Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. Quando o humanista Pepe Mujica faz uma reflexão de como nos tornamos “Seres Piores“, devemos, sem dúvida, pensar sobre o tema.
Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente.
As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Pepe Mujica
Escrever emitindo uma opinião, a partir de uma frase de qualquer político é, à princípio, sempre algo de altíssimo risco. Entretanto, as frases e pensamentos de Pepe Mujica, em muitos temas, torna a ideia e opinião mais fácil. Desse modo, como nos tornamos seres piores traz indicações de graves desvios(*). Sobretudo, na mente das pessoas que nem imaginam como as diferenças das classes sociais determinam o preconceito e a segregação.
José Alberto ” Pepe ” Mujica Cordano ( nascido em 20 de maio de 1935 ) é um político uruguaio, ex-revolucionário e fazendeiro. Serviu como o 40º presidente do Uruguai de 2010 a 2015, dentre outras posições na política. Ex-guerrilheiro do Tupamaros, foi torturado e preso por 14 anos durante a ditadura militar nas décadas de 1970 e 1980. Integrante da coligação Frente Ampla de partidos de esquerda, Mujica foi ministro da Pecuária, Agricultura e Pesca de 2005 a 2008 e senador logo após. Como candidato da Frente Ampla, venceu as eleições presidenciais de 2009 e tomou posse como presidente em 1º de março de 2010. Foi Segundo Cavalheiro do Uruguai de 13 de setembro de 2017 a 1º de março de 2020, quando sua esposa Lucia Topolansky foi vice-presidente sob o comando de seu aliado, Tabaré Vázquez.
Fonte: Wikipedia (Inglês)
Seres Piores
O ex-presidente do Uruguai, com toda a certeza, faz profundas reflexões e críticas ao estado atual da sociedade e do mundo. Sua visão de que a nossa civilização baseia-se, por exemplo, em um desafio enganoso(1) e num deus mercado manipulador. Nossa percepção de mundo deveria ser uma crítica contundente ao paradigma moderno de progresso e desenvolvimento.
Segundo Mujica, apesar do aumento da riqueza global, a desigualdade e a passividade coletiva continuam a crescer. Por isso, ele nos leva a questionar se estamos realmente evoluindo como sociedade e civilização ou se nos tornamos seres piores .
A Ilusão do Sucesso
Mujica sugere que a noção de que todos podem alcançar seus objetivos é uma falácia perigosa. Vivemos em uma época onde o sucesso mede-se, frequentemente, por padrões materiais e individuais, inatingíveis para a maioria. Essa crença fomenta uma competição sem limites, onde o valor das pessoas reduz-se à sua capacidade de acumular bens e status. Em outras palavras, as aparências nos tornam seres piores que praticam, frequentemente, a hipocrisia nas redes sociais.
Este desafio enganoso não considera as desigualdades estruturais e as diferentes oportunidades que existem entre as classes sociais. Para muitos, a promessa de sucesso é uma miragem, perpetuada por um sistema que beneficia poucos às custas de muitos.
O Deus Mercado e a Felicidade Falaciosa
Ao criticar o deus mercado(2), Mujica destaca como a economia global e as forças de mercado moldam, surpreendentemente, nossas culturas e valores. O mercado cria necessidades artificiais e nos vende uma visão de felicidade que visa somente o consumo. A publicidade e os meios de comunicação nos bombardeiam com a ideia de que a felicidade é alcançável através da aquisição de produtos e serviços. Essa manipulação de massas leva a uma busca incessante por mais, gerando um círculo vicioso de insatisfação e consumismo.
Desigualdade Crescente
Embora a riqueza global aumente, significativamente, a cada dia, essa prosperidade não tem distribuição de maneira equitativa. Segundo dados recentes, a concentração de riqueza nas mãos de poucos é um fenômeno crescente. Em muitos países, a diferença entre ricos e pobres está se ampliando, levando a uma elevação da desigualdade social e econômica. Mujica alerta que essa disparidade não só é injusta, mas também insustentável. A concentração de riqueza gera tensões sociais, aumenta a criminalidade e enfraquece a coesão até entre os conacionais.
Inquestionavelmente, a riqueza e a pobreza são dois lados de uma mesma moeda. E, deste modo, podemos dizer que é uma disputa de “cara ou coroa” que a cara só aparece escondida, para baixo e por baixo. Por outro lado, a coroa sempre reluz sobre tudo e sobre todos.
Enquanto alguns acumulam riquezas inimagináveis, outros lutam para sobreviver ou vivendo de migalhas. A pobreza extrema ainda é, sem dúvida, uma realidade para milhões de pessoas ao redor do mundo. A falta de acesso a recursos básicos como educação, saúde e alimentação perpetua ciclos de pobreza que são difíceis de romper. Mujica argumenta que a verdadeira medida de progresso não deve ser o PIB ou a quantidade de bilionários em um país. Outrossim, as métricas de bem-estar, desenvolvimento social e a qualidade de vida dos mais vulneráveis, deveriam prevalecer.
O Paradoxo Tecnológico
Assim sendo, vivemos em uma era de avanços tecnológicos sem precedentes, que deveriam transformar a nossa vida de maneira positiva. Entretanto, esses avanços, na maioria dos casos, beneficiam desproporcionalmente os que sempre possuíram privilégios. A automação e a inteligência artificial, por exemplo, substituem empregos tradicionais, deixando muitos trabalhadores sem meios de subsistência. Além disso, a tecnologia também tem uso no aumento do controle das pessoas, comprometendo a privacidade e a liberdade individual.
Como se não bastasse, parece que a natureza humana(3) mudou, dramaticamente, com a explosão do acesso a tecnologias “de graça”. O cidadão pode conversar presencialmente com uma pessoa, por exemplo, dizendo que está pensando em comprar um tênis. Nesse ínterim, sua privacidade sofre uma invasão e ele passará a receber anúncios de tênis tão logo utilize qualquer aplicativo. E é assustador o número de pessoas que acham isso normal ou com um preço relativo bem baixo.
A Necessidade de um Novo Paradigma
É provável que a solução esteja na capacidade e interesse em repensarmos nossos valores e prioridades como humanos e sociedade. Defender uma abordagem mais humanista e solidária, onde o bem-estar coletivo fique acima dos interesses individuais é um desafio. Precisamos adotar um modelo de desenvolvimento que seja sustentável e inclusivo, que valorize o ser humano e não apenas o lucro. A ideia de Mujica propõe que o verdadeiro progresso tenha métrica a partir da nossa capacidade de cuidar uns dos outros e do planeta.
Certamente, os pensamentos de José Mujica nos convidam a questionar a direção em que estamos indo, enquanto sociedade. Apesar dos avanços econômicos e tecnológicos, estamos nos tornando seres piores, mais individualistas e menos empáticos. A promessa de que todos podem alcançar o sucesso é uma falácia que ignora as desigualdades estruturais críticas. Desse modo, é mais do que necessário um novo paradigma que valorize o coletivo, em detrimento do egocentrismo.
Com toda a certeza, as pessoas acham que assuntos como a defesa do meio ambiente e a tragédia nos Pampas são aleatórios. Enfim, muitos não querem admitir pois a carapuça pode servir perfeitamente, mas a cada clique e compartilhamento de mentiras, somos seres piores.
“Amanhã tem mais …”
P. S.
(*) A ideia de que se EU não considero ou não pertenço à desqualificação de que nos tornamos seres piores, revela um problema de “espelho”.
(1) “Entre Sem bater – Pepe Mujica – Desafio Enganoso”
(2) “Entre Sem Bater – Pepe Mujica – Deus Mercado”
(3) “Entre Sem Bater – Saramago – Natureza Humana”
Imagem: Entre sem Bater – Pepe Mujica – Somos Seres Piores
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
- Os textos de “Entre sem bater” são opinativos/informativos, inquestionavelmente com o objetivo de estimular a reflexão e o debate.
- Sugestões, indicações de erro e outros, uma vez que tenham o propósito de melhorar o conteúdo, são importantes. Basta enviar e-mail para pyxis at gmail.com, página do Facebook, associada a este Blog, ou perfil do Twitter, Threads, Koo etc.
- Alguns textos sofreram revisão, outros ainda apresentam erros (inclusive ortográficos) e sofrerão correção à medida que se tornam erros graves (inclusive históricos).
- Algumas passagens e citações podem parecer estranhas, mas fazem parte ou referem-se a textos ainda inéditos.