Entre Sem Bater - Jeff Bezos - A Amazon.Com

Entre Sem Bater – Jeff Bezos – A Amazon.com

Entre sem Bater

Este é um texto da série “Entre sem bater” ( Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória”). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento de muitos, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. Jeff Bezos e “Amazon.com” são, na realidade, uma coisa só e, sem dúvida, não é possível ter nenhum dos dois como ídolo.

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As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.

Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.

Jeff Bezos

O nome de Jeff Bezos entrou na pauta dos newbies e neófitos (tá, é pleonasmo !), há menos de 30 anos. Pode parecer muito, mas para quem tornou-se o homem mais rico do mundo, é pouco tempo. Surpreendentemente, pouco depois de criada a Amazon.com comecei  atuar com Internet e comprei CDs e livros naquela loja. Mágica pura, e nem foi preciso muita publicidade(*).

Jeffrey Preston Bezos nasceu em 12 de janeiro de 1964, em Albuquerque, EUA). É um empresário americano mais conhecido como o fundador, presidente executivo e ex-presidente e CEO da Amazon, a maior empresa de comércio eletrônico e computação em nuvem do mundo. De acordo com a Forbes, em maio de 2025, o patrimônio líquido estimado de Bezos ultrapassou US$ 220 bilhões, tornando-o a terceira pessoa mais rica do mundo. Ele foi a pessoa mais rica de 2017 a 2021, de acordo com a Forbes e o Bloomberg Billionaires Index.

Fonte: Wikipedia (inglês)

Amazon

É provável que, nas últimas três décadas, as grandes empresas, ou big techs, como a Amazon.Com, só crescem pela polêmica. No começo, a empresa de Bezos vendia pela Internet algo que só era possível nas livrarias. Desse modo, ela cresceu e o ex-CEO daquela empresa de futuro transformou-se num super pop star da tecnologia.

Como se não bastasse, recentemente, resolveu se aliar a um criminoso – pelas palavras de Robert de Niro(1). Bezos, em total alinhamento com seu pensamento opressor, engrossa fileiras com outros dois das big techs. Seus pensamentos e práticas, com toda a certeza, alinham-se às práticas de Elon Musk e Zuckerberg. A dúvida era até que ponto seriam ou serão serviçais de Trump e suas maluquices, ou mandariam no presidente. Musk pulou fora, e continua arrotando pelas redes sociais, mas tudo deve ser pura bravata.

Ao trabalhar na Amazon.com não é possível escolher, simultaneamente, duas das formas de trabalho. Além disso, o “careca da Amazon” tem ideias antagônicas ou que contradizem suas teorias, mas que ele tenta explicar.

Trabalho Escravo na Amazon

Inquestionavelmente, quando uma personalidade como Bezos profere alguma frase ou responde perguntas, os efeitos são imediatos.

A frase condensa, de forma cínica, uma visão corporativa que prioriza a produtividade extrema em detrimento da humanização laboral. Sob o verniz brilhante da eficiência e da inovação, essa lógica impõe aos trabalhadores uma escolha restrita e perversa. Entre três modos de desempenho, é inaceitável exigir dedicação total sem oferecer, em contrapartida, condições dignas de trabalho.

Certamente, a Amazon, símbolo do capitalismo digital do século XXI, tornou-se um modelo de eficiência logística global. Entretanto, esse sucesso sustenta-se sobre uma base de trabalho com denúncias recorrentes de abusos. Ao longo dos anos, trabalhadores de centros de distribuição e depósitos da empresa, em todo o mundo, organizaram movimentos grevistas. As reivindicações por melhores salários, segurança física, fim do monitoramento invasivo e o direito à sindicalização, são naturais.

Pandemia e Sindicato

Essas mobilizações, não geram uma abertura ao diálogo e, frequentemente, recebiam repressão, demissões e retaliações internas. Casos emblemáticos incluem a demissão de funcionários que lideraram ou participaram de protestos — como Christian Smalls. O organizador da paralisação em Nova York em 2020 durante a pandemia de COVID-19 teve sua demissão sob a alegação de violar regras de distanciamento. Mais tarde, documentos internos revelaram uma tentativa da liderança da empresa desacreditar publicamente o trabalhador. A organização agiu tratando-o como uma ameaça à imagem corporativa e um sindicato incomoda muito capitalista.

Essa resposta dura ao ativismo interno revela uma contradição fundamental. A empresa se orgulha ao valorizar a inteligência e o mérito. Por outro lado, ela pune aqueles que ousam exercer seu senso crítico. E, nesse ínterim, se reivindicarem condições mais humanas, aí é que vira inimigo público. A cultura corporativa da Amazon, análoga a uma eficiência quase militar é um abuso visível. Adicionalmente, o uso agressivo de dados e algoritmos, revela-se, na prática, hostil à democracia para com os trabalhadores e à autonomia coletiva.

Advertência

A frase de Bezos, portanto, não é como uma orientação inspiradora, mas uma ameaça ou advertência velada. Na Amazon espera-se que o trabalhador seja útil, rápido e obediente — não necessariamente criativo ou questionador. Ao limitar a escolha a apenas uma entre três qualidades a empresa define unilateralmente os parâmetros de sucesso. E, ao mesmo tempo, anula qualquer possibilidade de conciliação entre produtividade e dignidade.

Por trás da retórica do empreendedorismo e da meritocracia, a Amazon opera com uma lógica fordista de controle do tempo e do corpo. Uma lógica, agora turbinada por tecnologias de vigilância como escaneamento constante de movimentos. Além disso, promovem o rastreamento de produtividade em tempo real e sistemas de pontuação com penalidades. Tudo isso em nome da eficiência e satisfação do cliente. Desse modo, a empresa criou ambientes de trabalho onde o cansaço físico e o esgotamento mental se tornam normas.

O movimento dos trabalhadores da Amazon não é, portanto, uma reação isolada. É, outrossim, parte de uma resistência mais ampla a um modelo de trabalho que não sacrifica o humano em prol do lucro. As demissões e punições a quem questiona esse sistema são a cultura corporativa que silencia a reflexão crítica a não revisar suas práticas.

Se a frase de Bezos emergir à luz da realidade dos armazéns da Amazon, ela deixa de ser uma escolha sobre como trabalhar. Torna-se, sem dúvida, uma imposição autoritária sob o disfarce de livre escolha. E isso deveríamos levar a muitas reflexões, algumas com profundidade. Por exemplo, quando uma empresa restringe até mesmo a forma como as pessoas podem trabalhar, ela está apenas otimizando processos? Ou a empresa está moldando o ser humano a um ideal produtivo que pouco ou nada tem de sustentável.

Honestidade?

A marca da Amazon.Com, segundo Jeff Bezos:

“Uma marca forma-se, principalmente, não pelo que sua empresa diz sobre si mesma, mas pelo que ela faz.”

O pensamento, à princípio, traz um tom de honestidade brutal e pragmatismo empresarial. Mas revela, no entanto, uma contradição inquietante ante a realidade das ações da própria empresa que ele criou.

A Amazon, enquanto potência global, investe milhões em publicidade institucional para afirmar-se como inovadora. Adicionalmente, mantêm como centro de atenções os seus clientes e compromete-se com a excelência. Desta forma, é impossível ignorar que essa imagem entra em choque com os relatos recorrentes de más condições de trabalho. A vigilância excessiva, metas inatingíveis e repressão à organização sindical em seus centros de distribuição é um antagonismo. A marca, como disse Bezos, molda-se pelo que a empresa faz — e o que a Amazon fez foi contraditório. Em diversos episódios, empurrou seus trabalhadores ao limite físico e mental em nome da produtividade e imagem “de A a Z”.

Dissonância

Essa dissonância entre o discurso e a prática escancara um fenômeno comum no mundo corporativo. A tentativa de exibir marcas éticas e humanas enquanto nos bastidores revelam práticas opressivas e desumanas. A Amazon, mesmo celebrando sua eficiência, falha ao não aplicar esse mesmo rigor nos direitos e no bem-estar de seus funcionários. Não basta entregar pacotes em tempo recorde se o custo disso é a saúde dos seus milhares de trabalhadores.

A contradição também serve de alerta para o público e para o mercado: marcas não são aquilo que está nas campanhas publicitárias. São aquilo que praticam — e, nos tempos atuais, não há como esconder ações contraditórias por muito tempo. As demissões de funcionários e a negação sistemática de melhorias nas condições de trabalho deveriam corroer a marca, #SQN. Por outro lado, a intensidade dos investimentos em marketing restauraram o imaginário dos clientes.

Surpreendentemente, Bezos tinha e tem razão em sua frase. Contudo, ver que sua própria empresa é um dos exemplos mais emblemáticos de políticas nefastas, pode assustar alguns. Não assusta, por exemplo, o presidente dos EUA, Trump, que gosta da práxis e do dinheiro de Bezos.

Em suma, parece que o que se faz, quando incompatível com o que se diz, é um lema entre déspotas e seus seguidores. É provável que isso comprometa a imagem desta ou daquela organização, como também a legitimidade moral de uma marca. Entretanto, nada como uma eleição ou muito dinheiro em publicidade nos meios de comunicação.

O trabalhador da Amazon, assim como os que trabalham para Musk ou Zuckerberg, não podem escolher uma entre as opções. Devem trabalhar muito e arduamente, e não podem ser inteligentes. É fato !

 

Amanhã tem mais … 

P. S.

(*)  Bezos disse: “A publicidade é o preço que você paga por um pensamento medíocre.”. Isso, a partir do CEO da Amazon, soa como uma espécie de piada de mau gosto, e tem gente que aplaude.

(1)Entre Sem Bater – Robert de Niro – Trump: O Criminoso

 

Imagem: Entre sem bater – Jeff Bezos – A Amazon.Com

Nota do Autor

Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.

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