Entre Sem Bater - Artur de Almeida - A Imparcialidade

Entre Sem Bater – Artur de Almeida – A Imparcialidade

Entre sem Bater

Este é um texto da série “Entre sem bater” ( Uma leitura, acima de tudo, “obrigatória” ). A cada texto, uma frase, citação ou similar, que nos levem a refletir. É provável que muitas destas frases sejam do conhecimento dos leitores, mas deixaremos que cada um se aproprie delas. Entretanto, algumas frases e seus autores podem surpreender a maioria dos leitores. Artur de Almeida era um verdadeiro jornalista, que sabia diferenciar a “Imparcialidade” do fato daquilo que é a parcialidade da opinião.

Cada publicação terá reprodução, resumidamente, nas redes sociais Pinterest, Facebook, Twitter, Tumblr e, eventualmente, em outras isoladamente.

As frases com publicação aqui têm as mais diversas origens. Com toda a certeza, algumas delas estarão com autoria errada e sem autor com definição. Assim sendo, contamos com a colaboração de todos de boa vontade, para indicar as correções.

Na maioria dos casos, são frases provocativas e que, surpreendentemente, nos dizem muito em nosso cotidiano. Quando for uma palavra somente, traremos sua definição. Por isso, em caso de termos ou expressões peculiares, oferecemos uma versão particular. Os comentários em todas as redes sociais podem ter suas respostas em cada rede e/ou com reprodução neste Blog.

Artur de Almeida

Com toda a certeza, é complexo escrever sobre uma pessoa que a gente não conheceu, mas conhece parentes próximos. Desse modo, esta crônica é uma homenagem(*) mais do que tardia, a um profissional que era uma referência. Artur de Almeida, filho de profissional da mídia, estaria, se estivesse vivo, ajudando muitos profissionais por aí. Este texto é uma homenagem singela que teve sua origem na indignação que me assola diante do que vejo onde ele esteve.

Artur Nogueira de Almeida Neto nasceu em Belo Horizonte em 18 de maio de 1960. Formado em Jornalismo pela PUC-Minas, iniciou sua carreira no rádio antes de ingressar na TV Globo Minas em 1987. Após uma breve saída, retornou em 1992 e permaneceu por mais de 25 anos na emissora. Foi repórter, editor-chefe e apresentador dos principais telejornais locais, como o MGTV 1ª Edição e o Bom Dia Minas. Reconhecido por sua postura ética, voz serena e firmeza editorial. Artur era defensor do jornalismo comunitário e das reportagens de serviço. Faleceu em 24 de julho de 2017, aos 57 anos, vítima de uma parada cardiorrespiratória durante férias em Lisboa.

Fonte: Wikipédia (inglês)

Imparcialidade

A imparcialidade é algo que muitos imaginam que exercem. Contudo, a distância do discurso e da práxis está vilipendiando as palavras e seus conceitos. Escrevo, diuturnamente, sobre as questões da imprensa e outras áreas profissionais. Os enfrentamentos que sofro, e começam com o “… mas você é da imprensa …”, ou da profissão em tela, são risíveis.

Anteriormente, aqui neste espaço, coloquei uma frase de um comunicador sobre a opinião do jornalista(1). Ao enviar a crônica, para os que se consideram jornalistas, as opiniões foram a dois extremos. Um jornalista, como defendia e praticava Artur de Almeida, não precisa ser neutro(2), mas ao reportar deve manter a imparcialidade.

Alguns dirão que é impossível manter a imparcialidade ou não se emocionar ao reportar um determinado assunto. Divirjo e vos digo que é essencial a imparcialidade, para gerar uma credibilidade mínima. Assim sendo, a trilha de tentar mostrar que estamos nos perdendo em todas as profissões, com a tecnologia, segue firme.

Opiniões Prontas

Neste contexto, existem coisas piores que avançam, especialmente após a explosão das redes sociais. São jornalistas com suas opiniões prontas(3) e, na maioria dos casos, sem fundamento. Tomemos, por exemplo, a emissora de TV pela qual Artur de Almeida se destacou. Não foi a opinião dele ou de seus editores que o tornou um destaque, mas a sua imparcialidade. Coincidentemente ou não, depois da saída dele, e de outros profissionais com qualificação, presenciamos um certo declínio editorial. A emissora, que era uma filial, sofreu um rebaixamento e, consequentemente, seus profissionais não têm mais reconhecimento nacional. A não ser por raras exceções, poucos são os jornalistas da Rede Globo Minas, com projeção nacional. Como se não bastasse, muitas entradas ao vivo nos telejornais da Globo e Globo News chegam a beirar o vexame.

As opiniões prontas e a falta de qualidade – inclusive com o vocabulário paupérrimo de alguns – é o produto do descaso. Além disso, não se sabe se pela má formação acadêmica e orientação profissional, as opiniões prontas vêm prevalecendo. Certamente, faz falta o Artur de Almeida, para os que conviviam com ele, e como editor-chefe da emissora mineira.

Enfim, o compromisso primordial do jornalista deve ser com a imparcialidade, não com a sua opinião.

O Compromisso

O compromisso que deveria falar mais alto nos corredores silenciosos de uma redação deveria ser a imparcialidade, sempre. O respeito dos editores à opinião de seus comandados deveria ser a bandeira em todas as editorias e redações. O time, a religião, a raça ou posição política de cada um é um direito e não deveria ser um parâmetro de avaliação. Editores que rasgam o “manual de redação” e cercam-se de cordeirinhos que alinham-se com sua opinião são nefastos.

Inquestionavelmente, a voz firme da imparcialidade, não só diante das câmeras, mas nos bastidores deveria guiar o jornalismo. Não convivi com Artur de Almeida, não sou um jornalista, mas a sobriedade e imparcialidade dele eram respeitáveis. Eu ousaria dizer que eram um caminho seguro e confiável entre a notícia e o cidadão.

Sua postura diante da tela não exigia efeitos, nem gestos de vaidade e, atualmente, não vemos isso na mesma Globo.

Ele devia entender, e praticar, que um telejornal não é palco, é tribuna de apresentação de fatos, sem opinião. Ele devia, certamente, entender que o microfone não é megafone de vaidades, mas instrumento de cidadania. Cada edição que apresentava trazia não só manchetes, mas respeito. Não porque evitava opiniões, mas porque jamais confundia opinião com fato.

Perdemos !

Hoje em dia, assistimos alguns — sem nomes, mas facilmente reconhecíveis — transformarem o jornalismo em palanque. Fazem de um editorial o seu juízo, e a notícia em retórica e ferramenta de proselitismo. Trocou-se o compromisso com o público pelo compromisso com narrativas. Fatos se transformam num rebaixamento à categoria de argumento conveniente. A empatia, atributo de Artur de Almeida, cedeu lugar ao proselitismo — venal, interesseiro, às vezes até criminoso e eleitoreiro.

E quem lê tudo pelo teleprompter, quando consegue ler direito, tem responsabilidade?

Mesmo esse profissional tem diante de si uma responsabilidade intransferível. A entonação não é neutra, o olhar não é dispensável. Quando um jornalista se apresenta, ele representa o pacto silencioso entre o povo e a verdade.

Que pacto se cumpre quando a mentira é uma encenação natural e normal?

Artur nos ensinou que jornalismo é serviço, não espetáculo. Que ética não é acessório, é alicerce. Sua ausência ainda se faz presente, porque onde há integridade, há memória. Que o legado de Artur Almeida sirva de alerta e de lição: a notícia não tem dono. E a verdade, mesmo quando abafada, sempre encontra uma voz.

Jornalismo Imparcial

O jornalismo imparcial e o proselitismo venal habitam lados opostos da comunicação. Um busca servir à verdade, por outro lado, o outro serve a quem o financia ou manipula tudo e todos. A base do jornalismo condizente com a imparcialidade deve:

  • Fundamentar-se em fatos verificáveis e fontes confiáveis (que não precisam de nenhuma exposição). .
  • Responsabilizar-se por informar sem distorções, mesmo quando a realidade ou a versão é incômoda.
  • Separar, inequivocamente, o que é notícia, o que é opinião e o que é análise de um articulista.
  • Servir de mediação entre acontecimentos e o público, sem agendas pessoais, políticas ou econômicas.
  • Respeitar a capacidade do público ao oferecer contexto, pluralidade de vozes e transparência.

Na contramão da imparcialidade, temos o jornalismo que pratica o proselitismo venal e que se tornou “normal”. As características deste jornalismo são identificáveis, desde que o receptor da mensagem tenha muita atenção. Nesta forma de comunicação podemos destacar as seguintes situações e atitudes:

  • Se traveste de jornalismo, mas move-se, nas entrelinhas, por interesses (ideológicos, financeiros ou partidários).
  • Mistura opinião com informação, confundindo o público propositalmente.
  • Utiliza o espaço jornalístico como propaganda, promove narrativas ao invés de apresentar os fatos.
  • Omite informações, faz sensacionalismo com fatos e manipula através da opinião de pessoas comuns.
  • Compromete a credibilidade da imprensa e contribui para a polarização da sociedade para versões.

Assim sendo, reforça-se a ideia de Artur Almeida – “imparcialidade não é ausência de opinião“. O jornalista responsável não se abstém de pensar — ele escolhe não trair o público com suas opiniões.

Identificando Opiniões

Em tempos de sobrecarga de informação e narrativas, identificar uma notícia imparcial exige atenção e senso crítico. Ter um olhar ágil é, sem dúvida, um desafio, pois as pessoas têm uma certa pressa em ser ignorantes. As redes sociais dominaram a maioria das pessoas e prevalece o que dizem nas manchetes e títulos. Desse modo, torna-se difícil separar joio do trigo. Portanto, nossa pequena contribuição se dá indicando alguns sinais que podem te ajudar a sair da escuridão informacional.

1. Foco nos fatos, não em julgamentos

Uma notícia imparcial expõe acontecimentos com clareza e contexto. Jornalistas sérios evitam adjetivos opinativos como “absurdo”, “lamentável”, “brilhante”. Eles devem descrever o que ocorreu, quando, onde, quem envolveu-se e por quê. Outrossim, devem evitar números que não dirão nada após 30 segundos, e tudo sem induzir emoções ou julgamentos.

2. Pluralidade de fontes

Jornalismo profissional e responsável deve ouvir e reportar os dois (ou mais) lados de um conflito. Se a reportagem traz diferentes pontos de vista, inclusive divergentes, é demonstração de compromisso com as versões.

3. Separação entre notícia, opinião e análise

Notícias devem informar, simples assim. Opiniões devem ser identificáveis como tal (em editoriais ou colunas). Análises devem ter como base dados auditáveis, com transparência metodológica. Por isso, a mistura sutil entre esses gêneros é um dos maiores riscos para qualquer leitor ou ouvinte.

4. Ausência de linguagem emocional ou exageros

Termos como “bombástico”, “inacreditável” e outros indicam que a matéria quer influenciar seu julgamento, longe de informar. A linguagem neutra é, primordialmente, a mais forte indicação da imparcialidade e isenção.

5. Transparência sobre a apuração

Boas matérias, certamente, explicam como se obteve os dados e quais critérios de publicação. O jornalista que expõe, eventualmente, seu método, demonstra que confia no que está reportando.

Adicionalmente, sempre que possível, compare veículos de informação diferentes e não confie em grupos nas redes sociais. Se apenas um meio ou um grupo trata de um assunto, fuja para as montanhas. Se você nota um certo viés ou tom emocional, mesmo que você concorde, fique atento e questione-se. São nestas pequenas artimanhas que prevalece e prospera o proselitismo e não o jornalismo.

Enfim, com a revolução avassaladora informacional, as pessoas nem percebem que deixam de ter opinião própria. A facilidade de se resolver tudo, deixa a todos sob forte hipnose. Se não houver a capacidade de fazer bons prompts(4), tudo pode ficar em vertigem e com erros insanáveis.

 

Amanhã tem mais … 

P. S.

(*)  A princípio, foi difícil encontrar registros públicos citações diretas de Artur de Almeida. Desse modo, recorremos às plataformas de IA para recuperar o pensamento do profissional. Escolhemos uma das frases para homenageá-lo nesta data de uma forma diferente. Abaixo estão alguns outros pensamentos que poderiam gerar outras homenagens. É provável que não sejam frases exatas que ele escreveu ou falou, mas assumimos como paráfrases.

  • A credibilidade do jornalista começa com o respeito ao público.”
  • Apresentar um telejornal é mais que ler notícias — é assumir a responsabilidade de informar com clareza e verdade.”
  • O jornalismo comunitário é a ponte entre o cidadão e a transformação.”
  • A TV exige do jornalista não só técnica, mas empatia — é preciso sentir o impacto da notícia que se transmite.”

(1) “Entre Sem Bater – Sílvio Santos – A Opinião do Jornalista

(2)Entre Sem Bater – Chico César – Os Neutros

(3) “Entre Sem Bater – Napoleon Hill – Opiniões Prontas

(4) “Entre Sem Bater – Evandro Oliveira – O Engenheiro de Prompt

 

Imagem: Entre sem bater – Artur de Almeida – A Imparcialidade

Nota do Autor

Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.

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