Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. A maioria das pessoas abandonou, com as redes sociais, inquestionavelmente, a “Argumentação” como Joseph Joubert descreveu.
Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente. Uma adaptação textual, com redução, pode ter publicação em sites e outros blogs, como o “Recanto das Letras“.
As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Joseph Joubert
Com toda a certeza, muitos dos pensamentos de Joubert eram aforismo e poderiam confundir a qualquer leitor em suas reflexões. Desse modo, muito daquilo que escreveu pode se unir a outras impressões de filósofos para termos a certeza que continuam presentes. Atualmente, a única diferença, principalmente com as ideias epicuristas, é que temos redes sociais para comprovar.
Joseph Joubert ( 6 de maio de 1754 em Montignac, Périgord – 4 de maio de 1824 em Paris) foi um moralista e ensaísta francês, lembrado hoje em grande parte por seus Pensées ( Pensamentos ). Joubert não publicou nada durante sua vida, mas escreveu um grande número de cartas e preencheu folhas de papel e pequenos cadernos com pensamentos sobre a natureza da existência humana, literatura e outros tópicos, em um estilo comovente e muitas vezes aforístico. Após sua morte, sua viúva confiou essas notas a Chateaubriand e, em 1838, ele publicou uma seleção intitulada “Recueil des pensées de M. Joubert” ( Pensamentos coletados do Sr. Joubert ). Aparentando pertencer à escola epicurista de filosofia, Joubert até valorizava seu próprio sofrimento frequente de problemas de saúde, pois acreditava que a doença conferia sutileza à alma. As obras de Joubert foram traduzidas para vários idiomas.
Fonte: Wikipedia (Inglês)
Argumentação
Anteriormente, nos séculos 17 e 18, a argumentação era uma arte com preservação e cuidados dos grandes pensadores. Figuras como Voltaire, Rousseau e Kant(*) usavam a razão e a lógica para construir argumentos sólidos e convincentes. Desse modo, buscavam a verdade através do debate e da discussão a partir de bases racionais e fundamentos sóbrios.
Naquela época, o acesso à informação tinha limites inimagináveis e poucos acessavam dados e informações. As ideias e o conhecimento se espalhavam lentamente, principalmente através de livros e panfletos. Os debates, quando aconteciam em fóruns públicos, como cafés e universidades, tinham pouca participação e intervenções. Por isso, as pessoas se reuniam para ouvir ideias e repercutir os grandes temas da época.
Por outro lado, atualmente, na era da informação temos um cenário totalmente diferente. O acesso à informação é instantâneo, sem limites e, surpreendentemente, de uso precário pelas pessoas. A Internet, as redes sociais e outras tecnologias nos colocam em contato com uma quantidade enorme de opiniões, muitas vezes contraditórias.
Conceitos e Significados
Assim sendo, a argumentação assume conceitos e contextos que não possuem nenhum relacionamento como no passado. A quantidade de informação disponível torna a construção de argumentos sólidos e imparciais uma tarefa mais complexa. Por isso, é preciso ter um bom senso crítico para discernir entre fatos e opiniões, fontes confiáveis e não confiáveis.
Ao mesmo tempo, a velocidade com que as informações se propagam exige que os argumentos sejam mais concisos e persuasivos. As pessoas não querem perder tempo para longas dissertações, preferem um minuto no Tik Tok ou 280 caracteres no Twitter. A aceitação de qualquer argumento depende de: a) direto ao ponto e b) clareza e objetividade. Contudo, para se ter clareza e objetividade, faz-se necessário uma base mínima de conhecimento e leitura dos interlocutores. E, com toda a certeza, a maioria dos perfis das redes sociais não quer saber de conhecimento, só de opinião de segunda mão(1).
A natureza dos debates e locais dos debates saíram dos fóruns tradicionais para todos os espaços reais e virtuais. Quando acontecem em tempo real nas redes sociais, qualquer pessoa pode, a princípio, dar sua opinião sobre qualquer assunto. Essa democratização da argumentação, que chamam, equivocadamente, de liberdade de expressão, poderia ser um ponto positivo. No entanto, não tem nada de liberdade de expressão, mas sim a falsidade de hipocrisia de uma ditadura de opiniões. A proliferação de opiniões nem sempre leva a um debate construtivo por serem de qualidade duvidosa e cheias de compartilhamentos.
É comum encontrarmos ataques pessoais, falácias lógicas e desinformação em postagens que frequentemente aparecem nas redes.
Desinformação e Falácias
Nas redes sociais, a busca por validação e atenção muitas vezes se sobrepõe à construção de debates saudáveis e informativos. Falácias lógicas, como ataque puro, ad hominem, crítica à forma e contradição sem evidências, proliferam sem controle. Em consonância com a estultice reinante, este descontrole silencia argumentos sólidos e cria um ambiente hostil a qualquer diálogo.

Reprodução: Internet
Em contraste com a argumentação original e fática, que busca apresentar dados e construir um caso de forma lógica, as falácias lógicas deslegitimar o oponente. Surpreendentemente, o argumento sofre com desvios e o diversionismo.
O ataque puro, por exemplo, ignora completamente o conteúdo da argumentação e parte para ataques pessoais, desqualificando o interlocutor.
Já o ad hominem, sem dúvida, se concentra em características irrelevantes do oponente, como sua personalidade ou histórico. Desta forma, bastante vil e covarde, busca desacreditar uma fala ou argumento atacando a pessoa.
A crítica à forma, por outro lado, ataca a apresentação e não o argumento. Desse modo o foco em erros gramaticais ou de estilo servem para desviar do mérito de cada conteúdo.
Por outro lado, a contradição sem evidências simplesmente afirma que o argumento é contraditório, sem apresentar nenhuma prova ou explicação.
Diante de tais falácias, a contra-argumentação parcial da refutação e o debate central perdem sua força.
A refutação, por outro lado, busca apresentar contraevidências e argumentos lógicos para refutar o ponto original, alvo de um debate. Isto torna-se ineficaz quando o oponente se recusa a reconhecer a lógica e se apega a falácias e paralogismos.
Debate Central
O debate central, que visa chegar a um consenso ou ao menos a um melhor entendimento do tema em questão, também se torna inviável. Desta forma, em qualquer ambiente em que os ataques e as desqualificações ou as fake news, substituem a argumentação é estéril.
Os perfis e personagens que praticam tais falácias desrespeitam não somente o debate, mas também os interlocutores. Ao buscarem impor suas opiniões, sem se importar com a construção de um diálogo frutífero e com as pessoas, mostram intolerância. Essa postura gera um ambiente tóxico e impede o avanço de ideias e soluções que, provavelmente, nunca foram o objetivo.
A maioria destes grupos não se presta para avanço de ideias ou convencimento, mas somente como princípio ativo(2) de mobilização.
Para combater esse problema, é fundamental, aqui também, desenvolver o senso crítico e a capacidade de identificar falácias lógicas. É importante também incentivar debates com argumentos sólidos e ataque às fake news de qualquer natureza. Ao reconhecer e denunciar as falácias lógicas, teremos ambientes virtuais, honestos e sinceros com valorização da verdade.
Seja sincero, como é a sua participação e em grupos de debate nas redes sociais? Qual a última fez que um argumento de outrem mudou a sua opinião? (perguntas meramente retóricas – cartas para a redação). Lembrando que o bom debate exige que as duas partes estejam num compromisso sério como a troca de ideias.
Amanhã tem mais …”
P. S.
(*) Avalio que pensadores e filósofos dos séculos XVIII e XIX contribuíram muito para a mudança da nossa sociedade atual.
(1) “Entre sem bater – Mark Twain _ Segunda Mão“
(2) “Entre sem bater – Felipe Nunes – Princípio Ativo”
Imagem: Entre sem Bater – Joseph Joubert – Argumentação
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
- Os textos de “Entre sem bater” são opinativos/informativos, inquestionavelmente com o objetivo de estimular a reflexão e o debate.
- Sugestões, indicações de erro e outros, uma vez que tenham o propósito de melhorar o conteúdo, são importantes. Basta enviar e-mail para pyxis at gmail.com, página do Facebook, associada a este Blog, ou perfil do Twitter, Threads, Koo etc.
- Alguns textos sofreram revisão, outros ainda apresentam erros (inclusive ortográficos) e sofrerão correção à medida que se tornam erros graves (inclusive históricos).
- Algumas passagens e citações podem parecer estranhas mas fazem parte ou referem-se a textos ainda inéditos.