Tecnologia e Educação
Vivi a ilusão, um dia, que as tecnologias iriam mudar a a educação e que o mundo se transformaria a partir de educação para todos. Desse modo, iniciamos uma caminhada que resultou em muitas ações, feitas de maneira coletiva e que não estão dando os resultados imaginados. A utopia começou quando eu era criança ainda, mas ficou consistente quando pude atuar no que foi denominado, em algum momento, Laboratório de Informática.
O tema é complicado, surgiu como avanço mas segregou mais do que ajudou. Cada laboratório de informática que era implantado tinha especificidades com suas vantagens e barreiras que perduram até hoje.
Laboratório de Informática – Anteontem
Posso afirmar, com toda a certeza, que quando eu ainda era criança e ” hackeava ” equipamentos eletrônicos (como o rádio a pilha de meu pai) não tinha nenhuma noção do que era utopia. Era como se fosse um brinquedo, dava prazer destruir um carrinho, aproveitar o motor para fazer uma hélice girar sem nenhum motivo. Assim sendo fui crescendo e fazendo minha escolhas, sem imposições e limitações, até começar um curso técnico na prestigiosa Escola Técnica Federal. Naquele celeiro de mentes jovens e ávidas por conhecimento e “sucesso”, a utopia começou a ter sentido.
A questão da criação do chamado laboratório de informática é profunda e antiga, vem desde a popularização e chegada dos microcomputadores às escolas.
Uma vez que ocorreu o chamado Bug do Milênio, mais de 20 anos atrás, participamos de projeto que mudava o conceito de “laboratório de informática”, o que possibilitou a criação dos conhecidos “Telecentros”. Pouco depois, lecionando em duas instituições de ensino superior, tentei mudar o conceito de “laboratório” de informática”. Em uma destas instituições fui demitido pois, à época o conceito era avançado demais para a instituição.
Bê-a-Bá da Informática
Lembro-me que ao dar aulas de introdução de informática para curso de Letras (futuras professoras), deparei-me com uma aluna que nunca usava o computador ( dois alunos por computador no malfadado laboratório). Demorei a descobrir por quê ela nunca praticava. Ela nunca tinha visto, antes de entrar na faculdade, um mouse.

Laboratório de Informática – Escola Julio Pasa
A imagem reproduzida acima dá uma dimensão do tamanho e extensão da loucura ?
Talvez explique, em grande parte, a resistência de professores com EaD e novas tecnologias. Uma sala de aula informatizada, com muitos equipamentos, como da imagem principal, jamais poderia ser associada a um laboratório. Quem ganhou com estes equipamentos foram somente as empresas de venda de equipamentos e software, mais ninguém.
E pensar que, nos idos de 1980, eu pegava um microcomputador de 8 bits, com monitor de vídeo de raios catódicos, viajava 400 km para dar “aula” para 20 alunos.
Laboratório de Informática – Hoje e Amanhã
A discussão do ontem à tardinha, pouco antes da Pandemia, era sobre novos formatos de laboratórios de informática e suas variações aplicáveis a cada nível de ensino. Do maternal à Universidade, conforme dizia o slogan de uma instituição de ensino secular, a questão era grave. Entretanto, a pandemia mudou a cabeça de muita gente, alargou e aprofundou as diferenças sociais sobre acesso à tecnologia, à Internet e à informação.
Como se não bastasse, as dificuldades da pandemia impuseram muitas mudanças, a diversas profissões e atividades relacionadas à educação. Desse modo, o que chamavam de laboratório de informática ( ainda chamam ! ) não vai passar impunemente. Não tive oportunidade de expor a questão dos laboratório ou espaços para experimentos de informática no texto ” Educação Pós-Pandemia ” e a questão recrudesce de maneira preocupante.
Uma frase que cunhei, quando dava aulas de redes de computadores para aqueles que seriam profissionais de computação era: “… se você faz um projeto de rede, pensando em resolver os problemas de hoje, está fazendo um projeto ultrapassado… “.
De acordo com o que tenho lido de debates sobre o tema, poucos estudiosos do assunto estão pensando nos tais laboratórios de forma apropriada. Ao que parece, estão usando aspectos lúdicos e privilegiando quem tem acesso a recursos informacionais abundantes ( uma minoria ). Em outras palavras, não estão repensando a educação a partir do futuro e sim tentando remediar de acordo com o passado.
Mea Culpa
Em um texto algum tempo atrás, admiti, de certa forma, a responsabilidade objetiva por ter ido na onda da inclusão digital ( Inclusão Digital – “mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa ). Certamente não fizemos tudo errado, acertamos muito, tentamos fazer inclusão verdadeira, mas o tiro saiu pela culatra. Os maiores interessados não conseguiram nem descobrir que Software Livre não é a mesma coisa que software gratuito até hoje.
Em suma, se os educadores não mudarem a lógica com que serão obrigados a educar as crianças, adolescentes e adultos, estaremos repetindo os mesmos erros. E o que é pior, ampliando o abismo social e cultural até aqui consolidados, com toda a certeza, a avalanche e o ambiente das redes sociais não é um bom “laboratório”.
Imagem: Reprodução MJ Capacitações
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
- Observações, sugestões, indicações de erro e outros, uma vez que tenham o propósito de melhorar o conteúdo, são bem vindas.
- Coloquem aqui, nos comentários ou na página do Facebook, associada a este Blog, certamente serão todos lidos e avaliados.
- Alguns textos são revisados, outros apresentam erros (inclusive ortográficos) e que vão sendo corrigidos à medida que tornam-se erros graves (inclusive históricos).
- Algumas passagens e citações podem parecer estranhas mas fazem parte ou referem-se a textos ainda inéditos.
Agradeço a compreensão de todos e compreendo os que acham que escrevo coisas difíceis de entender, é parte do “jogo”.