Os do Barro Preto - Zeitgeist

Zeitgeist Azul e as confusões mentais

Zeitgeist

Zeitgeist (pronuncia-se Dzáit-Gáist) segundo o Wikipedia, é um termo alemão cuja tradução significa espírito da época ou sinal dos tempos. Em suma, Zeitgeist significa o conjunto (caldo cultural) do clima intelectual e sociológico de comunidades restritas ou “tribos”. Desse modo, pode extrapolar certas sociedades e determinados momentos, em tempos de Internet, e abranger o mundo todo, como numa pandemia.

Vivemos, portanto, em uma época da história em que as tecnologias e a avidez de cada cidadão em se mostrar “conectado”, determina tempos estranhos.

Assim sendo, feita esta introdução, atrevo-me a colocar uma adaptação de texto ( de autoria desconhecida), que representa o que chamo de Zeitgeist Azul.

Costumo dizer que, quando se mistura política, futebol e religião, bem como de misturar as editorias, não sai coisa boa. Data Venia, os ajustes no texto original determinam que o  autor desconhecido misturou, #IMNSHO, às três temáticas, as convicções de um magistrado.

Ferrou, não pode dar certo ou é somente o tal “sinal dos tempos”?

Zeitgeist jurídico e as convicções do magistrado

Política, Religião, Futebol e Toga

We the People

La Gente

Vinte e oito de abril de 2022.

Nesse dia o Comitê de Direitos Humanos da ONU concluiu avaliação sobre os processos do ex-juiz Sérgio Moro no âmbito da Operação Lava Jato. A conclusão foi de que o ex-juiz mostrou-se parcial em seu julgamento dos processos contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Nesse ínterim, o ex-juiz declarou ao jornalista Jamil Chade, colunista do UOL, que “o ex-presidente Lula teve condenação por corrupção em três instâncias do Judiciário… “. Como se não bastasse, reforçou que as condenações foram “pelas mãos de nove magistrados“. Adicionou que, justificando, “sua prisão foi determinação do STF em março de 2018”.

Ao mesmo tempo, pela manhã, o jornalista Luiz Megale, da Bandnews-FM, abordou a notícia, lembrando que à época dos julgamentos o “espírito do tempo” (Zeitgeist). Relembrou que, no país, todas (ou quase todas) as decisões eram sempre contrárias ao ex-presidente, em várias instâncias.

Outrossim, o próprio judiciário brasileiro anulou os processos relacionados ao julgamento do ex-juiz, o que a própria ONU reconhece como cerceamento do Direito.

Direitos Fundamentais

Olhando para a história, analogamente, vemos também outro perigoso “espírito do tempo” tolher, com frequência, muitos direitos fundamentais.

Trata-se do impulso das perseguições religiosas, que se vestem de ritos processuais. Assim sendo, a forma, no calor das convicções, esconde um conteúdo de injustiças que só vêm à tona depois de anos. Esse movimento começa, geralmente, de modo tímido e discreto. Vai se potencializando, inquestionavelmente, com o crescimento dos dramas e carestias sofridos pelas populações. Depois ganha fôlego ao sabor do medo e rapidamente sequestra corações e mentes de multidões.

Assim, frequentemente, o resultado final dessas convulsões é exatamente o oposto do que proclamam os líderes religiosos que pregam paz, amor, boa vontade e igualdade.

A vida, muitas vezes, é tão dura para os mais diferentes estratos sociais. É provável que, um pouco de diversão seja muito bem-vinda para trazer mais leveza à rotina de pelejas, em todas as classes. Essa alegria, comum a todos os povos, é presente em festas, manifestações artísticas, eventos culturais e, com toda certeza, no esporte.

Desse modo, como em todos os setores da vida humana, esses também se tornaram oportunidades de sustento e crescimento profissional para seus participantes. No caso do esporte, em geral, e do futebol, em particular, o desenvolvimento dos negócios e da comunidade a ele agregada
costuma trazer conflitos de interesse que podem se revelar escravos do “espírito do tempo”.

Cruzeiro SAF

Recentemente, antes do advento oficial das SAF, vários clubes aprofundaram suas crises financeiras e institucionais. Um caso específico mostrou semelhança preocupante com o “comportamento de manada” dos julgamentos de Lula: o Cruzeiro Esporte Clube.

O clube mineiro se tornou a nova “Geni” do noticiário jurídico-esportivo e cedeu quase 100% das ações onde era parte. Com a torcida pedindo que entregasse tudo, sem entender onde estava se metendo. Enquanto isso, chegou-se ao absurdo de haver uma causa de R$300 milhões,  sobre  um atleta cujos direitos, anteriormente, tinham avaliação de R$14 milhões.

Surpreendentemente, até aos olhos do “cidadão comum”, era possível constatar que a chance de vitória jurídica dependia do local do foro onde “corria” a ação. Nas rivalidades, em política e no futebol, quem não é vítima dessas ondas do “espírito do tempo”, se distrai com as desventuras do adversário. Entretanto, não se lembram que na milenar luta do ser humano para sobreviver, quem hoje contempla o sofrimento alheio pode precisar da solidariedade que negou. Quem hoje ri dos ferimentos que a vida ofereceu a outrem, pode precisar dos mesmos curativos para aliviar suas dores.

Ainda nesta data (28 de abril) publicaram o que pode ter sido o último resultado do Cruzeiro Esporte Clube, associação centenária de futebol. A dívida ultrapassou o R$1 bilhão e a nova instituição (SAF) é corresponsável. E os Oficiais de Justiça batendo à porta da Associação e da SAF(1) gerando confusão e instabilidade jurídica.

Montesquieu

A coesão de uma nação depende do equilíbrio entre seus poderes e da relação de pertencimento de seu povo com essas mesmas instituições. Os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário precisam, portanto, encontrar formas de serem mais refratários aos aspectos negativos (destrutivos) do “espírito do tempo”. Contudo, não deve-se perder a sensibilidade diante dos dramas fundamentais da vida cotidiana do seu povo.

Enfim, fica o apelo popular àquele que deve ser o mais estável dos poderes, por ser o de maior longevidade institucional dos membros. O Judiciário, segundo Montesquieu(2), nem deveria ser um Poder, entretanto, deveria dar a direção e a base do equilíbrio da Federação. Desse modo, ajudar seu povo (La gente).

Agindo assim, ele (o Judiciário) seguirá se consolidando como ente que não se rende incondicionalmente ao “espírito do tempo”. Em outras palavras, não deve deixar prevalecer sobre o direito aquelas convicções individuais, que podem se revelar parciais.

Estabilidade Jurídica

Mais de cinco atrás escrevi um texto sobre a pretensa “Estabilidade Jurídica(3) que certos magistrados proclamavam. Uma vez que, o diversionismo a que me referi nos levou ao buraco que estamos, não tem volta. A decisão da ONU, as decisões do Judiciário em relação à política, futebol etc. são pavorosas e podem piorar muito.

Enfim, nada está tão ruim que não possa ficar muito pior. O slogan do Tiririca, para se eleger, é mais falacioso do que qualquer coisa que estamos vendo nas redes sociais. Certamente, é impossível confiar em qualquer coisa que aparece nas nossas timelines.

Poder Judiciário

Ver o que se tornou o Poder Judiciário e ver o Cruzeiro, com operadores do Direito, nos últimos anos, no comando, é muito preocupante. No futebol, estamos nas mãos de árbitros que gostam do apodo de “juízes”. Certamente, estes árbitros têm a proteção da estrutura familiar da FMF e pelos operadores do Direito do TJD e STJD, com a conivência da mídia.

Em suma, a Zeitgeist azul nada mais é que sinal dos tempos, sombrios e nebulosos !

"As pessoas neste mundo veem as coisas equivocadamente, 
e pensam que o que não compreendem deve ser o nada. 
Mas este não é o nada verdadeiro. É apenas confusão."

Miyamoto Musashi (1584-1645)

(1) “Justiça condena Cruzeiro SAF por dívida do clube e pode complicar empresas

(2) “Revisitando Montesquieu no Século XXI

(3) “Estabilidade Jurídica e o Diversionismo

 

Imagem: Evandro Oliveira

Nota do Autor

Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.

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Agradeço a todos e compreendo os que acham que escrevo coisas difíceis de entender, é parte do “jogo”.

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