Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Niccolò Machiavelli foi um dos maiores estrategistas na arte da guerra, desse modo, era um especialista em detectar o “Inimigo“.
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As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Niccolò Machiavelli
Maquiavel era um pensador muito adiante da sua época e espaço geográfico. De suas ideias e concepções, surgiram os especialistas em política. Certamente, as frases do italiano estarão sempre presentes aqui nesta trilha. E não são poucas, notadamente, as que são verdadeiras lições de “Il Príncipe“.
Niccolò di Bernardo dei Machiavelli ou simplesmente Maquiavel ( 3 de maio de 1469 – 21 de junho de 1527 ), foi um diplomata, autor, filósofo e historiador italiano que viveu durante o Renascimento. Ele é mais conhecido por seu tratado político O Príncipe (Il Príncipe ), escrito por volta de 1513. A publicação de sua obra máxima ocorreu somente após a sua morte, em 1532. Machiavelli é frequentemente chamado de pai da filosofia política moderna e da ciência política. Foi por muitos anos um alto funcionário na República Florentina com responsabilidades em assuntos diplomáticos e militares. Ele escreveu comédias, canções de carnaval e poesia. Sua correspondência pessoal também é importante para historiadores e estudiosos da correspondência italiana. Trabalhou como secretário da Segunda Chancelaria da República de Florença de 1498 a 1512, quando os Médicis estavam fora do poder.
Fonte: Wikipedia (Inglês)
O Inimigo
Arte da Guerra
Em sua obra, homônima da obra de Sun Tzu, com ambas apresentando abordagem muito semelhante, Maquiavel analisa o inimigo com precisão. Aliás, é da precisão com que se identifica os reais inimigos é que vitórias sobre eles são possíveis.
Atualmente, podemos dizer que no Brasil o inimigo é outro, mal caráter e que, ainda bem, não bebeu nas fontes de Sun Tzu e Maquiavel. Desse modo, o Brasil, um ano atrás, um movimento em que o verdadeiro inimigo se escondeu, e colocou grupos de “patriotas” como bucha de canhão. Nesse ínterim, os homens ao redor(1) do inimigo golpista ainda estão no poder.
A polarização política(*) em uma nação cria um terreno fértil para teorias maquiavélicas que buscam minar a estabilidade democrática virar realidade. Por isso, a citação de Maquiavel sobre o sigilo destes atos ganha uma nova dimensão quando aplica-se à proposta de um golpe de Estado.
Vivemos, atualmente, os desdobramentos do empreendimento que fracassou, com consequências para a sociedade e o futuro político do país. Contudo, o inimigo está solto e, de certa forma, com seus representantes no Congresso Nacional e outras esferas e Poderes, livres e soltos.
Um Ambiente Bélico
Em uma nação com a polarização partidária-ideológica o inimigo real se esconde atrás da desinformação e do caos. Assim sendo, os cidadãos entendem que as diferenças ideológicas, econômicas e culturais são motivadoras da luta contra os conacionais que pensam diferente.
Desse modo, as premissas de Montesquieu(2), sobre a comunidade e o bem público, se rendem ao ambiente beligerante de uma nação.
As tensões políticas atingem níveis alarmantes, alimentando o desejo por mudanças radicais. Nesse cenário, os pseudomaquiavélicos e outros néscios exploram a polarização como uma vantagem. Desta forma, ocultaram e ocultam as suas verdadeiras intenções até que o golpe de Estado possa ter consecução.
O Golpe de Estado Maquiavélico
O empreendimento maquiavélico de um golpe de Estado bem-sucedido teria um meticuloso plano de ação. Contudo, o verdadeiro inimigo tem uma capacidade cognitiva inferior ao de muitos de seus seguidores. O planejamento nos bastidores manteve-se oculto dos olhares atentos da população e da oposição. Os conspiradores trabalharam nas sombras e nos porões, consolidando apoio entre grupos influentes, manipulando a opinião pública. Desse modo, através de redes sociais, Imaginaram minar a confiança nas instituições democráticas e fazer enforcamentos em praça pública.
O que este povo imaginou, que o inimigo era a nação e que os adversários se curvariam às redes sociais e suas fake news?
O Inimigo Pós-Golpe
O sucesso de um golpe de Estado exige que os maquiavélicos líderes identifiquem um inimigo para consolidar seu poder e justificar a tomada do controle. O inimigo deveria desempenhar um papel crucial na manutenção da coesão interna e na legitimação do novo regime. Desse modo, alguns candidatos a inimigos teriam que responder de acordo com o roteiro dos golpistas.
O Candidatos a Inimigos e/ou comparsas
- Oponentes Políticos: Os líderes do golpe poderiam designar como inimigos aqueles que eram ativos defensores da democracia e se opunham à usurpação do poder. Políticos, ativistas e figuras públicas que expressaram resistência à mudança de regime sofreriam perseguição ou deveriam se calar.
- Mídia Independente: A imprensa independente poderia ser alvo, pois sua capacidade de questionar e revelar a verdade representa uma ameaça à narrativa(3) dos golpistas. Jornalistas críticos poderiam sumir, e a liberdade de imprensa teria restrições, como forma de controle das informações.
- Grupos Minoritários: Em alguns casos, minorias étnicas, religiosas ou culturais devem se tornar o alvo, recaindo sobre elas a culpa pela falta de patriotismo(4). Esse tipo de estratégia desvia a atenção dos reais motivos do golpe e consolida o apoio de grupos majoritários.
- Inimigos Externos Fictícios: Para justificar a tomada de poder, os líderes golpistas inventam ameaças externas, retratando outros países como inimigos que desejam desestabilizar a nação. Isso serve para unir a população em torno de um inimigo comum e justificar medidas autoritárias. Déspotas tiranos, via de regra, utilizam este inimigo externo, de maneira fantasiosa, como o principal motivo para um golpe.
Consequências para a Sociedade
A identificação do inimigo após um golpe de Estado maquiavélico gera repercussões reais na sociedade. A perseguição aos opositores políticos, a restrição da liberdade de expressão(5) e a criação de inimigos internos levam a um clima de medo e repressão. A polarização, em vez de sofrer severa mitigação, aprofunda-se, alimentando o ressentimento e a desconfiança entre diferentes grupos.
Como se não bastasse, a economia poderia sofrer, pois a incerteza política afasta investidores e prejudica o desenvolvimento. A comunidade internacional, ao testemunhar o desrespeito pelos princípios democráticos, impõem sanções, isolando ainda mais o país. Desse modo, assim como experimentamos esta condição, países como Argentina estão se prejudicando globalmente.
Em suma, a aplicação da filosofia maquiavélica a um golpe de Estado, como no caso do Brasil, mostrou-se um desastre.
Uma nação com polarização estéril revela muitos perigos inerentes à manipulação política e à busca pelo poder a qualquer custo.
A identificação do inimigo pós-golpe não apenas destrói os valores democráticos, mas também fragmenta a sociedade, deixando cicatrizes duradouras.
O alerta é claro: o golpe a todo custo, como preconizado por Maquiavel, resulta em um alto preço para a nação. O golpe é contra a estabilidade, a liberdade e a coesão social, e não tem retorno.
“Amanhã tem mais …” O movimento de 8 de janeiro de 2023 teve como principal inimigo o povo brasileiro. Mas a maioria dos brasileiros não perceberam nada disso.
P. S.
(*) A polarização política nos últimos anos atingiu seu ápice no dia 8 de janeiro de 2023, um ano atrás, os verdadeiros inimigos continuam ocultos. Numa plataforma destas de perguntas e respostas, usuários fazem perguntas absurdas; Por exemplo: – Na sua opinião, por que a maioria das pessoas que são esquerda tratam aqueles que são contrários a sua orientação política como inimigos? Com toda a certeza, é por este tipo de ignorância que estamos retrocedendo a passos largos.
(1) “Entre sem bater – Niccolò Machiavelli – Homens ao Redor”
(2) “Revisitando Montesquieu no Século XXI”
(3) “Entre sem bater – Bernardin de St. Pierre – As Narrativas”
(4) “Entre sem bater – Vicente Toledano – O Patriotismo”
(5) “Entre sem bater – Benjamin Franklin – Liberdade de Expressão”
Imagem: Entre sem Bater – Niccolò Machiavelli – O Verdadeiro Inimigo
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
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