Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. A ficção transforma-se em realidade e Morpheus é profético quando vaticina que somos “Dependentes do Sistema“.
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Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Morpheus (in Matrix)
Personagens de ficção podem, surpreendentemente, dizerem mais da realidade do que as pessoas imaginam. Desse modo, os roteiristas e diretores de filmes, passam muitas mensagens que a maioria das pessoas nunca entende. No caso de Matrix, o gênero causa uma grande dificuldade, para a maioria das pessoas, em compreender as coisas(1). Certamente, nossa sociedade pariu e criou as pessoas para serem dependentes do sistema.
Morpheus é um personagem fictício da franquia The Matrix. Ele é retratado por Laurence Fishburne nos três primeiros filmes e no videogame The Matrix: Path of Neo, onde foi o único ator original a reprisar a voz de seu personagem. Em The Matrix Resurrections, um programa de IA baseado nele é retratado por Yahya Abdul-Mateen II. O nome Morpheus é o do deus dos sonhos da mitologia grega, o que condiz com o envolvimento do personagem com o “sonhar” da Matrix. O mítico Morpheus e sua família, inclui dois irmãos ( Phobetor e Phantasos ).
Fonte: Wikipedia (Inglês)
Dependentes do Sistema
Em sociedade com uma estrutura interconectada de instituições, normas, tecnologias e comportamentos temos um sistema perverso. Este sistema, que perpetua a busca incessante pelo consumo, aparências, concentração de poder e controle aprisiona as pessoas.
Atualmente, vivemos em um sistema que enfatiza a desigualdade econômica, a supressão da diversidade e a submissão à autoridade. Desse modo, a liberdade individual sofre supressão e perpetua-se os desequilíbrios sociais e a dependência mental da maioria.
A sociedade contemporânea cria uma dependência que inibe qualquer liberdade de escolha. Por isso, vemos os interesses corporativos e políticos predominarem sobre as necessidades humanas tornando todos dependentes do sistema.
Matrix
Na produção cinematográfica, Morpheus, como na mitologia, tenta orientar Neo sobre o que ele é, o que pode ser e como é dependente. Desse modo, através de simulações de sonho, Morpheus explica porque ele atingiu o estado de consciência acima de outros humanos.
A Matrix está em toda parte.
“Mesmo agora, nesta mesma sala. Você pode ver isso quando olha pela janela ou quando liga a televisão. Você pode sentir isso quando vai trabalhar. Quando você vai à igreja. Quando você paga seus impostos. É o mundo que foi colocado sobre seus olhos para cegá-lo da verdade.“
Destarte, a Matrix está neste texto, que você lê e tenta renegar ou até concordando não consegue transformar sua capacidade de agir(2).
Pílula Azul ou Vermelha?
Morpheus diz para Neo que ninguém pode dizer o que é ou não é esta Matrix, esta vida que vivemos, e prossegue …
“… Que você é um escravo, Neo. Como todo mundo, você nasceu em cativeiro. Nascido em uma prisão que você não pode cheirar, provar ou tocar. Uma prisão para sua mente …”
Em um dos momentos mais icônicos do filme “Matrix”, o personagem Morpheus oferece a Neo uma escolha crucial: a pílula vermelha ou a pílula azul. A pílula vermelha, segundo Morpheus, revelará a Neo a dura realidade do mundo em que vive, enquanto a pílula azul voltará ao conforto da ignorância.
Essa metáfora, originalmente representa a escolha entre o despertar para uma realidade sombria ou permanecer em um mundo de ilusões. Surpreendentemente, tem aplicação direta à polarização política atual no Brasil e à dependência das pessoas na relação com déspotas, pastores e mitos.
Sociedade Polarizada
A sociedade brasileira sofre com a polarização pela maneira como as pessoas consomem informações e formam suas opiniões de segunda mão(3). Assim como na Matrix, muitos brasileiros estão presos em bolhas de informação, com exposição apenas às perspectivas e opiniões que idealizam.
Assim sendo, a mídia trabalha a manipulação de massas, com seus interesses políticos e ideológicos, que se travestem de senso comum(4).
A pílula vermelha, nesse contexto, é a escolha de buscar a verdade, mesmo que seja desconfortável. Representa a disposição de questionar as narrativas predominantes e de buscar informações de fontes diversas e imparciais. É uma escolha de não se deixar levar pelas polarizações simplistas e pelo tribalismo político que domina o cenário atual.
Por outro lado, a pílula azul simboliza a escolha de permanência na zona de conforto da falta de liberdade, inclusive mental. É uma decisão de consumir informações que apenas confirmam nossas opiniões, ignorando perspectivas alternativas. Como se não bastasse, busca a todo custo, impedir qualquer forma de questionamento. É o ato de seguir cegamente as pautas e narrativas impostas pela mídia e manipuladores, sem qualquer esforço crítico.
Brasileiros em Vertigem
Infelizmente, muitos brasileiros optaram pela pílula azul. São dependentes do sistema e das narrativas dos meios de comunicação e redes sociais. Desse modo, é mais confortável ignorar ou desqualificar qualquer informação que contrarie as próprias visões. Isso cria uma bolha de confirmação, onde as pessoas se justificam em suas opiniões, e se distanciam da realidade objetiva.
A polarização política no Brasil atingiu níveis preocupantes, e essa dependência da mídia é um dos principais motores desse problema. As pessoas não apenas consomem informações tendenciosas, mas a filosofia de ódio(5) para quem diverge de sua visão. Desse modo, temos ambientes tóxicos em que o diálogo e a busca pela verdade inexistem. Certamente, são ambientes reais e virtuais cujas características principais são a raiva, a hipocrisia e o ressentimento.
Aqueles que escolheram a pílula vermelha, por outro lado, desejam enfrentar a realidade, mesmo que seja desconfortável. Eles reconhecem que as questões políticas são complexas, e que não existe uma única resposta certa. Sem dúvida, buscam fontes de informação confiáveis e se esforçam para entender as perspectivas opostas.
No entanto, a escolha da pílula vermelha também tem seus desafios superiores aos do que escolheram o conformismo. Não raramente, aqueles que buscam a verdade são os “traidores” para aqueles que permanecem na bolha da pílula azul. Eles enfrentam hostilidade e críticas para não aderirem à narrativa dominante de seu grupo político. Além disso, a busca pela verdade é extenuante, especialmente quando se depara com a desinformação e a retórica falaciosa.
Temos futuro?
A solução para a polarização política no Brasil não está em forçar todos a escolherem a pílula vermelha.
Com toda a certeza, isso seria impraticável, impossível e contraproducente.
Em vez disso, convidamos a promover um maior senso de responsabilidade individual quando se trata de consumir informações. As pessoas precisam ter educação sobre como ter fontes confiáveis e como avaliar criticamente as informações que consomem.
Além disso, é fundamental promover um ambiente em que o diálogo tenha incentivo e valorização. Desta forma, devemos ser capazes de ouvir e respeitar opiniões diferentes, mesmo que não concordemos com elas. Devemos evitar a demonização de pessoas com visões políticas opostas e trabalhar juntos para encontrar soluções para os desafios cotidianos. Certamente, as pessoas têm coisas em comum que evitam a polarização, mesmo que banais, que servem de convergência mínima.
Enfim, a escolha entre a pílula vermelha e a pílula azul é uma metáfora para a polarização política e a dependência do sistema no Brasil.
É provável que nem todos se esforcem para escolher a pílula vermelha.
Teóricos da psicologia dizem que:
“… as massas nunca tiveram sede de verdade. Elas querem ilusões e não vivem sem elas…”, o que pode conter muitas falácias.
Em suma, buscar a verdade e promover um ambiente de diálogo e entendimento mútuo é uma ação civilizatória. Desse modo, poderemos romper com as ilusões egocêntricas que nos mantêm presos em nossas bolhas ideológicas. É possível encontrar um caminho para uma civilização minimamente racional, nesta sociedade da informação.
“Lembre-se: tudo que estou oferecendo é a verdade. Nada mais. [Neo toma a pílula vermelha] …Siga-me.“
(1) “Entre sem bater – Upton Sinclair – Compreender as Coisas”
(2) “Entre sem bater – Hannah Arendt – Capacidade de Agir”
(3) “Entre sem bater – Mark Twain – Segunda Mão”
(4) “Senso Comum e a Manipulação de Massas”
(5) “Entre sem bater – Mary Heaton Vorse – Filosofia de Ódio”
Imagem: Entre sem bater – Morpheus (in Matrix) – Dependentes do Sistema
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
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