Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Luigi Pirandello acerta em cheio quando, surpreendentemente, fala do nosso grande defeito de sempre colocar a “Culpa” nos outros.
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As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Luigi Pirandello
É provável que Pirandello, se vivesse atualmente, sofreria com a crucificação por algumas de suas ideias no seu teatro e dramaturgia. Por outro lado, poderia ensinar muitas coisas para as pessoas no mundo inteiro. Em outras palavras, ele que seria um dos precursores do teatro do absurdo, estaria à vontade com as distopias da atualidade.
Luigi Pirandello (28 de junho de 1867 – 10 de dezembro de 1936) foi um dramaturgo, romancista, poeta e contista italiano cujas maiores contribuições foram suas peças teatrais. Ele recebeu o Prêmio Nobel de Literatura de 1934 por “seu poder quase mágico de transformar a análise psicológica em um bom teatro”. As obras de Pirandello incluem romances, centenas de contos e cerca de 40 peças, algumas das quais escritas em siciliano. As trágicas farsas de Pirandello são frequentemente vistas como precursoras do Teatro do Absurdo.
Fonte: Wikipedia (Inglês)
A Culpa
Eventualmente, temos que escrever algumas coisas que levam muitas pessoas (leitores) a se manifestarem até de forma agressiva. Uma delas é quando fazemos afirmações que cabem como uma carapuça no tamanho do leitor e eles a vestem. Desse modo, lá vamos nós para uma afirmação que é a mais pura verdade e que os pobres de espírito(1) não aceitam.
- A palavra culpa é típica de pessoas com forte ligações a diversas religiões, e tem utilização banal para fugir da responsabilidade objetiva.
Vejamos, por exemplo, como alguns representantes de várias religiões e crenças(*) falam da culpa:
O Ateu, sim, ele também, culpa o caos do universo;
Os Católicos afirma que a culpa é do demônio;
O Espírita identifica que a culpa é do obsessor;
Espiritualistas (não confundir com o Espírita) culpa sempre os astros;
O Evangélico vê o inimigo como o principal culpado, mas aponta para o demônio e outros;
O Materialista sempre coloca a culpa no outro, seja ele materialista ou não;
Os Umbandistas a culpa é do trabalho que outros fizeram.
Com toda a certeza, todos os que representam as crenças das frases acima vão preferir atacar a pessoa, a refutar a ideia. Assim sendo, passaremos a parte que falamos sobre a responsabilidade das pessoas e como justifica-se esta opinião “normal”.
Responsabilidade
Buscando no dicionário temos que, afora nas questões religiosas, a palavra culpa quer dizer responsabilidade. Assim sendo, somente quando questões subjetivas, opiniões tendenciosas e psicológicas, cabe a palavra culpa. É muito fácil constatarmos a destruição da verdade(1) através da ideia religiosa de responsabilidade e culpabilidade.
Por isso, não seria fora de propósito termos uma visão de sabedoria sobre o termo.
“Há uma grande chance da culpa ser sua, das suas escolhas, dos seus pecados, e quando a conta chega, não adianta arguir a religião.”
Fardo ou Fuga?
O conceito permeia diversas religiões, assumindo um papel central na dinâmica de fé e penitência. No entanto, devemos analisar criticamente essa noção, cuja disseminação e aceitação tornou-se “normal” no mundo. Devemos questionar se esta proposição contribui para a construção de alguma sociedade justa e compassiva.
A culpa, enquanto ferramenta de manipulação religiosa, se torna um fardo prejudicial, alienando o indivíduo de suas responsabilidades. Em outras palavras, cria-se uma falsa sensação de expiação que se resolve com penitências e dízimos. Ao invés de estimular a reflexão crítica e a mudança de comportamento, essa ação religiosa leva à passividade e à autoflagelação. Desse modo, constatamos, no mundo inteiro, um impedimento ao verdadeiro crescimento moral.
Ao analisarmos a história, encontramos exemplos de como a culpa foi um instrumento de controle social e dominação. A ideia de que somos pecadores natos, com destino à condenação eterna, serviu para justificar a opressão e a desigualdade. A ideia de purgatório serviu para o cristianismo, por exemplo, ampliar seus recursos com pagamentos de absolvições.
Fala sério!, purgatório?
A individualização das responsabilidades obscurece as raízes estruturais dos problemas sociais. Desta forma, eximem de responsabilidade aqueles que detêm o poder da pregação e perpetuam dogmas e crenças.
Controle e Manipulação
Certamente, em se tratando de dogmas, crenças e religiões, em quase todos os casos, a utilização é para controle e manipulação.
Em vez de nos submetermos a dogmas religiosos, deveríamos questionar as estruturas que geram sofrimento e desigualdade. Se, identificarmos essas ferramentas de controle, poderíamos direcionar nossa energia para a transformação social e a busca por justiça.
Fuga da responsabilidade
A fuga da responsabilidade objetiva e as compensações religiosas para a culpa, alinham-se com atitudes insanas como, por exemplo:
- Desumanização: Ao internalizar a culpa por problemas sociais, desumanizamos as vítimas e ignoramos as causas estruturais da miséria. Ações de caridade ou oferendas são apenas pagamento por omissões que não revertem em benefícios para os outros. A culpa individual obscurece a responsabilidade das elites pela pobreza, fome, violência e outros males sociais.
- Passividade: Do ponto de vista religioso, culpar os outros nos leva à passividade. Assim sendo, leva o indivíduo a acreditar que sua única opção é o arrependimento e a penitência. Este arrependimento, e a busca do perdão divino, normalmente com alguma doação financeira é uma crueldade. Essa passividade impede qualquer ação política e social, fundamental para a transformação da realidade.
- Autoflagelação: Em casos extremos, como vemos em várias religiões, a culpa leva à autoflagelação, tanto física quanto emocional. Desse modo, observamos a dor e o sofrimento desnecessário, que impedem o desenvolvimento da autoestima e do amor próprio.
- Manipulação: Os líderes religiosos e políticos, na maioria dos casos, usam estas condições para manipular e controlar as massas. Através do medo do inferno e da punição divina, indivíduos se submetem a dogmas e regras que beneficiam os pregadores e poderosos.
Construindo Alternativas
É provável que em quase todos os setores da nossa sociedade, a construção de alternativas às misérias da manipulação, não tenham respostas. Por isso, cada item que construa alternativas deve ter uma aplicação em função do grupo social alvo da construção. São dezenas de ações, algumas demandam muito trabalho coletivo, mas podemos citar algumas:
- Consciência crítica: Certamente, é fundamental desenvolver uma consciência crítica que questione as motivações das mentes submissas. Em primeiro lugar, devemos identificar as raízes da culpa e os responsáveis pelas mazelas sociais.
- Responsabilidade social: Ao invés de internalizar a culpa, devemos assumir a responsabilidade por nossas ações. Autocrítica é essencial e depois, devemos buscar soluções para os problemas que nos cercam, com a ajuda de outros comuns.
- Ação transformadora: A culpabilidade não deve nos paralisar, mas sim motivar a ação transformadora. Através de ações sociais da luta comunitária, é possível lutar por resultados efetivamente coletivos e que mostrem evolução.
- Compaixão e autocuidado: A compaixão por si mesmo e pelos outros é essencial para superar a culpa e construir relações saudáveis. O autocuidado é fundamental para fortalecer a autoestima e a capacidade de lidar com os desafios da vida.
Mea Culpa
Enfim, a culpa pode ser, e na maioria dos casos é, um instrumento de dominação e sofrimento. Sempre devemos questionar essa noção e buscar alternativas que promovam a responsabilidade social e a ação transformadora. Ao libertarmo-nos do fardo da culpa, podemos construir uma sociedade mais justa e fraterna.
Desse modo, sempre devemos ter em mente que:
- Admitir a culpa individual e se penitenciar nunca resolve problemas sociais e coletivos.
- Questione sempre as estruturas que geram sofrimento, dominação e desigualdade.
- A transformação social através da ação política e da luta por justiça deve estar em todas as pautas do ativismo individual.
- A compaixão e empatia são sentimentos nobres, seja por si mesmo ou pelos outros, mas não existem sem ação proativa.
- O fardo da culpa é uma falácia, arma dos manipuladores religiosos, e nada possui de autêntico e significativo.
Com toda a certeza, achar culpados(3) para tudo é típico daqueles que, atrás de suas crenças, gostam de apontar dedinhos sujos para os outros.
“Amanhã tem mais …”
P. S.
(*) A relação obedeceu uma ordem alfabética, para não me culparem de ser tendencioso.
(1) “Entre sem bater – Eduardo Marinho – Pobres de Espírito“
(2) “Entre sem bater – Bill Clinton – Destruição da Verdade“
(3) “De quem é culpa pela nossa situação?“
Imagem: Entre sem Bater – Luigi Pirandello – A Culpa
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
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