Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. Leonid Radvinsky não criou a plataforma “Only Fans“, mas soube aproveitar a bestialidade alheia.
Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente.
As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Leonid Radvinsky
Inquestionavelmente, escrever sobre frases de figuras polêmicas, com envolvimento obscuro com pornografia e tecnologias, é um risco. Assim sendo, fica difícil obter uma confirmação de frases de quem não dá entrevistas e não aparece diante de grandes públicos. Enfim, bilionários excêntricos estão com todo o poder no mundo das redes sociais, e podem ter fãs imaginários.
Leonid “Leo” Radvinsky, é um empresário, criador de pornografia e programador de computador ucraniano-americano. Ele é o fundador do site de câmeras MyFreeCams (através de sua holding, Mfcxy, Inc.) e o proprietário majoritário do site Only Fans. Radvinsky nasceu em Odesa, Ucrânia e sua família de origem judia migrou para os EUA quando ele era criança. Em 2002, ele se formou em economia na Northwestern University. Radvinsky opera um fundo de capital de risco chamado “Leo”, fundado em 2009, que investe principalmente em empresas de tecnologia. Em maio de 2021, o The Guardian o descreveu como um “veterano da pornografia online residente nos Estados Unidos que opta por evitar a mídia”. Ele doou US$ 5 milhões para o ajuda à Ucrânia em 2022, bem como uma instituição de caridade contra o câncer, uma organização de bem-estar animal e um fundo de pesquisa de doenças de pele.
Fonte: Wikipedia (Inglês)
Only Fans
Para não dizer que não falei de flores, é muito difícil escrever sobre algum tópico que não seja a polarização que se transformou este país. Seja na política, futebol, religião, em qualquer pauta, a polarização provocada pelas redes sociais não tem limites. Raramente nos deparamos com textos, áudios ou vídeos sem nenhuma espécie de polarização e debates estéreis.
Desse modo, resolvi escrever sobre um tema em que, a princípio, não haveria polarização: a plataforma Only Fans.
Surpreendentemente, após algumas pesquisas (que sempre faço com todos os textos), fiquei numa sinuca, pois até a plataforma Only Fans tem polêmica. Enfim, não tem assunto que deixe os fanáticos das redes sociais em cima do muro. Por outro lado, a opção de evitar o debate sobre qualquer assunto transformou-se em fugir ou proibir, situação típica de regimes tirânicos.
Tirania Já
Atualmente, vivemos a tirania das redes sociais e dos grupos em que os que administram ou pagam administradores determinam os usos. E não adianta qualquer tentativa de mudanças pois quem manda exerce seu poder nos minifúndios digitais. Em outras palavras, cada feudo digital, logo após sua criação, ganha regras que se moldam para expulsar qualquer questionamento.
Em suma, quem não está satisfeito, saia, cale-se, ou terá algum tipo de bloqueio definitivo ou temporário. Como se não bastasse, as grandes plataformas consideram seus fãs de acordo com os valores que pagam. Assim como na plataforma de pornografia ( ops ! ) Only Fans, outras tantas abrem as portas para quem paga.
Desta forma, somente quem é fã de algum pensamento ou de donos de grupos de redes sociais, merece alguma consideração.
Mundo Desconexo
No mundo que exige conexão das pessoas, as redes sociais se estabeleceram como um aspecto fundamental da nossa interação digital. Contudo, nos últimos anos, uma tendência alarmante vem tomando forma e dominou mentes e corações de perfis digitais. A ascensão das plataformas que cobram dos usuários para terem acesso a qualquer conteúdo é assustadora. Como se não bastasse, independentemente da qualidade dos conteúdos, poucos ganham milhões (em Dólar e em Reais). Questões sobre os valores e prioridades da sociedade online contemporânea estão, indiscutivelmente, em um segundo ou terceiro planos.
Plataformas como a “Only Fans” tem no seu sugestivo nome o ápice da falta de bom senso(1) e até mesmo de racionalidade. Certamente, outras plataformas, como as de apostas em eventos esportivos, usam e abusam da carência emocional das pessoas. Desse modo, tudo está em conexão e é irrevogável e imparável(2); não tem volta.
Monetização e Conteúdo
É provável que com o advento das redes sociais a disseminação de informações e o compartilhamento de ideias esteja mais “democrático”. Contudo, a ideia de Umberto Eco sobre o “idiota da aldeia” ganhar o mundo pelas redes sociais, é factual. Desta forma, a possibilidade de que se dê voz a muitos que antes estavam em silêncio, é uma espécie de falácia de tiranos digitais.
Tem que pagar para ter voz e aparecer para milhões, ou ter algum patrono, financiador ou déspota de plantão com dinheiro e interesses escusos. Desse modo, a monetização dessas plataformas trouxe consigo uma série de imprevisibilidades e surpresas. Plataformas que antes buscavam criar comunidades e compartilhar conhecimento agora parecem mais motivados em lucrar. Sem dúvida, este lucro e explosão de fãs acontece às custas da qualidade do conteúdo que precisa ser viral e não ter substância.
A postura das plataformas que oferecem acesso pago a qualquer tipo de conteúdo, independentemente de sua adoração ou veracidade, é preocupante. Quando um perfil paga para compartilhar sua visão, essas plataformas amplificam desinformação, conteúdo de baixa qualidade e até mesmo o proselitismo(3).
A busca implacável por lucro colapsou o compromisso com a disseminação responsável das informações e do conhecimento.
Experiências e Cobaias
Ao utilizarmos, por exemplo, o foco na plataforma Only Fans, tem objetivo trazer para o debate as pessoas que estariam numa polarização estéril. Desse modo, podemos avaliar como esse fenômeno também tem efeitos sobre a experiência de cada usuário.
A presença de conteúdo irrelevante ou prejudicial torna a experiência de navegação nas redes sociais frustrante e exaustiva?
Assim sendo, por que as fake news, coisas ruins e conteúdos precários ganham mais audiência do que qualidade e fatos?
Os usuários recebem um dilúvio de informações, muitas vezes inúteis ou enganosas, tornando difícil separar o joio do trigo. A confiança nas redes sociais como fontes da informação recebem adesões não pela veracidade, mas pelas necessidades de se mostrar “in“. Desta forma, à medida que os interesses financeiros superam o compromisso com a qualidade mais criadores de conteúdo aderem à plataforma.
O exemplo dos perfis da Only Fans é claro. Mulheres declarando que ganham milhares de dólares(4) em pequeno tempo, com vídeos de pouco ou nenhum conteúdo. As pessoas se submetem a qualquer conteúdo e/ou experiência e pensam que estão num mundo novo, da inovação.
Pague para entrar
Um filme, de trinta anos atrás, mostrando um mundo real cruel, pode ter seu enredo num ambiente atual: “Pague para entrar, reze para sair“. As chances das pessoas que faturam e geram faturamento para as plataformas saírem é quase zero. Tudo virou business e, sem dúvida, quem não ganha dinheiro é somente o fã cego.
Além disso, essa postura das plataformas de acesso pago tem um efeito corrosivo sobre a própria noção de comunidade online. Antes, nas redes sociais, as pessoas compartilhavam interesses comuns e trocavam ideias construtivas. Agora, com a pressão de monetização, existe uma fragmentação crescente da comunidade em grupos sectários em busca de mais seguidores. Isso não apenas perpetua bolhas de opiniões mas faz emergir o proselitismo e segregação. Cria-se, com toda a certeza, um ambiente onde o acesso à informação de qualidade é prerrogativa apenas para quem pode pagar por ele.
Reversível ?
E, com efeito, para reverter essa tendência, é necessário um esforço conjunto de usuários, plataformas e reguladores. Em primeiro lugar, os usuários devem se tornar mais conscientes e críticos em relação àquilo que consomem e apoiam. Ao avaliar cuidadosamente a fonte e a veracidade das informações, é possível reduzir a disseminação de desinformação.
As plataformas, por sua vez, têm a responsabilidade de reavaliar suas prioridades, o que é uma utopia. A opção de priorizar o lucro acima de tudo, tem substituição positiva por criar um ambiente com a qualidade de conteúdo.
Isso pode envolver:
- a implementação de sistemas de moderação mais imparciais;
- a promoção de conteúdo confiável e educacional; e
- a busca por modelos de negócios em equilíbrio e sustentáveis.
Uma visualização, por exemplo, em sites do tipo “The Top Ten do Only Fans“(5) dá uma dimensão da porcaria que pagamos para consumir. Plataformas como Twitter, LinkedIn e outras, que selecionam o que pode acessar e criar, de acordo com quem paga, são excrecências.
Regulação
A princípio, o leitor menos atento vai querer concluir que o Estado deve ser o regulador das plataformas. Certamente, não é disso que estamos falando, mas os abusos recentes em vários temas, exigem intervenção de uma terceira parte.
Os reguladores também têm um papel fundamental a cumprir que nem sempre a sociedade se alinha ou concorda com isso.
É necessária uma supervisão mais rigorosa das práticas das redes sociais, a fim de garantir que elas operem de maneira ética e responsável. Isso pode envolver a criação de diretrizes claras sobre a monetização do conteúdo. Do mesmo modo, deve haver a existência de penalidades para as plataformas que não cumprem essas diretrizes. Tudo isso, com a participação ativa da sociedade civil.
Enfim, a postura das plataformas que cobram dos usuários para acessar a qualquer conteúdo, independentemente de sua qualidade, é deplorável. Esta avalanche de plataformas pagas está atualmente dominando a cena das redes sociais, de pornografia até inteligência artificial (IA).
No entanto, se adotarmos uma visão muito otimista, pode haver espaço para uma mudança positiva. Com esforços, notadamente, por parte dos usuários, e ações das plataformas e reguladores, é possível reverter os danos. Essa tendência prejudicial e manipuladora deve mudar para algo com propósito de conexão e crescimento humano.
Em suma, a bestialidade presente na maioria das plataformas, com a aceitação de conteúdos ruins, só porque pagaram, é a falência da nossa sociedade.
P. S.
É provável que se perguntarem para 99% dos fazedores de conteúdo do Only Fans quem é Radvinsky, todos perguntarão: Quem? Como se não bastasse, a briga entre Tim Stokely e os princípios financeiros da plataforma, revelam muito sobre nossa sociedade. Conteúdo de qualidade pra que mesmo? Certamente, os proxenetas das redes sociais não se preocupam com qualidade.
É provável que o baixo número de leitores deste texto seja um exemplo claro de como algum conteúdo não traz interesse. CQD.
(1) “Entre sem bater – René Descartes – Bom Senso”
(2) “Entre sem bater – Nicholas Negroponte – Irrevogável e Imparável”
(3) “Entre sem bater – Pietro Ubaldi – O Proselitismo”
(4) “Ex-Globo diz que lucra quase R$1 milhão por semana com Only Fans”
(5) “Ten best big tits OnlyFans accounts”
Imagem: Entre sem bater – Leonid Radvinsky – Only Fans
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
- Os textos de “Entre sem bater” são opinativos/informativos, inquestionavelmente com o objetivo de estimular a reflexão e o debate.
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