Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” (← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória”). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. A verdadeira “Política Tupiniquim” é mais do que uma arte, Duda Salabert luta para ajudar a conscientizar as pessoas coletivamente.
Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente. Uma adaptação textual, com redução, pode ter publicação em sites e outros blogs, como o “Recanto das Letras“.
As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Duda Salabert
A luta da professora Duda Salabert é uma luta de muitos e muitas pelo mundo afora. Combate ao preconceito, luta pelos direitos iguais para todos os humanos e um pouco mais de racionalidade entre as pessoas. Contudo, mesmo defendendo causas que todo humanista deveria defender, sofre ataques de grupelhos e fascistas. Assim sendo, é totalmente compreensível e louvável a sua trajetória política.
-Duda Salabert Rosa (Belo Horizonte, 2 de maio de 1981) é uma professora de literatura, ambientalista, e ativista filiada ao Partido Democrático Trabalhista (PDT). Em 2018 se notabilizou ao ter se tornado a primeira pessoa transgênero a se candidatar ao cargo de Senadora da República. Em 2020, a política já havia sido eleita vereadora, tendo sido a mais bem votada da história de Belo Horizonte, com 11,9% dos votos num leque de 41 candidatos. Em 2022, foi eleita uma das primeiras deputadas federais trans da história, junto com Erika Hilton. Duda foi designada ao gênero masculino, e viveu socialmente como homem até 2014, quando passou a se assumir mulher. A ativista é casada desde 2011 com Raísa Novaes, que é educadora. O casal está junto desde 2006.
Fonte: Wikipédia (português)
A Política
Com toda a certeza, política é um tema espinhoso demais. Como se não bastasse, quando entra no subtema política eleitoral(1) fica muito pior e mais degradante. Infelizmente, a cultura e a história no Brasil não permitiram à maioria das pessoas terem qualquer visão da importância da política. Como se não bastasse a deterioração dos debates e da falta de politização, as pessoas confundem conceitos de democracia e sistemas de governo. Desse modo, sem uma clara separação de tópicos e sem um nivelamento de conceitos, a polarização privilegia a ignorância e as mentiras.
Aristóteles disse que “… um homem é, naturalmente, um animal político …”. Por outro lado, constatamos que alguns animais humanos entram para a política para praticarem selvagerias e irracionalidades. Uma frase popular que se ouve sempre que qualquer debate aparece é: “… política, religião e futebol não se discute ,,,”. Inquestionavelmente, nada mais absurdo, impopular, autoritarista e ditatorial.
Desde que iniciamos na arte de escrever crônicas, contos e outros textos, o interesse pela política cresce, quantitativamente. Contudo, não vejo nenhuma evolução na qualidade dos debates e com as redes sociais tudo ficou pior.
Analfabeto Político
No Brasil, a política é uma constante fonte de discussão, mas nem sempre essa discussão é construtiva. Muitas vezes, o que se observa são debates estéreis, com enorme falta de conhecimento e inexistência de uma verdadeira politização. Assim sendo, temos uma atmosfera confusa que, ao invés de promover o entendimento e o avanço democrático, privilegia a ampliação da ignorância.
Atribui-se a Bertolt Brecht uma adaptação de um original alemão que diz mais ou menos assim (original):
“Der Wahreber ist der Staat, der das Land beutet. Der Wahlsieger ist der Kandidat, der die Stimmen kauft. Der Volksvertreter ist der Abgeordnete, der die Bevölkerung verrät. Die Opposition ist die Partei, die sich aufregt. Der Ausländer ist der, der zahlt. Der Inländer ist der, der zahlt und schweigt.”
Fonte: Volkswacht (library.fes.de)
A versão que circula, sobretudo no idioma português, tem uma adaptação e extemporaneidade impressionantes.
O Analfabeto Político
O pior analfabeto é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato, e do remédio, dependem das decisões políticas.O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política.
Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo.
Reprodução: Internet
É provável que Bertolt Brecht, um revolucionário, nunca imaginaria o brasileiro que inunda as redes sociais representa o poema magistralmente.
Ignorância Política
Atualmente, no Brasil e no mundo, o problema mais grave é a superficialidade e desprezo com que a maioria encara a política. Muitos brasileiros veem a política como algo distante de suas vidas cotidianas, relegando-a a um segundo plano. Desse modo, não se engajam ativamente nas questões que afetam a sociedade como um todo e vivem no mundo das fantasias e crenças. Assim sendo, essa falta de interesse leva a uma falta de conhecimento sobre os processos políticos, as instituições e os atores envolvidos. Em outras palavras, esta ignorância política, com ou sem premeditação, alimenta os debates superficiais e a desinformação.
Como se não bastasse, há uma confusão ampla, geral e irrestrita sobre o verdadeiro papel da política e a quais interesses ela serve. Muitos associam política apenas às pessoas (políticos) e aos partidos, sendo que, na real, a política está presente em todas as esferas da vida social. Desde as relações familiares até as decisões econômicas, a política permeia todas as nossas interações. E, raramente, ações políticas não influenciam diretamente a forma como a sociedade se organiza e as pessoas se relacionam. Portanto, essa falta de compreensão contribui para a perpetuação de estereótipos e preconceitos sobre a política e seus atores.
Outro aspecto que contribui para os debates estéreis é a polarização política que as redes sociais promoveram nos últimos anos. No Brasil, as divergências ideológicas têm tratamento maniqueísta, como se houvesse apenas dois lados, opostos e irreconciliáveis. Desta forma, a criação de ambiente hostis, onde o diálogo é praticamente impossível, dá lugar a narrativas e desqualificações mútuas. Nesse contexto, a verdade e a busca pelo bem comum ficam de lado em favor de interesses partidários e pessoais.
Forma-se então um séquito crescente de ignorantes políticos que só sabem compartilhar mentiras que se tornam virais e sem controle.
Educação e Cultura
Darcy Ribeiro, muito antes da explosão das redes sociais dizia que a crise da educação no Brasil era um plano de governo. Em outras palavras, o político-educador-sociólogo afirmava, com razão, que os déspotas queriam manter a ignorância do povo. E, surpreendentemente, até este momento e nos próximos anos, esta é uma verdade insofismável.
A falta de uma educação política adequada também contribui para a confusão e a desinformação. Nas escolas, pratica-se o ensino de política com versões e narrativas que negligenciam o contraditório ou apresentam-se de forma superficial. Desse modo, os estudantes ou ficam confusos ou não podem compreender e participar ativamente da vida política nacional. Consequentemente, sem um conhecimento sólido sobre os princípios democráticos e os mecanismos de participação cidadã não existe participação. Os indivíduos se tornam vulneráveis à manipulação e à propaganda, tornando-se presas fáceis para discursos populistas e simplistas.
Para reverter esse quadro, é necessário investir na educação política desde cedo. Não somente com a educação política, mas sociologia, filosofia, educação em economia, para promover uma compreensão dos valores democráticos e dos processos políticos. Adicionalmente, é fundamental incentivar o engajamento cívico e o debate público, estimulando os cidadãos a participarem ativamente da vida política. Certamente, com estes preceitos, o cidadão estará apto a questionar as informações que recebe e a obter todos os contrapontos. Enfim, somente assim será possível construir uma sociedade mais justa, democrática e consciente de seus direitos e deveres. Caso contrário, a escravidão política(2) e religiosa ainda persistirão por muitos anos, e retrocedendo.
Vai Brasil, #SQN
Em suma, a falta de politização e de conhecimento sobre o verdadeiro conceito de política no Brasil alimenta debates estéreis e confusos. Portanto, o que vemos nas redes sociais é somente o avanço e perpetuação da ignorância e das mentiras. O analfabeto político de Brecht é o mesmo idiota da aldeia de Umberto Eco, o que ampliou muito a massa de manobra.
Mudar esse cenário é , se não impossível, uma tarefa para “Hércules” nenhum botar defeito. Mais do que investir na educação política e no engajamento cívico é necessário espaços de conhecimento e desmascaramento de mentiras. Promover debates abertos sobre estas polêmicas e polarizações deveria ser, sobretudo, o trabalho da mídia.
Entretanto, a mídia de massa e os modernos influenciadores(*) de redes sociais só querem faturar, alguns estão milionários. Desse modo, é pouco provável que consigamos ver, no curto prazo, uma sociedade mais democrática e consciente de seus direitos e deveres.
Ouso afirmar que, com as tecnologias avançando como, por exemplo, a inteligência artificial (IA), perdemos o jogo e vivemos numa manipulação eterna(3).
“Amanhã tem mais …”
P. S.
(*) Infelizmente, a categoria de influenciadores de redes sociais vai desde jornalistas com péssima formação e caráter, a verdadeiros bandidos.
(1) “Entre Sem Bater – Roberto Motta – Política Eleitoral“
(2) “Entre Sem Bater – Gramsci – Escravidão Política“
(3) “Entre Sem Bater – Aílton Krenak – Uma Manipulação“
Imagem: Entre sem bater – Duda Salabert – A Política Tupiniquim
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
- Os textos de “Entre sem bater” são opinativos/informativos, inquestionavelmente com o objetivo de estimular a reflexão e o debate.
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