Dom João VI Carioca - Cia das Letras

200 anos sem Dom João VI

Dom João VI e 1808

Em 2016 escrevi um texto nomeado “1808 – A Maldição do Obscurantismo(1) que tratava de como e porquê fomos amaldiçoados com a vinda da Coroa Portuguesa para o Brasil. Aquele papo que os livros de História contam da vinda da Corte Portuguesa em 1808, de um tal “Reino Unido de Portugal e Algarves” e da nossa falaciosa Independência em 1822. Tudo começou com aquele maldito Dom João VI, fugindo dos adversários na Europa e sob proteção da Inglaterra, aportou no Brasil e nos ferramos.

Padre Perereca

A “nobreza” e clérigos de Pindorama aplaudiram e louvaram a chegada da Família Real, o que não aconteceu com nenhuma outra colônia europeia. Em outras palavras, não sou historiador, mas aquela Idade das Trevas só podia dar certo aqui, ainda mais com o tal Dom João VI fujão.

Declaração do maldito “Padre Perereca” diante da chegada da corte na Colônia:

Se tão grandes eram os motivos de mágoa e aflição, não menores eram as causas de consolo e de prazer: uma nova ordem de coisas ia a principiar nesta parte do hemisfério austral. O império do Brasil já se considerava projetado, e ansiosamente suspirávamos pela poderosa mão do príncipe regente nosso senhor para lançar a primeira pedra da futura grandeza, prosperidade e poder de novo império”.

Em suma, com uma situação única nas colônias fora da Europa, um monarca como Dom João VI, a pergunta “Podia dar certo?” Faz algum sentido para nós, brasileiros?

Certamente, Tim Maia, o síndico e “Descobridor dos Sete Mares” respondeu corretamente, “não pode dar certo”.

Duzentos anos sem Dom João VI

Anteriormente, escrevi e venho escrevendo como esta data de 1808 é a raiz dos nossos problemas. A partir dali tivemos uma Independência fajuta e uma Proclamação de República que se protagonizaria por vice-presidentes golpistas(2). E, como se não bastasse, ainda tem habitante Tabajara que acha a monarquia o máximo, ou faltaram às aulas de História ou foram lobotomizados pelas redes sociais.

Neste 25 de abril comemora-se uma data que não consigo classificar como importante ou como tragédia completa. Foi nesta data, 200 anos atrás, que o tal monarca Dom João VI resolveu voltar para seu reinado na Europa e nos deixou. Desse modo, ficamos na mão de calango e de “Regências” Trinas, Provisórias, aprendizes de Imperador e coisas piores até a farsa da Proclamação da Independência, sem guerra, sem revolta e sem o povo nem saber o que estava acontecendo.

Perdemos o trem da história da Revolução Francesa (1789-1799), da Revolução Americana (1775-1815) e da Guerra dos Sete Anos (1756-1763). Fomos, com toda a certeza, condenados a viver num mundo à parte do restante das colônias.

A Redenção

Quando fico em dúvida sobre comemorar ou não a volta de Dom João VI para a Europa, penso no que ocorreu nestes duzentos anos. A história não admite o “SE“, mas penso, por exemplo, que o Rei/Imperador deve ter feito muitas coisas para ter deixado saudades. De fato, são incontáveis os feitos com a intenção de criar uma Monarquia d’além mar, deu tudo errado.

Tudo que criou de bom, após apenas 13 anos de permanência no Brasil, está sendo destruído, o Museu pegou fogo, o Banco do Brasil está sendo entregue para os financistas internacionais. De fato, voltamos à época da Monarquia projetada com milícias e a corte em festa constante.

Nem a “Abertura dos Portos às Nações Amigas” amigas prevaleceu, se ainda tivéssemos sido colonizados por Holandeses, Ingleses, Franceses, espanhóis, mas que nada. A história é tão complicada que nem piratas/corsários desceram abaixo da Linha do Equador. A coisa é tão emblemática que nem a Máfia Siciliana conseguiu se estabelecer no país e o que restou de bom está sendo destruído em pleno Século XXI, duzentos anos depois do estrago provocado por Dom João.

Vida pessoal

Noutro texto, falo dos feitos e até da vida pessoal de Dom João, a quem chamo de corno e “Ricardão” assumido. Particularmente, não gosto de misturar as editorias, principalmente dos gostos e preferências pessoais. Entretanto, quando os vícios e deformação de caráter pessoal atingem uma nação inteira, não dá para coadunar com príncipe, regente, rei, imperador ou o que quer que esteja no comando.

 Fracasso Real

Enfim, não temos, IMNSHO, nada o que comemorar pelos 200 anos do retorno do rei às suas origens, nem do que fez depois com a colônia. E quando pensamos que ano que vem teremos a comemoração de duzentos anos da nossa plácida “Independência” o quadro torna-se mais trágico.

Pouco antes desta data, publiquei texto dizendo sobre os nossos 150 anos de atraso, relacionados à Constituição estabelecida em 1988 (CF/88) e a Constituição estadunidense e sua 14a Emenda(3). Temos, sem dúvida, nestes textos e na análise dos dias atuais,  um retrocesso e fracasso completo de nossa famélica sociedade.

O incêndio irrompido no Museu Imperial – Museu Nacional do Rio de Janeiro – é a cara do país que não deu certo, do Rei Dom João que fugiu e depois voltou, das coisas mal feitas e outros vícios e jeitinhos que nos acostumamos. Não tem Tiradentes e nem outro mártir para dar jeito neste país, estamos à mercê de áulicos e serviçais que se apoderam de posições para atender seus oligarcas de estimação

Este é o país do Ame-o ou Deixe-o (versão ultrapassada do “… vai pra Cuba …”) o país onde direitos são retirados e privilégios são ampliados, ricos ficando mais ricos e 200 anos de atraso sendo comemorado e defendido por castas de capitães-do-mato.

PERDEMOS !!! Não há nada a ser comemorado. Desse modo, a história não pode ser recontada e a história se repete, Dom João VI reencarnou aqui no Brasil de 2021.

 

Notas

(1) O texto referenciado está sendo revisado e atualizado e, portanto, temporariamente inacessível.

(2) Escrevi sobre a República e vice-presidentes golpistas em “Res Pública – de Floriano a Temer” e, surpreendentemente, muitos não conseguem fazer a conexão.

(3) A princípio, em “14a Emenda – 150 Anos de Atraso” tentei mostrar que estamos atrasados, não são 150 anos, são duzentos.

 

Imagem: Reprodução Cia das Letras

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