Entre sem bater - Felipe Nunes - Princípio Ativo

Entre sem bater – Felipe Nunes – Princípio Ativo

Entre sem Bater

Este é um texto da série “Entre sem bater” ( Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Raramente, podemos ouvir uma expressão pouco usual, como é “Princípio Ativo“, que Felipe Nunes usou, ter uma aplicação tão correta.

Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente. Uma adaptação textual, com redução, pode ter publicação em sites e outros blogs, como o “Recanto das Letras“.

As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.

Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.

Felipe Nunes

O pesquisador Felipe Nunes, inquestionavelmente, possui cabedal para falar, escrever e demonstrar os resultados das fake news na política atual. Desse modo, quando ele arguiu a expressão princípio ativo, o faz de maneira brilhante. Surpreendentemente, em uma breve entrevista, ele expõe o que podemos chamar de equívoco dos analistas sociopolíticos. É provável que a maioria destes analistas e compartilhadores de mentiras nem saibam do que ele está falando.

Felipe Nunes é professor de Ciência Política da UFMG e fundador da Quaest Polls and Strategy. Ph.D. em ciências políticas pela Universidade da Califórnia, Los Angeles (UCLA), com mestrado. licenciatura em estatística e análise de dados. Cientista social com formação quantitativa; especializado em métodos avançados de pesquisa, técnicas de pesquisa e análise de dados estatísticos. Atuou em campanhas políticas nacionais, estaduais e locais no Brasil. Interessa e atua em pesquisas e estudos comparativos de instituições políticas, comportamento político, na política distributiva dos sistemas presidencialistas na América Latina e em métodos de pesquisa para ciências sociais.

Fonte: LinkedIn

Princípio Ativo

Em primeiro lugar, é necessário destacar que, na maioria dos canais da mídia, entrevistadores têm qualificação muito abaixo de quem responde perguntas. Uma destas entrevistas que ouvi, até sem muita expectativa, muita coisa me chamou a atenção. A pequena frase-chave deste texto é, primordialmente, o que de mais rico obtive em todo o programa.

A definição a seguir teve uma apropriação fantástica para o mundo moderno e as redes sociais. Analogamente, o que alguns especialistas conhecem como princípio ativo dos fármacos, merece ter uma acepção adicional nos dicionários.

Princípio ativo é a substância que deverá exercer efeito farmacológico. Um medicamento, alimento ou planta pode ter diversas substâncias em sua composição, porém somente uma ou algumas destas conseguirão ter ação no organismo. Ainda em relação aos medicamentos, denomina-se fármaco o princípio ativo deste. Os princípios ativos são classificados em função de vários aspectos, como: classe química, classe terapêutica, alvo molecular ou especificidade.

Fonte: Wikipedia (Português)

Sendo assim, podemos traduzir a ideia do Felipe Nunes de que as fake news são um princípio ativo poderoso, como:

Fake News é a substância que exerce um efeito psiquiátrico no cérebro com baixa capacidade cognitiva. É como um alimento para espaços vazios no cérebro, que tornam-se virais à medida que o compartilhamento(1) cresce. Como se não bastasse, possui o poder de atuar na classe química e molecular de cada neurônio, com propriedade até hipnotizantes.

A Engrenagem da Desinformação

A frase-chave elucida o mecanismo e objetivo principal na proliferação de notícias falsas. Ao contrário do que se imagina, a finalidade das fake news não é convencer o público de sua veracidade. Entretanto, atende perfeitamente à proposta de mobilizar aqueles que acreditam nas tais informações.

Desta forma, essas iscas criminosas, atraem e engajam aqueles que compartilham de crenças e visões de mundo de bolhas específicas. Através de manchetes sensacionalistas, conteúdo emocional e meias verdades (ver onus probandi(2)), as fake news  vivem no mundo do FUD(*).

O círculo vicioso da mobilização

O ciclo repete-se, inegavelmente, numa velocidade assustadora e completamente sem controle. Desde que a criação se inicia e acende-se o pavio, não tem como interromper, voltar atrás ou corrigir.

  1. Criação: a criação tem como base um tema que gera polarização e apela às emoções de um público específico.
  2. Disseminação: Após a criação, o compartilhamento é rápido e eficaz nos teclados daqueles que defendem o texto.
  3. Reforço: O compartilhamento gera a falsa sensação de validação, reforçando as crenças pré-existentes do público disseminador.
  4. Desinformação: A repetição e o compartilhamento contribuem para a desinformação e a distorção da realidade. Assim sendo, torna-se impossível qualquer debate ou a apresentação e compreensão dos fatos ou versões contraditórias.
  5. Mobilização: A indignação e a polarização, desde que a disseminação expande-se, leva a ações concretas, como protestos, boicotes e atos de violência.

A facilidade com a qual este ciclo inicia-se, recrudesce a cada avanço de tecnologia, e os modelos de inteligência artificial provam essa teoria. O princípio ativo das mentiras não é convencer ninguém, é manter a todos num nível de mobilização típicas do diversionismo. Nesse ínterim, como disse um certo ex-ministro déspota, “… passamos a boiada …”.

A armadilha da polarização

As fake news se alimentam da polarização, prosperando em ambientes de ódio e rivalidade, onde ataques e antagonismos substituem qualquer diálogo. Ao invés de promover o debate e a reflexão crítica, ocorre o aprofundamento das divisões e criação de bolhas, onde apenas uma versão prevalece.

A importância do senso crítico

Combater a desinformação exige o desenvolvimento do senso crítico que a maioria dos grupos não permite. Embora seja fundamental questionar a origem das informações, quem tenta criticar ou questionar sofre expurgos imorais. Certamente, a ética orienta a confirmação da veracidade dos fatos, antes de compartilhar qualquer conteúdo, mas isso é um quase crime. A falta de uma educação andragógica(3) para o mundo digital e midiático provoca seus efeitos perversos. A aprendizagem de como checar informações parece ser um processo supérfluo nos equipamentos dos compartilhadores de mentiras.

Multiverso da Loucura

As eleições municipais deste ano são um prato cheio para estudos e pesquisas que Felipe Nunes e sua teoria do princípio ativo. O TSE vai fazer uma legislação que tentará coibir o caos que se avizinha. Legislação sem fiscalização e punições compatíveis é totalmente inócua, ainda mais nas redes sociais.

Os processos ilegais, imorais e aéticos que ocorrem, desde as eleições de 2014, não tiveram ninguém poderoso sofrendo sanções. Por outro lado, a proposta de anistia prossegue e nem os canalhas mais audaciosos temem o que afirmam nas redes sociais. Como se não bastasse, plataformas passaram a proteger perfis que fazem ameaças e caluniam outras pessoas por conta da política.

Assim como o ambiente tecnológico Multiverso funciona num mundo ou galáxia de bolhas, serão as nossas eleições em 2024. De um lado o TSE tentando colocar ordem e “fiscalizar” a disseminação do ódio e da mentira. Por outro lado, alguns poucos usuários tentam combater o princípio ativo da mobilização para inverdades.

E, surpreendentemente, no meio disso tudo, a maioria da população que não sabe o que faz com as novas tecnologias. Ou, por exemplo, alguns poucos imaginando que podem conter o tsunami da desinformação e a ignorância das polarizações.

Ao compreendermos que o objetivo das fake news é mobilizar e não convencer, podemos nos tornar mais resilientes à desinformação. O desenvolvimento do senso crítico e o diálogo construtivo são armas essenciais para combater a proliferação de mentiras.

Não se esqueçam

Enfim, só nos resta indicar alguma sugestões para que se pratique a cada segundo nas redes sociais:

  • Nem tudo que você lê online é verdade.
  • Verifique a fonte da informação antes de compartilhar.
  • Busque fontes confiáveis e imparciais.
  • Seja crítico com o conteúdo que você consome.
  • Ajude a combater a desinformação: não compartilhe mentiras ou até mesmo meias-verdades.

O multiverso da loucura chegou, ninguém quer mudar o pensamento de ninguém com fake news, só te mobilizar, acordem !

Amanhã tem mais” …

P. S.

(*) FUD, acrônimo do inglês Medo, Incerteza e Dúvida. Adicionalmente, despertam a indignação e a raiva, impulsionando o compartilhamento e a disseminação da mentira.

(1) “Entre sem bater – Leonard Nimoy – O Compartilhamento

(2) “Onus Probandi – Falácias e Sofismas

(3) “Entre Sem bater – Malcolm Knowles – Andragogia

Imagem: Entre sem Bater – Felipe Nunes  – Principio Ativo 

Nota do Autor

Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.

  • Os textos de “Entre sem bater” são opinativos/informativos, inquestionavelmente com o objetivo de estimular a reflexão e o debate.
  • Sugestões, indicações de erro e outros, uma vez que tenham o propósito de melhorar o conteúdo, são importantes. Basta enviar e-mail para pyxis at gmail.com, página do Facebook, associada a este Blog, ou perfil do Twitter, Threads, Koo etc.
  • Alguns textos sofreram revisão, outros ainda apresentam erros (inclusive ortográficos) e sofrerão correção à medida que se tornam erros graves (inclusive históricos).
  • Algumas passagens e citações podem parecer estranhas mas fazem parte ou referem-se a textos ainda inéditos.

Deixe um comentário