Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. O poder da “Era da Informação” começou, inquestionavelmente, muito antes do que Gilberto Dimenstein imaginava.
Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente. Uma adaptação textual, com redução, pode ter publicação em sites e outros blogs, como o “Recanto das Letras“.
As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Gilberto Dimenstein
Gilberto Dimenstein foi um profissional da mídia muito acima da média. É provável que se ele escrevesse sobre as entranhas do jornalismo nos brindasse com histórias memoráveis. Entretanto, a sua linha de atuação nos proporcionou outros tipos de percepções que o jornalista sempre acessa. Infelizmente, suas iniciativas perdem-se, cada vez mais, no tempo das modernas tecnologias.
Gilberto Dimenstein (28 de agosto de 1956 – 29 de maio de 2020) foi um jornalista brasileiro. Foi editor do Catraca Livre, apontado pelo Financial Times como uma das mais inspiradoras aplicações da tecnologia digital para o bem social. Dimenstein publicou diversos trabalhos sobre direitos humanos, de crianças e jovens, além de trabalhos sobre cidadania. Em 2011 foi Fellow da Advanced Leadership Initiative de Harvard, onde trabalhou em parceria com pesquisadores do Media Lab do MIT em um programa de Internet para ajudar cidades a se transformarem em comunidades de aprendizagem (Open City Labs, conhecido como “Catraca Livre“). Dimenstein iniciou sua carreira na Shalom, revista dedicada à comunidade judaica. Posteriormente, trabalhou em Veja, Jornal do Brasil, Correio Braziliense, Última Hora e CBN.
Fonte: Wikipedia (Inglês)
A Era da Informação
Na vastidão da era da informação, a velocidade é rainha e as mensagens instantâneas governam as interações sociais. Assim sendo, a cidadania e a participação democrática parecem sucumbiram à efemeridade do digital. Num mundo onde a troca de ideias se reduz a 280 caracteres, a reflexão sai de campo e entra o imediatismo dos comentários. E, desta forma, as oportunidades de debate e democracia se transformam num espetáculo fugaz, rasteiro, superficial e aviltante.
Pensamento
“Só existe opção quando se tem informação… Ninguém pode dizer que é livre para tomar o sorvete que quiser se conhecer apenas o sabor limão.” (Gilberto Dimenstein)
Cidadania e Democracia
A era da informação, com anúncios bombásticos de que “informação é poder“(*), acirrou o abismo entre os poderosos e os submissos. Por outro lado, democratizou a categoria de vassalos que antes era prerrogativa de jornalistas, com ou sem diploma. A categoria daqueles que se alinhavam com o profissionalismo de Dimenstein não existe mais.
Anteriormente, muito antes da criação dos canais de comunicação velozes e da Internet, a imprensa séria(1) já estava em franco declínio.
A cidadania, outrora sinônimo de engajamento ativo na sociedade, tornou-se muitas vezes uma presença virtual sem substância.
Em outras palavras, as opções de reflexão são abundantes nesta era da informação, mas as pessoas preferem se abster. Com toda a certeza, a maioria delas cedem às vorazes notificações incessantes, e são incapazes de aproveitar as oportunidades de conhecimento(2).
O espaço público, aberto e pretensamente democrático, que deveria ser um terreno fértil para o debate e a construção coletiva, inexiste. Transformou-se, inquestionavelmente, em um campo de batalha de mensagens fugazes, onde a brevidade e a polarização são determinantes.
Por isso, a democracia, que depende intrinsecamente da participação cidadã, sofre um golpe mortal nas plataformas digitais. As pessoas, em sua pressa de consumir informações de origem duvidosa, optam por ignorar as complexidades adjacentes e paralelas. A avalanche de postagens instantâneas e debates diversionistas tornou-se a norma inculta e bela.
Em suma, uma sociedade digital tornou-se a geração fast food – consome informações rapidamente, facilmente, mas sem nenhum nutriente intelectual.
Sociedade Moderna
A moderna sociedade fast food que deveria se apropriar da era da informação para mais conexões e mais diálogos se perdeu. Não raramente, nos deparamos com verdadeiras arenas de superficialidade, com milhões de seguidores e gente que adora curtir.
Desse modo, as mensagens instantâneas que se perdem em segundos, como fogos de artifício, não permitem que as ideias amadureçam. Por outro lado, as opiniões, mesmo as falsas e sem fundamentação, ganham notoriedade, dependendo da subcelebridade que comete o crime.
Enfim, a atenção dos usuários de redes sociais não tem foco, adota múltiplas direções, e não consegue sustentar um debate robusto e construtivo.
A sociedade contemporânea, ávida pela novidade e carente de aceitação, desconsidera, solenemente, o valor da reflexão mínima. As opções de participação democrática existem, mas a preferência recai sobre o que é raso e imediatamente gratificante. O cidadão digital, diante de uma enxurrada de informações, se rende à comodidade do rasteiro e superficial.
Informação Fugaz
A instantaneidade das interações digitais contribui, desse modo, para uma cultura de descarte rápido. A atenção divide-se entre inúmeras notificações e atualizações, sem a possibilidade de aprofundamento em qualquer questão. E, com efeito, a maioria das pessoas acredita que conhece tudo, domina qualquer assunto e presta atenção em coisas importantes. #SQN!
Essa fuga constante da profundidade prejudica a capacidade das pessoas em lidar efetivamente com desafios persistentes. Dessa forma, a compreensão e resolução de temas, que demandam tempo e comprometimento, não conseguem se estabelecer.
O desdém pelas opções de reflexão amplia-se nas bolhas de informação que as redes sociais criam. As pessoas têm exposição frequente apenas às perspectivas alinhadas às suas próprias crenças. Desse modo, reforça-se muitos preconceitos e impedindo um entendimento mais amplo das complexidades sociais. A democracia, que floresce na diversidade de ideias e na habilidade de considerar diferentes pontos de vista, enfraquece nas redes sociais.
Cidadão Digital Efêmero
A partir do descarte rápido das informações e da pouca ou nenhuma seletividade, cresce o rebanho de cidadãos digitais efêmeros.
Por outro lado, é imperativo reconhecer que as ferramentas e plataformas digitais, por si só, não são responsáveis por isso tudo. Uma vez que as escolhas individuais, num livre arbítrio falacioso, apresentam-se para todos os usuários de plataformas, a situação agrava-se.
Este cidadão digital efêmero, muitas vezes sob pressão social e de recompensas instantâneas, menospreza todas as opções para reflexão. É muito comum, sem dúvida, cada pessoa compartilhar uma mentira antes de refletir até sobre a veracidade da informação da mesma. A sociedade, imersa na cultura do imediatismo, sequer questiona a validade de trocar a qualidade pela rapidez, a substância pela efemeridade.
Em meio a esse cenário, há uma necessidade urgente de revalorizar a cidadania e a participação consciente. As opções de reflexão devem ter sua defesa incondicional, mesmo que isso signifique uma desaceleração dos dedos. Portanto, devemos lembrar que a verdadeira força de uma democracia reside na capacidade de seus cidadãos pensarem e refletir.
Devemos questionar o status quo, a tudo e a todos, especialmente a imprensa cínica(3) e todos os tipos de coaches(4) e influenciadores.
A cidadania na era da informação não deve ter uma medição pela fugacidade das mensagens instantâneas. Outrossim, deve ter uma mensuração pela profundidade do engajamento e pela qualidade do diálogo, para não sucumbir. Certamente, é tempo de romper com a superficialidade e este novo normal dos néscios. Devemos incentivar uma cultura de reflexão e participação que permita que a democracia floresça em meio às complexidades do século XXI.
“Amanhã tem mais …“
P. S.
(*) Embora tenha sua disseminação mais efetiva no final do Século XX, a expressão “informação é poder” remonta pensadores e filósofos da Idade Média.
(1) “Entre sem bater – Juca Chaves – Imprensa Séria”
(2) “Entre sem bater – John Locke – O Conhecimento”
(3) “Entre sem bater – Joseph Pulitzer – Imprensa Cínica”
(4) “Entre sem bater – Jairo Bouer – Os Coaches”
Imagem: Entre sem Bater – Gilberto Dimenstein – A Era da Informação
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
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