Meritocracia - Duke

A Meritocracia é uma Farsa

Milhões de Méritos

Publiquei um texto, anteriormente, que mostrava um pouco do que penso sobre meritocracia e estes termos “modernos” de gestão. Tentei ser irônico e, desta forma, escrevi “Milhões de Méritos” a partir da série Black Mirror (Netflix), uma distopia. Entretanto, não consegui que muitas pessoas entendessem o contexto e a realidade. Desse modo, utilizar de ironia e da analogia que fiz com escravidão, não foi uma forma eficiente.

Agora, aqui estou tentando explicar, mais uma vez, que meritocracia é uma farsa. Colocaram isso na sua cabeça, para que você seja competitivo e que se mate por algo que nunca vai conseguir.

Meritocracia

Vejamos, por exemplo, um anúncio de uma drogaria que tem lojas em todo o país. Pagam um salário aviltante (e a reforma ajudou muito) e  exigem alguns pré-requisitos descabidos. E, como se não bastasse, praticam preconceito racial, cultural, social, além do etarismo.

Avaliem o recorte deste “plano” de méritos de uma drogaria. Acredito que algumas pessoas defendam pois precisam de um trabalho. Mas chamar isto de emprego, certamente, é um tipo de paralogismo que me recuso a entender.

Tabela de Meritocracia

Tabela de Meritocracia

Este tipo de valoração de uma venda, deveria ser alvo de processo trabalhista coletivo. OPS! Esqueci que estão acabando com os sindicatos e ações coletivas agora só com iniciativa de grupos de trabalhadores que se sentem prejudicados, sem garantias.

Mas não para por aí, um governo estadual específico, anunciou que seria “novo“. Desse modo, solicitou que pessoas enviassem currículos para assumirem postos importantes na administração pública.

Resultado?

Processos obscuros, transparência zero, previsibilidade nos resultados e muitos mais desvios éticos e morais. Como se não bastasse, escolhem um gestor com acusação de fraude e corrupção.

Pode isso, Arnaldo?

Isto é a meritocracia, e nem vou falar de outras esferas de governo nos quatro poderes e até fora do poder público. Como existem muito mais do que três poderes previstos na Constituição Federal no Brasil, falar em meritocracia no poder público e privado é empulhação.

Coaches

Surpreendentemente, vejo os tais coaches (ou qualquer outra denominação que derem para esta atividade no Brasil) se arvoram na palavra meritocracia e afins. Enfim, alguns destes pilotos de rede social se confundem até com liberais do estilo canalha-master. Por isso,  apontam seus dedinhos sujos, com privilégios que possuem, para tentar diminuir qualquer coisa alheia e esconder os próprios defeitos.

Este povo fala de meritocracia como se fosse uma coisa de gente honesta ou com algum resquício de civilidade.

Mujica diz que “O homem moderno anda sempre apressado, porque se a economia não crescer é uma tragédia”, como crítica. Destarte, penso que nos convenceram a pensar assim, a agirmos com açodamento e a nos sentirmos responsáveis pelas tragédias do cotidiano.

Com certeza, não somos responsáveis pelas agruras que a economia nos impõe, e muito menos pela falta de trabalho e diminuição da renda. Economistas e liberais sim, são os verdadeiros responsáveis; são os capitães-do-mato ou apenas serviçais buscando uma réstia de sol na sua nebulosa vida.

Meritocracia é Farsa

A meritocracia é uma farsa e falácia grosseira, e exemplos individuais não podem, jamais, servir à generalização que coaches e assemelhados fazem. Tenho acompanhado muitas palestras e artigos motivacionais dando exemplos de sucesso. Entretanto, não vejo em nenhum deles, a comparação de fracasso de todos que tiveram as mesmas condições.

Hipocrisia e Fingimento

Ugo Foscolo disse: “Eu ousaria definir a civilização como uma arte de aperfeiçoamento do fingimento“.

A frase provocativa de Foscolo, que define a civilização como uma “arte de aperfeiçoamento do fingimento”, é atualizadíssima. Surpreendentemente, ao aplicarmos no contexto da meritocracia nas organizações modernas fica mais evidente. A meritocracia, em sua idealização, é um simulacro para recompensar o mérito individual. Assim sendo, aparenta promover uma cultura onde qualquer evolução baseia-se no talento e no esforço pessoal. No entanto, essa premissa se desfaz diante da realidade, revelando-se uma sofisticação plena de hipocrisia.

Nas organizações contemporâneas, inquestionavelmente, a hipocrisia da meritocracia se manifesta de diversas maneiras. A princípio, há a ilusão de igualdade de oportunidades como se todos fossem iguais, mas com regras diferentes. Embora se promova a ideia de que todos têm as mesmas chances de sucesso, a realidade é muito diferente. Podemos, por exemplo, pensar em fatores como origem socioeconômica, gênero, raça e redes de contatos são determinantes. Estes fatores desempenham um papel significativo na progressão profissional e cada um que se salve.

A meritocracia, assim sendo, se apresenta como uma cortina de fumaça que encobre as desigualdades subjacentes.

Privilégios

Como se não bastasse, a meritocracia apresenta-se como justificativa para a perpetuação de sistemas de poder e privilégios. Aqueles que já estão em posições de destaque aparentam ser os mais “meritórios”. Desse modo, cria-se um círculo vicioso de recompensa do status quo e das aparências. Por isso, a cultura organizacional onde a ascensão é efeito da capacidade de se adequar às normas vigentes. E, de fato, o verdadeiro talento ou contribuição afirmativa se submete às bajulações, para sustentar privilégios de poucos.

Por outro lado, a pressão para manter as aparências também é uma característica marcante da hipocrisia da meritocracia. Os colaboradores recebem incentivos a demonstrar excelência e competência a todo momento. Em outras palavras, mesmo que estas demonstrações signifiquem ocultamento de falhas ou necessidades de desenvolvimento.

Enfim, o ambiente profissional se torna um palco onde cada um representa seu papel, em detrimento da honestidade e da autenticidade.

Por fim, a obsessão pela imagem de sucesso individual pode levar a uma falta de solidariedade e cooperação dentro das organizações. A competição é o estímulo principal, em detrimento da colaboração, criando um ambiente de desconfiança e individualismo. A meritocracia, então, revela sua face mais cruel: a de uma ideologia que justifica a promoção do interesse próprio em detrimento do bem-estar coletivo.

Em última análise, a hipocrisia da meritocracia nas organizações é um lembrete contundente. A busca pelo mérito individual nem sempre é tão transparente ou justa quanto se proclama e as perversidades avançam solenes. Assim como a civilização de Foscolo é uma “arte de aperfeiçoamento do fingimento”, a meritocracia nas organizações se revela cruel. Muitas vezes, apresenta-se como uma habilidade da hipocrisia, onde as aparências se mantém. Enquanto isso, as injustiças estruturais permanecem incólumes.

Aperfeiçoamento da Farsa

Neste contexto, muitas pessoas se iludem com as promessas de redes sociais, mas preferem acreditar nelas para sobreviver. Da mesma forma que no episódio de Black Mirror (citação e link no parágrafo inicial) é tudo ilusório e enganação. E, é provável que, se fizermos qualquer crítica, sofreremos ameaças e constrangimentos de black lists.

Em suma, a farsa da meritocracia se expande sobre as pessoas de maneira irreversível. Por isso, cada um luta para enganar o outro, numa espécie de “lei de sobrevivência” digital, perdemos!

 

Imagem: Reprodução Twitter

Nota do Autor

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