Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. O Barão de Itararé nunca poderia imaginar como sua frase sobre o “Voto Secreto” seria perturbadora para os neófitos na política.
Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente. Uma adaptação textual, com redução, pode ter publicação em sites e outros blogs, como o “Recanto das Letras“.
As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Barão de Itararé
O autor de uma publicação com título “Máximas e Mínimas” não pode, em hipótese nenhuma, deixar de ter o destaque que merece. Suas frases estão, inegavelmente, na pauta da proposta de “Entre sem bater”, e são a nossa ironia inspiradora. Ao analisar ou escrever, atualmente, sobre qualquer frase é preciso refletir e fazer relacionamentos com estes tempos estranhos. É provável que o “Barão” nem imaginava algo como a Internet, senão estaria muito à vontade com suas críticas.
Aparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, também conhecido por Apporelly e pelo falso título de nobreza de Barão de Itararé (Rio Grande, 29 de janeiro de 1895 — Rio de Janeiro, 27 de novembro de 1971), foi um jornalista, escritor e pioneiro no humorismo político brasileiro. Torelly nasceu em Rio Grande, estudou em um internato jesuíta em São Leopoldo (RS) e cursou medicina, antes de abandonar o curso. Em 1925, Torelly mudou-se para o Rio de Janeiro, onde escreveu para diversos jornais, como O Globo e A Manhã onde publicou peças humorísticas, zombando dos políticos da época. Torelly deixaria A Manhã em 1926, fundando o seu próprio jornal de humor, A Manha (um trocadilho com o primeiro trabalho anterior. Foi membro do Partido Comunista Brasileiro. Foi preso pela ditadura em 1935 por causa de seus vínculos com o partido e libertado um ano depois. Quando o partido recuperou a legalidade, em 1947, Torelly concorreu a vereador nas eleições municipais do Rio de Janeiro. Durante a Revolução de 1930, espalhou-se o boato de que seria travada uma batalha na cidade de Itararé entre as tropas federais leais ao presidente Washington Luís e as tropas de Getúlio Vargas. A batalha não aconteceu e foi alcançado um acordo entre os dois grupos. Então Torelly adotou seu título de nobreza, em homenagem a uma batalha que nunca aconteceu, a Batalha de Itararé.
Fonte: Wikipedia (Inglês)
Voto Secreto
Inquestionavelmente, as frases do Barão(*) são ótimas para qualquer debate, sem contar que podemos usá-las para posições antagônicas. Por exemplo, já escrevi muito sobre o voto e os mecanismos eleitorais no Brasil. Desde que comecei a me politizar, o envolvimento foi grande, e sempre defendi o voto secreto. Entretanto, a minha ideia nem passava pelo contexto da frase do Barão. Sendo assim, abordei questões de segurança sobre a máquina de votar, voto utilitário e muito mais. Decerto, questionar o voto secreto, nem pensar.
Democracia Guiada
Ah, a democracia guiada, essa maravilhosa dança de hipocrisia, onde o segredo do voto tem mais proteção do que a identidade de um super-herói. Aparício Torelly, do alto de sua sabedoria, e sem máquina eletrônica de votar, defendeu o voto secreto em anos de chumbo. Certamente, o eleitor dos tempos de ditadura poderia ter vergonha ao votar num ditador. OPS ! Raramente (é ironia), uma verdadeira democracia constrói-se sobre a base sólida da vergonha alheia.
Esse fascinante mundo de eleições contemporâneas, onde o segredo do voto é tão importante como o caráter de muitos candidatos. De certo modo, muitos eleitores escolhem seus candidatos à sua imagem e semelhança. E alguns áulicos parecem acreditar que revelar em quem votaram é equivalente a confessar um crime hediondo.
Afinal, quem precisa de transparência e responsabilidade quando se pode ter a emocionante sensação de se esconder atrás de cortinas eleitorais?
Universo Paralelo
Nesse admirável universo paralelo digital, as fake news florescem como as mais exuberantes flores no jardim da desinformação. Por que se contentar em ter apenas o voto secreto quando se pode inventar histórias mirabolantes sobre a quebra do segredo do voto? É como um jogo de detetive do tipo “Mário Fofoca” ou de argentinos malucos invadindo nossa timeline. Como se não bastasse, em vez de desvendar mistérios e conscientizar eleitores, estes personagens criam enredos dignos de distopias tirânicas.
A ironia da frase-chave atinge seu ápice quando nos deparamos com eleitores que clamam pelo segredo do voto e pela ditadura. Nesse ínterim, compartilham teorias conspiratórias sobre como seus votos sofrem transferências mágicas.
Afinal, nada como um bom paradoxo para temperar a democracia guiada e o universo em desencanto deste povo, não é mesmo?
Hipocrisia Digital
A sociedade moderna, de tantos avanços tecnológicos, parece flertar com a hipocrisia e a estultice quando se trata de um ato sagrado: votar.
É como um ritual místico, onde as pessoas depositam suas escolhas na urna eletrônica, uma maravilha da ciência moderna. Surpreendentemente, logo em seguida, proclamam a todo vapor que ninguém, absolutamente ninguém, deve saber em quem votaram. Certamente, nas redes sociais e grupos que eles participam, não haverá nenhum indicador de seus políticos de estimação. É quase como um jogo de esconde-esconde, só que com votos e egos em êxtase num mundo sem privacidade.
Este povo pensa que todo mundo sofre da idiotia(2) que reina no país.
Sistemas Eleitorais
Sistemas eleitorais no Brasil são, desde 1500, obscurantistas(3). e as questões mais controversas nunca passaram perto do voto secreto e obrigatório.
E como seria possível esquecer os líderes políticos ao afirmarem que a divulgação do voto é uma afronta à democracia? Com toda a certeza, é porque a verdadeira essência da democracia reside na capacidade de afirmar categoricamente que você votou. Entretanto, jamais devemos revelar para quem demos nossos votos, assim não morremos de arrependimento.
Então, aqui estamos nós, imersos nesse mundo onde o segredo do voto é mais valioso do que ouro e diamantes. Um espaço onde a ironia é o prato principal em um banquete de contradições democráticas. E se o seu candidato sofreu aquela derrota é fácil, alimente a farsa do terceiro turno(4) ou defenda um golpe de Estado.
Afinal, como poderíamos sobreviver sem a emoção de esconder nossas escolhas políticas e alimentar as chamas da desinformação?
Que a democracia continue sendo esse espetáculo surreal, onde o segredo do voto é mais essencial do que qualquer outra verdade. Onde as pessoas não tenham vergonha de atacar outras com mentiras, mas não reconheçam uma derrota eleitoral.
Afinal, quem precisa de transparência quando se pode ter uma boa dose de mistério e um toque generoso de ironia?
“Amanhã tem mais …”
P. S.
(*) O Barão de Itararé é o patrono máximo da trilha “Entre sem bater” e de todas as iniciativas do voto secreto.
(1) “Voto Utilitário – Eleitor Nulo“
(2) “Idiotia – Um conceito que não assimilamos“
(3) “Sistemas Eleitorais Obscurantistas“
(4) “A farsa do terceiro turno“
Imagem: Entre sem Bater – Barão de Itararé – O Voto Secreto
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
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