Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. Os círculos de “Competência“, a que Charlie Munger sempre se referiu, estão sofrendo o ataque da incompetência ampla, geral e irrestrita.
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As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Charlie Munger
É provável que Charles Munger seja a pessoa mais idosa, ainda viva, que terá sua frase em destaque nesta trilha “Entre sem Bater“. Certamente, mais de 90 % das pessoas que lerem este texto, em qualquer tempo, não têm a mínima ideia de quem é Munger. Estes textos não são para falar dos autores das frases, nem criticá-los, mas que o Munger me lembra um certo Nestor Cerveró(1), é inquestionável. Surpreendentemente, não sei se classifico como competência ou incompetência as similitudes entre ambos.
Charles Thomas Munger (1 de janeiro de 1924 – 28 de novembro de 2023) foi um empresário, investidor e filantropo americano. Ele é vice-presidente da Berkshire Hathaway, conglomerado controlado por Warren Buffett; Buffett descreveu Munger como seu parceiro mais próximo e braço direito. Munger atuou como presidente da Wesco Financial Corporation de 1984 a 2011. Ele também é presidente do Daily Journal Corporation, com sede em Los Angeles, Califórnia, e diretor da Costco Wholesale Corporation. Munger é um republicano e forneceu as suas opiniões sobre uma série de temas políticos, incluindo as políticas da administração Trump. Munger afirma que “não é um republicano normal“, por exemplo, defendendo o “medicare for all” como uma solução para o sistema de saúde dos EUA. Aos 50 anos, após uma cirurgia fracassada de catarata que deixou seu olho esquerdo cego e teve, em seguida, seu olho esquerdo removido devido a fortes dores.
Fonte: Wikipedia (Inglês)
A Competência
Parafraseando, sem a devida vênia, o Cap. Nascimento e sua explicação de estratégia, digo que competência e incompetência são a mesma coisa.
… o conceito de competência, em latim competere, em grego na antagonisteí, em francês concourir … os senhores estão acompanhando?
vou pedir isso na prova … em inglês, to compete, em alemão in wettbewerb stehen, em italiano competere, em espanhol competir…
– senhor, tá ficando estranho pois não tenho competência para discernir competir de competição…
… Meu Deus, que falta que faz um conhecimento básico de radicais do latim e do grego…
Vou retomar meu raciocínio, … o conceito de competência, em latim competere, …
Um professor disse certa vez: “… é da repetição que advém conhecimento…“, contudo, quando erros e a ignorância se repetem, não é conhecimento.
Incompetência
Publiquei, anteriormente, nesta mesma trilha, uma frase e alguns pensamentos sobre incompetência(2) que deveriam suscitar muita reflexão. Entretanto, a maioria dos leitores não têm o hábito de refletirem um pouco além do texto da leitura e leituras fugazes dos textos acessórios.
Charlie Munger, surpreendentemente, é homem de confiança da família Buffett desde o século XX. Sem dúvida, teve a competência de enriquecer com o investidor com as maiores suspeitas de atos ilícitos. É provável que até mesmo a incompetência deles tenha se escondido atrás das vítimas de suas peripécias.
Desse modo, as aparências e interesses moldam aquilo que as pessoas atribuem a outras como competência ou incompetência.
Tomemos, por exemplo, a palavra(*) (que transformou-se em termo) e que adquire diversas acepções.
Existem centenas de pensadores que utilizam, com igual destreza, as palavras competência ou incompetência. Surpreendentemente, até a Bíblia(3), sem apresentar o termo competência, induz as pessoas a fazer suas ilações sobre o tema.
Portanto, aqui vamos nos restringir às áreas de conhecimento profissionais, e os abusos dos recrutadores de pessoas para trabalhos.
Competência Profissional
Com toda a certeza, alguns modismos são irritantes e se não fossem nossas necessidades, diríamos poucas e boas para recrutadores.
São vários os processos completamente fora de propósito nos modelos de recrutamento atuais, quais sejam:
- Automação na recepção de currículos;
- Proficiências das pessoas em idiomas diferentes;
- Obscurantismo e hipocrisia quanto a regras de inclusão e outras de caráter sociocomportamental;
- Falta de transparência nos requisitos obrigatórios e desejáveis, dentre outros.
Por isso, o número de currículos profissionais com qualificação, alimentam as lixeiras digitais, sem nenhum respeito.
A competência destes recrutadores possui alguma métrica que seja racional e honesta?
Incompetências profissionais
Sem dúvida, a busca por talentos é uma jornada complexa que, muitas vezes, se perde em um labirinto de processos de recrutamento. Como se não bastasse, longe de facilitar a identificação e integração de profissionais competentes, muitas vezes criam obstáculos.
É provável que os processos com referência acima sejam apenas algumas das armadilhas que minam a eficiência de qualquer recrutamento e seleção.
Desse modo, uma reflexão(4) destes labirintos e modernizações de recrutamento e seleção de pessoas merecem aprofundamento.
Eficiência ou Desumanização?
A automatização na recepção de currículos, embora destinada a otimizar o processo, transforma candidatos em meros conjuntos de palavras-chave.
O enfoque excessivo em algoritmos negligencia habilidades e experiências que não se encaixam “perfeitamente” nas palavras-chave da posição.
Competências cruciais, como habilidades interpessoais e criatividade, estão no limbo dos requisitos das plataformas digitais de recrutamento. Assim sendo, formam-se equipes em desequilíbrio e com deficiências evitáveis desde o recrutamento.
Idiomas: Uma Barreira Intransponível?
Embora a explosão da Internet e das redes sociais transformou, forçosamente, o inglês no “Esperanto” digital, deveria haver limites.
É compreensível que para muitas posições, funções e atividades profissionais, a questão de uma língua nativa excepcional é natural. Adicionalmente, a exigência de um ou dois idiomas muito além do básico, é crucial para diferenciar um candidato com melhor qualificação.
Por outro lado, a exigência desmedida de proficiência em idiomas, sem levar em conta a natureza real do trabalho, está sem controle.
Inquestionavelmente, a competência linguística é importante em muitas profissões, funções e atividades. Contudo, a imposição de qualidades linguísticas além do necessário exclui candidatos que contribuiriam muito para as empresas.
A diversidade linguística e cultural pode ser uma vantagem, ampliando a perspectiva organizacional, mas sem abusos e irracionalidades.
Utilizar, por exemplo, palavras como skill para substituir habilidades é um desrespeito profissional imenso.
Como se não bastasse, reproduzir palavras que têm equivalência no português, somente em inglês, é abuso e estupidez corporativa.
Obscurantismo e Hipocrisia
A falta de clareza e coerência nas regras sociocomportamentais cria uma barreira invisível, com expectativas ambíguas e subjetivas.
Por isso, muitas vezes contrata-se profissionais que se encaixam nas aparências(5), mas não nas necessidades reais da equipe ou da organização.
Plataformas e redes sociais são a representação máxima da hipocrisia, obscurantismo e aparências. Redes que deveriam ser somente de relações profissionais, como o LinkedIn, perderam-se nos descaminhos dos perfis da soberba. Assim sendo, processos de recrutamento que se pautam por validar ou não as pessoas através de perfis de redes sociais, estão “fazendo água“.
A transparência na comunicação sobre os valores e expectativas organizacionais, de parte a parte, é crucial para um recrutamento eficaz. Certamente, um alinhamento com a cultura da empresa contribuirá com qualidade para o crescimento de todas as partes.
Uma Armadilha
A falta de transparência nos requisitos obrigatórios e desejáveis contribui para a frustração tanto dos candidatos quanto das organizações.
Os candidatos perdem a coragem e o ânimo ao se depararem com exigências desconcertantes ou contraditórias. Por outro lado, as organizações atraem candidatos impróprios com determinadas culturas e hábitos.
A comunicação aberta e honesta sobre as expectativas e os requisitos, em mão dupla, é fundamental para evitar desentendimentos. Somente desta forma é possível construir uma relação de confiança desde o início.
Turnovers e Requalificação Desnecessária
A consequência direta dessas práticas de recrutamento e seleção impróprias é a elevação dos índices de turnover e a constante requalificação.
Em tempos modernos, as modinhas e nomes novos de coisas velhas estão no comando, parece que tem muita gente competente e enganadora. Em outras palavras, tornou-se comum ganhar dinheiro com certificações de coisas aparentemente novas, mas antigas. Quem era proficiente, por exemplo, em gestão da qualidade e normas ISO, agora tem que ter atualização. Estas “atualizações“, via de regra, não mudam nem 10% do conteúdo original, mas empresas e recrutadores insistem nos novos nomes e termos.
As organizações perdem talentos valiosos devido a processos de requalificação que não reconhecem habilidades essenciais e fundamentais. Desta forma, tornou-se comum focar em critérios de seleção e detalhes que não significam muito no contexto geral.
É como num determinado filme de Charlie Chaplin em que o especialista de apertar porcas num sentido, torna-se descartável. Simplesmente, porque alguém criou porcas que tem seu aperto no sentido contrário.
Enfim, o ciclo de contratação e treinamento contínuo torna-se oneroso. Desse modo, desvia-se recursos que deveriam ser para inovação e desenvolvimento, com a evolução das pessoas.
A Verdadeira Competência
Participei, desde que aderi a plataformas de recrutamento digitais, de algumas centenas de processos seletivos. Estas experiências são parte de um trabalho acadêmico que poderá ter uma apresentação formal em breve. É assustador a quantidade de processos em que as plataformas não respondem, nem com e-mail genéricos, que receberam o currículo. Como se não bastasse, o percentual de processos que demonstram respeito e indicam o que está acontecendo, é ínfimo. Com toda a certeza, a verdadeira competência está longe de passar pelos processos automáticos e imparciais.
Assim sendo, é imperativo que as organizações reavaliem e reformulem seus processos e abandonem práticas modernas e ineficazes.
O foco deve ser na verdadeira competência, na identificação de habilidades essenciais para cada função e posição. Adicionalmente, devem promover um ambiente inclusivo, que valorize a diversidade e o potencial de cada indivíduo, sem hipocrisia.
Certamente, a adoção de abordagens mais humanizadas, considerando as habilidades técnicas e as habilidades interpessoais, é fundamental. Por isso, é necessária uma revisão criteriosa dos requisitos, palavras, termos e conceitos de transparência nas expectativas das partes.
A proposta de entrevistas de qualidade, com o supervisor direto dos candidatos conduzindo-as é essencial. Desse modo, a análise cuidadosa das experiências anteriores fornece insights valiosos sobre a verdadeira competência de um candidato.
É necessário, adicionalmente, equilíbrio e equalização na utilização de estrangeirismos e termos técnicos “da moda”. Não raramente, um profissional que é muito bom em determinado conteúdo, utiliza palavrinhas estrangeiras para apresentar sua qualificação. Se, por um lado, ganha-se pontos na “primeira imagem”, a aparência pode subestimar a qualidade e capacidade.
Transformando Desafios em Oportunidades
Em um cenário de trabalho volátil, reconhecer a verdadeira competência é fundamental para o sucesso de qualquer organização. O trabalho no futuro(6), incluindo os processos de avaliação da competência, são pura incógnita.
Inquestionavelmente, nenhuma organização de uma MEI a uma multinacional com milhares de colaboradores, sobrevive sem ser competente. Com toda a certeza, existem aquelas organizações especialistas em abrigar farsantes, desde a base. Por outro lado, existem outras que são, em essência, a representação da incompetência ou do engodo. Estas sabem, sempre souberam lidar com os desafios e são especialistas e oportunistas. Os impostores(7) e a síndrome do impostor são uma realidade indiscutível e em plena evolução.
A superação dos desafios nos processos de recrutamento exige uma abordagem proativa e inovadora. Mais do que abandonar as práticas abusivas e retrógradas, deve-se pensar na equidade, na diversidade e no reconhecimento do potencial humano.
É provável que, ao atuar assim, as organizações não apenas atraiam os talentos de qualidade, mas também cultivem ideias inclusivas com respeito.
A competência real, não a imaginária das redes sociais, não apenas impulsiona o sucesso organizacional. Certamente, incentiva o desenvolvimento contínuo e o crescimento sustentável coletivo e dos indivíduos. Círculos de competência deveriam começar nos processos de recrutamento e seleção e na manutenção dos recursos humanos.
Círculo de competência
“Cada pessoa terá um círculo de competência. E será muito difícil avançar nesse círculo. Se eu tivesse que ganhar a vida como músico… Não consigo nem pensar em um nível baixo o suficiente para descrever para onde eu seria classificado se a música fosse o padrão de medição da civilização.
Então você tem que descobrir quais são suas próprias aptidões. Se você jogar jogos em que outras pessoas têm aptidões e você não, você perderá. E isso é tão certo quanto qualquer previsão que você possa fazer. Você tem que descobrir onde você tem vantagem. E você tem que jogar dentro do seu próprio círculo de competência.”
Charlie Munger – “Uma lição sobre sabedoria elementar e mundana no que se refere à gestão de investimentos e negócios.” Discurso na USC Business School (1994). (pág. 13 de 24).
Em suma, como na tentativa de esclarecer as diferenças da palavra competência, do termo e suas acepções, o caminho a percorrer é longo. Estamos num círculo vicioso e nada promissor para a sociedade da incompetência sobrepondo-se à competência. Infelizmente, profissionais, até competentes, preferem endeusar “Mungers” e “Buffetts” até para buscarem um lugarzinho ao sol. Sem dúvida, devemos questionar a competência de todas as pessoas, e que elas não levem para o lado pessoal. Certamente, misturar questões de competência profissional com as características pessoais é o começo do desentendimento e explicitação da incompetência.
Não tenho nada em comum com pessoas incompetentes que apontam seus dedinhos para esconder suas falhas e incompetência.
P. S.
(*) A princípio, uma palavra refere-se a unidades básicas de significado em uma língua. Por outro lado, um termo muitas vezes denota uma expressão em um contexto técnico ou específico. Uma mesma palavra, por exemplo competência, assume definições e acepções que podem variar. Desse modo, o termo em questão tem seu uso de maneira intercambiável dependendo do contexto.
Charlie Munger faleceu dez dias após a publicação deste texto. Sua biografia recebeu a inclusão da data de falecimento.
(1) “Nestor Cerveró – Wikipedia”
(2) “Entre sem bater – Lawrence J. Peter – Incompetência”
(3) “Bíblia – Competência”
(4) “Entre sem bater – Kobe Bryant – Reflexão”
(5) “Entre sem bater – Epicteto – As Aparências”
(6) “Entre sem bater – Doc Emmett Brown – Trabalho no Futuro”
(7) “Impostores em ação”
Imagem: Entre sem Bater – Charlie Munger – Competência
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
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