Entre sem bater - Spinoza - Ações Humanas

Entre sem bater – Baruch de Spinoza – Ações Humanas

Entre sem Bater

Este é um texto da série “Entre sem bater” ( Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. É provável que se ainda fosse vivo Spinoza ainda estaria trabalhando para entender as “Ações Humanas“.

Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente.

As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.

Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.

Baruch de Spinoza

Spinoza, se vivesse atualmente, estaria em regime de internação e isolamento, pelas suas ideias de compreender as ações humanas para não “zoar”. Por outro lado, suas percepções e tentativas de compreender o mundo, através das ações das pessoas, era louvável. As pessoas, com efeito, estão sendo expulsas de plataformas digitais e não de igrejas e religiões, como aconteceu com Spinoza. Enfim, a modinha do cancelamento está dizimando todas as possibilidades de debate e troca de ideias.

Baruch (deSpinoza ( 24 de novembro de 1632 – 21 de fevereiro de 1677 ) foi um filósofo de origem judaico-portuguesa, nascido em Amsterdã, República Holandesa. Conhecido principalmente pelo pseudônimo latinizado Benedictus de Spinoza. Um dos principais e seminais pensadores do Iluminismo, da crítica bíblica moderna, e do Racionalismo do século XVII. Criticou também inclusive concepções modernas de si mesmo e do universo. Ele passou a ser considerado “um dos filósofos mais importantes – e certamente o mais radical – do início do período moderno”. Inspirado pelo estoicismo, pelo racionalismo judaico, por Maquiavel, por Hobbes, por Descartes e por uma variedade de pensadores religiosos heterodoxos de sua época, Spinoza tornou-se uma importante figura filosófica da Idade de Ouro holandesa.

Fonte: Wikipedia (Inglês)

Ações Humanas

Em primeiro lugar, temos que combinar uma coisa simples, sem a qual é impossível prosseguir.

A biografia de Spinoza cita, dentre outras tantas, suas inspirações no pensamento filosófico:

  • Estoicismo
  • Racionalismo Judaico
  • Maquiavel
  • Descartes
  • Hobbes
  • Pensadores Religiosos Heterodoxos

Qualquer influencer de hoje em dia que ao menos citar estas influências, vira cinzas no Tik Tok, a não ser que faça uma dancinha. Em suma, por mais que existam pessoas ou até grupos com o propósito de debater ideias, a prevalência é falar mal das pessoas. Surpreendentemente, as ações humanas nas redes sociais não possuem, com raríssimas exceções, um mínimo de humanidade.

Como se não bastasse, a maioria dos “pensadores” dos 280 caracteres trabalham, ao contrário de Spinoza, para zombar, ridicularizar e execrar os humanos. Não sabem, a diferença entre seres humanos e ações humanas e, desse modo, não conseguem verbalizar coisas humanas.

Perturbações da Mente

Sobretudo após a explosão das redes sociais, a mente humana não tem limites, e Umberto Eco estava certo em seu diagnóstico. Como se não bastasse, estas mentes confusas dominarem as redes sociais, agora querem controlar um país(1). A mente humana é um território vasto e complexo, e as perturbações da mente estão à frente de todas as manifestações nas redes sociais.

Cada uma dessas perturbações desempenha um papel único na experiência humana, influenciando ações, relações e escolhas. Explorar essas perturbações oferece uma visão fascinante e perigosa das interações entre emoções e racionalidade. Sem dúvida, qualquer tentativa de trazer racionalidade junto a estas emoções é um “pé-de-briga“.

Inquestionavelmente, a pauta das redes sociais se move por paixões como:

    • o amor apaixonado
    • o ódio fervoroso
    • a raiva inflamada
    • a inveja corrosiva
    • a ambição incontrolável
    • a piedade hipócrita
    • os vícios debilitantes
    • o fanatismo religioso cego
    • os preconceitos arraigados

Assim sendo, explorar essas perturbações deveria ser uma oportunidade de compreender a complexidade da experiência humana. Desse modo, a busca por caminhos para um equilíbrio mental saudável seria possível, mas “não tá rolando“. E, como se não bastasse, as pessoas não se olham no espelho, e ignoram estes comportamentos (só os outros praticam desvios).

O amor apaixonado

O amor, inquestionavelmente, é uma das mais poderosas perturbações da mente, dilacera almas e imobiliza mentes. Ele floresce, de fato, em gestos simples de carinho e transcende em manifestações utópicas insanas. Contudo, o amor apaixonado também é o terreno mais fértil para dor, ciúmes e desespero.

Certamente, encontrar equilíbrio entre o amor e a autonomia mental é a chave para evitar que essa perturbação seja uma fonte de sofrimento. Sem bem que, esperar equilíbrio mental em tempos de crescentes feminicídios em nome do amor, de preconceitos e outros crimes, é impossível.

Ódio Fervoroso

Em primeiro lugar, esta palavra está na relação dos top 3 dos comportamentos humanos mais corrosivos e tóxicos. Como se não bastasse, é um sentimento que ninguém admite, só pratica.

Por isso, o ódio(2) é sombrio e destrutivo, corrompe os recantos da mente e obscurece a visão de qualquer ser humano. Em outras palavras, os ressentimentos profundos, alimentam ações humanas e perpetuam ciclos intermináveis ​​de conflitos. Desse modo, para romper esse ciclo qualquer esforço para compreender a origem do ódio é vital. Entretanto, transformar a destruição que o ódio provoca em mentes e corações saudáveis exige esforço além da capacidade de humanos.

Raiva Inflamada

É provável que esta seja a mais inofensiva das ações humanas que deterioram cérebros. Explico, a raiva, surpreendentemente, é uma atitude que varia muito em função da presença das pessoas. Atualmente, um grande problema vem dos “julgadores” de redes sociais que avaliam a pessoa por palavras. Por exemplo, se eu utilizar a palavra medíocre, qualquer interlocutor vestirá sua carapuça e vai “quantificar” a palavra.

A raiva é uma chama ardente nos cérebros, que pode ser uma decorrência natural de injustiças e frustrações. No entanto, quando fica fora de controle, expande-se e causa prejuízos nas relações pessoais e na própria saúde mental.

Aprender a gerenciar a raiva é uma arte e, surpreendentemente, as pessoas avaliam a raiva dos outros pela forma e não pelo conteúdo. É provável que profissionais especializados diriam para canalizar a raiva para ações construtivas e buscar a calma interior. Certamente, é um bom conselho, mas que não funciona nas redes sociais. Preservar o bem-estar emocional, saindo dos ambientes tóxicos das redes sociais é uma alternativa, só que é um equívoco.

Inveja Corrosiva

Com o propósito de tentar passar o pano para a inveja, algumas pessoas inventaram a tal da inveja boa. Vamos combinar que inveja “boa” é uma baita hipocrisia, ainda mais quando tem como objetivo curtidas e afins. A maioria destas ações humanas reprováveis tem alinhamento com os pecados capitais(3), e seus equivalentes no mundo digital.

A inveja, presente de forma avassaladora nas redes sociais, surge da comparação e do desejo pelo que os outros possuem. Consumir-se na inveja não apenas resulta em amargura e ressentimento, os efeitos são muito piores e perturbadores. Por outro lado, tentar transformar a inveja em motivação para o crescimento pessoal não é uma prática, nem nas redes sociais hipócritas. Acrescente-se que até uma ação de comemorar as conquistas alheias com inveja é uma espécie de perturbação corrosiva da mente.

Ambição Incontrolável

Algumas destas ações humanas são irmãs siamesas e até se confundem na definição, na identificação e até no processo de controle. Por exemplo, ambição e inveja são o que podemos definir como “unha e carne“, sem definirmos qual é causa, qual é efeito e vice-versa.

A ambição, força propulsora de conquistas, pode catapultar indivíduos a alcançar alturas impressionantes. No entanto, se não tiver como norte a honra, a ética e a empatia, resulta em atropelamentos morais e éticos. Encontrar o ponto de equilíbrio para que a ambição não se torne uma fonte de isolamento e desarmonia é inútil no mundo virtual.

Piedade Hipócrita

Eis que surge uma ação que pode parecer um “estranho no ninho” nesta relação maldita que vivemos na Era da Informação Digital. A  piedade ou caridade, é um falso eco da compaixão no coração humano.

Em outras palavras, aquele pessoa que fica piedoso e caridoso no final de ano ou somente em catástrofes humanitárias é hipócrita.

Embora existam muitas campanhas de caridade nas mídias digitais e tradicionais, esta piedade está mais para “comprar um lugar no céu“. O cara faz uma doação para o “Criança Esperança“, vai à missa ou culto e mata a esposa, “em nome de Jesus“. O exemplo da pastora Flordelis(4) parece não estar provocando nenhuma reação nas pessoas. Como se não bastasse, os advogados de homicida (dentre outros crimes) pedem sua soltura.

A ilusão e fantasia de sentir empatia instantânea diante do sofrimento alheio é a mola-mestra da piedade de ocasião. No entanto, se de forma excessiva, provoca uma exaustão emocional e à sensação de impotência, só nos praticantes reais. A piedade saudável, desse modo, é uma ação que traz sofrimento e dor, menos para os pregadores de púlpito e arrecadadores de fundos.

Vícios Debilitantes

Uma vez que algumas destas ações apresentam alguns pleonasmos, debilitantes para qualquer vício é lapidar. Alguém já viu algum vício que não seja prejudicial à saúde dos seres humanos? Posso afirmar, que alguns vícios são muito bons para a mente, mas assim como os remédios, o vício é um veneno, depende da dosagem.

Os vícios, são como âncoras sombrias da mente, e não importa a forma como entra em atividade em cada ser humano. Em outras palavras, seja por substâncias químicas, por comportamentos compulsivos ou fanatismo, é sempre um flagelo.

Os vícios oferecem, certamente, em um intervalo temporário finito, resultados maravilhosos. Entretanto, sua constrição é gradual, cruel e avassaladora, as recaídas só pioram a condição humana. Romper os grilhões dos vícios exige muito apoio de amigos ( vocês, das redes sociais, NÃO ! ) coragem e apoio. A batalha contra todos os vícios é árdua e, surpreendentemente, inibe a capacidade de escolha e independência mental.

Fanatismo Religioso cego

E, desse modo, caminhamos para mais uma ação humana que não precisaria de outros adjetivos. Sim, mais um pleonasmo redundante. Qualquer ação que tenha inserção das palavras fanatismo, religião, cegueira, dogmas, não pode ser algo humano, é animal, inumano.

O fanatismo religioso, quando se transforma em dogmas inflexíveis (outro pleonasmo!), obnubila a mente de maneira definitiva. Os fanáticos são, inquestionavelmente, inimigos da diversidade de pensamentos e perspectivas. Embora a fé, como no caso de Spinoza, proporcionou reflexões, atualmente a sua disseminação, corrói até o “tico e o teco” do fiel. O fanatismo religioso é, sem dúvida, a maior fonte de incitação de conflitos e alienação no planeta Terra. Uma abordagem mais aberta e respeitosa às crenças alheias inexiste e quem pratica religiões distintas está morrendo. Em suma, mitigar o fanatismo, permitindo um diálogo inter-religioso mais enriquecedor e pacífico é pura utopia, no Brasil e no mundo.

Preconceitos Arraigados

Desde que os brasileiros passaram a votar para o cargo de presidente, o país mudou muito em relação aos preconceitos. O preconceito sempre existiu no Brasil, na maioria dos casos é social, ou racial. Desde a redemocratização, castas preconceituosas ampliaram sua área de atuação e invadiram a Internet. Desse modo, os tipos de preconceitos aumentaram, e as autoridades têm dificuldades até para tipificar os crimes dos preconceituosos.

Sem dúvida, os preconceitos são o resultado de julgamentos apressados, ​estereótipos, formação cultural e má criação familiar. Preconceitos, de fato, perpetuam desigualdades e marginalizam grupos diversos. Com as redes sociais, é impossível as pessoas reconhecerem e confrontarem os próprios preconceitos. A normalização de ações preconceituosas (babás sofrem agressão física e moral, por serem babás) é indiscutível. Por outro lado, a luta por uma sociedade mais inclusiva expande-se numa velocidade menor do que o rancor dos preconceituosos. Inexiste a autoconsciência e disposição para aprender com as experiências que são diferentes de nós.

Paixões Humanas

É provável que os leitores que chegaram até aqui estejam entre dois extremos. As ações humanas com o componente paixão podem abrir as portas para o êxtase da reflexão ou para a beira do abismo. Todas as ações humanas que tiveram alguma abordagem até aqui, estão presentes nas redes sociais.

Das paixões e experiências, dizem os filósofos e estudiosos, nascem as descobertas científicas, as manifestações de arte e os julgamentos irracionais. As redes sociais enterraram de vez a possibilidade das pessoas se manifestarem livremente. O “policiamento” ao que dizem as pessoas, em contraposição a nossa opinião, está superando qualquer possibilidade de avanço.

Em suma, essas perturbações da mente revelam a gama de desafios emocionais e psicológicos que os seres humanos apresentam, instintivamente. Navegar por essas complexidades requer autodomínio, empatia e busca constante pelo equilíbrio entre emoções e racionalidade.

Coloco um desafio: de um a dez, para cada uma das ações humanas com citação aqui, qual a sua “nota” nas redes sociais? É provável que nem o mais “santo” leitor passe ileso por alguma, mesmo que ligeiramente

Ao contrário de Spinoza, trabalho cuidadosamente, para zombar e execrar estes seres inumanos que habitam as redes sociais. Não quero, nem em sonho, compreendê-los, pois suas ações são inconvenientemente inumanas. Desse modo, me esforço em continuar sendo humanista, numa cruzada quixotesca, que é mais difícil do que agradar as pessoas das redes sociais.

Seguimos firmes no combate à aparente relutância(5) das pessoas pensarem e agirem como humanos.

Perdemos !

 

(1) “Entre sem bater – Umberto Eco – Controlar um País

(2) “Ódio – um sentimento mesquinho

(3) “Pecados – As origens e o mundo digital”

(4) “Flordelis não é uma flor que se cheire

(5) “Entre sem bater – Douglas Adams – Aparente Relutância

 

Imagem: Entre sem bater – Baruch de Spinoza – Ações Humanas

Nota do Autor

Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.

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