Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. Alguns pensadores são ponto fora da curva, Homero com sua ideia de impossibilidade “Das Alianças” entre lobos e cordeiros, arrasou.
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Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Homero
A frase-chave deste texto está no Livro XXII onde Homero descreve um pensamento de “Aquiles para Heitor“. É provável que poucas pessoas na história da humanidade aproveitaram a leitura do que nos legou Homero. Confesso que não consegui ler longos trechos por um simples motivo: nossa imaginação enche-se de dilemas, dúvidas e certezas. Desse modo, resta-nos render homenagens a um dos maiores da humanidade com simples digressões de seus pensamentos.
Homero ( Hómēros; nascido, possivelmente, no século VIII a.C. ) foi um poeta grego que tem o crédito de ser o autor da Ilíada e da Odisséia, dois poemas épicos que são fundamentais obras da literatura grega antiga. O grande pensador e filósofo é considerado um dos autores mais reverenciados e influentes da história da humanidade.
Fonte: Wikipedia (Inglês)
Das Alianças
É provável que autores que vieram séculos depois de Homero experimentaram suas proposições e ideias em outros formatos. Entretanto, alguns de seus pensamentos têm aplicação direta na atualidade, sem reparos ou revisionismos. Por exemplo, se substituirmos homens por trabalhadores e leões por capitalistas, chegaremos à luta de classes, referência do socialismo(1).
Surpreendentemente, fabulistas como La Fontaine, poderiam ler uma simples frase de Homero, como a hipótese das alianças e criar uma “moral da estória”.
Lobos e Cordeiros
Numa vasta floresta, onde os sons da natureza das alianças ecoavam harmoniosamente, viviam lobos e cordeiros em territórios distintos.
Essas criaturas, apesar de diferentes em muitos aspectos, compartilhavam um desafio comum: a busca por compreensão mútua. Uma antiga profecia dizia que lobos e cordeiros nunca poderiam ter a mesma opinião, contudo isso não os impedia que tentassem.
No coração da floresta, havia uma clareira onde, não raramente, se encontravam lobos e cordeiros.
As reuniões aconteciam, surpreendentemente, em um ambiente de respeito, mas a divergência de ideias sempre prevalecia. Um dia, um lobo de nome Donald(*) e um cordeiro, o Isaac(*), resolveram desafiar a sabedoria convencional. Logo após uma rápida troca de ideias, decidiram explorar se era possível encontrar algum terreno comum.
Aquilo que nos une
Sentados sob uma grande árvore, Donald começou:
- “Isaac, compreendo que nossas naturezas são diferentes, mas será que não podemos encontrar uma base comum para construir entendimento?“
Isaac, com um olhar tranquilo, respondeu:
- “Donald, acredito que podemos discordar em muitas coisas, mas há algo fundamental que nos conecta: o desejo de viver em paz na floresta.”
Ao longo das estações, Donald e Isaac se encontraram regularmente para debaterem sobre diversos assuntos. Desse modo, conversaram sobre os desafios da convivência na floresta, os medos de cada um e as esperanças que nutriam para o futuro. No entanto, uma verdade inegável emergia: a opinião de lobos e cordeiros, apesar dos esforços, permanecia divergente.
Seres Humanos
Enquanto isso, na borda da floresta, os humanos observavam o exemplo de Donald e Isaac. A notícia das conversas entre lobos e cordeiros espalhou-se, e as redes sociais humanas ecoaram com opiniões falsas(2) e histéricas. Houve quem aplaudisse a tentativa de diálogo e quem condenasse. Por outro lado, os argumentos eram de que “… tudo não passa de uma afronta à natureza intrínseca das criaturas…”.
A história de Donald e Isaac tornou-se uma metáfora para a sociedade humana, que preferia a “normalidade” dos comportamentos.
Lobos e cordeiros representavam grupos com visões diferentes, enquanto a floresta podia simbolizar o espaço das redes sociais. A tentativa de diálogo entre eles refletia os esforços dos humanos para encontrar consenso em meio à diversidade de opiniões.
Assim sendo, as redes sociais, como a floresta na fábula, oferecem um terreno virtual onde diferentes perspectivas podem interagir.
Entretanto, a profecia da impossibilidade de lobos e cordeiros terem a mesma opinião persistia, ecoando na mente dos usuários.
Os debates, cheios de insanidade e hedonismo, continuavam, por causa das paixões, das convicções e das alianças impossíveis. Certamente, na fábula e na vida real, cada um pensa que a verdade reside em cada um dos pontos de vista opostos.
Nesse ínterim, Donald e Isaac, apesar das diferenças intransponíveis em suas opiniões, aprenderam a valorizar a diversidade. Reconheceram, enfim, que a floresta era grande o suficiente para abrigar lobos e cordeiros, cada um contribuindo para manter a riqueza do ecossistema.
Moral da história
A lição moral da fábula tornou-se clara quando, após muitos anos de diálogo entre Donald e Isaac. Sem dúvida, eles perceberam que, embora suas opiniões nunca pudessem convergir completamente, deviam respeitar e aprender uns com os outros. Eles compreenderam que a verdadeira harmonia residia na aceitação das diferenças e no reconhecimento de perspectivas diferentes.
Os humanos, entretanto, pareciam não absorver essa sabedoria animal, pois eram eles os racionais. As redes sociais continuavam a ser campos de batalha, onde lobos e cordeiros humanos travavam guerras virtuais. A profecia da impossibilidade das alianças entre diferentes grupos ressoava com mais força do que nunca.
E, deste modo, fez-se a polarização em todos os temas, futebol, política, religião. Esta polarização se apresentou como um verdadeiro Fla-Flu, analogamente à rivalidade futebolística carioca.
Ao observar a contínua discordância entre humanos online, Donald e Isaac decidiram compartilhar sua história.
A esperança era que, ao verem a história, os humanos pudessem encontrar inspiração para superar as barreiras ideológicas que os separavam.
Em uma mensagem conjunta, Donald e Isaac, apresentando-se como civilizados(3), expressaram:
“Assim como nós, vocês podem discordar, mas não deixem que as diferenças os impeçam de buscar entendimento. A floresta é vasta, e há espaço para todos. Respeitar as opiniões divergentes é o primeiro passo para construir uma comunidade virtual mais harmoniosa.“
Ouvidos Moucos
Certamente, as palavras de Donald e Isaac caíram em ouvidos moucos, comum em muitos humanos da atualidade. Humanos que imaginam-se multitarefas e não passam de monopensantes.
A floresta da Internet é inóspita, repleta de tumultos, onde as diferenças evidenciam-se mais do que nunca.
Assim, a fábula dos lobos, cordeiros e humanos nas redes sociais serve como um lembrete aterrorizante.
Mesmo que a busca por entendimento seja nobre, há casos em que as divergências são tão profundas que a harmonia se torna ilusória. Em um mundo virtual onde as opiniões são simples suposições, a utopia de uma convivência pacífica é inatingível.
A floresta digital, como a floresta da fábula, é vasta e cheia de vida, mas a profecia milenar de Homero sobrevive.
Em suma, cabe aos habitantes desses espaços decidir se desejam trilhar o caminho da compreensão mútua ou a discórdia. Enquanto isso, se cada grupo defende sua própria verdade, inexiste a possibilidade de convergência.
A escolha é de cada um e de todos, assim como a responsabilidade de moldar o futuro das redes sociais e das nossas vidas. Sejamos lobos ou cordeiros, devemos rejeitar o pensamento de rebanho ou de manada sem rumo.
O caminho que escolhemos e as coisas terríveis que fazemos, não nos permite pensar em qualquer convergência ou paz diante da filosofia do ódio(4).
P. S.
(*) Este texto é uma fábula, os nomes são fictícios e qualquer semelhança com humanos ou personagens reais, é mera força da alienação(5) mental. A ideia das alianças entre lobos e cordeiros é utopia enquanto existir a exploração do homem pelo homem.
(1) “Entre sem bater – Mala Yousafzai – Socialismo”
(2) “Entre sem bater – Joseph de Maistre – Opiniões Falsas”
(3) “Entre sem bater – James Baldwin – Civilizados”
(4) “Entre sem bater – Mary Heaton Vorse – Filosofia do Ódio”
(5) “Entre sem bater – Milton Santos – Força da Alienação”
Imagem: Entre sem Bater – Homero – Das Alianças
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
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