Teletrabalho ou Home Office, tanto faz …

Reforma Trabalhista

A reforma trabalhista trouxe algumas questões pretensamente inovadoras no âmbito das relações de trabalho. Deixou muita coisa de fora, entretanto, algumas merecem capítulos, no plural mesmo, detalhados pois vão além da simples regulamentação do texto da lei. O Teletrabalho, ou home office, como denominam os “descolados”, não fazia parte, pelo menos de maneira explícita, nas antigas regulamentações.

Assim sendo, a Lei no. 13.467 de 2017 introduz um tema complexo e que entra em conflito com outras regulamentações como horário extra, acidente de trabalho, tempo de dedicação e afins.

Enfim, excetuando algumas categorias profissionais, por exemplo os profissionais de tecnologia da informação, o Teletrabalho é algo novo e inexplorado.

Home Office

Em primeiro lugar, o Teletrabalho deve ser diferenciado do trabalho externo por alguns fatores. Um vendedor, nos dias de hoje, usa muita tecnologia se trabalha dentro da empresa ou se realiza trabalho na rua. Este, certamente, não é um tipo de Teletrabalho, como caracterizado na Lei 13.467. Em outra palavras, a reforma reconheceu que aqueles profissionais que levam trabalho pra casa ou atuam somente em casa, exigem tratamento específico e diferenciado.

Teletrabalho

O profissional de TI, e outras profissões como tradutor, professor particular, costureiras de facção, realizam o que chamamos de home office ou Teletrabalho, como previsto na reforma. Por outro lado, aí começam os problemas, colocaram algumas características que geram muitas dúvidas e excepcionalidades. Falam de tecnologias da informação e comunicação (TICs) e confundem muitas definições e conceitos, típico de rábulas neófitos.

A experiência vivida pelos profissionais de TI deveria ser bastante pedagógica, mas não foi, e o que vislumbramos foi o aproveitamento de empresas para diminuir despesas, exigir mesma qualidade para remuneração menor. O nível de exigência elevou-se, com a ilusória “pejotização”, que a partir de agora é de todos os profissionais que são colocados sob regime de Teletrabalho.

Desafios no Teletrabalho

Infraestrutura

Local de Trabalho

Certamente, não se deve trabalhar de maneira como se você estivesse em casa num dia de folga. Tenha um espaço reservado no qual possa se concentrar. Mesmo que o trabalho seja realizado em casa, evite trabalhar de forma despojada; de pijama, nem pensar. Evite hábitos pouco recomendáveis, que não seriam praticados na empresa, durante reuniões. Fumar, beber alcoólicos, interrupções para atender ligações ou chamamento de parentes são sempre mal vistos por quem está do outro lado, mesmo que somente estejam com áudio conectado.

Internet e Hardware

Aqui um grande problema, agravado pela pandemia do COVID-19 que colocou muita gente no Teletrabalho compulsório. De acordo com a reforma, a infraestrutura é responsabilidade do empregador (mesmo que decretos amenizem estas responsabilidades), e já constatamos problemas de conexão e outros piores. Internet e hardware ruins são meio caminho andado para problemas com o empregador, com os clientes e também com fornecedores.

Esqueceram de mim

Esta é, com efeito, uma constatação triste, especialmente quando alguém está remoto e outros não estão. Experimentei isto recentemente (*)  estando todos numa reunião presencial e você (ou mais pessoas, online e à distância). A tecnologia permite que você participe de uma reunião até dentro de um carro no trânsito. Entretanto, ser ignorado, não ser ouvido, não ser visto e coisas afins pode ser das piores experiências. Cuide para não esquecer ninguém que não esteja presencial assim como para não ser esquecido.

Pessoais

Disciplina – Tenha disciplina com local, horários, espaços para que seja respeitado sua condição de trabalho à distância. Não existe a rigidez de vestimenta, horários de entrada e saída, mas também não é uma festa e vale-tudo.

Isolamento – Este problema é muito grave no trabalho remoto. Sem colegas de mesa ao lado e de escritório, o erro de ficar isolado com o problema é grande e grave, tanto tecnicamente como psicologicamente. Profissionais de TI criaram o hábito de conversar com outros profissionais, até mesmo de outras empresas e avançar, através de mecanismos de comunicação remota. Profissionais de outras especialidades terão dificuldades sob muitos aspectos para romper este tipo de isolamento de maneira remota. O isolamento social provocado pelo COVID-19 pode tornar este problema ainda mais grave (*). Pense que você tem uma equipe maior e melhor, mas cuidado com regras éticas e padrões profissionais de cada empresa ou de seus representantes.

Relacionamentos Pessoais – O home office proporciona, mais do que qualquer outra atividade, seus colegas de trabalho distantes, um afastamento físico que pode ser problemático. Trabalhadores que atuam em turnos ou que costumam socializar após expediente, durante almoço etc, ficam meio sem rumo e sem referencial de relacionamentos pessoais. E, nem sempre, as conferências visuais permitirão algumas poucas palavras com pessoas de uma mesma empresa.

Projetos

Visibilidade do Trabalho

Um risco muito grande de se perder a referência do que fazem as outras pessoas e do que fazemos aos olhares dos colegas, é assumir atividades exclusivamente home office. Isto agrava-se, principalmente, em empresas ou organizações modernas, com métodos de gestão de projetos em que a comunicação ou endo marketing, seja deficiente. Em alguns casos, ideias e palpites na hora do cafezinho poderiam ser cruciais para melhoria de algum processo. Sem saberem o que você está fazendo, adeus insigths e palpites amigos. E lembrando que só plataformas de acompanhamento de atividades mostram produção e produtividade, mas não mostram relacionamentos e visibilidade extra-projeto.

Sincronismo

O trabalho feito em casa é totalmente assíncrono. Desde o Fordismo, Taylorismo e outras teorias da Administração que exigiam rigor nos Tempos e Movimentos, tratando a tudo e todos como máquinas, o mundo mudou. Cada um, individualmente, deve adequar-se aos horários mais normais, entretanto, um quadro de avisos 24 horas pode ser uma forma de comunicação entre notívagos e outros mais comportados organizacionalmente. Não existe mais a possibilidade de todo mundo entra junto e sai junto da empresa, não tem volta, simplesmente acabou!

Gestor ou Capataz

A ideia do Teletrabalho traz embutida a ilusão de que os grilhões da burocracia dos recursos humanos foram rompidos. Todo cuidado é pouco pois, se o capataz gosta de um chicote de ponta fina, a situação pode ficar mais complicada. Se o trabalhador que trabalhar à distância perceber que o gestor está mais preocupado com detalhes de prestação de contas da agenda, em detrimento dos resultados, acenda a luz amarela, pois os problemas podem estar começando.

Futuro

COVID-19

A ocorrência da pandemia, devido ao COVID-19, acirrou tudo que estava sendo gestado e demorava a entrar em rotina. Alguns setores ficaram em alta (EaD, Telemedicina etc) e vão continuar em alta, outros entraram em alta mas vão se estabilizar e sofrer uma evolução Darwiniana. Existem ainda setores que entraram em queda ou estagnaram, e vão se recuperar com picos logo no início do “pós-guerra” e alguns que terão recuperação lenta, dolorosa e a seleção “natural” será dramática e após muitos mortos e feridos.

Tenho tido alguns embates em redes sociais (*) que me fizeram reviver este post. Algumas pessoas se achando e dizendo que são bons o suficiente para sobreviverem. Com certeza, teremos sobreviventes, só não sei se serão tantos assim. Um texto escrito para a economia dos EUA, me assustou muito e ouvi alguma opiniões que me assustaram mais ainda.

Pós-Guerra

Em “America is Committing Economic Suicide” o autor expõe a realidade para os EUA. O presidente estadunidense deu mostras do que pretende ao ligar o FODA-SE para o mundo. E o Brasil entrou numa briga do que seria o seu maior parceiro comercial do terceiro milênio, a China. O texto merece ser lido com atenção e ter uma tradução/transliteração para o Brasil, é mais do que gravíssimo, e IMNSHO, não vamos aguentar o tranco.

É legal ?

Seria bom ressaltar que trabalhador desempregado não tem dinheiro para comprar nada e, como se não bastasse, estou preocupado com a saúde mental dos trabalhadores no isolamento dentro do isolamento.

E, adicionalmente, raras empresas estão se preocupando com aditivos aos contratos de trabalho que resguardem direitos entre todas as partes. Existem empresas, cliente de escritório de contabilidade e advocacia, que não têm a mínima noção da farra virtual de seus dados. Deve ser por isso que a LGPD incorporou o  “ad kalendas graecas soluturos“.

Conclusão

Em suma, nestes tempos graves de pandemia, devemos cuidar de muito mais do que simplesmente previra a reforma trabalhista. As perdas e os grilhões da reforma estão impondo outros sacrifícios. Empresas que estavam arrotando e defendendo a economia pós-reforma, agora dizem que estão quebradas, vão dar calote e continuarão cobrando dos trabalhadores.

Qualquer que seja sua atividade profissional, pense fora da caixinha e avalie a possibilidade de seu home office ser realizado num “coworking space” perto de sua casa, uma vez que é mais profissional e não te isola do mundo.

 

(*)  Este texto foi revisado e ampliado em abril/2020