Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. Afinal, o que é “Bom Senso“, senão como definiu René Descartes, séculos atrás?
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As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
René Descartes
A princípio, Descartes escreveu “Le Discours de la Méthode” quase 400 anos atrás. Surpreendentemente, uma das frases de seu trabalho sobre bom senso, aplica-se até os dias atuais. Como se não bastasse, serviria como uma luva de látex e carapuça em cada perfil de rede social. Seria uma total insensatez(1) desconsiderarmos a frase somente porque teve ambiente propício séculos atrás.
René Descartes ( Renatus Cartesius, 31 de março de 1596 – 11 fevereiro de 1650). foi um filósofo, cientista e matemático francês. Reconhecido como uma figura seminal no surgimento da filosofia e da ciência modernas. A matemática era fundamental para seu método de investigação. Ele conectou os campos anteriormente separados de geometria e álgebra em geometria analítica. Descartes passou grande parte de sua vida profissional na República Holandesa. Serviu, a princípio, ao exército e, mais tarde, foi um intelectual central da Idade de Ouro holandesa. Embora tenha servido a um estado protestante, mais tarde foi considerado um deísta pelos críticos, Descartes era católico romano.
Fonte: Wikipedia (Inglês)
Bom Senso
Desde que as redes sociais dominaram as narrativas mundo afora, tudo nunca foi mais como antes. Desse modo, não me surpreendo com a filosofia em plena “renovação” no Século XXI(2). Contudo, não há como negar que a frase de Descartes resiste bravamente. Fosse vivo hoje, Descartes resistiria quantos minutos numa rede social?
Já que a aparente relutância(3) das pessoas em aprender está se tornando habitual, é melhor apresentarmos a crítica e dar espaço ao contraponto.
Crítica e Contraponto
A profunda reflexão de Descartes sobre o bom senso, sugere (#SQN) que esta qualidade tem distribuição igual entre os seres humanos. É provável que Descartes, mesmo sendo um filósofo sério, já estaria fazendo esquetes de stand-up. Por outro lado, ao observarmos os tempos atuais, onde as redes sociais são a essência de muitos, vemos que bom senso inexiste. Certamente, o que vemos é a mais pura insensatez, com distorções e exageros da realidade.
Descartes argumentou que as pessoas tendem a considerar-se abundantemente fornecidas de bom senso, e isso é mais evidente agora nas redes sociais. Com a facilidade de expressar e acessar a uma audiência global, muitos perfis se autoproclamam detentores do “maior bom senso do planeta“. Entretanto, a realidade é que o cenário das mídias digitais mostra uma exacerbação do ego e uma propensão a posições inflexíveis.
Ao analisarmos o ambiente digital, sentimos como o bom senso, muitas vezes, significa o culto à imagem e à popularidade. Em busca de curtidas, compartilhamentos e seguidores, alguns perfis adoram as bolhas de opiniões falsas(4). Entretanto, ignoram, solenemente, a complexidade dos problemas que o planeta enfrenta atualmente. Essa busca incessante por validação social acaba por moldar e distorcer o bom senso. Desse modo, prevalecem os chavões, reduz-se ideias a meros rótulos e opiniões pré-concebidas ou de segunda mão.
Manipulação de Massas
Assim sendo, um dos principais problemas decorrentes da ascensão das redes sociais é a manipulação de informações enganosas e da desinformação. Em vez de acompanhar fontes de informação confiáveis e passíveis de verificação, “ganha-se” tempo compartilhando a esmo. A maioria dos perfis preferem fazer parte da manipulação de massas com notícias falsas e teorias conspiratórias.
Desta forma, distorcem o conceito de bom senso e chega-se a absurdos como acreditar na terra plana e outras sandices. A rapidez com que as informações se espalham nas redes sociais cria uma dinâmica em que as pessoas reagem como animais. Este tipo de adestramento, muitas vezes sem considerar a veracidade dos fatos, aprofunda a ignorância e cria conflitos desnecessários.
Além disso, o fenômeno das redes sociais também pode levar a uma competição incessante por quem possui o “melhor” bom senso. Nesse ambiente altamente competitivo, os perfis buscam criar uma imagem idealizada de si mesmos, num hedonismo oco(5). Inquestionavelmente, na maioria das vezes, mostram-se como especialistas em diversas áreas, ainda que sem nenhuma fundamentação. Deste modo, surge a superficialidade no pensamento e na análise dos problemas. Portanto, prevalece a ênfase da notoriedade e admiração pessoal, em vez de contribuir para a construção do debate público e transparente.
Há limites?
Contudo, é importante enfatizar que muitos perfis insistem que nem tudo é negativo nas redes sociais, e pode ser uma meia-verdade. As redes e mídias digitais podem ser ilhas de compartilhamento de conhecimento, de ideias e de experiências. Se bem que seu uso de forma responsável e crítica, nem sempre estão propensas ao diálogo enriquecedor e inclusivo. Com toda a certeza, é possível aprender com diferentes perspectivas e refinar nossas ideias ao interagir com os divergentes. Contudo, os donos de portais, páginas e perfis deveriam promover esta prática, além do discurso.
O desafio é encontrar um equilíbrio entre os engajamentos online e a reflexão ponderada entre “líderes” e “gurus” e seus seguidores. Transmitir conhecimento e interagir com outras pessoas nas redes sociais pode enriquecer nossa compreensão do mundo. Entretanto, devemos permanecer vigilantes e cautelosos quanto à qualidade das informações e à polarização que os algoritmos proporcionam.
Ser cartesiano
Em suma, a reflexão de René Descartes sobre o bom senso continua relevante nos tempos atuais. Contudo, em uma realidade sob domínio dos perfis digitais, é necessário fazer uma crítica a essa propensão de algumas personas. É fundamental ser cartesiano com os que são donos do “maior bom senso do planeta” em todas as áreas do conhecimento.
Sem dúvida, adjetivos como arrogante e prepotente devem ter um lançamento após bastante análise e crítica, às vezes silenciosa. É provável que o verdadeiro bom senso tenha presença na humildade intelectual ou na abertura para o diálogo. A busca por informações e pelo conhecimento deve deixar as portas (olhos e ouvidos) em plena abertura. Desse modo, é possível pensar e fazer análises críticas das ideias e das coisas, mas não das pessoas.
Nesse contexto, as redes sociais podem ser uma ferramenta valiosa para a construção de um mundo mais informado. Ao contrário do que fazem alguns donos de páginas, sites e perfis que expurgam todos os que não aderem a sua seita do santo bit. Descartes não sobreviveria ou seria um ermitão, ser cartesiano não é fácil !
(1) “Entre sem bater – Lya Luft – Insensatez”
(2) “A Filosofia no Século XXI”
(3) “Entre sem bater – Douglas Adams – Aparente Relutância”
(4) “Entre sem bater – Joseph de Maistre – Opiniões Falsas”
(5) “A geração do hedonismo oco”
Imagem: Entre sem bater – René Descartes – Bom Senso
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
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