Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. Nassim Nicholas Taleb imagina que o ” Estoicismo” moderno pode ser uma solução para a humanidade, #SQN. .
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As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Nassim Nicholas Taleb
Em primeiro lugar, é um desafio imenso utilizar uma frase de alguém vivo, para falar de um estoicismo que originou-se na Grécia Antiga. Entretanto, a frase de Nassim Taleb vai ao encontro dos propósitos desta trilha (Entre Sem Bater). É justamente a frase do ensaísta que tenta explicar nosso objetivo. A sua obra “The Black Swan“(*) é um exemplo de como é possível transpormos as ideias filosóficas estoicas para os dias de hoje.
Nassim Nicholas Taleb; alternativamente Nessim ou Nissim; nascido em 12 de setembro de 1960) é um ensaísta libanês-americano, estatístico matemático, ex-corretor de bolsa, analista de risco e aforista. Seu trabalho trata de problemas de aleatoriedade, probabilidade e incerteza. Taleb é o autor do Incerto , um ensaio filosófico de cinco volumes sobre a incerteza publicado entre 2001 e 2018. Ele foi professor em várias universidades. Atuou também na condição de editor-chefe da revista acadêmica Risk and Decision Analysis, com finanças matemáticas, gestão de fundos de hedge e corretor de derivativos, Está, atualmente está listado como consultor científico na Universa Investments. O Sunday Times classificou seu livro de 2007 – The Black Swan – como um dos 12 livros mais influentes desde a Segunda Guerra Mundial.
Fonte: Wikipedia (inglês)
Estoicismo
O Estoicismo, que surgiu por volta do século IV a.C., propõe uma filosofia de vida que busca a felicidade através da razão e da virtude. Seus seguidores, os estoicos, acreditavam que todas as pessoas e o Universo regem-se pelas mesmas leis da natureza. E, desta forma, a chave para uma vida plena reside em compreender e aceitar essas leis.
No centro da filosofia estoica está a ideia de que o ser humano faz parte de um todo maior. É um grão de areia num cosmos em ordem e sob influência de leis universais. Ao compreender essas leis, os estoicos acreditavam que era possível viver em harmonia com a natureza e alcançar a eudaimonia plena.
Assim sendo, para alcançar a eudaimonia, o estoicismo propunha a prática da virtude, que para eles se dividia em quatro pilares:
- Sabedoria,
- Justiça,
- Coragem, e
- Temperança.
A sabedoria consistia em buscar o conhecimento e a compreensão do mundo e de si mesmo. A justiça significava agir de forma justa e imparcial com todos. A coragem era a força para enfrentar os desafios da vida com serenidade e firmeza. E a temperança consistia em manter o controle sobre seus desejos e emoções.
É provável que algum fenômeno etéreo apresentou estes conceitos aos pensadores orientais. Por outro lado, particularmente, considero o caminho do guerreiro (7-5-3 Code)(1) muito mais completo e virtuoso. Contudo, parece que o estoicismo tem menos dificuldades em lidar racionalmente com as adversidades.
Lidando com as Adversidades
Certamente, um aspecto marcante do Estoicismo é sua ênfase na capacidade humana de lidar racionalmente com as adversidades da vida. Os estoicos antigos reconheciam que a vida é cheia de sofrimentos e desafios. Entretanto, acreditavam que a chave para a felicidade não reside em evitar esses sofrimentos, mas sim em aprender a aceitá-los e enfrentá-los sabiamente.
Para lidar com as adversidades, os praticantes do estoicismo utilizavam técnicas singulares, como a dicotomia do controle. Desse modo, podiam distinguir entre o que tinham controle interno (seus pensamentos, ações e reações) e o que não podiam controlar. Eventos externos, o comportamento de outras pessoas e eventos da natureza eram sem controle. Destarte, focando no que podiam controlar, os estoicos superavam as dificuldades e mantinham a tranquilidade em meio às tempestades da vida. #SQN !
Influência Secular
Assim sendo, o Estoicismo influenciou profundamente a cultura e o pensamento ocidental por séculos, até os dias atuais. Seus princípios teve, em grandes figuras históricas como Sêneca, Marco Aurélio e Epicteto, os maiores representantes. Portanto, se tomarmos as ideias originais temos inspirações para muitas pessoas em todo o mundo, até dos diferentes de você(2) e de mim.
Enfim, no início do século XX, o Estoicismo experimentou um ressurgimento de interesse, impulsionado por figuras como o psicólogo Carl Jung e outros. Se bem que alguns pensadores modernos que se dizem estoicos, praticam uma espécie de Estoicismo Moderno bem estranho. Certamente, as ideias estoicas sobre a importância da responsabilidade pessoal, da aceitação da realidade deveriam merecer mais atenção. Contudo, a busca de caminhos pela virtude apresenta-se com sérios desvios e alternativas no mundo moderno das tecnologias do Século XXI.
Estoicismo Moderno
Enquanto o estoicismo tradicional, concentra-se na dicotomia do controle, o estoicismo moderno quer controlar tudo a partir do indivíduo. Assim, teoricamente, podemos controlar as nossas próprias ações, pensamentos e reações. Por outro lado, não podemos controlar as ações e pensamentos dos outros, além das circunstâncias externas.
Desse modo, esta distinção prevaleceria, mesmo nestes tempos modernos e confusos com predomínio de redes sociais.
No entanto, presenciamos uma verdadeira perversão e inversão deste princípio estoico. Em vez de se concentrarem no autocontrole e na aceitação das circunstâncias externas, indivíduos buscam controlar. Desta forma, influenciadores e oportunistas trabalham somente para satisfazer seus desejos egoístas e superficiais. Este comportamento fica evidente nas interações online, onde as pessoas frequentemente tentam manipular e influenciar os demais. Nas redes sociais, sem dúvida, a pauta dominante é para obter validação, aprovação ou simplesmente para impor suas opiniões.
Tradição x Modernidade
O contraste entre o estoicismo tradicional e o comportamento que constatamos nas redes sociais é gritante e aterrorizante. Enquanto o estoicismo nos ensina a cultivar a virtude interior e a indiferença em relação aos eventos externos as redes sociais remam ao contrário.
Com toda a certeza, a prioridade dos usuários de redes sociais é a obsessão com a imagem que projetam e com a reação dos outros. Hipocritamente, eles aparentam praticar o estoicismo, falando sobre aceitação, desapego e apresentando-se como indiferentes(3). Entretanto, as ações reais revelam uma profunda necessidade de controle sobre os outros. Inquestionavelmente, uma tentativa constante de moldar a percepção alheia para favorecer seus próprios interesses.
Escravidão Mental
Este desejo de controle externo resulta numa forma moderna de escravidão. Ao tentar manipular os outros, as pessoas se tornam escravas de suas próprias inseguranças e vaidades. Elas se prendem a um círculo vicioso de busca por aprovação e validação, que jamais pode ser plenamente satisfeito. Cada “curti”, comentário ou compartilhamento torna-se um substituto pobre para a verdadeira paz de espírito que o estoicismo busca promover. Ao invés de libertar-se das análises externas, esses indivíduos preocupam-se com a percepção alheia, são os prisioneiros das expectativas dos outros.
Além disso, a tentativa de controlar os outros nas redes sociais frequentemente leva a conflitos, desentendimentos e ressentimentos. Quando as pessoas não respondem conforme o que espera-se, a frustração e a ansiedade aumentam, reforçando um ciclo de descontentamento. Isso contrasta diretamente com o estoicismo tradicional, que ensina a aceitar serenamente o que não podemos mudar e a focar em nossas virtudes.
A verdadeira prática do estoicismo, mesmo na era digital, requer um retorno aos princípios básicos: reconhecer a dicotomia do controle e focar no autocontrole. Implica em aceitar que não podemos controlar as reações dos outros nas redes sociais, mas podemos controlar como reagimos a elas. Em vez de buscar a validação externa, devemos buscar a autossuficiência emocional e a tranquilidade interior.
Filosofia de Vida
O Estoicismo não é, certamente, uma filosofia pessimista ou com a resignação como comportamento padrão. Pelo contrário, é uma filosofia que celebra a força e a resiliência do ser humano. Deveria, outrossim, nos ensinar a viver com sabedoria nas ações, coragem de questionamento e temperança. A ideia era ter menos apego a dogmas, crenças, mitos e visões do mundo peculiares, com compreensão e aceitação das leis da natureza.
Em suma, enquanto o estoicismo tradicional nos guia para a liberdade através do autocontrole e da aceitação incontrolável. Por outro lado, o falso estoicismo das redes sociais leva à escravidão através do desejo de controlar os outros. Enfim, o caminho para a verdadeira liberdade está na renúncia ao controle sobre os outros. Melhor seria uma aceitação serena de opiniões e ideias alheias, que não podemos mudar.
É provável que o estoicismo moderno não funcione como o previsto, pois os códigos samurais é que seriam mais racionais e inteligentes.
“Amanhã tem mais …”
P. S.
(*) Uma ideia central no livro de Taleb é construir robustez para eventos negativos e uma capacidade de explorar eventos positivos. A “robustez” reflete uma atitude em que nada pode falhar sob condições de mudança. O estoicismo está presente em todas as suas obras de maneira arrebatadora, mesmo ele sendo uma espécie de liberal de Wall Street.
(1) “As 7 Virtudes do Bushido”
(2) “Entre Sem Bater – Sêneca – Diferentes de Você”
(3) “Indiferentes e a trincheira da hipocrisia”
Imagem: Entre sem bater – Nassim Nicholas Taleb – Estoicismo Moderno
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
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