Recursos Desumanos - Genildo

Recursos desumanos

Éric Cantona

Éric Daniel Pierre Cantona é um ex-jogador de futebol, francês, nascido em Marselha e que atuou de forma marcante na Inglaterra e Seleção Francesa. A sua passagem pelos “Red Devils” foi marcada pelas performances em campo e fora dele. De personalidade firme, o jogador chegou a  ser suspenso por 9 meses por agredir um torcedor de um time adversário. Era, com toda a certeza, um bad boy raiz.  Desse modo, nada mais apropriado do que ser a estrela de um filme em que alguém é o malvado e operador de Recursos Humanos (RH), ou seria melhor recursos desumanos?

Éric Cantona, foi muito mais do que jogador de futebol. Atuou como diretor e técnico de futebol, e na função de ator. Polêmico e com extrema habilidade e competência, recebeu apelidos como genioso, bad boy, criança terrível. Esta personalidade está integralmente espelhada no personagem que interpreta na produção de nome “Recursos Desumanos“.

Recursos Desumanos

Em primeiro lugar, mantenho a perspectiva de ver uma obra (filme, vídeo etc.) e fazer uma transliteração para a vida real, notadamente no Brasil. Desemprego e desespero, é a representação na produção “Recursos Desumanos” (Dérapage em francês), cuja tradução é a mais apropriada quanto possível.

Entretanto, nestes textos não faço ou evito ao máximo os spoilers, mas recomendo a determinados perfis que vejam, e publico, normalmente, em grupos e redes sociais com afinidade ao tema. Desse modo, a produção estrelada por Éric me motiva a uma provocação em especial. Recrutadores e pessoal dos chamados RH. Em outras palavras, o que vemos atualmente nas redes profissionais ditas especializadas, como o LinkedIn, é pura poesia surrealista ante o filme “Recursos Desumanos”.

Sinopse

A história se passa na França das demissões em massa e substituição do trabalho de pessoas pela automação, movida pela ganância dos acionistas das grandes corporações.

A série ou minissérie tem como ponto central a questão de um ex-gerente de RH, que passou dos 50 anos de idade e foi demitido. Alain Delambre (personagem de Cantona) passa a viver de uma espécie de auxílio-desemprego e de atividades extras (os “bicos”). Os problemas do desempregado são comuns a quase todos desempregados mundo afora que ultrapassaram a idade dos 50 anos.

Dessa forma, é muito fácil se sentir na pele do personagem e entender as aflições e deterioração da relação com esposa, filhos, pessoas conhecidas. A partir daí, a sequência de tragédias é infinita e igual a uma avalanche, só cresce e arrasta a tudo e a todos.

A produção é uma adaptação do livro de Pierre Lemaitre (Dérapage) e que pode ter sido contextualizado num ambiente caótico de desemprego na França com manifestações que contaminaram toda a Europa.

Frases e Automação

A produção é uma narrativa do personagem principal e algumas frases são bastante apropriadas e podem ser reproduzidas nas redes sociais especializadas. Por exemplo, “estou procurando trabalho igual cachorro procura um poste para mijar!“. Surpreendentemente, nas redes sociais no Brasil, quando dizemos que estamos procurando trabalho as pessoas estranham, tem que dizer : “procuro emprego“.

Outra frase interessante é: “… Na administração, toda ação tem seu momento de verdade. Diante das dificuldades, alguns desistem, outros dobram a aposta, alguns mudam a estratégia …”. Alguns recrutadores buscam características pessoais em que os comportamentos indicados na frase sequer são observados.

Enfim, os roteiros e testes dos recrutadores, sejam eles automatizados ou não, estão se mostrando muito mais desumanos do que racionais.

Vida Real

Inegavelmente, o roteiro do filme pode não ser uma imitação, ipsis litteris, da vida real. Por outro lado, a ficção parece ter sido escrita a partir da vida real ou de experiências que representam o que estamos vivendo.

É muito comum as pessoas falarem de “Jogos de Empresas” ou “Simulações de Negócios“. Programas de TV e alguns “realities shows” fizeram fama e até elegeram presidentes, mas não mostram os “bastidores” nunca. É como na fábrica de salsichas ou num “Topa Tudo por dinheiro“, tem muito pouco a ver com o glamour de certos programas em que se nada com tubarões.

A vida real é como na arte, tal e qual, é provável que tenha nuances mais ou menos das experiências que já passamos.

No Brasil, afinal, nossa situação no geral (e não no caso específico da “representação teatral” central do filme) é muito pior do que os acontecimentos da França. A automação da seleção de currículos é cruel e nem os recrutadores conseguem salvo conduto.

Recrutadores e recursos desumanos

Seriam os recrutadores desumanos ou eles ainda não entenderam o tamanho do moedor de mentes e corações em que se meteram?

Vejo pesquisas em perfis de redes sociais como o LinkedIn e fico pensando se empresas e algumas organizações estão nas mãos destes recrutadores para montar o seu quadro de colaboradores.

Na condição de profissional da Administração, vejo algumas iniciativas e ações como despropositadas. Algumas das coisas que tenho escrito sobre recrutamento, seleção e RH, não tem agradado às pessoas. Assim sendo, fica cada vez mais difícil encontrar um trabalho, organizações conseguem tutelar até a opinião das pessoas nas redes sociais.

Se sou um profissional de TI, não posso ter opinião além daquela que a empresa admite como “apropriada”. E depois querem me convencer que a empresa é inclusiva, aberta e outras “vantagens” de um lugar ótimo para trabalhar. É deprimente ver gerações inteiras praticando etarismo para justificar que não se deve ouvir muito quem tem mais experiência.

Em suma, recursos desumanos não prescindem de recrutadores desumanos ou de suas ferramentas e plataformas de recrutamento e seleção. Por experiência própria, venho experimentando situações constrangedoras, inclusive com colegas de trabalho, desde os 50 anos. Pouco depois da explosão da pandemia pude exercitar minhas experiências num texto(1) que permanece atual. Ao contrário do personagem de Cantona, não sou tão explosivo e “bad boy#SQN.

Segue o jogo de empresas, não quero emprego, quero trabalho !

 

(1) “Não há vagas – Ainda mais depois dos 60

 

Charge: Genildo

Nota do Autor

Reitero, dentre outras, o pedido feito em muitos textos deste blog e presente na página de “Advertências“.

  • Observações, sugestões, indicações de erro e outros, uma vez que tenham o propósito de melhorar o conteúdo, são bem vindos.
  • Coloquem aqui, nos comentários ou na página do Facebook, associada a este Blog, certamente serão todos lidos e avaliados.
  • Alguns textos são revisados, outros apresentam erros (inclusive ortográficos) e que vão sendo corrigidos à medida que tornam-se erros graves (inclusive históricos).
  • Algumas passagens e citações podem parecer estranhas mas fazem parte ou referem-se a textos ainda inéditos.
  • Caso queira fazer comentários no texto, clique aqui e envie mensagem para pyxis at gmail.com e, certamente, faremos a autorização.

Agradeço a compreensão de todos e compreendo os que acham que escrevo coisas difíceis de entender, é parte do “jogo”.

Deixe um comentário