Pós-pandemia
A pandemia mudou o mundo. E, como se não bastasse, acelerou, de forma rápida e cruel, as relações de trabalho e a forma como algumas profissões sempre atuaram. Anteriormente, escrevi vários textos sobre relações de trabalho e, especialmente, sobre a reforma trabalhista no Brasil. Inegavelmente, os direitos trabalhistas vêm sendo jogados no lixo desde 2016 pelo Congresso Nacional, que ignora direitos constitucionais. Desse modo, falar em profissões em extinção virou o esporte favorito de coaches que querem ganhar algum dinheiro.
Assim como escrevi, em seguida às reformas da legislação do Governo Temer(1), algumas profissões e termos mudam de nome mas são antigas. Conforme avança-se na modernização das atividades laborais, é compreensível que profissões em extinção sucumbam, ou mudem de nome. Por outro lado, é incompreensível como as pessoas mudem determinadas atividades de nome como se as funções deixassem de existir.
Desse modo, a proposta que apresentamos é separar, ou pelo menos destacar, que existem profissões extintas e, com toda a certeza, aquelas em extinção.
Profissões em Extinção
A distinção entre profissões extintas, em extinção e aquelas que mudam de nome para atender ao “mercado” profissional é complexa. Algumas áreas profissionais receberam especializações. Por exemplo, a Engenharia ganhou novas especialidades, como o Engenheiro de Meio Ambiente ou o de Produção. A profissão continua sendo engenheiro, com conselho profissional e tudo. Da mesma forma, áreas como tecnologia, renovam os nomes das atividades – que alguns chamam de profissão – a cada 18 meses.
Entretanto, é necessário destacar que muitas atividades ou especializações viraram “profissões” para atender alguns requisitos menos nobres. Mesmo que alguma empresa crie “especializações” usando adjetivos modernos, não significa que uma profissão não existe ou uma nova surgiu. Esta é mais uma das falácias muito comuns em recrutadores e criadores de cursos que não são profissão.
Profissões extintas
É comum, principalmente quem trabalha há muito tempo ou está aposentado, citar algumas profissões que não existem mais. Posso relacionar algumas que, surpreendentemente, a maioria dos trabalhadores com menos de 35 anos nem vai saber o que faziam.
Algumas profissões extintas:
- Ascensorista
- Atores de rádio
- Cisterneiro
- Datilógrafo
- Lavadeiras
- Linotipista
- Mecanógrafo
- Telefonista
- Telegrafista
- Vendedor de enciclopédia
Curiosidades
Tomemos alguns exemplos:
- Datilógrafo. Era aquela pessoa que fazia um curso e utilizava uma máquina mecânica para digitar textos. Ora, ora, ora, todos nós fazemos isso atualmente. Agora as teclas são virtuais, ninguém faz curso de datilografia e poucos pagam por este serviço.
- Vendedor de enciclopédia. Passava de porta em porta das casas vendendo livros que continham o conhecimento que cabe num smartphone de hoje em dia. Vendiam a “Barsa”, a “Enciclopédia Britânica” e outras. Mas, afinal, quem precisa disso hoje se temos o Google ou Wikipedia, de graça?
- Vendedor de jornal. Até bem pouco tempo antes da pandemia, morei num lugar que, aos domingos, passava um vendedor de jornais e revistas. Gritava e cantava óperas alto para atrair a atenção de todos. O que aconteceu com ele, ninguém sabe, ninguém viu.
A relação pode ir além destes três exemplos. Uma rápida pesquisa no Google, sobre trabalhos “estranhos”(2), pode saciar a curiosidade do que faziam estes profissionais.
Especializações em extinção
Com o propósito de separar estes conceitos e ideias, temos que falar de profissões em extinção e outras nem tanto.
Com efeito, algumas profissões estão em extinção. Isto não significa que todas as atividades deixam de existir. É provável que uma profissão, daquelas registradas na carteira de trabalho, tenha mudado de nome ou se agregado a outra.
Por exemplo, a introdução da informática destacou uma atividade conhecida como digitador. Era uma profissão que evoluiu da datilografia e que tinha como principal atribuição, dar entrada de Informações nos computadores. Ainda existem pessoas que trabalham com esta atividade. Entretanto, a informatização de tudo fez com que os usuários de qualquer equipamento de TI assumissem a atribuição. Quando vejo alguns jovens e seus dedinhos ágeis sobre smartphones, sem dúvida me lembro dos digitadores.
Fica a dúvida: a profissão de digitador deixou de existir ou todas as pessoas viraram digitadores não remunerados?
Profissões em vertigem
Assim sendo, aqui também cabe uma relação de profissões que considero em extinção ou, na melhor das hipóteses, em vertigem. Em outras palavras, profissões que se não estão em extinção, estão reduzindo imensamente o número de profissionais ativos.
Algumas destas profissões, e sua respectiva extinção, provocam enormes discussões. A explosão de apps e serviços de autoatendimento provoca debates acalorados. As redes sociais profissionais não gostam deste tipo de debate, principalmente as que defendem suas corporações profissionais.
Por outro lado, é visível que o número de profissionais qualificados diminui a cada ano. Além disso, muitos dos que atuam em determinadas áreas demoram a se aposentar. O debate deveria reverberar, ao mesmo tempo em que a formação acadêmica se alinharia aos novos tempos.
- Advogado trabalhista
- Apresentador de TV
- Bibliotecária
- Carteiro
- Frentista
- Jornalista
- Motorista de táxi
- Professor presencial
- Recrutador
- Telemarketing
É provável que a “Geração Diploma“(3) ainda não se deu conta que invadir e saber manipular apps e as redes sociais não basta. Dado o exposto, especialmente para algumas profissões em extinção, é admissível o contraditório e o descontentamento.
Profissões “modernas”
Não considero que todas as profissões estão em extinção, sobretudo aquelas que recebem “atualização” de nomes modernos. Vemos o caso de uma delas (são centenas): o Analista de Sistemas.
Até bem pouco tempo atrás, antes do início da “Era” da Internet, eram quatro profissões na área de computadores:
- Digitador
- Operador de computador
- Programador de computador
- Analista de Sistemas
De acordo com a nossa linha de raciocínio, todos que utilizam computadores ou congêneres, tornaram-se digitadores e operadores. Por outro lado, programadores e analistas ganharam uma infinidade de “especializações” que é impossível falar em extinção ou profissão nova.
Alguns especialistas em mercado de trabalho e economia dirão que os postos de trabalho aumentam com a evolução das especializações. Discordo em gênero, número e grau. Existe mais trabalho para analistas e programadores, mais exigências em função do avanço das necessidade de tecnologia.
Enfim, algumas profissões só mudaram de nome com a colocação de sufixos como “web” ou “digital“. Várias destas profissões sofrem precarização ao extremo, como acontece com entregadores do delivery. Aliás, surpreendentemente para muitos, esta profissão é muito antiga e precede muito qualquer “IFood” ou similar.
Futuro
Profissões em extinção, extintas ou do futuro merecem um debate mais aprofundado do que somente em redes sociais rasteiras ou até mesmo em blogs.
Trabalhos e atividades que não existem mais(4) devem ter avaliação de todos que estão no mercado de trabalho ou desejam trabalhar. Com toda a certeza, algumas profissões que, aparentemente, não existem, com ajuda da tecnologia ainda persistem.
Participei, muito tempo atrás, da extinção de uma profissão. Como profissional de TI, ajudei a construir sistemas que eliminaram muitas atividades dos bancários. Anteriormente, nos anos 1980, existiam mais de 1,5 milhões de trabalhadores. Hoje em dia, menos de 300 mil são funcionários de bancos, e a maioria operam computadores o tempo inteiro. Foi extinção?
Em suma, vivemos uma evolução rápida em que muitas profissões estão sendo criadas ou recebendo novos nomes. É provável que não estejamos preparados para estas mudanças, notadamente no Brasil. Analogamente ao que vivenciei nos anos 80, as percepções mudam mais rapidamente do que podemos imaginar.
A maioria dos trabalhadores está perdendo suas referências profissionais e perdendo o trem da história.
Certamente, muitos dos que perderem seus empregos, serão “empreendedores” e irão na direção contrária de uma profissão em extinção.
Salve-se quem conseguir !
(1) “Teletrabalho ou Home Office, tanto faz…”
(2) “As 23 profissões mais sinistras do mundo”
(3) “Geração Diploma”
(4) “45 trabalhos estranhos”
Imagem: Clevertom Caricaturas
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
- Os textos de “Entre sem bater” são opinativos/informativos, inquestionavelmente com o objetivo de estimular a reflexão e o debate.
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Agradeço a todos e compreendo os que acham que escrevo coisas difíceis de entender, é parte do “jogo”.