Mariana - 7 anos de impunidade

7 anos de impunidade – Não foi acidente

7 anos de impunidade

Os últimos 7 anos têm sido, pelo menos pra mim, muito tristes. No mês de novembro, sobretudo no dia 5, os últimos anos têm sido difíceis. Em 2015, começava a me recuperar de um grave acidente e tive a notícia do crime de Mariana. O crime da Samarco e suas controladoras (Vale e BHP) não me sai da cabeça, e caiu no esquecimento da maioria dos brasileiros e mineiros.

Naquele dia, o terror se instalou para várias famílias, as quais eu conhecia algumas bem por alto. Entretanto, o sentimento de que muito se perdeu é enorme. Foi um crime que continua impune e cujos responsáveis poderiam proporcionar uma prevenção maior e melhor. Nesta data, “comemora-se” 7 anos da mais completa impunidade. Como se não bastasse, a mineradora voltou a operar, os desalojados e os que perderam tudo, ainda lutam para receber indenizações.

Eu tinha assumido o compromisso de escrever todo dia 5 de cada mês, não apenas como protesto mas porque sabia que ia cair no esquecimento. É provável que, uma tragédia muito maior, tenha soterrado a luta de muitos habitantes da Primaz de Minas Gerais.

A relação dos textos que tenho que estão publicados e aqueles somente no rascunho, chega ao número de 100. A maioria deles não publiquei, pois as feridas se abrem facilmente. Por outro lado, fico, cada vez mais, assustado com a falta de memória e pouco caso até de cidadãos de Mariana.

Fundação Renova

A Fundação Renova representa, de certa forma, a impunidade e a enganação que os Marianenses são vítimas. Alguns textos trazem muita tristeza; alguns depoimentos de familiares das vítimas e quem perdeu quase tudo, são desanimadores.

A Fundação Renova, certamente, não foi a responsável pelo crime de Mariana. Assim sendo, deveria sofrer uma condenação pelas mortes e prejuízos recorrentes que se acumulam. Entretanto, a estrutura de enrolação implementada na referida Fundação deveria ter uma investigação e até algum processo cível ou criminal.

Mariana e Marianenses

É provável que para uma população estimada de pouco mais de 60 mil pessoas, o número de vítimas fatais não tenha sido significativo. Vejo alguns setores da sociedade daquela cidade, bastante preocupados e defendendo a volta da mineração desenfreada. É triste constatar que a história da cidade mineradora ainda prevalece em algumas mentes e corações.

Lembro-me, por outro lado, do que aconteceu com outra cidade mineradora ( Itabira ). A cidade foi uma das mais ricas do estado, experimentou uma evolução enorme e hoje tenta sobreviver com o que restou. Drummond tinha razão quando pensava na sua Itabira das montanhas de ferro que se foram.

Sem dúvida, partes dos habitantes destas cidades, devem ter um horizonte bem curto. Com toda a certeza, devem ter o desejo de aproveitar ao máximo os resultados da extração mineral. Pouco importa se os filhos ou netos vão conseguir sobreviver com o que restará, deve haver algum retrato na parede para lembrá-los.

Enfim, ter um Produto Interno Bruto ( PIB ) bem posicionado em relação a outros municípios mineiros, deve ser mais importante do que vidas.

7 Anos

Estes 7 anos têm sido duros, o crime de Brumadinho abalou por algum tempo os mineiros. A “indenização” da Vale, por Brumadinho, está sendo gasta pelo atual governador de forma cruel. Assim sendo, só posso concluir que Mariana ainda vai ter muito o que recuperar para que a vida volte a ser importante.

Muito pior do que a impunidade é a Samarco retomar as operações e nem as multas devidas ao Ibama ela quitar(1).

Quando escrevi sobre o crime sem castigo e o “Escárnio – Não foi acidente” eu não imaginava que podia ficar muito pior. Recentemente, muitas casas estão sendo entregues aos que tiveram seus lares destruídos. Inegavelmente, são casas com aspectos construtivos melhores, mas a alma é triste.

Em suma, a luta para reconstruir as vidas e paixão que nunca voltarão, não é fácil e não basta pagar. Definitivamente, não dá para acreditar que tudo voltará ao normal um dia. Não existe nada normal e o tempo não dá ré.

Força para o povo Marianense. Mais e mais pessoas devem entender que o sofrimento de centenas é também a tragédia da história de um povo.

 

(1) Samarco retomou operações sem quitar multas com Ibama

 

Imagem: Reprodução Corpo de Bombeiros (MG)

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