Entre sem bater - Cecília Meireles - Um Pouco Mais

Entre sem bater – Cecília Meireles – Um pouco mais

Entre sem Bater

Este é um texto da série “Entre sem bater” ( Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. Cecília Meireles era, com toda a certeza, uma educadora ímpar, talvez um “Pouco Mais” do que ela imaginava.

Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente.

As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.

Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.

Cecília Meireles

Raramente, somos exigentes conosco como somos com outras pessoas. Bons educadores, de qualquer gênero, deveriam pensar como Cecília Meireles em seu poema “Desenhos“. É provável que até ao reproduzirmos e escrevermos sobre este pensamento, alguém diga que somos arrogantes. Viva sermos um pouco mais !

Cecília Benevides de Carvalho Meireles ( 7 de novembro de 1901 – 9 de novembro de 1964) foi uma poetisa, professora, jornalista e  pintora brasileira. Foi, certamente, a primeira voz feminina de grande expressão na literatura brasileira, com mais de 50 obras publicadas. Natural do Rio de Janeiro, ela perdeu o pai poucos meses antes de seu nascimento e a mãe logo depois de completar 3 anos. Fez o curso primário na Escola Estácio de Sá, onde recebeu das mãos de Olavo Bilac a medalha de ouro por ter feito o curso com louvor e distinção. Em 1917 formou-se professora na Escola Normal do Rio de Janeiro, e passou a exercer o magistério em escolas oficiais daquele estado. Estudou música e línguas e lançou seu primeiro livro de poemas em 1919, com apenas 18 anos. “Espectros” tem 17 sonetos de temas históricos.

Fonte: e-biografia

Um Pouco Mais

É provável que, para muitas pessoas, a frase do poema “Desenhos” dê uma impressão errada sobre o que pensamos e como agimos. A leitura do poema é um requisito necessário para pensar e refletir sobre a frase-estrofe.

Inquestionavelmente, a frase-chave deste texto ressoa profundamente estranha num mundo moldado pelas redes sociais e mídias digitais. No cenário atual, onde a conectividade instantânea e a exposição pública se tornaram norma, é intrigante como essa citação aplica-se ironicamente.

Uma interação paradoxal entre a busca incessante por validação e a relutância em considerar nossas próprias falhas é a realidade. As redes sociais e ambientes virtuais potencializam essa antítese, evidenciando o contraste entre a projeção de perfeição e as feridas abertas(1).

Sem Esquadro

“… Sem esquadro, sem nível, sem fio de prumo,

traçarás perspectivas, projetarás estruturas …”

Vivemos na era da autopromoção digital, onde o compartilhamento seletivo de conquistas é uma prática quase ritualística. Contudo, por trás das fotos bem enquadradas e dos status repletos de realizações, esconde-se a insegurança de não responder às expectativas.

As redes sociais, por sua natureza, incentivam uma cultura de comparação constante. Perspectivas e estruturas nas quais a busca por curtidas e comentários transformam-se na obsessão pela validação pessoal. Esse comportamento é o contrário da primeira parte da frase-citação. A medida do nosso valor próprio sofre distorções pela necessidade de se enquadrar em padrões inatingíveis.

Paradoxalmente, o mesmo ambiente que impõem a perfeição também é palco de exposição da nossa vulnerabilidade, de maneira contraditória.

Postagens sobre fracassos, inseguranças e dificuldades emocionais seriam a narrativa autêntica, que não queremos projetar. Assim sendo, demonstramos que, em meio à busca por validação, não buscamos conexões reais. No entanto, a falta de esquadro e prumo não tem limites. Desse modo, reforça-se e repete-se, a dicotomia entre a exposição da imperfeição e a autopromoção estratégica surreal.

Hipocrisia Digital

A dinâmica dos julgamentos nas redes sociais também desempenha um papel crucial na amplificação dessa antítese. A facilidade do compartilhamento de informações, opiniões e comentários promovem um círculo vicioso de críticas e condenações. E, como se não bastasse, inexistem filtros para opiniões de segunda mão(2) ou informações falsas (fake news).

É notável como as pessoas sentem-se à vontade para apontar erros nos outros, ou compartilhar mentiras. Assim sendo, muitas vezes o contexto e fundamentação são menos importantes do que o elogio fácil. Reconhecer as próprias falhas, erros de comunicação e falsidades tornou-se comportamento raro.

Desse modo, contribui-se para um ambiente de hipocrisia digital amplo, onde o julgamento é rápido e implacável, mas a autocrítica é escassa.

Além disso, a polarização de opiniões falsas(3) e o diversionismo nas redes sociais reforça ainda mais essas contradições. As discussões muitas vezes se tornam campos de batalha virtuais, onde o objetivo não é o entendimento mútuo. Outrossim, vemos a intensificação da busca pela reafirmação das próprias opiniões e a desvalorização das opiniões alheias. Por isso, a racionalidade em nossos julgamentos é uma derivação direta da emoção e do impulso de defender nossa restrita visão de mundo.

A ideia de reconhecer que todos nós somos “um pouco menos do que pensávamos” fica obscura pelo desejo de vencer debates e mostrar superioridade intelectual.

Um pouco menos

É provável que, em algum momento, as redes sociais também destaquem a tendência humana de adesão ao comportamento antissocial. A busca por aprovação e pertencimento leva à conformidade com as opiniões dominantes, mesmo que contradiga a perspectiva pessoal. Isso cria um ambiente em que a individualidade leva ao subjugo em prol da conformidade e aceitação.

Sem dúvida, este hedonismo ou individualismo, provoca graves distorções naquilo que realmente somos.

Em suma, as redes sociais e mídias digitais, potencializam a possibilidade da antítese e do contraditório entre julgamentos alheios (#SQN). Surpreendentemente, a autopromoção estratégica, cria amplos espaços para narrativas específicas, frágeis, falsas e vulneráveis.

E, com toda a certeza, essa dualidade reflete a complexidade da natureza humana, que busca validação, ao mesmo tempo que deseja conexões amigáveis.

Se ouvíssemos bons conselhos(4), ao invés de opiniões falsas, seríamos um pouco menos cruéis para conosco.

Trabalho para sempre

Para transcender essa antítese e dilema, é crucial desenvolver uma consciência crítica em relação às dinâmicas das redes sociais. Infelizmente, as próprias redes sociais não atuam nesta direção. O registro dos padrões de julgamento e autopromoção que surgem nesses ambientes tem incentivo sem limites. E, como se não bastasse, aqueles que podiam fazer a crítica, afastam-se inexplicavelmente.

Enfim, somente ao abraçar nossa humanidade completa, com todas as suas falhas e acertos, entenderemos o significado das palavras no poema.

É provável que sejamos um pouco mais do que imaginamos, ou muito menos do que as redes sociais projetam. Explorar o potencial positivo dessas plataformas digitais pode, de fato, ajudar-nos a nos conhecer melhor. Entretanto, não podemos sucumbir às armadilhas da busca incessante por validação e conformidade.

“… Não te fatigues logo. Tens trabalho para toda a vida.

E nem para o teu sepulcro terás a medida certa…”

(1) “Entre sem bater – Lygia Fagundes Telles – Feridas Abertas

(2) “Entre sem bater – Mark Twain – Segunda Mão

(3) “Entre sem bater – Joseph de Maistre – Opiniões Falsas

(4) “Entre sem bater – Anne Frank – Bons Conselhos

 

Imagem: Entre sem bater – Cecília Meireles – Um Pouco Mais

Nota do Autor

Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.

  • Os textos de “Entre sem bater” são opinativos/informativos, inquestionavelmente com o objetivo de estimular a reflexão e o debate.
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