Teia de Ilusões - Ana Luisa de Oliveira

Teia de ilusões – Uma ficção real

Ficção ou Realidade

Atualmente, tenho lido menos romances e ficções em papel ou até mesmo mídias digitais (e-books). Os livros dos escândalos como “Privataria Tucana“, “O Príncipe e o Sapo“,  “A Política na Igreja“,  “Assassinato de reputações – Um crime de Estado“, desse modo, tem tomado o pouco tempo livre para leitura de brochuras. Meu sonho de consumo é livros condensados pelo autor ou por alguém que tenha destrinchado a obra. Por isso, atendi com prazer a solicitação de um conhecido que, numa rede social, pediu a indicação de um livro para ler. Indiquei “Teia de Ilusões“.

Eu havia recebido a indicação e observei que as pessoas gostam de indicações por ficarem sem rumo para fazer uma leitura. Percebi ainda que as pessoas, se incitadas a escrever uma sinopse do livro, fugiam léguas ou copiavam a sinopse original. O brasileiro não gosta de ler, por isso não sabe escrever. Poucos que leem e, dependendo do livro, não o leem de capa a capa. Conheço gente que compra dez exemplares num lançamento de livro, dá todos de presente e não lê nem a sinopse.

Teia de ilusões

Assim sendo, fui meio que presenteado ( tenho que devolver ! ), no meio de uma discussão sobre alguns textos deste Blog, com um romance-ficção de uma autora ‘novata”; era o livro “Teia de Ilusões”. Estávamos um grupo de leitores e outros não-leitores deste Blog e alguns disseram que não gostam de comentar com medo de serem criticados. Um dos interlocutores, dos que ficam calados e sem comentar, apresentou-me o livro. Surpreendentemente, disse apenas: “Leia, está tudo relacionado ao que estamos discutindo… você vai gostar“.

A curiosidade dos demais debatedores(as) ficou aguçada. Peguei o livro e pensei: “Aguardem pelo meu post”.

Leitura

Leio sempre as orelhas e prefácio, frequentemente devoro sinopses e críticas quando existem. Li “Teia de Ilusões” dinamicamente (tenho este hábito) para depois, conforme o interesse, realizar uma leitura atenta. A sinopse publicada na Livraria Cultura (por sinal o livro não está disponível) me chamou a atenção; ao mesmo tempo, a leitura das orelhas me instigaram a fazer mais do que uma leitura rápida. Ser ambientado em Belo Horizonte ( minha terra, minha paixão ) e a descrição sucinta dos personagens, aguçou minha ansiedade por ler tudo.

Enredo

O enredo não é complexo, é praticamente o nosso dia-a-dia dos últimos anos ( exceto pela morte de ministro do STF ), mas reflete muito de nossa política, embora o livro se omita bastante no assunto, e nos faz pensar naqueles que seriam os personagens inspiradores da autora da obra. Aqui um parênteses, a autora é advogada e, portanto, é natural que se esquive de falar sobre seus colegas de profissão no livro com maior veemência; uma vez que possa ter neste habitat um vasto “laboratório”.

A história é recheada de mortes, no estilo Ágatha Christie, mas coloca um advogado, daqueles bem interesseiros e carreiristas, quase chave de cadeia, dos que adoram o direito criminal para obter projeção e recompensas, como o seu Hercule Poirot (a sinopse reforça esta posição). Um advogado, ainda por cima parcial e interessado na principal acusada de uma morte? Não vai dar certo, pensei.

A trama vai muito bem e alguns personagens tiveram seus perfis claramente definidos no final, quando alguém denuncia outrem (sem os requinte malvados das tais delações premiadas que não conseguem provas suficientes para a polícia judiciária ter um indiciamento consistente) – desculpem se me apego a alguns detalhes, mas faço estas leituras na segunda vez me apegando a eles  e vendo a consistência do enredo. Aprofundei neste comportamento após virar fã incondicional da série HOUSE (House of Cards é outra coisa e fichinha para o que estamos vivendo hoje no Brasil) – deve haver consistência nas denúncias. No decorrer da obra vi alguns problemas que me deram dicas valiosas par identificar este(a) ou aquele(a)a criminos(o)a.

Personagens

Assim, eu descreveria os personagens de maneira cruel, o enredo é bom, mas a autora foi boazinha demais com todos eles. Talvez ela tenha escolhido mostrar uma face boa de cada um deles, ou aplica a falácia ad misericordium em todos eles, mais ou menos, de acordo com o que ela imaginava para o final.

Além disso, quando vejo alguém aliviando para um pastor evangélico oportunista que aceita dinheiro de político rico, fico imaginando se ela não conhece algum destes pastores ou políticos. Eu conheço. Faltaram poucos detalhes para eu nominar o dito cujo.

Aí entra a briga de família. Vida real, meus caros… meus ancestrais (pelo que meus tios-avôs contam), logo após a abolição da escravatura e início de Belo Horizonte, saíram da senzala para a casa grande e são como a Sílvia. Logo, a história do núcleo “empregada da senzala” é comum a muitas famílias.

Política e Famílias

Briga pelo poder em corporações familiares? Só rindo né… Sou administrador e os “cases” pulam todos os dias nas varas cíveis. Tem processos e situações que os herdeiros colocam tudo a perder. Conheço um candidato que era enrolado até na tampa, morreu e deixou as broncas para os filhos. Briga é pouco. Morte faz parte. Mas tudo acidental, é claro.

Depreendi que o livro é cheio de farsante e impostor, como temos hoje nas empresas, nas famílias, nas igrejas. E as pessoas que lerem o livro adotarão personagens como favoritos e odiados que mais se assemelhem a eles. É como se cada página do livro fosse um espelho. Alguém que defende a “Lei de Gerson” será simpático à tal Carolina, dissimulada, hipócrita, manipuladora e burra. Quem atua em empresas e se sente injustiçado, verá Eduardo como herói. Todos terão seus defensores e opositores. Os advogados, é óbvio, até por corporativismo, tecerão sua teia de ilusões defendendo o garanhão ensebado.

Particularmente, entendo que o único personagem mais defensável é o Pedro, manteve a coerência, mesmo cometendo erros. Assumiu suas fraquezas, reconheceu seus problemas, não se submeteu à hipocrisia do meio que esteve incluído.

Teia de Ilusões – O Epílogo

Ao mesmo tempo, a trama apresenta muita morte, algumas inconsistências e personagens que poderiam ter uma sobrevida. Sobretudo porque a autora “matou”, literalmente, quase todo mundo. Parece que não queria ninguém pensando e tergiversando sobre a vida de tudo e de todos os personagens. Eu fiquei. Desde o começo, imaginando qual personagem público do mundo real se assemelhava mais a cada um dos personagens da “teia”.

Fiquei imaginando um candidato ao senado homossexual e que escondia sua paixão ( todo mundo sabia, como a Carolina sabia e manteve a hipocrisia até a morte do candidato ) no mundo real.

Será coincidência? Temos um deputado defensor das minorias da qual faz parte real ou imaginário ? E gestor que quer dar o golpe na organização que trabalha, é normal ou ficção? E o que dizer de uma enteada que não tem direito a nada mas quer matar para manter o status quo?

Como se não bastasse, assusta muito é pensar que uma pequena lida em timelines de redes sociais, que são um mundo maravilhoso para muita gente, é suficiente para identificarmos pessoas próximas a nós, com discurso e práxis como estes personagens. E imaginar que tem quem as defenda é mais aterrorizante.

Vida Real

Escrevi alguns textos demonstrando que o mundo acabou. Vivemos uma transição (ou purgatório dependendo das escolhas políticas que você fez na sua vida), quando vejo que não sei se a vida imita a arte, ou a arte imita a vida, tenho a certeza, melhor tenho quase certeza absoluta, que ao menos um dos personagens é inspirado e copiado da vida real. Qual seria?

Recomendo a leitura do livro e, certamente, é melhor do que ficar se midiotizando com o BBB e assemelhados. Propague esta ideia !

 

P.S. Peço desculpas à autora, a quem não tive o prazer de conhecer, por qualquer indelicadeza que estas linhas possam sugerir.

 

Imagem: Reprodução da Capa do Livro TEIA DE ILUSÕES

Nota do Autor

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Agradeço a compreensão de todos e compreendo os que acham que escrevo coisas difíceis de entender, é parte do “jogo”.

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