O Valor das coisas, das pessoas e das ideias
Este é um texto daqueles que considero “biográfico” com autorização parcial. Retrata histórias reais, minhas ou de pessoas da minha relação, muito próximas ou de meu relacionamento. Em todos eles, evito citar nomes, pois as pessoas tratam como ofensa quando existe citação, sem importar a ideia. Desse modo, considerando o valor das coisas, das pessoas e das ideias, as redes sociais distorceram nossa sociedade. A questão do valor na nossa sociedade tem graves desvios, em relação à realidade de cada um de nós.
Assim sendo, este texto refere-se a um pouco das ideias deste que vos fala, das coisas e das relações com as pessoas. Um texto que facilita o entendimento de outros como, por exemplo, é “Raiva – Um Nobre Sentimento“, e explica algumas ideias.
Ideias, Pessoas e Coisas
De forma proposital, inverti a lógica de um provérbio chinês sobre a capacidade das pessoas em verem as coisas como deveriam ser. Atribuo esta frase/citação como se fosse um provérbio chinês, mas já vi pessoas atribuírem as mesmas palavras a Sócrates, Platão e outros pensadores. Como se não bastasse, muitos “filósofos” pós-contemporâneos mudam um pouco o sentido de tudo, e temos paráfrases livres.
O provérbio

Provérbio Chinês
O provérbio indica que as ideias devem se sobrepor às coisas e ao julgamento das pessoas. Em tempos que julgamentos das pessoas se apresentam como mais importantes nas malditas redes sociais, a superficialidade impera. Todos têm pressa em falar do valor das coisas do ponto de vista individual e não coletivo.
Ao contrário da proposta de valorizar as ideias e as pessoas, podemos causar a impressão de que invertemos as ideias com uma opinião.
O Valor das Coisas
Embora eu corra o risco da acusação de ser falacioso, por usar um exemplo para generalizar. Sem dúvida, o caso em epígrafe, a seguir, não é único e muito menos irreal. Vivencio muitos casos em que as ideias têm desvalorização, as pessoas recebem o desprezo e o valor das coisas está acima de tudo.
Em suma, escolhi um contexto que envolve muitas pessoas, e que tem muita história real antes e depois. É provável que algumas pessoas que lerão se identificarão como personagens do enredo. Certamente, aqui descrevo a minha versão e é isto que demonstro: a mudança do valor das coisas para diferentes pessoas e o mesmo contexto.
VW Van – Introdução
VW Van(1) é um carro, personagem central (uma coisa) deste texto que suscitou valor, de forma diferente para cada pessoa envolvida. A história deste VW Van começa muito antes de sua aquisição formal. Começa por outro carro que tive e teve uma “recompra” – tratava-se um Fiat TIPO ( Type Two Plataform ) que teve “devolução”(2). Alguém próximo precisava de um carro para cargas pequenas e um Fiorino ( FIAT ) tradicional era a melhor opção. O valor do Tipo de “recompra” não permitia adquirir um Fiorino mais novo e surge uma ideia de jerico.
– tem um “Fiorino da Volks” numa agência lá na Catalão(3).
Assim sendo, como eu trabalhava fora de Minas Gerais , vim para a cidade num final de semana e voilá. Fui até a agência e “fechei o negócio” com o Fiat Tipo sendo a entrada e um financiamento.
Primeiro Ato
Existe um ditado que proclama: “pau que nasce torto, morre torto“. Em outras palavras, curto e grosso, comprar um carro que nem sabemos qual é, não pode dar certo. Desta forma, o carro em meu nome, financiamento com meu CPF e rodando longe dos meus olhos. Com toda a certeza, era a senha e tinha todos os ingredientes para dar errado. E, certamente, IMNSHO, deu errado é pouco, deu muito errado.
Poucas semanas ou meses, um acidente, provavelmente por responsabilidade de outro motorista que não aquele que conduzia a VW Van. Sem seguro o resultado era previsível, fundo de oficina esperando dinheiro para conserto, que nunca veio do responsável pelo acidente. Como se não bastasse, as prestações em atraso e carro sem ao menos previsão de voltar a funcionar. Quem estava responsável pelo carro nem se preocupou com as consequências de nada do que aconteceu após o acidente. Depois de uma longa jornada pagando prestações, começaram os reparos para que saísse da oficina. O carro voltou a circular pelas ruas, e continuou seu protagonismo em dramas.
Segundo Ato
O carro estava sem circular, o prejuízo financeiro e estava com boa solução, para a financeira. Adicionalmente, mesmo com as multas pagas, a pontuação na minha habilitação, sem ter transferência, teve penalidade forte. Logo após alguns ajustes e embelezamento no carro, para ter uma aparência melhor do que a anterior, ficou apresentável. Agora era dar utilidade para o veículo ou tentar vender. Até mesmo com muitos meses parado surgiu a “oportunidade” de uso prático.
Outro alguém próximo, para conseguir determinado trabalho, tinha que ter um veículo. Desse modo, não é um despropósito ajudar quem precisa, desde que se pague pelas despesas principais e acessórias. Lá vamos nós e a história se repete, agora como farsa, mais prejuízo, mais multas e um pequeno processo criminal. Tudo que só tivemos ciência após intimações judiciais e notificações extrajudiciais.
Como diria o narrador de futebol: – Segue o jogo !
Gran Finale
Como numa peça teatral (na realidade uma tragédia), a Tríade Teatral(4) coloca as ambiguidades e paradoxos em evidência. Se numa tragédia antiga os personagens eram irreais, esta história narrada só tem fatos e pessoas reais, além, é claro, das coisas.
Nesse ínterim da tragicomédia, vários outros fatos e pessoas tiveram envolvimento, culposo e doloso na história. Por exemplo, carro parado e alguém precisa do carro e se dispõe a alugar é uma boa oportunidade. #SQN. Se utilizar por meses, não pagar nada e ainda apresentar óbices em transferir e pagar multas é uma cilada.
A farsa vira tragédia, com prejuízos financeiros, de relacionamento, danos morais e de tudo que confirma um péssimo negócio.
Posso dizer que sofri muitas dores e decepções com as pessoas, por causa deste carro. Pagar exames de renovação da CNH, por conta de pontos por infrações sendo que eu não dirigia o veículo. Estive, em todas as infrações, a mais de 700 km de distância, e, inquestionavelmente, dói muito, no bolso e no coração.
Não tem nada de grandioso, de pitoresco ou engraçado, é uma tragédia não somente cada ato, ação e omissão como um enorme prejuízo financeiro.
Certa feita, revendo documentos do carro para jogar tudo fora, fiz algumas contas básicas das despesas com a “brincadeira” de ter um carro sem usá-lo. Seria suficiente para trocar meu carro em um novo (0km), não precisar de financiamento e sobra dinheiro.
Entretanto, esta é uma dor que só a gente sente, e fica remoendo, eternamente e para os outros não foi mais do que ” obrigação “.
Ideias, Coisas e Pessoas
Neste contexto, percebe-se que as ideias, as coisas e as pessoas, com perspectivas diferentes e pontos de vista distintos são complexas. Cada um dos personagens que atuaram nesta história real, sempre terão opiniões diferentes. Desde aquele que devolveu o Fiat Tipo, até o que fez a crítica por eu manter um carro sem usar, ouvi cada versão, bem surreais.
Com toda a certeza, nenhuma pessoa consegue ter a ideia da coisa sob a ótica do outro, seja por convicções parciais ou má informação. Se bem que, as redes sociais, atualmente, dão sempre razão ao dono do perfil. E, num rompante de autoritarismo, se não estiver satisfeito, oferecem um “block” e ainda saem dizendo que é mimimi.

Mimimi – Linhas de Sampa
Dor e incompreensão
Enfim, não importa a dor que a gente sente ou o tamanho do sacrifício necessário para termos coisas que servem às pessoas. Não apenas nesta história, como em outras de muitos neste planeta, o valor das coisas é passageiro e depende da dor de cada um.
Onde deveria existir o respeito pelas ideias, vem a falácia do “respeitar opinião” e a ausência total de debate e do diálogo.
As coisas, surpreendentemente, têm valorizações muito superiores do que as ideias e intenções. O provérbio chinês define claramente aqueles que falam das pessoas, acima das coisas e ideias, vivem num mundinho limitado. Vivemos num planeta onde os interesses pessoais e imediatismo estão muito acima do espírito coletivo.
Este texto é sobre uma ideia: o valor das coisas, o valor das ideias e das pessoas estarão noutro texto e com outras contextualizações.
Inegavelmente, haverá interpretações completamente distintas para cada caso ou situação. Portanto, seja por aqueles que participaram dos atos teatrais ou por quem formula conceitos próprios, haverá versões. Como destaquei anteriormente, existem contextos semelhantes sobre outros objetos com as mesmas pessoas.
Em suma, é muito triste ver as coisas estarem no comando e sobrepondo às ideias e as pessoas, perdemos !
P. S.
Este texto é a narração de uma dor que dói cada vez mais, com o apagamento das lembranças e a indiferença.
(1) VW Van é um carro de história complexa. Importado da Argentina tem sérias restrições de peças de reposição, caras e difíceis. Até mesmo a existência de peças iguais em carros nacionais da VW, não facilita a manutenção. Uma bomba, ou casamento que se entra facilmente e não sai. Não é por acaso que não deu certo no Brasil. Os protagonistas saberão de qual carro estou falando, sem dúvida.
(2) Esta é uma outra história de valor das coisas que será um capítulo à parte.
(3) Mineiro fala tudo pelas metades ou criptografado. Catalão é uma avenida que se chama Avenida Carlos Luz.
(4) “Quem vê, o que se vê, e o imaginado – Camargo (2005:1)
Imagem: Reprodução Pinterest
Nota do Autor
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