Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. James Baldwin escreveu uma não-ficção, com conhecimento de causa, e os “Civilizados” sabem disso.
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As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
James Baldwin
É provável que poucos escritores e pensadores tenham registros de uma obra ficcional a partir de atividades pessoais e tão complexas. Quando escreve sobre o que os civilizados fazem com os “não-civilizados“, Baldwin mostra uma pequena parte de sua vida. Desse modo, ele expõe em seus trabalhos, a realidade, nua e crua, da arte copiando da vida, literalmente.
James Arthur Baldwin (2 de agosto de 1924 – 1 de dezembro de 1987) foi um escritor americano. Teve ampla aclamação pelo seu trabalho em diversas formas, incluindo ensaios, romances, peças de teatro e poemas. Seu primeiro romance, Go Tell It on the Mountain, foi publicado em 1953; décadas depois, a revista Time incluiu o romance em sua lista dos 100 melhores romances em língua inglesa lançados de 1923 a 2005. Sua primeira coleção de ensaios, Notes of a Native Son, foi publicada em 1955. O trabalho de Baldwin transforma em ficção questões e dilemas pessoais fundamentais em meio a complexas pressões sociais e psicológicas. Temas como masculinidade, sexualidade, raça e classe entrelaçam-se para criar narrativas intrincadas que correm paralelamente a alguns dos principais movimentos políticos em direção à mudança social na América de meados do século XX, tais como o movimento pelos direitos civis e o movimento de libertação gay.
Fonte: Wikipedia (Inglês)
Os Civilizados
O advento da era digital trouxe consigo um cenário complexo e em constante evolução, moldando nossa sociedade de maneira profunda.
Desse modo, a termo “civilizados” adquire uma nova dimensão que, nem sempre, traduz a verdadeira acepção da palavra. Certamente, as tecnologias servem, aleatoriamente, para definir quem detém o privilégio da civilidade na inclusão digital. Entretanto, é crucial questionar o papel dos que se autoproclamam “civilizados” no mundo digital. Surpreendentemente, barbaridades reais tornam-se normais e perpetuam-se, pelos dedos dos civilizados.
Inquestionavelmente, esta discussão ressalta a necessidade de reflexão sobre a responsabilidade de todos, civilizados ou não. Por exemplo, qual a autoridade de alguém que é dono de uma rede social de milhões de usuários, dar prerrogativas para quem paga mais? Como se não bastasse, qual o poder de capatazes digitais(1) e os limites que eles impõem para quem não “reza na cartilha deles“?
Civilização Digital
É irônico que a própria noção de civilização, deveria representar um avanço na sociedade em direção a valores como igualdade, justiça e empatia. O que vemos é, com toda a certeza, é a utilização de tecnologias para implementar a aprofundar a desigualdade social. Os avanços tecnológicos têm o potencial de elevar o padrão de vida e proporcionar oportunidades iguais para todos, em tese. Entretanto, a “real” é que, em muitos casos, essas ferramentas aumentam a divisão entre os “civilizados” e os “bárbaros”.
Um exemplo notório dessa divisão é a disparidade no acesso à tecnologia. Aqueles que se autodenominam “civilizados digitais” têm a capacidade de adquirir as últimas inovações tecnológicas e o melhor acesso. Por outro lado, os “bárbaros digitais” enfrentam barreiras econômicas e sociais para interagir no mundo digital. Essa exclusão digital perpetua e acentua as desigualdades, e normaliza a ideia de prerrogativas e mais privilégios para quem já tem.
Além disso, o mundo digital também esconde questões éticas e morais que desafiam a autoproclamada superioridade dos “civilizados”. A divulgação de notícias falsas e o discurso de ódio(2) são exemplos da promoção de desinformação e mentiras. Se bem que os “civilizados” adoram estes comportamentos, criando um ambiente prejudicial a qualquer coexistência pacífica.
Papo Reto
Uma coleção infinita de palavras ganham novas acepções com as redes sociais e mídias digitais. Podemos citar, por exemplo, cancelamento, normalização, mimimi e outras tantas. Todas, inquestionavelmente, buscam dar um ar de modernidade, mas com um viés de “civilidade” um tanto quanto hipócrita.
Assim sendo, outro aspecto importante na questão da civilidade é a invasão de privacidade decorrente de ações no mundo digital. Muitas vezes, os “civilizados digitais” têm acesso a vastos recursos de dados pessoais, que aplicam-se em fins nefastos. Podemos citar, por exemplo, a publicidade invasiva e específica ou manipulação e proselitismo(3) político. A confiança que as pessoas depositam nas empresas de tecnologia e em “gente de bem” destrói qualquer noção de civilização e respeito mútuo.
Por outro lado, é necessário ressaltar que os próprios “civilizados” não são imunes às barbaridades digitais que eles produzem. A cultura do cancelamento, por exemplo, é uma prática criminosa, na qual pessoas têm julgamento e condenação, sem direito à defesa. Os capatazes digitais das plataformas são verdadeiros fascistas digitais. E, certamente, não respeitam as pessoas por suas ações ou palavras passadas, não respeitam nada. Essa tendência de linchamento público online, prática de indivíduos que se consideram “civilizados”, é uma demonstração de ódio e intolerância.
A normalização das barbaridades no mundo digital não apenas elimina a possibilidade de coexistência entre divergentes. Como se não bastasse a polarização, estes comportamentos ameaçam a minha própria ideia de civilização.
Normalizações e Cancelamentos
Enfim, a civilização, em sua acepção básica, deveria ser um caminho em direção à compaixão, à justiça e à igualdade. Entretanto, quando os “civilizados digitais” se envolvem em comportamentos destrutivos tudo o mais sofre distorções e deturpações. Estamos numa espiral de violência e intolerância crescente no Brasil, que não dá sinais da existência de competência que resolva.
Diante disso, os que se consideram “civilizados” no mundo digital devem assumir responsabilidade por seus próprios comportamentos. Por outro lado, os que atuam com maior racionalidade, devem continuar lutando, ao invés de “abandonar o barco”.
É provável que as novas tecnologias nunca deixem de aprofundar divisões, divergências e normalizar barbaridades. Passou da hora de usar o potencial das TIC´s para promover valores mais nobres, honestos e imparciais. Isso inclui promover o acesso igualitário à tecnologia, combater a propagação da desinformação e do discurso de ódio e proteger a privacidade das pessoas.
Assim sendo, é fundamental que a sociedade reflita sobre a simbologia da civilidade no contexto digital. Uma civilização não deve ter definição pela tecnologia que alguém possui, mas sim pelo modo como cada pessoa ou grupo utilizam essa tecnologia. Se estas pessoas, raramente, contribuem positivamente para a sociedade e para o bem-estar comum, temos graves problemas civilizatórios.
Superioridade Nunca Mais
Por isso, devemos rejeitar a ideia de que deter uma ou outra tecnologia é um sinal de superioridade. Desta forma, poderemos focar nossos esforços na criação e manutenção de um ambiente digital promotor da inclusão, da igualdade e do respeito.
Em suma, o papel dos autoproclamados “civilizados” no mundo digital deve ter questionamento diuturno. Combater a normalização das barbáries e promover uma verdadeira civilização digital, sem dúvida, é imperativo. Os que se consideram “civilizados” ou ungidos que assumam a responsabilidade por suas ações e paguem pelos seus pecados digitais. É ilusão pensar que os “civilizados”, coaches, influencers trabalharão por um mundo digital mais justo, inclusivo e ético.
Estamos sendo derrotados, diariamente, por “7 a 1”.
“Os civilizados criaram os miseráveis, de forma bastante fria e deliberada, e não pretendem mudar o status quo; são responsáveis pelo seu massacre e escravização; fazer chover bombas sobre crianças indefesas sempre e onde quer que elas decidam que os seus “interesses vitais” estão ameaçados, e não se importam em torturar um homem até à morte: estas pessoas não devem ser levadas a sério quando falam da “santidade” da vida humana, ou a “consciência” do mundo civilizado.”
in The Devil Finds Work (1976)
(1) “As redes sociais e o capataz digital”
(2) “Entre sem bater – Mary Heaton Vorse – Filosofia de Ódio”
(3) “Entre sem bater – Pietro Ubaldi – O Proselitismo”
Imagem: Entre sem bater – James Baldwin – Os civilizados
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
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