O Celerífero
A palavra bicicleta tem várias acepções.
Surpreendentemente, a maioria dos dicionários traz duas acepções:
- Como substantivo que designa um veículo de duas rodas movido a força humana.
- Uma gíria que representa um lance no futebol.

Celerífero do Conde de Sivrac
Reprodução Wikipedia
Alguns dicionários chegam a indicar uma associação como a botânica (ainda como gíria), que significa “dispositivo para escalar árvores”.
As bicicletas teriam classificação, hoje, como uma das espécies de modal de transporte. Entretanto, de acordo com os registros históricos, o objeto antecessor da bicicleta surgiu muito antes das ideias de modais e afins. Nem vou aprofundar nas questões históricas pois aqui quero abordar a questão da bicicleta na economia de um país. Se bem que, o contexto histórico e o uso indevido do termo na política econômica derrubaram uma presidente. Assim como a história do Celerífero(1) (uma farsa) pedaladas e ações associadas a objeto específico tem sido narrativa fácil para iludir incautos.
Diversidade
A bicicleta tem um importante significado no esporte conhecido como ciclismo. São muitas as provas e competições e a mais famosa delas (Tour de France) suscita polêmicas e glórias. Com toda a certeza, é um dos esportes que aprecio. E não importa se é “indoor“, como nas perseguições, ou nas estradas. É dos esportes com maior interação homem-máquina que conheço.
Por outro lado, a gíria bicicleta no futebol deve ter surgido porque alguém que não encontrou nome melhor para explicar o lance. Sou da opinião que não tem muita relação. Analogamente, a jogada “pedalada” poderia ser esta gíria, que representaria, analogamente, o artefato. Contudo, é uma gíria que está mais marcada no imaginário do brasileiro do que o que objeto ou as gírias representam na economia.
A bicicleta pode ter vários significados, entretanto, aqui não vou falar do que tem até mesmo nos dicionários. Vou falar sobre a bicicleta e sua relação com a economia e o capitalismo. E, primordialmente, como este pequeno objeto, sonho de toda criança, pode mudar o mundo.
Capitalismo
Economia
A bicicleta (substantivo feminino) tem importante papel na economia.
A princípio, são ao menos cinco os principais eixos em que ela se insere, quais sejam:
- Cadeia produtiva com elevada atividade de trabalho e emprego.
- Políticas públicas de ocupação de espaços em grandes centros.
- Modal de transporte para mobilidade urbana.
- Benefícios relacionados à sustentabilidade.
- Manejo e utilização na proposta de economia local.
Desse modo, é perceptível que o substantivo feminino foi vilipendiado quando associado a um golpe perpetrado por rentistas. Como se não bastasse, presenciamos políticos destruindo projetos em que a bicicleta estaria numa cadeia produtiva.
Por exemplo, passou ao largo da população paulistana a destruição das ciclovias da cidade de São Paulo. O ex-prefeito destruiu tudo que estava sendo feito e deixou um rastro de retrocesso, irrecuperável. Ainda em 2016, freou a expansão das ciclovias(2) e garantiu rentabilidade para as empresas de transporte urbano. Dória, na condição de governador, fez uma série de intervenções para enganar a população. E na cidade de São Paulo, estancou o avanço do modal e da economia.
Bicicleta x Capitalismo
Desde que os estudos sobre a importância do celerífero moderno começaram, o mundo mudou.
Os rentistas descobriram, por exemplo, o modelo de uso compartilhado de bicicletas. É provável que a China seja o país que mais tenha bicicletas antes dos estudos da economia. Não é por acaso que lá iniciou-se a prática de uso compartilhado. Com toda a certeza é uma forma excepcional de ter produção e dar meio de transporte para bilhões de pessoas.

Cemitério de bicicletas na China
Reprodução NYT
Nesse ínterim entram os rentistas e os malditos aplicativos. Quem mora nos grandes centros do Brasil nem sonhavam com o que estava acontecendo na China. Aquele país, que não tem nada de capitalista, iniciou o processo e os cemitérios de bicicletas ganharam contornos surreais.
Contudo, o planeta viu avançar as opções de uso de bicicletas, patinetes e assemelhados. Os resultados no Brasil não poderiam ser diferentes, e muito piores. Alguns “empreendedores” buscando lucro fácil e rápido conseguiram o que queriam. Entretanto, a economia local ou a parte de economia solidária e cooperativa ficou a ver navios.
Economia pós-pandemia
Foram muitos os casos em que um subemprego de aplicativo de entrega tinha até sua bike alugada. E o cara se achando empreendedor. Estas questões estão em alguns textos anteriores como, por exemplo, em “Bike, Sustentabilidade e Inteligência“. As abordagens anteriores foram bem superficiais e este texto é uma espécie de evolução a partir dos eixos indicados em estudos recentes(3).
Contudo, é importante ressaltar que estudos acadêmicos pouco ou nada tem influenciado nas políticas públicas e economia. A economia, sobretudo a local, tem peculiaridades que exigem apoio nacional, mas a implementação é local. A solidariedade e cooperativismo exigem que uma nova economia deva nascer no pós-pandemia, de maneira sustentável.
A população tem a sua atenção desviada com problemas de preço de passagem de ônibus e do diesel. Desse modo, está em curso uma estratégia rentista. Transportadoras e donos de empresas de ônibus garantem seus lucros com apoio da população. Desse modo, qualquer iniciativa como apoio à criação de ciclovias é natimorto, e as eleições sucedem-se.
Desastre da Economia
De acordo com declarações atribuídas a Sanjay Thakrar, CEO do Euro Exim Bank Ltd, as bicicletas são “… um desastre para a economia de um país…”. A declaração dele colocou os economistas em lados opostos e com muitas dúvidas.
“A bicicleta é a morte lenta do planeta como o conhecemos.”
“Um ciclista é um desastre para a economia do país: ele não compra carros e não pede dinheiro emprestado ao banco para comprar. Ele não paga apólices de seguro. Não compra combustível, também não paga manutenção e os reparos necessários. Ele não usa estacionamento pago. Não causa acidentes graves. E, certamente não requer estradas com várias pistas. Não faz você engordar.
Pessoas saudáveis também não são necessárias ou úteis para a economia. Eles não compram remédios. Eles não vão a hospitais ou médicos. Não acrescenta nada ao PIB do país (produto interno bruto). Pelo contrário, cada novo restaurante McDonald’s cria pelo menos 30 empregos. São, com toda a certeza, 10 cardiologistas, 10 dentistas, 10 nutricionistas e, obviamente, os empregos para as pessoas que trabalham no restaurante.”
Sanjay Thakrar
Certamente, os rentistas, políticos que se preocupam em agradar financiadores de campanha não querem saber de bicicletas. Embora a narrativa do CEO europeu tenha provocado debate entre economistas, este tema não chegou ao brasileiro.
A guerra entre motoristas e ciclistas, o abuso dos motociclistas e o posicionamento da classe média demonstra que nossa sociedade regride.
Pós-Pandemia e a Bicicleta
Em suma, notadamente no pós-pandemia e neste ano eleitoral, é essencial que a população comece a entender de determinados assuntos. Que provoque debates em suas comunidades, com a realidade local, além do que a mídia divulga. A transmissão do conteúdo ( Bicicleta na Economia ) não chega perto das necessidades de nossa sociedade contemporânea. Os eixos descritos anteriormente neste texto devem ser objeto de debate, sob a ótica da recuperação da economia, a partir da economia local.
Certamente, as políticas de mobilidade urbana, sustentabilidade e proteção ao meio ambiente devem estar na pauta. Em outras palavras, deve-se incorporar temas muito além da questão de economia de combustível ou oportunidades de trabalho com entregas utilizando as bikes.
A explosão dos serviços de delivery, muitos deles com motos e bicicletas, não pode esconder a precarização do trabalho. A maioria dos cidadãos que utilizam estes serviços deveriam pensar mais na comunidade e bem-estar coletivo.
Um app não resolve nenhum problema antigo ou criado durante a pandemia. Quase todos não trazem nenhuma inovação e somente expõem os problemas de cada processo muito mais rápido. A falência dos serviços de bicicleta compartilhada é um exemplo de tecnologia que além de não resolver, criou outros inúmeros problemas.
A educação de nossos filhos pode ser feita desde a infância quando, ao invés de um celular, presenteia-se com uma bicicleta.
#FicaaDICA !
(2) Ciclovias em Risco (Parte 1)
(3) “Economia da bicicleta no Brasil“
(*) Revisado e atualizado em março de 2022
Imagem: Reprodução New York Times
Nota do Autor
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