Estádio de Futebol - Reprodução Instagram

Estádio de futebol – Minha casa, minha ilusão

Minha Casa, Minha Vida

O torcedor brasileiro, certamente, tem a ideia de que se seu time jogar num estádio próprio será imbatível. Ter um estádio de futebol para chamar de “meu” é sonho de muitos torcedores, incentivados pelo diversionismo de dirigentes e outros “investidores”. O negócio milionário chamado futebol é sustentado pelo torcedor e sua paixão. Desse modo, qualquer negócio para tirar mais dinheiro do torcedor será sempre bem-vindo, inclusive um estádio.

Assim sendo, analogamente ao programa “Minha Casa, Minha Vida“, um estádio de futebol pode provocar algumas ilusões. Enquanto o  programa habitacional, de elevado sucesso ganhava mentes e corações, o “minha casa, minha ilusão”, ganha os torcedores sem noção.

Enfim, é tudo movido pela paixão, na maioria dos casos, cega e surda.

Estádio de Futebol

É provável que a história da evolução dos estádios de futebol no Brasil tenha se iniciado com o Pacaembu (SP). Durante a Segunda Grande Guerra, inaugurou-se o estádio “mais moderno da América Latina”. O berço do futebol no Brasil merecia uma praça desportiva grandiosa. Um estádio público, feito com dinheiro público, à serviço dos times de futebol.

Logo após o final da guerra, o Brasil sediou a Copa do Mundo. Desse modo, surgiram dois outros estádios “gigantes”: O Maracanã (RJ) e o Independência (MG). Ambos construídos com dinheiro público, e mantendo os estádios próprios dos clubes acanhados, e com poucos investimentos.

Independência

De acordo com registros públicos, a história do Estádio Independência é curiosa. Após a Copa do Mundo, o time do Sete de Setembro o recebeu em doação, nada mais patriótico. Com a falência do time, o governo estadual assumiu o estádio que foi o principal de Minas Gerais, até a inauguração do Mineirão, em 1965. Curiosamente, alguns anos depois, o governo “doa” novamente, desta vez para o América-MG. Nos preparativos para a Copa, o Estado assumiu a reforma e, recentemente, devolveu ao time do América, por abandono da PPP.

A falência do Sete de Setembro, que tinha o segundo maior estádio de Minas Gerais, chega a ser debitada na conta da criação do Mineirão. O Mineirão, construído com dinheiro público, com toda a certeza, não motivou a falência do “time do Horto”.

Morumbi

Um capítulo especial, na história de estádio de futebol próprio, deve-se ao São Paulo Futebol Clube. O time paulistano utilizava o Pacaembu (criado em 1940) até comprar o estádio Canindé, antes do final da guerra. O mais novo dos times paulistanos queria um estádio maior, e começou a pensar na construção de seu estádio. Desse modo, nasceu o Morumbi, inaugurado em 1970 e, a partir daí, começou a história do tricolor paulistano dentro dos gramados. Até ter seu estádio próprio, e alguns anos depois, as conquistas do time eram pífias no cenário fora de São Paulo.

Tempos modernos

Este histórico é uma amostra de que ter estádio próprio tem custos elevados, além dos financeiros. Após a onda dos estádios públicos com terminação aumentativa (Mineirão, Castelão etc.) alguns clubes aumentaram ou construíram seus estádios. A maioria destes estádios próprios sofreram reformas ou abandono, com a realidade da Copa do Mundo de 2014.

O sonho meu de um estádio de futebol

Arenas

Entramos, desde que o anúncio da realização da Copa do Mundo no Brasil ocorreu, na era das “Arenas”.

As opções, a princípio, eram três:

  1. Construir um novo estádio (dinheiro público);
  2. Reformar um estádio (dinheiro público);
  3. Reformar um estádio privado (financiamento com dinheiro público).

Certamente, não existiu no Brasil nenhum time que se apresentasse para reformar seu estádio ou construir um novo com dinheiro exclusivamente privado.

Alguns casos são peculiares, como o do “Furacão” (PR) com sua “Arena da Baixada” ou dos três times de Pernambuco e a nova Arena naquele Estado. Em Minas Gerais, cogitou-se construir uma nova arena ou derrubar tudo e fazer uma nova no lugar do Mineirão. Outras cidades tiveram opções bem de acordo com interesses políticos e, raramente, visando o futebol.

A história ainda vai ter muitos desdobramentos em relação a “Arenas” como em Brasília, Amazônia, Pantanal e outras.

Rio Grande do Sul

De maneira diferente de todo o país, Porto Alegre, sempre dividida, optou por dois caminhos diferentes. O Internacional reformou seu “Beira-Rio” e o Grêmio entregou seu “Olímpico” e construiu uma Arena nova. É provável que o Estádio Olímpico esteja abandonado e nada tenha sido feito no lugar. Mas o torcedor do Grêmio deve estar satisfeito com a nova “Arena”.

Em outras cidades do mundo, na maioria dos casos, são raros os casos de dois times grandes com dois estádios privados. É provável que Buenos Aires (ARG) e Londres (ING) sejam as grandes exceções. Em outras localidades, como Milão (ITA), num mesmo estádio, jogam os maiores rivais (até adotam nomes diferentes dependendo de quem é o mandante).

Em suma, o Brasil não deveria usar paradigmas de outros países para a questão de ter um estádio de futebol próprio.

Minha casa, Minha ilusão

Os problemas posteriores à Copa do Mundo, com as equipes e seus estádios “próprios” deveria servir de alerta aos torcedores. A gestão de um estádio de futebol é complexa. Em um dia de jogo, é como administrar uma cidade com 60 mil habitantes, muitos deles alcoolizados, num curto espaço de tempo. Surpreendentemente, a maioria dos torcedores vai na onda da mídia e aponta os problemas como se tudo fossem erros.

Os torcedores reclamam, por exemplo, do sinal de celular. Imaginem 60 mil pessoas enviando fotos e vídeos e poucas estações receptoras e transmissoras para celulares. E vai piorar muito com a entrada das tecnologias 5G e IoT. Se este exemplo não for suficiente, cito as necessidades de segurança, alimentação, saúde, água, limpeza, energia, trânsito para uma cidade deste porte. Como se não bastasse, tudo num exíguo espaço geográfico e de tempo, com a necessidade de conciliar tudo com os “municípios” vizinhos (bairros).

Desprezo

O torcedor de futebol despreza todas estas coisas e corre para as redes sociais para falar da taxa alta de “aluguel de campo”. Na cabeça deste torcedor (geralmente oca) defensor de um estádio próprio, essa taxa é “tudo”. Este tipo de torcedor deve imaginar que o estádio próprio, sem um taxa de aluguel, não vai ter todas as outras obrigações.

A ignorância e passionalidade deste torcedor chega ao cúmulo de ignorar que qualquer ambiente deste porte deve ser sustentável. Contudo, quatro jogos (se tanto) por mês, de seu time, não permitem esta sustentabilidade.

Portanto, a pergunta que deveria ser feita pelo torcedor, até para contrapor a minha ideia de que não vale a pena ter estádio próprio, seria:

– Por que então existe alguém disposto a investir dinheiro privado em um estádio de futebol próprio?

Eu não tenho esta resposta e não vemos, a nível global, investidores privados fazendo isso para um único clube. Com toda a certeza, existem grupos econômicos que querem investir em times de futebol. Do mesmo modo, querem investir na administração de estádios, que sejam arenas multiuso de eventos e de diversos times.

Grande BH

Na Grande BH, pode ser diferente, se bem que a minha teoria (contrária a de ter estádio próprio) está perto de se tornar questionável.

Minas Gerais caminha a passos largos para sucesso único no planeta ou para o fracasso das ideias de gente “boquirrota”. As eleições de 2022 estão dando um nó na cabeça do torcedor-eleitor que mistura futebol e política.

Temos o Mineirão e o Independência, desde 1965 e 1950, respectivamente, ambos reformados e considerados modernos. A partir do ano que vem o Atlético Mineiro terá seu estádio próprio. Setores políticos falam em construir um estádio para o Cruzeiro em Betim. Assim sendo, a Grande BH teria um estádio público e três estádios “próprios” dos maiores times da cidade.

Se o Sete de Setembro ressuscitar, o Siderúrgica voltar à 1a divisão e o Villa Nova mandar seus jogos no Mineirão, a conta não fechará.

River Plate e Real Madrid estão reformando seus estádios, e estes dois exemplos não são bons o suficiente para a mídia, e o torcedor passional.

Legado

Se bem que o importante é ter um estádio de futebol para chamar de “meu”, ou o “minha casa, minha ilusão”, façam suas apostas !

Enfim, podemos até ter exemplos de sucesso como da Arena “Parque Antártica” ou “Arena da Baixada”. Inquestionavelmente, admitimos trocar ideias sobre todas as “arenas” particulares, desde que sem paixão e com números e séries históricas.

Só não reclamem, no estádio próprio, de altos custos de manutenção, serviços terceirizados de baixa qualidade, segurança deficiente, problemas de trânsito e estacionamento e outros. Sem contar, é claro, com a questão da performance dentro das quatro linhas, pelos custos de um estádio próprio.

É, portanto, como escrevi no texto “Legado da Copa – Orai e Vigiai“. Sem dúvida, o torcedor não estava preparado para a Copa do Mundo no Brasil e não está apto a debater sobre estádios de futebol próprios.

 

P. S.

Em relação à questão dos estádios na Grande BH, uso de certa ironia, pois discordo do quadro atual e suas perspectivas.

 

Imagem: Reprodução Pinterest

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