got one.” (Inglês)
  • Les opinions, c’est comme les trous du cul : tout le monde en a un.” (Francês)
  • Las opiniones son como los culos: todos tienen uno.” (Espanhol)

Assim sendo, nem é preciso saber qualquer um dos idiomas acima para entender a frase, nos países lusófonos, nem é bom repetir. Sílvio Santos disse a frase-chave deste texto, muito educadamente, para uma apresentadora, sua funcionária.

Opiniões Adjetivadas

Neste contexto, fica a péssima impressão de que opinião pouco importa. E é, surpreendentemente, o que a maioria das pessoas, atualmente, pensa e pratica. Por outro lado, filósofos e pessoas que praticam o debate de ideias(*), gostam de ouvir a opinião alheia.

Desta forma, temos que a opinião deve estar dentro de um contexto e receber uma adjetivação. Teríamos, por exemplo, a opinião preconcebida(1), a opinião falsa(2) e a opinião pronta(3), dentre tantas outras. Portanto, é preciso cuidarmos para não rotular uma opinião ou, o que é pior, atacar o mensageiro e sua visão sobre qualquer tema.

A sociedade digital moderna que, a princípio, rejeita opiniões que não coincidem com as de senso comum, deve evoluir. Por isso, textos como este exigem uma capacidade de compreensão e tolerância que raramente se vê nas redes sociais. Retomando a frase de Sílvio Santos, cuja destinatária era a jornalista-apresentadora Rachel Sheherazade, temos um dilema.

Diploma de Achismo

A frase do magnata da TV brasileira, sem dúvida, caiu como um raio moralizador nas bancadas jornalísticas. Apresentadores-editores que se travestem da reencarnação do Aristóteles com um microfone de lapela. A fala de Sílvio teve tratamento de muitos como um ataque à liberdade de expressão. Pobres almas. Mal sabiam que Sílvio, como um bom showman, disse em voz alta aquilo que muitos pensam em silêncio. Em outras palavras, ele podia dizer: “meu bem, segura sua opinião — não foi isso que assinamos no contrato.”

Entretanto, sejamos um pouco justos ou aceitem que podemos ter uma opinião adjacente. Outrossim, devemos ressaltar que a opinião é saudável, mas com algum fundamento e sem achismos. Não devemos confundir opinião e achismos com liberdade de expressão e opinião, notadamente, nos canais de mídia. (Influencers e seus canais não são mídia, #TAOQUEI?).

Liberdade de Expressão

Com toda a certeza, a verdadeira liberdade de expressão é um pilar importantíssimo da democracia. E, inquestionavelmente, todo e qualquer jornalista pode ter a sua opinião. Contudo, talvez, só talvez, valha a pena exigir que essa opinião venha junto a algumas coisas raras hoje em dia. Ouvimos opiniões na TV ou Internet sem nenhum lastro com a realidade, sem fundamentação ou um mínimo de domínio da pauta. Coisas absurdas como um repórter não saber como pronunciar o nome da rua em que ele está fazendo uma reportagem. Saudades de repórteres que estudavam taquigrafia e se transformavam em apresentadores. Bons tempos dos apresentadores que sabiam ler e escrever e a estenotipia não apresentava erros crassos.

O cenário é sempre o mesmo, vocabulários paupérrimos, risadinhas e encadeamento de notícias sem o mínimo bom senso. Em alguns casos, o apresentador, dentro de um cenário digital de última geração, vira-se para a câmera e dispara: “Na minha opinião…”. É como se o mundo inteiro tivesse parado para ouvir a análise dele sobre geopolítica, aquecimento global, macroeconomia.

Afinal, quem precisa de especialistas quando se tem um teleprompter e a liberdade de expressão?

Opinião de Segunda Mão

Neste contexto, a situação fica pior pois estes apresentadores, dublês de jornalistas, são formadores de opinião. E conseguem passar a sua opinião para telespectadores ou verdadeiros donos de opinião de segunda mão(4).

É aí que reside a verdadeira mágica perversa do jornalismo moderno: a opinião instantânea e de segunda mão. Tudo em embalagem para presente, com frases de impacto, música sensacionalista e feições sérias. O jornalista de hoje em dia já nasce opinando. Nem precisa mais checar fontes, aliás, fontes são coisa do passado, agora é Google, ou melhor, uma IA regenerativa qualquer. Prevalece a “sensação”, a “leitura pessoal”, o “olhar crítico”, mesmo que esse olhar formou-se através de memes e comentários no Twitter.

Um diploma de comunicação hoje é apenas o novo passaporte para o achismo de  “qualidade” e quantidade.

Pai dos Burros

Anteriormente, a expressão “pai dos burros” referia-se a um dicionário. Para aqueles que tinham mais recursos ou acesso a bibliotecas uma enciclopédia ou Almanaque Abril supriam as necessidades.

E, curiosamente (ironic mode ON) não importa o tema: guerra no Oriente Médio? O apresentador opina. Reforma tributária? Ele tem um parecer e chama um especialista amigo. Política ambiental da Noruega? Ele discorda com veemência, mesmo que confunda Oslo com um aplicativo de entrega. Tudo com a mesma entonação de quem descobriu uma nova teoria da relatividade entre uma pauta policial e a previsão do tempo.

E o Google agora nem é mais o “pai dos burros” digital.

Pulitzer e Líbero Badaró

A frase de Sílvio Santos carrega muito desrespeito, e é autoritária ao extremo. Mas vamos ser honestos: ela só chocou porque tocou em uma ferida aberta. Há um oceano de jornalistas que confundem púlpito com bancada. Que se acham colunistas de opinião premiados pela ONU. Entretanto, mal conseguem diferenciar uma análise crítica de um chilique moralista travestido de indignação cívica.

O problema não é ter opinião, mas jornalistas tupiniquins atuais desrespeitam Pulitzer e Líbero Badaró, sem cerimônia. O problema é transformar todo noticiário num show de “eu acho”, “na minha visão”, “me incomoda profundamente”. Ah, sim, porque agora o jornalismo também é sobre sentimentos e pertencimentos. Como se a pauta fosse menos importante do que o estado emocional de quem a lê. O drama pessoal do âncora virou parte essencial da credibilidade da informação. Quanto mais emocionado, mais adjetivações e menos substantivos, mais verdadeiro. As versões com maior indignação sugerem um comprometimento maior com a justiça.

É o jornalismo de espelho, em que o apresentador não informa: ele se apresenta e dá suas opiniões e versões. Diariamente, em qualquer horário, nos canais de sua preferência (aka bolha).

Sheherazade

É provável que Sílvio prestou um serviço à humanidade, eu mesmo não gostava da Sheherazade e suas opiniões. Uma frase dura, talvez um pouco, por tornar-se pública e viralizar. A apresentadora se mancou e foi dar sua opinião noutra freguesia para os mesmos fregueses (será?). Contudo, a frase deveria fazer algum eco na cabeça de todos os editores da mídia (Influencers, a cabeças suas é oca!) Variações irônicas seriam interessantes de ler num Manual de Redação (sim, existiam nas redações). Por exemplo, “Você tem contrato para informar, não para filosofar sobre tudo como se estivesse num podcast de bar”. Perdemos, em tempos onde todo mundo quer ser formador de opinião sem nem saber formar uma frase coerente sobre o assunto. Vivemos tempos em que um minuto silêncio opinativo, pára Sheherazade outros/as faria bem ao jornalismo. E ao público em geral.

Porque, convenhamos: se uma opinião não tem qualificação ou fundamentação, talvez seja melhor o cara apenas ler a notícia.

Dia do Jornalista

Textos da série “Entre Sem Bater” fazem homenagem ao jornalista que motiva esta série (Barão de Itararé). No dia do jornalista, nada mais natural do que ser irônico e dizer algumas verdades, ou opinião com fundamentação.

Líbero Badaró era um famoso oposicionista cujo jornal que sofria censura constante pelo monarca de plantão, é fato. A morte do jornalista alimentou a crise institucional contra Dom Pedro, que levou a sua renúncia no dia 7 de abril de 1831. A data transformou-se no dia da celebração do profissional, o dia do jornalista.

Uma frase diz, em linhas gerais, “… de jornalistas quero a apresentação de fatos, e não quero saber da opinião deles …”? É provável que a origem foi de um jornalista insatisfeito com o que vivia em seu meio de comunicação. A explosão da Internet e das redes sociais transformou qualquer um com um celular nas mãos em jornalista.

Enfim, até existe um Código Internacional de Ética Jornalística, com aprovação da UNESCO em 1983. Ele proclama que o dever supremo do jornalista é servir à causa do direito a uma informação verídica e autêntica. A informação deve surgir através de uma dedicação honesta à realidade objetiva. Além disso, deve preceder a uma exposição responsável dos fatos no seu devido contexto.

Vamos combinar… Em qual planeta isso existe?

 

Amanhã tem mais … 

P. S.

(*)  Um debate de ideias exige opiniões de qualidade, sem nos importarmos com o mensageiro. Infelizmente, as bolhas e a ânsia pela aceitação em grupos, debelou qualquer possibilidade de opinião divergente.

(1) “Entre Sem Bater – Schopenhauer – Opinião Preconcebida

(2) “Entre Sem Bater – Joseph de Maistre – Opiniões Falsas

(3) “Entre Sem Bater – Napoleon Hill – Opiniões Prontas

(4) “Entre Sem Bater – Mark Twain – Segunda Mão

 

Imagem: Entre sem bater – Sílvio Santos – A Opinião do Jornalista

Nota do Autor

Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.

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