Entre Sem Bater - Liza Marklund - Coca-Cola e a Revolução

Entre Sem Bater – Liza Marklund – Coca-Cola e a Revolução

Entre sem Bater

Este é um texto da série “Entre sem bater” ( Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. Liza Marklund entende bem a falácia da frase “… última Coca-Cola no deserto …” e uma última “Revolução“.

Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente.

As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.

Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.

Liza Marklund

A escritora Liza Marklund é apenas uma das inúmeras pessoas que estão atentas à deterioração da nossa sociedade. Ela, e os outros pensadores que estão representados a seguir neste texto, sabem bem como é impossível mudar uma cultura. O aculturamento impositivo que produtos estadunidenses, como a Coca-Cola, espalharam no mundo, não tem retorno. Podemos afirmar, com toda a certeza, que perdemos a possibilidade de qualquer revolução com as novas tecnologias.

Eva Elisabeth ” Liza ” Marklund (nascida em 9 de setembro de 1962) é uma jornalista e escritora policial sueca. Seus romances, a maioria dos quais estrelados pela jornalista fictícia Annika Bengtzon, foram publicados em quarenta idiomas. Marklund é coproprietária da terceira maior editora da Suécia, a Piratförlaget. Em 2004, Liza Marklund foi nomeada embaixadora do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) . O motivo foi seu longo interesse por questões relacionadas aos direitos humanos. Ela viaja regularmente em nome da UNICEF e, entre outras coisas, cobriu especialmente questões relacionadas à escravidão infantil e crianças com HIV e AIDS no terceiro mundo. Desde sua estreia como escritora em 1995, Liza Marklund escreveu onze romances policiais da série Annika Bengtzon, o romance independente “A Fazenda da Pérola Negra” e o primeiro romance de sua nova série, a Trilogia do Círculo Polar. Além disso, ela é coautora de dois romances documentais com Maria Eriksson e de um livro de não ficção sobre liderança feminina com Lotta Snickare.

Fonte: Wikipedia (inglês)

Geração Coca-Cola

A história da Coca-Cola é, de maneira direta e objetiva, uma falácia que arrebanhou milhões de inocentes úteis. O poder do marketing e suas mentiras transformou um xarope açucarado em bebida mágica. Vivemos numa sociedade digital(*) viciada em Coca-Cola.

Uma revolução cultural e ideológica!

Tudo que cerca a Coca-Cola tem a aura de mistério e falta de transparência. Desde a sua receita que fica sob sete chaves, inexpugnável, até as lendas urbanas como a história do Papai Noel. Tudo é apenas marketing como, por exemplo, a substituição do Papai Noel, na China, pela celebração do ano novo chinês. Em suma, a humanidade é consumista e bebe Coca-Cola, com mentirinhas e aquisições da concorrência. Sem revolução de ideias.

Celebração de Consumo

A verdade é que nossa maneira de celebrar o Natal tem origem em inúmeras culturas e fontes, desde o Dia de São Nicolau até as campanhas publicitárias da Coca-Cola.” Ricardo Roeper

Roeper, com seu pensamento, evidencia que o costume cultural, mesmo de algo tão tradicional e simbólico quanto o Natal, é dominante. Uma cultura, ou aculturamento, sob influencia da força de publicidade e um marketing global, na maioria das sociedade. Através dos séculos, as celebrações se transformam para favorecer não apenas hábitos culturais, mas também convicções comerciais. A Coca-Cola, como produto e marca, não só vende um refrigerante, mas um estilo de vida fake. É, em tempos atuais, aquele sentimento de pertencimento e um ideal festivo que atravessa fronteiras. Surpreendentemente, as culturas não-ocidentalizadas e que experimentaram alguma revolução verdadeira, não se renderam.

Neste contexto, as redes sociais e a Internet expandem e aceleram esse processo, sem revolução real. A propaganda não é mais apenas veiculada por meios tradicionais, rapidamente, tornando-se parte do cotidiano. Como se não bastasse, reforça padrões de consumo e cria uma cultura global homogênea.

O Natal, por exemplo, assim como outras celebrações, sofrem remodelações para encaixar narrativas e hábitos, Grandes corporações, inclusive as especialistas no mundo digital, e seus anunciantes, aplicam doses maciças de veneno. O que se vê hoje é uma simbiose quase perfeita entre tradição cultural e imposição do mercado. Sendo assim, presenciamos a naturalização da influência das grandes marcas na vida das pessoas, e qualquer revolução é natimorta.

A Ilusão do Produto Especial

Coca-Cola é pouco mais do que açúcar, um pouco de aromatizante e muita água (com gás). É praticamente indistinguível de inúmeras outras marcas de cola, mas as pessoas ao redor do mundo parecem achar que Coca-Cola é algo especial e estão ansiosas para pedi-la pelo nome e até mesmo pagar um preço mais alto por ela.” George Ritzer,

A frase de George Ritzer retrata um fenômeno psicológico e social que vai muito além do simples sabor do refrigerante. Demonstra o poder da marca na formação de identidade e desejo de quem nem precisa do produto que usa ou consome. Imaginar que uma guerra com a Pepsi-Cola proporcionará uma revolução é o mesmo que acreditar no Papai Noel.

E, desse modo, a Coca-Cola, e outras marcas e serviços digitais – plataformas sociais, aplicativos, tecnologias – avançam. Certamente, a maioria delas não têm uma diferença funcional ou qualitativa notável que provoque muitas diferenças. São quase a mesma coisa, mas conseguem captar a atenção e a fidelidade dos usuários por meio da construção simbólica da marca.

A lógica da Internet moderna é exatamente essa: criar laços emocionais e moldar comportamentos de consumo. Surpreendentemente, é através da participação social por meio de marcas e arquiteturas digitais que se tornam “indispensáveis”.

Por isso, surgem comportamentos que determinam quem e como somos, e não provocam nenhuma revolução interna. Sem dúvida, o que muitas pessoas pensam, e como se relacionam, surge desta influência perniciosa. É, com toda a certeza, uma espécie de engrenagem que mistura desejo, pertencimento e controle mental sutil. O açúcar da Coca-Cola, nesse sentido, é a metáfora para conteúdos e interações que não oferecem substância real. Entretanto, viciam e criam dependência, como a cocaína, só que de modo invisível.

A Uniformização da Cultural Digital

Helen Caldicott alerta que “o mundo inteiro está se privando de sua cultura por uma sociedade Coca-Cola uniforme. Estão querendo se passar e justificando que precisam de um estilo de vida americano“.

Esse desvio conceitual  denuncia o processo de homogeneização cultural global. Processo este que fica mais forte com o domínio das tecnologias e plataformas digitais provenientes dos Estados Unidos. Contudo, os efeitos são mais perversos e quem se rebela vira comunista ou fomentador de uma revolução.

A Internet, que poderia ser um espaço para diversidade cultural se expressar, é palco para a amplificação dos valores estadunidenses. Notadamente nos valores que se atrela ao consumismo, ao individualismo e a padrões de sucesso definidos por grandes corporações. Por outro lado, nunca existe a revisão da revolução (Guerra Civil) daquele país e seus objetivos centrais de colônia.

Essa padronização cultural, simbólica e comportamental reforça-se pela onipresença das big techs. Elas, sem nenhum esforço, controlam algoritmos, disseminam tendências e definem o que é relevante nas mentes da esfera pública e privada.

Essa lógica cria sociedades cada vez em mais conexão superficial e enfraquecem princípios de uma revolução. Paradoxalmente, promovem a desconexão com as próprias raízes culturais e históricas de uma nação inteira. As redes sociais transformam tendências locais em modismos globais instantaneamente. Infelizmente, também eliminam o espaço para a nuance cultural e a resistência a esse domínio imposto.

Revolução Moderna

Os conceitos mudaram muito no mundo digital, não deveriam, contudo mudam no tipo mutatis mutandis. E, nesse ínterim, conceitos e ideias passam a ter, inclusive, significação divergente com a origem da palavra. Falar que a tecnologia, por exemplo, é uma revolução, chega ser um despropósito. É uma mudança, que consolida e até eterniza castas, poder e domínio de ações e ideias.

Democracia no Contexto do Poder Concentrado

Noam Chomsky pontua:

democracia não significa muito se as pessoas tiverem que confrontar sistemas concentrados de poder econômico como indivíduos isolados. Democracia significa algo se as pessoas puderem se organizar para obter informações, para ter ideias, para fazer planos, para participar ativamente do sistema político, para apresentar programas e assim por diante. Se organizações desse tipo existem, então a democracia também pode existir. Caso contrário, é uma questão de acionar uma alavanca a cada dois anos; é como ter que escolher entre Coca-Cola e Pepsi-Cola.”

Na era das redes sociais, a concentração do poder na mão de poucas big techs equivale a um desbalanceamento de forças. O ambiente democrático fragiliza-se quando o acesso à informação e à mobilização coletiva é mediado por plataformas particulares. Empresas privadas que detêm dados, algoritmos e ferramentas de comunicação e publicidade estão no controle.

A fragmentação social(1) impõem cidadãos em isolamento ou em escopos limítrofes dentro de “caixinhas”,

O cidadão isolado, convive com um fluxo constante de dados e conteúdos moldados por interesses econômicos e estratégicos. Certamente, neste contexto, ele perde capacidade real de participação política eficaz. Individualmente e coletivamente, ele está diante de um sistema que limita o diálogo aberto e livre.

E, sem dúvida, o reduz (cidadão) à política e à escolha simplista, polarizada e manipulável como escolher entre duas marcas rivais de refrigerante. Inquestionavelmente, uma escolha que pouco altera as bases do sistema e outra que nada altera, sem uma revolução. Enfim, o idiota da aldeia, isoladamente, virou dono da sua opinião e opositor de qualquer revolução.

A Bolha da Modernidade Insubstituível

Por fim, refletimos na frase de Liza Marklund: “Nunca haverá revolução. A humanidade a trocou por Coca-Cola e televisão a cabo.”. E poderíamos e deveríamos, outrossim, adicionar as redes sociais como troca suprema. Essa afirmação encerra o pensamento crítico sobre a impossibilidade prática de uma transformação radical da sociedade contemporânea. A sociedade é prisioneira de uma bolha simbólica e cultural articulada pelo consumo e pela hipermídia. As redes sociais e a Internet controladas pelas big techs e pelos déspotas que controlam as mentes fracas.

A “revolução”, entendida como ruptura sistemática e profunda, foi substituída sem contestação. Uma revolução simbólica de consumo, entretenimento e informação filtrada. Em outras palavras, uma revolução que é apenas aparência, que não rompe as estruturas de poder nem questiona seu fundamento.

A humanidade aderiu a esse novo modelo, não por falta de força ou vontade, mas porque ele se tornou confortável e sedutor. Este modelo é especialmente eficaz em suplantar formas antigas de resistência e arrastar multidões de néscios.

A bolha atual imobiliza a ação coletiva e o pensamento crítico, enquanto mantém sob controle os impulsos de uma revolução. O sistema se adapta e incorpora a dissidência, submetendo-a a um fluxo contínuo de dados e distrações. Assim, a “revolução” hoje é uma performance, que não ameaça o domínio das oligarquias e que regem nosso modo de vida.

Tempos Modernos

Enfim, a tão esperada revolução-civilização(2) que Victor Hugo imaginou está mais longe do que nunca. Nenhuma revolução traz consigo, atualmente, algo de civilizatório, muito pelo contrário.

O mundo moderno, das redes sociais e da Internet, sob o controle econômico e tecnológico das big techs estadunidenses venceu. Qualquer ambiente onde os valores culturais, as identidades sociais predominam, viram guetos e espaços de segregação. A política e a percepção da realidade são amplamente abduzidos por interesses de mercado e mecanismos poderosos de controle da mídia.

Desta forma, a Coca-Cola, mais do que um simples produto, funciona como metáfora para a lógica global. Um símbolo de consumismo, uniformização cultural e poder concentrado que permeia nossas práticas sociais. Como se não bastasse, limita a nossa capacidade de transformação e de apresentação do contraditório.

Diante desse cenário, a ideia de revolução real torna-se quase impensável. Temos, sem dúvida, apenas um conceito, como um quadro na paredes, substituído por uma superfície plástica de mudanças superficiais. E as bolhas se mantém intactas e nossa sociedade, em grande medida, submetida a elas.

Imagem é tudo, sede não é nada !

Amanhã tem mais … 

P. S.

(*)  Sociedade Digital é o conjunto formado por todo aquele que, de posse de um smartphone ou acesso à Internet, se julga parte integrante. Embora esta classificação coloque bilhões de pessoas nesta sociedade, poucos a comandam. Os maiores comandantes desta sociedade são os algoritmos e não esta ou aquela pessoa. Este texto não é para toda a sociedade digital ler, e muitos que começarem a ler, não vão conseguir chegar ao final. É fato !

(1)Entre Sem Bater – Marilena Chauí – Fragmentação Social

 

Imagem: Entre sem bater – Liza Marklund – Coca-Cola e a Revolução

Nota do Autor

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