Entre sem Bater
Este é um texto da série “Entre sem bater” ( ← Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. Paulo Lins, sem dúvida, por experiência própria consegue exprimir todo o sofrimento da “Favela“, especialmente neste mundo moderno.
Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente.
As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.
Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.
Paulo Lins
Os textos da série “Entre Sem Bater” provocam, na maioria dos casos, reações diferentes, antagônicas e instigantes. Estes comportamentos variam de acordo com as características políticas(*) e comportamentais dos leitores e até dos canais onde recebem os textos. No caso de um autor de pensamento com ineditismo (do tema e autoria) as reações são curiosas e até surreais. Atualmente, as pessoas preferem atacar o mensageiro ou o autor do pensamento, ao invés de debater e refletir sobre o tema.
Paulo Lins (nascido em 11 de janeiro de 1958, Rio de Janeiro ) é um autor brasileiro. Ganhou fama internacional com a publicação, em 1997, do livro Cidade de Deus, sobre a vida nas favelas do Rio de Janeiro. Filho de pais baianos, foi morador da favela carioca Cidade de Deus. Começou como poeta nos anos 1980 como integrante do grupo Cooperativa de Poetas, por onde publicou seu primeiro livro de poesia: Sobre o sol (UFRJ, 1986). Graduado no curso de Letras, foi contemplado – em 1995 – com a Bolsa Vitae de Literatura. Em 2002, o diretor Fernando Meirelles produziu o filme Cidade de Deus, com base no livro, que recebeu quatro indicações ao Oscar 2004 (melhor diretor, melhor fotografia, melhor montagem e melhor roteiro adaptado) e foi indicado para o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro. Lins fez roteiros para alguns episódios de Cidade dos Homens, da TV Globo. Em 2008, Paulo Lins trabalhou com René Sampaio, no roteiro de mais um longa-metragem, adaptação cinematográfica da letra da canção de Renato Russo, Faroeste Caboclo. Sua obra tem atraído interesse acadêmico na forma de vários artigos, dissertações e até mesmo teses.
Fonte: Wikipédia (português)
Dois Mundos
Devemos, na realidade eu devo, tomar certos cuidados ao escrever alguns textos. É provável que até eu esteja arregimentando haters nestas plataformas afora. Alguns textos, pelos temas e palavras-chave (tags e hashtags) estão provocando a suspensão automática do meu perfil e de conteúdos. É, surpreendentemente, lamentável o que fazem com alguns, enquanto outros têm prerrogativas para ofender, mentir e caluniar.
Lamentável !
Indo ao antagonismo de dois mundos um lado do outro, numa divisão que chega a ser invisível, passemos ao pensamento de Paulo Lins.
A frase lapidar não merece nenhuma reflexão em nenhum canal de comunicação de massa.
“A elite desconhece a favela porque não quer ver, e a favela desconhece o resto do Brasil porque é privada dos meios e da oportunidade“, (Paulo Lins)
Em síntese, esta é a forma incisiva de segregação e que demonstra o abismo social existente no Brasil. Esta segregação não é apenas econômica, mas também cultural e simbólica, refletindo uma sociedade profundamente desigual. São, inquestionavelmente, dois mundos que coexistem de forma paralela e excludente: o das elites e o das favelas.
A indiferença das elites em relação à realidade das favelas é uma escolha consciente. Esse desconhecimento não é uma mera consequência do acaso ou da falta de informação, mas sim uma estratégia de distanciamento e negação.
A Favela
Ao ignorar a existência das favelas e seus problemas, as elites mantêm intactos seus privilégios. Desse modo, evitam e escondem os questionamentos sobre as injustiças das estruturas que sustentam seu status quo. Essa atitude é profundamente hipócrita, cruel e diversionista. Enquanto pregam discursos de igualdade e justiça, na prática, perpetuam um sistema que marginaliza a maioria da população.
A favela, por sua vez, não acessa os meios e oportunidades que possibilitariam patamares mais justos e equitativos. A falta ou precariedade do acesso à educação de qualidade, saúde, transporte e infraestrutura restringe as possibilidades de ascensão social e econômica. Como se não bastasse, falácias como meritocracia e generalização de oportunidades enganam os incautos.
Podemos referenciar, por exemplo, o caso de artistas do rap que esbanjam dinheiro com ostentação, gerando mais dinheiro para guetos. Do mesmo modo, surgem influenciadores/as que utilizam de golpes para mostrar um sucesso parcial e limítrofe. Assim sendo, a mídia de massa divulga meia dúzia de “cases” de sucesso e não mostra os milhões de tentativas.
Meritocracia(1) de UC é rola ! (desculpem, mas a indignação com a farsa da meritocracia é gigantesca).
As Elites
A hipocrisia das oligarquias se revela com extrema nitidez quando analisamos o papel de seus serviçais na política e no judiciário. Os políticos, que elegem-se com o apoio e financiamento das elites, adotam políticas que favorecem seus patrocinadores. Desta forma, ignoram as demandas das comunidades marginais, desrespeitam os direitos da favela. As reformas políticas e econômicas frequentemente beneficiam uma minoria rica em detrimento da maioria pobre. E, com toda a certeza, perpetua-se o ciclo de desigualdade, da exclusão, da indiferença.
No judiciário, com a sua política e seus obsequiosos operadores do Direito, a situação não é diferente. A aplicação seletiva da lei é uma prática recorrente que favorece os poderosos e criminaliza, sempre, a favela. Casos de corrupção e crimes das elites recebem, frequentemente, privilégios da leniência e tolerância. Por outro lado, crimes menores, notadamente de moradores de favelas, recebem punições rigorosas e desproporcionais. Essa disparidade no tratamento judicial não só reforça as barreiras sociais existentes, mas também mina a confiança da população no sistema judiciário.
Racismo Estrutural
Outra frase de Paulo Lins merece um destaque e relacionamento com a ideia da segregação da favela e seu povo sofredor(2).
“O Brasil é um país racista e uma sociedade racista, mas o engraçado é que ninguém admite ser racista, e esse é o problema. Os negros no Brasil estão sempre em uma posição inferior, subalterna, mas você não consegue encontrar um branco que seja racista.” (Paulo Lins)
A sociedade racista e preconceituosa encontra abrigo inclusive em negros, pardos, mestiços. Os negacionistas são os que mais abusam da hipocrisia, na esperança de alcançarem o sucesso efêmero. Vemos, por exemplo, um militar, que foi vice-presidente do país, virando as costas para seus eleitores, brancos e da favela. E, surpreendentemente, ignora de maneira vil que é um mestiço filho de uma que ronca e fuça.
A indiferença e a hipocrisia das oligarquias e seus asseclas, na política e no judiciário, não são apenas moralmente condenáveis. São, sem dúvida, prejudiciais para o desenvolvimento do país e da sociedade como um todo. Uma sociedade que não reconhece e enfrenta suas desigualdades vai conviver com a violência, a instabilidade e a injustiça. A construção de um Brasil mais justo e igualitário passa necessariamente pelo reconhecimento e valorização da favela e de seus habitantes.
Assim sendo, é vital a promoção de políticas públicas que assegurem direitos e oportunidades para todos, independentemente de sua origem social.
Portanto, a frase de Paulo Lins nos convoca a uma reflexão profunda sobre a necessidade de romper com essa dualidade perversa. Este isolamento da favela ante as elites não apenas limita a perspectiva de vida e problemas como a fome(3). Reforça, outrossim, estereótipos e estigmas que a sociedade tem desses espaços e de seus habitantes.
“Amanhã tem mais …”
P. S.
(*) As crônicas que publico ficam à disposição em algumas redes sociais e numa distribuição direta em grupos e individualmente. O direcionamento tem vinculação com as características de cada rede ou destinatário. Eventualmente, muitos novos leitores surgem e é destes que as manifestações são mais consistentes e interessantes. Infelizmente, confirma-se que a opinião da maioria dos leitores antigos dificilmente merece a chance de modificação através da reflexão pós-leitura. Quando nos referimos às elites, excluímos as pseudoelites e os vassalos, #taoquei?
(1) “A meritocracia é uma farsa“
(2) “Entre Sem Bater – Bezerra da Silva – Povo Sofredor”
(3) “Entre Sem Bater – Carolina Maria de Jesus – A Fome“
Imagem: Entre sem bater – Paulo Lins – A Favela
Nota do Autor
Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.
- Os textos de “Entre sem bater” são opinativos/informativos, inquestionavelmente com o objetivo de estimular a reflexão e o debate.
- Sugestões, indicações de erro e outros, uma vez que tenham o propósito de melhorar o conteúdo, são importantes. Basta enviar e-mail para pyxis at gmail.com, página do Facebook, associada a este Blog, ou perfil do Twitter, Threads, Koo etc.
- Alguns textos sofreram revisão, outros ainda apresentam erros (inclusive ortográficos) e sofrerão correção à medida que se tornam erros graves (inclusive históricos).
- Algumas passagens e citações podem parecer estranhas, mas fazem parte ou referem-se a textos ainda inéditos.