Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. Mikhail Bakunin, sem dúvida um anarquista em essência, dá reviravoltas em seu túmulo quando vê os termos “Liberdade” e “Anarcocapitalismo” juntos.
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As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Mikhail Bakunin
Em primeiro lugar, é impossível alguém falar ou pensar em anarquismo sem saber um básico sobre Bakunin. É provável que nenhum outro estudioso tenha a capacidade de falar sobre liberdade, seja em princípio ou prática, sem pensar no anarquista. As liberdades individuais, ou a liberdade política, por exemplo, podem ter diferentes perspectivas e provocar narrativas completamente antagônicas. Contudo, se partirmos dos preceitos de Bakunin, não tem meio termo ou subterfúgios de narrativas e pensamentos.
Mikhail Aleksandrovitch Bakunin ( Premukhimo, 30 de maio de 1814 — Berna, 1 de julho de 1876), também aportuguesado de Bakunine ou Bakúnine, foi um teórico político, sociólogo, filósofo e revolucionário anarquista. É considerado uma das figuras mais influentes do anarquismo e um dos principais fundadores da tradição social anarquista. O enorme prestígio de Bakunin como ativista o tornou um dos ideólogos mais famosos da Europa e sua influência foi substancial entre os radicais da Rússia e da Europa.
Fonte: Wikipedia (Português)
A Liberdade
Em um texto com este tema é necessário, acima de tudo, abordagem de algumas concepções antagônicas e até pensamentos utópicos. Desse modo, pensamos num texto a partir da fala em rede social do governador do estado de Minas Gerais, Romeu Zema. Desde que foi reeleito como governador, iniciou campanhas para vender as riquezas de Minas Gerais e pensando nas eleições de 2024 e 2026.
Assim sendo, é impossível não ter indignação com o uso da palavra liberdade, que orna a bandeira de todos os mineiros, pelo provinciano.
Frases
Algumas frases sobre liberdade são necessárias para situar as pessoas sobre o tema, e logo após, trataremos do pensamento de Bakunin.
- Libertas quæ sera tamen – Bandeira do Estado de Minas Gerais
- Heresia é apenas um outro nome para liberdade de pensamento (Graham Greene)
- A liberdade é uma coisa tão preciosa que deve ser racionada (Lenin)
- Política tem esta desvantagem: de vez em quando, o sujeito vai preso, em nome da liberdade (Stanislaw Ponte Preta)
- A liberdade é um bem tão apreciado que queremos ser donos até da alheia (Montesquieu)
São exemplos interessantes, que poderiam juntar-se a milhares de outras frases e pensamentos, com suas variações. Contudo, nos perderíamos em pensamentos que Bakunin cuidou de separar e que deveria servir de reflexão daqueles que defendem a liberdade.
Anarquista
A princípio, se considerarmos o pensamento de Bakunin, a palavra liberdade saindo da boca de um Zema ou destes liberais de meia pataca, é blasfêmia. Como se não bastasse, aparecem os tais anarcocapitalistas(1), para vilipendiar o anarquismo e a liberdade. Desse modo, o trecho de documento de Bakunin, com mais de 250 anos, precisa de uma reprodução para refletirmos.
“Sou um amante fanático da liberdade, considerando-a como a condição única sob a qual a inteligência, a dignidade e a felicidade humana podem desenvolver-se e crescer; não a liberdade puramente formal concedida, medida e regulada pelo Estado, uma mentira eterna que na realidade representa apenas o privilégio de alguns fundado na escravidão dos demais; não a liberdade individualista, egoísta, mesquinha e fictícia exaltada pela Escola de J.-J. Rousseau e outras escolas do liberalismo burguês, que considera os pretensos direitos de todos os homens, representados pelo Estado que limita os direitos de cada um – uma ideia que leva inevitavelmente à redução dos direitos de cada um a zero. Não, refiro-me ao único tipo de liberdade que é digno desse nome, liberdade que consiste no pleno desenvolvimento de todas as faculdades materiais, intelectuais e morais que estão latentes em cada pessoa; liberdade que não reconhece outras restrições além daquelas determinadas pelas leis de nossa própria natureza individual, que não podem ser adequadamente consideradas como restrições, uma vez que essas leis não são impostas por nenhum legislador externo ao nosso lado ou acima de nós, mas são imanentes e inerentes, formando a própria base do nosso ser material, intelectual e moral — eles não nos limitam, mas são as condições reais e imediatas da nossa liberdade.
“La Commune de Paris et la notion de l’état“(*) conforme citado em Noam Chomsky : Notas sobre Anarquismo (1970).
Princípio da Liberdade
Sem dúvida alguma, a liberdade a que Bakunin se referia, anteriormente, em “a noção de Estado” refere-se a um princípio de liberdade(2) teórico. Contudo, é um princípio que pode servir de base para tratarmos de outros princípios e contextualizações. Com toda a certeza, num anarquismo utópico, só de liberdades e direitos, os deveres, inclusive morais, perdem-se nas individualidades. Surpreendentemente, todas as críticas feitas à época por Bakunin, estão em plena reprodução no capitalismo de nações “livres”.
Montesquieu, em suas teorias revolucionárias na França, tratou muito da questão. Contudo, os seus ideais, que não eram anarquistas, não sobreviveram ao “Liberté, Égalité, Fraternité”. Desse modo, embora os ideais assemelham-se, sobretudo na teoria, a indicação de falta de liberdade é ampla e geral.
A liberdade de escolha, muito comum da boca pra fora, não encontra respaldo na mente das pessoas e nas suas atuações.
Liberdades Individuais
Embora existam avanços em diversas áreas do conhecimento, a liberdade individual(3) é inexistente para muitas pessoas no planeta. Desse modo, se é a condição única para o desenvolvimento da inteligência, dignidade e felicidade humana, proposta por filósofos, não temos liberdade. Por isso, existem várias razões pelas quais, mesmo no Século XXI, a liberdade individual está longe de ser uma realidade.
Em primeiro lugar, a vigilância coletiva representa uma ameaça significativa à privacidade e à liberdade individual. Governos e empresas coletam dados pessoais em uma escala sem precedentes. Desse modo, minam a capacidade das pessoas de agir sem medo de perseguições e retaliações. Certamente, esse comportamento limita a liberdade de expressão e o exercício das liberdades individuais.
Como se não bastasse, as desigualdades econômicas, privam muitos indivíduos da liberdade de buscar oportunidades e independência. A falta de acesso igualitário à educação, saúde e recursos econômicos perpetua essas desigualdades.
O controle e a manipulação da informação também representam uma ameaça à liberdade individual de maneira cruel. A disseminação de notícias falsas e a polarização política minam a capacidade das pessoas de tomar decisões a partir de fatos. A participação em processos democráticos livres têm a falsa defesa de participação em eleições com voto secreto.
Em suma, embora tenhamos no Século XXI avanços tecnológicos e sociais significativos, a maioria das pessoas sequer esbarra numa liberdade mínima. Desse modo, para alcançá-la é necessário abordar questões como a privacidade, desigualdade econômica e manipulação da informação. Desta forma, será possível permitir que as pessoas alcancem patamares mínimos de dignidade e independência.
Liberdade Política
Analogamente às liberdades individuais, cada pessoa imagina ter sua liberdade política, ideológica e de pensamento. A liberdade política(4) é, atualmente, o maior pilar de qualquer sociedade democrática. Entretanto, essa liberdade sofre ameaças constantes, pela falta de autonomia das pessoas em suas escolhas políticas.
O fenômeno da dependência política existe em várias partes do mundo, mas provou, nos últimos anos, uma falsa sensação de liberdade no Brasil. As decisões das pessoas sofrem contaminação por dogmas e preconceitos relacionados ao comunismo e ao socialismo. O caso na política, durante a pandemia, que abrangeu a questão da vacina e da contaminação do vírus foi, por exemplo, uma demonstração de dependência.
Inquestionavelmente, as pessoas se tornam dependentes de líderes políticos e religiosos carismáticos. Estes déspotas prometem soluções fáceis para problemas complexos e a partir de teorias impróprias para a sociedade. Essa dependência resulta, sem dúvida, em uma falta de liberdade real para tomar decisões políticas com fundamentação.
Ideologias
As ideologias e comportamentos que têm associação com o comunismo e o socialismo sofrem com o preconceito e estigmas sem fundamento. Temos, por exemplo, questões sociológicas educacionais, como a “cartilha gay“, que nunca existiu, mas que elegeu muitas pessoas. Assim sendo, a maioria dos eleitores não exerce uma análise crítica adequada e vai junto com o rebanho.
Além disso, a polarização política e o tribalismo ideológico contaminam ainda mais a liberdade das escolhas políticas dos indivíduos. As pessoas, surpreendentemente, se identificam rigidamente com um grupo político ou ideológico e recusam-se a considerar alternativas. Desta forma, cada cidadão, dentro ou fora das redes sociais, limita sua liberdade política e impede qualquer diálogo construtivo.
Em suma, para preservar a liberdade política, é crucial que as pessoas se esforcem para se libertar da escravidão mental dos preconceitos ideológicos. Devemos buscar informações de fontes variadas, questionar nossas próprias crenças e estar dispostos a considerar uma ampla gama de perspectivas políticas. Somente assim poderemos tomar decisões políticas corretamente. E, desse modo, garantir que a liberdade política tenha uma preservação na sociedade democrática, independente dos políticos em mandatos.
Diretas Já
Passados 40 anos da campanha das Diretas Já(5) é possível perceber que o direito de votar para presidente não nos deu nenhuma liberdade. O anarquismo ideal, conforme a ideia de Bakunin, não vingou em nenhuma nação pois o capitalismo venceu todas as batalhas. É provável que algum maluco liberal imagine ser possível algum anarcocapitalismo, sem revolução e com o Estado à serviço do capital.
Em suma, são 40 anos no Brasil e talvez séculos em outras nações em que a luta de classes passa longe de ideais socialistas. Em nosso caso específico, agora estamos numa fase em que os extremistas da direita experimentaram a liberdade de matar e não morrer. A pretexto de defenderem seus direitos, estão com armas e matam mulheres pelo simples prazer de exercerem suas “liberdades”.
A liberdade de escolha dos seus representantes no Poder Executivo ou Legislativo, desde cada cidade até o Congresso Nacional, é inútil. Esta liberdade não tem uma aplicação prática inteligente pela maioria dos grupos em nossa sociedade sem politização. As próximas eleições municipais já estão em curso e o cidadão brasileiro nem percebeu, fica só degustando notícia velha e opiniões falsas(6).
Perdemos !
P. S.
(*) “A Comuna de Paris e a ideia de Estado” – Publicado pela primeira vez em 1871 Alfred A. Knopf, Nova York, NY
(1) “Anarcocapitalismo – A confusão mental”
(2) “Entre sem bater – Dante Alighieri – O princípio da Liberdade”
(3) “Liberdades Individuais – Da série O Fim do Mundo”
(4) “Entre sem bater – Honoré de Balzac – Liberdade Política”
(5) “Diretas Já – 40 anos”
(6) “Entre sem bater – Joseph de Maistre – Opiniões Falsas”
Imagem: Entre sem bater – Mikhail Bakunin – A Liberdade
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
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