Entre Sem Bater - Sidney Silveira - As Massas

Entre Sem Bater – Sidney Silveira – As Massas

Entre sem Bater

Este é um texto da série “Entre sem bater” ( Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. Vivemos num mundo com transformações rápidas e surpreendentes. Com toda a certeza, as “Massas” ou hordas humanas, estão como diagnosticou Sidney Silveira.

Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente.

As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.

Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.

Sidney Silveira

manipulação de massas(1) começa pela manipulação individual(1). Desse modo, a quantificação do que seria massas fica por conta do contexto e interesses de cada manipulador. A princípio pode parecer contraditório falar de individual e de massas no mesmo contexto. Entretanto, o pensamento de Sidney Silveira reflete a realidade das nossas sociedades modernas e “digitais”. Todos querem estar onde a massa estará, e certamente, este povo não sabe o que é melhor para ele.

Sidney Silveira (Rio de Janeiro, 10 de junho de 1965) é jornalista, editor, escritor, professor e estudioso da filosofia medieval, conhecido por ser um dos maiores divulgadores da Escolástica no Brasil, com ênfase na obra de Tomás de Aquino. Depois de décadas trabalhando em jornais e revistas como redator, revisor, editor-chefe e colunista, criou em 2008 o blog “Contra Impugnantes“, que, durante quase uma década, foi o grande polo de divulgação do tomismo no Brasil, chegando a milhares de acessos diários. Por meio de institutos, editoras e sites, ministra desde 2006 cursos de filosofia, teologia, literatura e história, como também coordena a publicação de variadas obras de autores medievais, em edições bilíngues (latim/português), que são consideradas como a decisiva introdução no Brasil ao pensamento escolástico, antes relegado a círculos acadêmicos fechados e a seminários de formação de sacerdotes.

Fonte: Ecclesiae.com.br

As Massas

Alguns temas-chave destas crônicas e trilha são uma fonte inesgotável de inspiração. É provável que a definição de massas e como controlá-las seja um dos mais instigantes e provocantes.

Temos, por exemplo, algumas frases mais enigmáticas do que a que Sidney Silveira verbalizou. Senão vejamos:

As grandes massas cairão mais facilmente numa grande mentira do que numa mentirinha“. Adolf Hitler

Na política de massas, dizer a verdade é uma necessidade política.” Antonio Gramsci

Onde quer que as massas forem, vá para o outro lado“. Charles Bukowski

Por mais que busque a verdade nas massas, não a encontro; somente a encontro nos indivíduos”. Eugène Delacroix

Ideias não precisam de armas, se elas podem convencer as grandes massas“. Fidel Castro

As massas nunca se revoltarão espontaneamente, e nunca se revoltarão apenas por serem oprimidas. Com efeito, se não se lhes permitir ter padrões de comparação nem ao menos se darão conta de que são oprimidas”. George Orwell

A massa mantém a marca, a marca mantém a mídia e a mídia controla a massa“. George Orwell

Uma das maiores burlas dos nossos tempos terá sido o prestígio da imprensa. Atrás do jornal, não vemos os escritores, compondo a sós o seu artigo. Vemos as massas que o vão ler e que, por compartilhar dessa ilusão, o repetirão como se fosse o seu próprio oráculo.” Joaquim Nabuco

As massas humanas mais perigosas são aquelas em cujas veias foi injetado o veneno do medo… do medo da mudança“. Octavio Paz

As massas nunca tiveram sede de verdade. Elas querem ilusões e não vivem sem elas“. Sigmund Freud

Fonte: Portais de Frases na Internet

Algumas são mais convincentes e próximas da realidade atual do que outras. Com toda a certeza, todo leitor terá a de sua preferência e pode, eventualmente, começar a reproduzi-la. Contudo, as citações de Bukowski, Joaquim Nabuco, Delacroix e Freud são lapidares. Assim sendo, é possível adicioná-las ao pensamento sobre as massas, de Silveira, e concluir que estamos no mesmo caminho errado.

Manipulação de Massas

As redes sociais, sociais contemporâneas, são como plataformas revolucionárias que conectam pessoas e democratizam a comunicação. No entanto, a partir de reflexões de pensadores como Max Weber, Hegel e Noam Chomsky, essas plataformas mudam tudo na sociedade. Assim sendo, apresentam-se como uma manifestação moderna de ideias e dinâmicas que se repetem há séculos. A irracionalidade, a dialética do senhor-escravo e o controle ideológico são, atualmente, os padrões de dominação e alienação.

Irracionalidade do Mundo – Weber

Max Weber, em suas muitas análises sobre a racionalização e a evolução religiosa, argumentou sobre o processo de racionalização no mundo. Dizia ele que, embora trouxesse avanços em termos de eficiência e burocracia, resultou também em uma forma de desumanização. A irracionalidade(3), paradoxalmente, cresce à medida que as sociedades têm organização, mas sob uma lógica fria e instrumental.

No contexto das redes sociais, vemos uma expressão clara desse processo. As plataformas digitais maximizam a eficiência em termos de coleta de dados, engajamento e monetização, gerando algo aparentemente racional. Por outro lado, o que se observa no cotidiano dessas redes é um ambiente caótico e irracional, onde emoções e impulsos não têm limites. A “economia da atenção” prioriza conteúdos que provocam reações viscerais, incentivando o conflito, a polarização e a superficialidade. Dessa forma, a promessa de um espaço de debate e conexão racional subverte-se por uma dinâmica irracional, impulsiva.

As redes sociais, desta forma, não são um espaço neutro de comunicação, mas sim ambientes submetidos a lógicas de poder e dominação. Max Weber enxergaria, hoje em dia, nessas plataformas um reflexo da “gaiola de ferro” da modernidade. Em outras palavras, a racionalidade técnica serve para fortalecer uma irracionalidade do comportamento social e das dinâmicas de poder.

Dialética Senhor-Escravo – Hegel

Hegel, em sua famosa dialética do senhor e do escravo(4), descreve uma relação de poder onde o senhor domina o escravo. Como se não bastasse, o senhor depende do escravo para corroborar e propagar sua identidade como senhor. Essa relação dialética se dá através da luta por reconhecimento, onde ambos estão presos a uma interdependência. No mundo das redes sociais, essa dinâmica se reproduz, de maneira sutil, mas poderosa e que se apresenta como normal.

Os perfis das redes sociais se veem presos em uma luta por validação e reconhecimento. Quem “domina” as redes — seja em termos de seguidores ou engajamentos — o faz à custa da dependência da aprovação constante do “outro”. Assim como o senhor depende do escravo para ter reconhecimento como tal, os “líderes de opinião” dependem de seus seguidores. A busca incessante por likes, compartilhamentos e comentários reforçam uma estrutura hierárquica do senhor-escravo. Desta forma, a liberdade aparente dos usuários esconde uma dependência constante por aceitação na relação.

Por outro lado, os algoritmos das redes sociais, que maximizam o engajamento, exercem um papel semelhante ao do senhor na dialética hegeliana. Eles “dominam” o comportamento dos usuários, moldando suas ações e respostas em busca de mais reconhecimento e validação. Assim sendo, criam uma relação de dependência que aprisiona o usuário, tal como o escravo de Hegel. As redes sociais, portanto, não apenas espelham, mas amplificam essa dinâmica de poder e reconhecimento. Ou seja, arranjos e discursos de liberdade de expressão e afins são ilusórios e a subordinação é a única constante dos teleguiados.

Controle do Pensamento – Chomsky

Noam Chomsky, em suas análises sobre a mídia e o controle ideológico, argumenta que o poder não se exerce apenas pela repressão direta. Sendo mais atual que os demais pensadores, Chomsky defende a ideia de que por meio de uma gradação se influencia o que as pessoas pensam. A mídia, para Chomsky, é uma ferramenta de controle que molda e limita o debate público. Desta forma, os indivíduos, surpreendentemente, não percebem que sob manipulação, e apresentam-se em estado de negação.

As redes sociais são, inquestionavelmente, uma evolução dos mecanismos de controle das massas anteriores, e começam por pequenos grupos. Enquanto os meios tradicionais de comunicação detinham um controle central da informação, as redes sociais são igualmente eficazes na descentralização. Os algoritmos determinam o que os usuários vêm moldando suas opiniões e limitando o alcance de certos discursos. A personalização do conteúdo cria bolhas informacionais que reforçam preconceitos e crenças, enquanto suprimem ideias divergentes. O controle, portanto, tem uma gradação(5) com os perfis e sua ilusão de liberdade de escolha e pensamento. Contudo, suas opções estão sob o jugo de filtros e tendências que as plataformas determinam. Produções cinematográficas como “Privacidade Hackeada” determinam os desejos e limites da maioria das pessoas.

Chomsky, desse modo, demonstrou que essa forma de controle é mais eficaz justamente por ser invisível. As liberdades se preservam na superfície, mas o debate real limita-se por dinâmicas invisíveis dos algoritmos e do alcance das vozes. Em suma, as redes sociais reforçam uma forma de controle ideológico que não reprime diretamente. Elas moldam ou compram o pensamento individual e, gradualmente, avançam sobre o pensamento coletivo.

“7 a 1”

Estamos, sem dúvida, como aquele placar da Copa do Mundo. Ainda estamos na metade do segundo tempo e perdendo de “7 a 1“. Pode até ser uma analogia que não atinja os que não gostam de futebol (soccer). Mas é necessário não sermos negacionistas e admitir que, de uma forma ou de outra, estamos sob influências perniciosas.

Sob a luz de Weber, Hegel e Chomsky, não vivemos uma ruptura com o passado, mas uma amplificação de dinâmicas de poder e dominação. A irracionalidade de Weber, a dialética de Hegel e o controle ideológico de Chomsky encontram expressão clara nas plataformas digitais. Embora aparentem ser espaços de liberdade e conexão, as redes sociais revelam-se como arenas de controle, alienação e dominação. A ausência de  liberdade do indivíduo é como disse Freud, não interessa a ninguém, e segue o jogo sujo e desleal.

E, afinal, a frase de Joaquim Nabuco, séculos atrás, parece com qualquer frase de sociólogo falando das redes sociais atualmente. Perdemos !

Palavrinha final: “Dizer coisas desagradáveis é uma das mais nobres prerrogativas de um filósofo”. (Sidney Silveira)

 

Amanhã tem mais … 

P. S.

(*)  O controle sobre as massas, após sucesso no controle do indivíduo, superou todos os limites de dominação do homem sobre o homem.

(1)Manipulação de Massas – A Série

(2) “Manipulação Individual de Massas

(3) “Entre Sem Bater – Max Weber – A Irracionalidade do Mundo

(4) “Hegel e a Manipulação de Massas

(5) “Manipulação de Massas – A Gradação

 

Imagem: Entre sem bater – Sidney Silveira – As Massas

Nota do Autor

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